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As Quatro Nobres Verdades
de Ajahn Sumedho
em 26 Jun 2008
(...anterior) Eu senti uma grande raiva e ódio surgindo em mim, porque eles estavam a criticar algo que eu adorava. Eu senti-me indignado, “Bem, se vocês não gostam, saiam daqui para fora. Ele é o melhor professor do mundo, se não conseguem ver isso, então desapareçam!”. Esse tipo de apego, estar enamorado ou ser devoto, é sofrimento, porque se algo ou alguém que se ama ou gosta é criticado, sentimo-nos zangados e ofendidos.
Clareza nas situações
Por vezes a clareza surge nas ocasiões mais inesperadas. Isto aconteceu-me quando vivia em Wat Pah Pong. O Nordeste da Tailândia não é dos lugares mais atraentes ou bonitos do mundo, com as suas florestas e vastas planícies; durante a estação quente torna-se extremamente quente. Antes de cada Dia de Observância٭ nós tínhamos de varrer as folhas caídas nos caminhos do mosteiro. Eram bem vastas as áreas a varrer. Passávamos a tarde toda debaixo do sol quente, suando e a varrer, com vassouras grosseiras as folhas para um monte; esta era uma das nossas tarefas. Eu não gostava de a fazer. Pensava, “Eu não quero fazer isto. Não vim para aqui para varrer as folhas do chão; Vim para aqui para me tornar iluminado e em vez disso põem-me a varrer folhas. Para além disso, está muito calor e eu tenho uma pele clara; posso apanhar cancro da pele por estar aqui neste clima quente”.
Numa dessas tardes lá estava eu a sentir-me verdadeiramente infeliz, pensando “O que é que estou aqui a fazer? Porque é que vim para aqui? Porque é que estou aqui?”. E ali fiquei parado com a minha longa e grosseira vassoura, sem nenhuma energia, a sentir pena de mim mesmo e a odiar tudo. Então o Ajahn Chah aproximou-se, sorriu-me e disse «Em Wat Pah Pong há bastante sofrimento, não há?» e com isto desandou. Então pensei, “Porque é que ele disse aquilo? E sabes, na verdade, não é assim tão mau”. Ele pôs-me a reflectir “Será que varrer as folhas é mesmo tão desagradável?...Não, não é. É um tipo de coisa neutra; Varrer as folhas, não é bom nem mau...E suar é algo assim tão terrível? É mesmo uma experiência miserável e humilhante? É mesmo assim tão mau como eu estou a querer fazer parecer?...Não, suar não faz mal, é algo perfeitamente natural. E eu não tenho cancro da pele e as pessoas em Wat Pah Pong são muito simpáticas. O professor é um homem muito bondoso e sensato. Os monges têm-me tratado bem. As pessoas leigas vêm e dão-me comida e... Afinal porque é que eu estou a reclamar?”. Reflectindo acerca da verdade da minha experiência, pensei “Eu estou bem. As pessoas respeitam-me, sou bem tratado. Estou a ser ensinado por pessoas agradáveis num país também agradável. Não há nada de errado nisto, há é comigo; Estou a criar um problema porque não quero varrer folhas e suar”. E com isto tive uma revelação. De repente, senti que havia algo em mim sempre a reclamar e a criticar, e que impedia que me entregasse totalmente a diversas situações.
Outra experiência com a qual aprendi foi o costume de lavar os pés dos monges mais velhos quando eles regressavam da recolha das oferendas. Depois de caminharem pelas vilas e arrozais, os seus pés estavam enlameados. Quando o Ajahn Chah regressava, todos os monges, talvez uns vinte ou trinta, apressavam-se para o receber e lhe lavar os pés, no lava-pés que havia à entrada da sala de refeições. Quando vi isto pela primeira vez, pensei “Eu nunca vou fazer tal coisa!”. E no dia seguinte, assim que o Ajahn Chah apareceu, trinta monges apressaram-se para lhe lavar os pés. Eu pensei “Que coisa tão estúpida, trinta monges a lavarem os pés de um homem. Eu não o faço”. No dia seguinte, a minha reacção tornou-se ainda mais violenta... trinta monges apressaram-se e lavaram os pés do Ajahn Chah... “Isto irrita-me mesmo, estou farto disto! Acho que é a coisa mais estúpida que alguma vez vi, trinta homens a lavar os pés de um homem! Provavelmente ele pensa que o merece; é só para lhe reforçar o ego. Ele deve ter um ego enorme, com estas pessoas todas a lavarem-lhe os pés todos os dias. Eu nunca farei tal!”.
(... continua)
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