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Os Evangelhos Comentados

de Firmamento Editora

em 30 Nov 2006

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A primeira é a Paixão segundo S. João, de J. S. Bach, que tem por libreto, exactamente, o texto de João 18-19. Bach, que ocupava o cargo de Kantor da Igreja Luterana de Leipzig, e cuja composição a partir do Evangelho de S. João foi elaborada e representada no cumprimento dessa função, serviu-se, para o libretto, da tradução literal do texto grego do evangelho feita por Martinho Lutero.
O violento anti-judaísmo pregado por Lutero realça, na interpretação que faz do Evangelho de S. João (e, em particular, da Paixão), o Jesus humano e reforça a questão tão discutida do anti-judaísmo a que potencialmente se presta este evangelho.
Transpondo para o texto a configuração dramática de uma composição que acentua uma polarização centrada na plebe judaica, a Paixão de Bach tem ocasionalmente levado à suspeita de anti-judaísmo e a objecções contra a sua representação. Quando estas acusações nos conduzem a confrontar com seriedade a questão do anti-judaísmo deste evangelho - e das leituras anti-judaicas a que historicamente ele se tem prestado – a polémica é, só por si, positiva; contudo, outras intervenções neste debate têm-se feito ao revés deste sentido anti-judaico, recuperando diferentes modos de ler o mesmo texto. Alguns, por exemplo, vêem na teologia do oratório de Bach a recuperação da enfâse, também ela luterana, de raiz paulina, dada ao pecado cristão e à expiação. Defendem que é esta orientação que se manifesta nos comentários introduzidos pelo compositor através dos hinos, e que a representação da Paixão dramaticamente faz sobressair: numa Leipzig cristã, em que coristas e espectadores eram afinal vizinhos uns dos outros - e em que o reconhecimento social rapidamente se sobrepunha a qualquer identificação “teatral” de “judeus” - a acentuação hímnica da confissão e expiação da culpa e, ainda, a cumplicidade do pecador cristão na morte do Senhor, exigida para sua redenção, predominava sobre qualquer noção de deicídio judaico - que a enfática declamação do solista, de que por ela resulta a redenção universal, apagaria.
Forte contraste oferece, porém, A Paixão de Cristo de Mel Gibson que tanta polémica e entusiasmo tem gerado. O primeiro problema do filme reside no seu proclamado realismo histórico, altamente questionável, e que mais não é do que um mero efeito de realidade. A veracidade de que se reclama e que o sustenta através da literalidade da encenação dos evangelhos, esconde a fragilidade de assentar sobre uma selecção arbitrária de elementos de cada um deles, criando uma imagem compósita que não salvaguarda a fidelidade integral a nenhum dos quatro evangelhos. Mas o maior problema - em parte resultante da omissão da ressurreição – reside em abordar a paixão e morte de Jesus como um fim cujo sentido se esgota em si mesmo. Como a representação histórica no filme - que esvaziada de sentido histórico pouco mais é que antiquariato visual - também a violência está descontextualizada, desprovida de intenções, e sem sentido para além dela mesma.
De João talvez se possa reclamar a visão cósmica de uma batalha entre a luz e as trevas, mas está desprovida do amor e da redenção que neste superam a simples dicotomia. A João vai também o filme buscar a Cruz (§) que Jesus carrega às costas, mas despida do sentido que o evangelho lhe atribui; onde João tentou transmitir a atitude com que Jesus encarou a morte, o filme retém apenas a experiência do suplício e humilhação. Finalmente, do Quarto Evangelho - em que a ressurreição mais parece algo de suplementar do que orgânico à narrativa – poder-se-ia o filme ter apoiado em defesa da centralidade exclusiva concedida à crucificação. Mas esta comparação melhor evidencia a seguinte diferença: o que no evangelho é momento transcendente e de glorificação, no filme pouco mais é que violência pornográfica.
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