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Jesus Cristo segundo Rudolf Steiner - 3ª Parte
de Zelinda Mendonça
em 31 Mar 2011
(...anterior) E isso não significa senão que o cristianismo, no sentido de Paulo, deveria ser abandonado por quem não admitisse a ressurreição.
Os evangelhos devem ser vistos como documentos relacionados com a iniciação, mas, por vezes, fazem descrições directas de factos reais. Será que a seguinte descrição do evangelho de João não deixa, curiosamente a impressão de referir-se a um facto real?
“No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ainda de madrugada até ao sepulcro, e vê a pedra do sepulcro retirada. Então corre e vai até Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amava, e diz-lhes: “Retiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o colocaram.” Pedro saiu, então com o outro discípulo e foram até ao sepulcro. Ambos andavam juntos, mas o outro correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinou-se e viu os panos de linho no chão, mas não entrou. Então Simão Pedro chega depois dele e entra no sepulcro; vê os panos de linho, e o sudário que havia sido colocado sobre a cabeça de Jesus não estava junto dos panos, mas enrolado à parte em certo lugar. Então entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu. Pois eles ainda não haviam compreendido a escritura segundo a qual ele deveria ressuscitar dos mortos. Os discípulos, então, voltaram para casa. Maria, porém, estava diante do túmulo e chorava do lado de fora. Enquanto chorava olhou para o túmulo, e viu dois anjos (§) vestidos de branco, sentados um à cabeceira e outro aos pés do local onde eles haviam depositado o cadáver de Jesus. E eles lhe disseram: “Mulher, porque choras”? Ela lhes disse: “Levaram o meu senhor, e eu não sei onde o puseram”. E dizendo isto, ela se voltou e viu Jesus de pé, e não sabia que era Jesus. Disse-lhe Jesus: mulher porque choras? A quem procuras?” Ela pensou que fosse o jardineiro, e disse-lhe: “Senhor tu o levaste? Dize-me onde o puseste? Quero buscá-lo.” Disse-lhe Jesus: “Maria!” Então ela se voltou e disse-lhe: Raboni!”, isto é, “Mestre”. Disse-lhe Jesus: “não me toques, pois ainda não subi para o pai!”
(evangelho de João 20, 1-17)
Eis uma situação descrita com tantos detalhes que quase nada parece faltar quando procuramos imaginar a cena. Temos um relato com pormenores que não fariam sentido caso não se referissem a factos reais.
Há outro ponto do relato a destacar: Maria não reconhece Jesus Cristo. Como seria possível não reconhecer, passados três dias, uma pessoa familiar? É preciso levar em conta que Cristo apareceu a Maria com um aspecto transformado; de contrario, tão pouco essas palavras fariam sentido.
Podemos portanto afirmar duas coisas:
1 – Temos de considerar a ressurreição como o despertar dos antigos mistérios de todos os tempos tornado realidade histórica com uma diferença apenas: nos mistérios, a pessoa que despertava os candidatos era o hierofante; nos evangelhos, porém, indica-se que quem despertou Cristo foi a entidade a que chamamos Pai, foi o próprio Pai que despertou Cristo. Somos também informados de que o processo desenrolado outrora em escala reduzida nas profundezas dos mistérios, foi colocado pelos espíritos divinos diante da humanidade no Gólgota, e que o ente denominado Pai exerceu a função de hierofante para despertar Jesus Cristo. Temos pois levado à dimensão máxima o que acontecia em escala menor nos mistérios.
2 – O outro facto é que os aspectos que lembram os mistérios são entretecidos com descrições de detalhes tais que podemos reconstruir até nos seus pormenores as situações mencionadas nos evangelhos. E há ainda outro aspecto mais importante. Devem ter um sentido estas palavras: “Pois eles ainda não haviam compreendido a escritura segundo a qual ele deveria ressuscitar dos mortos.
(... continua)
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