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Sistemas, tem a finalidade de contribuir para a divulgação das linhas de pensamento dentro das várias Religiões e Filosofias de todo o mundo, na compreensão de que todas partilham afinal uma linguagem comum.
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Astavakra Gita (Aṣṭāvakra Gītā)
de Pedro Teixeira da Mota
em 26 Ago 2008
A Aṣṭāvakra Gītā, a que demos o subtítulo de Cântico da Consciência Suprema, obra anónima indiana da tradição Advaita Vedānta, é um ensinamento profundo de grande força iluminadora sobre a essência do Espírito, do Homem e do Universo, comparável à Bhagavad Gītā, na desvendação da Consciência e do Ser Primordial. Escrito na forma de diálogo, à boa maneira dos Upaniṣadas, entre dois conhecedores ou mestres do Espírito Supremo, o sábio Aṣṭāvakra e o rei Janaka, figuras entre o histórico e o lendário, de contornos enriquecidos por histórias e lendas que se esfumam num tempo sempre tão mítico como é o da Índia, sempre tão aberta ao eterno.
Capítulo I
Janaka disse:
1 - Ensinai-me, oh mestre, como se consegue o Conhecimento como se origina a Libertação, como se realiza o desprendimento?
Aṣṭāvakra respondeu-lhe:
2 - Se queres libertar-te, amigo, evita como veneno os objectos dos sentidos e ama como néctar a tolerância, a rectidão, a compaixão, o contentamento e a verdade.
3 - Tu não és a terra, nem a água, nem o fogo, nem o ar, nem o eterealidade espacial. Para (conseguires) a libertação conhece a testemunha deles, o Eu-Espírito Consciência pura deles.
4 - Tornar-te-ás imediatamente livre de laços, em paz e feliz, se te vires como distinto do corpo e permaneceres em quietude na Consciência divina.
5 - Tu não és da casta dos Brâmanes, nem de qualquer outra, nem de nenhum dos estágios etários da vida, nem estás ao alcance da percepção sensorial. Tu és independente, sem forma, observador do universo. Sê virtuoso.
6 - O dever e o vício, a felicidade e a dor são mentais e não teus, oh omnipresente! Não és quem age nem quem goza as acções. Em verdade, estás sempre liberto.
7 - És o Vidente único de tudo, e em verdade estás sempre liberto. O teu aprisionamento está só em veres-te a ti próprio não como o observador mas de modo diferente.
8 - “Eu sou quem age”, pensas tu mordido pela grande cobra negra do egoísmo. Bebe o néctar imortal da fé “Eu não sou quem age” e sê feliz.
9 - Queima a floresta da ignorância com o fogo da convicção: “Eu sou a Consciência iluminada una e pura e, livre de tristeza, vive feliz.
10 - Aquele (Espírito) sobre o qual o universo aparece imaginado, tal como numa corda (se imagina) uma serpente, essa Consciência iluminada e Felicidade acima de todas as Felicidades tu és. Vive feliz.
11 - Seguramente quem dirige a sua mente para a salvação liberta-se, assim como quem se considera a si próprio encadeado permanece aprisionado. O provérbio “tal como pensamos assim nos tornamos” é bem verdadeiro.
12 - Ātman é a testemunha, penetrando tudo, perfeita, um, livre, consciência, sem acção, desprendida, sem desejos, tranquila, mas pela ilusão considera-se como se fosse do mundo cíclico.
13 - Abandona os estados de ânimo externos e internos e a ilusão de que o eu sou é uma manifestação reflectora (do Eu). Reconhece-te como Espírito, consciência desperta, inalterável e não-dual.
14 - Estiveste muito tempo preso na corda da consciência corporal, filho querido! Corta isso com a faca sacrificial do Conhecimento: - “Eu sou Consciência desperta”, e sê feliz.
15 - Seguires práticas para (obter) o êxtase é certamente o teu aprisionamento. Tu és independente, não-activo, a própria luz da consciência e puro.
16 - Este Universo está impregnado por ti e entretecido em ti. A tua natureza própria é Inteligência iluminada pura. Não te envolvas na mediocridade mental.
17 - Tu és incondicionado, imutável, pleno, calmo, inteligência insondável e imperturbável. Ama ser Consciência pura.
18 - Sabe que o que tem forma é falso, mas que o sem forma é permanente. Através desta iniciação na Verdade não se volta a nascer de novo e de novo.
19 - Tal como algo existe fora do espelho e dentro dele como uma imagem, assim o Senhor Supremo está dentro e fora deste corpo.
20 - Tal como o mesmo espaço omnipenetrante está dentro e fora de uma jarra, assim está (ou é) em todos os seres e coisas, eterno e firme.
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