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A Sabedoria do Intelecto e o Caminho Mítico

de Arthur Shaker

em 27 Set 2010

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A concentração traz o foco da energia mental para os objetos que surgem na mente (desejos, raivas, medos, pensamentos, distrações). As distrações são como o lodo do lago. Para que a água se mostre em sua natureza límpida, é preciso que as turbulências das águas do lago diminuam até cessar, e com isso as impurezas da água se assentem no fundo. Poderíamos talvez tomar a prática do “orai” como uma forma de concentração, de se manter a mente focada no objeto da oração, evitando que se torne cativa dos apelos dos sentidos, e o “vigiai” como a qualidade do Intelecto que sabiamente “tudo vê” o que se passa interiormente, operando a purificação da mente. A concentração dá o poder da luz da câmara para que a sabedoria veja de forma ampliada o que está surgindo lá do fundo da mente. Mas plena atenção e concentração operam conjuntamente: não há concentração sem sabedoria, não há sabedoria sem concentração, diz um dos versos do Dhammapada (§), um dos ensinamentos do Buddha (§). Analogamente, “vigiar e orar” poderia, na perspectiva da tradição cristã, ser visto como práticas interdependentes e complementares de sabedoria e concentração.

Nesta ótica, não significa, entretanto, que o pensamento deva ser desconsiderado, pois isto conduziria, como tem conduzido em muitos casos na sociedade contemporânea, ao culto do infraracionalismo, sinônimo de irracionalismo, desestruturação da mente e destruição da ética. O pensamento tem o seu nível de realidade, eficácia e momento. Mas a reflexão necessitaria também de uma educação espiritual que a conduzisse ao pensamento correcto. No Budismo, o pensamento correcto é o segundo fator do Nobre Óctuplo Caminho, os oito treinamentos para a superação do sofrimento. Neste contexto, trata-se de cultivar o pensamento que se baseie na verdade da impermanência e da efemeridade da existência, portanto, conduzindo à compaixão e ao amor (os opostos do ódio, crueldade e frieza para com o sofrimento alheio), à generosidade (o oposto da cobiça e apego) e à renúncia (o oposto do apego à suposição equivocada de que o “eu” e “meu”, o ego, sejam realidades substanciais e eternas). “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo”, ensina o Cristo.

Se compreendermos que o caminho da purificação rumo ao Absoluto é a maravilha das maravilhas, podemos afirmar que o caminho é uma experiência mítica! Com a vulgarização de nossos tempos, o termo mito foi muitas vezes traduzido como “fábula, ficção, ilusão”. Mas este não é o seu sentido verdadeiro, como bem demonstrado por estudiosos das mitologias, como Mircea Eliade (§), René Guénon (§), Joseph Campbell, e muitos outros pesquisadores. O caminho de realização espiritual é um caminho mítico. Por isso parece tão difícil ao Ocidente, dominado pelo racionalismo, afastado da compreensão e vivência do caminho mítico.

Se olharmos com mais profundidade o caminho dos fundadores das Tradições espirituais, veremos neles os passos de explicitação de um caminho mítico, em que cada passo, acto e palavra são carregados de verdades, muitas vezes na forma de símbolos que fundamentam os mitos e ritos daquela Tradição. Mas como se lê, por exemplo, o Novo Testamento? A vida de Cristo, em cada momento, é vista apenas como uma vida histórica e individual, com ensinamentos em forma de parábolas? Ou como penetração da Eternidade no tempo, em que cada passo do caminho do Cristo é o resgate da Criação para dentro da Refulgência dos arquétipos divinos?

A vida dos fundadores das Religiões é um mythos que serve de paradigma-espelho, no qual cada postulante se vê, revê e se orienta. Cada passagem da vida dos fundadores míticos é um símbolo que alimenta o intelecto em seu trilhar analógico. O caminho mítico. Como a flor de lótus, que emerge do lodo e atravessa as águas barrentas da existência samsárica, sem ser manchada por elas. Até alcançar o desabrochar, realização que se abre como pétalas da flor radiante.
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