pág. 5 de 36
As Quatro Nobres Verdades
de Ajahn Sumedho
em 26 Jun 2008
(...anterior) É uma ferramenta que usamos para nos auxiliar a compreender o que é, e o que não é o sofrimento.
No mundo budista são poucos os que ainda usam as Quatro Nobres Verdades, até mesmo na Tailândia. As pessoas dizem, “Ah sim, as Quatro Nobres Verdades – coisas de principiante”. Talvez até usem todos os métodos de vipassanā* e se tornem realmente obcecados com as dezasseis etapas antes de chegarem às Nobres Verdades. Eu acho realmente espantoso, que no mundo budista o ensinamento verdadeiramente mais profundo tenha sido posto de parte, como sendo Budismo primitivo: “Isso é para os miúdos pequenos, os principiantes. O curso superior é....” E partem para complicadas ideias e teorias, esquecendo o mais profundo ensinamento.
As Quatro Nobres Verdades são uma reflexão para a vida inteira. Não se trata apenas de realizar as Quatro Nobres Verdades, as três fases e doze revelações e assim alcançar o estado de arahant, num único retiro, e então partir para algo mais avançado. As Quatro Nobres Verdades não são assim tão fáceis. Necessitam de uma constante atitude de vigilância e oferecem-nos pretexto para uma vida de investigação.
Ajahn Sumedho
A Primeira Nobre Verdade
O que é a Nobre Verdade do Sofrimento? Nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento e morte é sofrimento. Separação daquilo que gostamos é sofrimento, não obter aquilo que queremos é sofrimento: em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.
Existe esta Nobre Verdade do Sofrimento: tal foi a visão, revelação, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz que em mim surgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.
Esta Nobre Verdade deve ser penetrada através da completa compreensão do sofrimento: tal foi a visão, revelação, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz que em mim surgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.
Esta Nobre Verdade foi penetrada através da completa compreensão do sofrimento: tal foi a visão, revelação, sabedoria, verdadeiro conhecimento e luz que em mim surgiram acerca de coisas nunca antes ouvidas.
Samyutta Nikāya LVI, 11
A Primeira Nobre Verdade é composta por três fases: “Existe o sofrimento dukkha. Dukkha deve ser compreendido. Dukkha foi compreendido”.
É um ensinamento muito prático, expresso numa fórmula, fácil de memorizar. É também aplicável a toda e qualquer experiência que se possa ter, a tudo o que se possa fazer ou pensar, relacionado com o passado, o presente ou o futuro.
Sofrimento, dukkha é o elo comum que todos nós partilhamos. Toda a gente em qualquer lugar sofre. Seres humanos sofreram no passado, na Índia da antiguidade; sofrem hoje em dia em Inglaterra, e no futuro os seres humanos também irão sofrer... O que é que temos em comum com a Rainha Elisabete? Todos sofremos. O que é que temos em comum com um pobre em Charing Cross? Sofrimento. Encontra-se a todos os níveis, desde os seres humanos mais privilegiados aos mais desesperados e desprivilegiados. É uma ligação que temos em comum, algo que todos compreendemos.
Quando falamos sobre o sofrimento humano levanta-se em nós o sentimento da compaixão mas, quando damos as nossas opiniões, sobre o que eu penso ou do que vocês pensam em relação à política e religião, então podemos entrar em guerra. Há dez anos, em Londres, lembro-me de ver um filme que mostrava mulheres russas com bebés e homens russos a levarem os seus filhos a piqueniques, tentando retratar os russos como seres humanos. Na altura, esta representação do povo russo era pouco usual, porque a maior parte da propaganda no Ocidente retratava-os como monstros ou seres reptilianos de coração gelado, e por esse motivo nunca pensava neles como seres humanos. Se se quiser eliminar pessoas tem de se mostrar na pior forma. Não é tão fácil eliminar alguém se se reconhecer que elas sofrem da mesma forma que nós.
(... continua)
|