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Nibbana, Aqui e Agora

de Ajahn Sumedho

em 04 Abr 2011

  A dificuldade com a palavra Nibbana é que o seu significado está para além das palavras. É, essencialmente, indefinível. Outra dificuldade é que vários budistas vêm o Nibbana (Sânscrito: nirvana) como algo inatingível - como algo tão elevado e tão remoto que não somos suficientemente merecedores de o realizar. Ou então vemos o Nibbana como um objectivo, algo desconhecido e indefinido, que devemos de alguma maneira tentar atingir. A maior parte de nós está condicionada desta maneira. Queremos alcançar ou atingir algo que não temos.

Desta forma, o Nibbana é visto como algo que, se trabalharmos arduamente, mantivermos os preceitos morais (sila), meditarmos diligentemente, tornarmo-nos monásticos e devotarmos a nossa vida à prática, talvez possamos alcançar – ainda que não estejamos certos do que é.
Ajahn Chah usaria as palavras "a realidade do não-apego" como definição do Nibbana: realizar a realidade do ‘não-apego’. Isto ajuda a colocá-lo num contexto, porque aqui o ênfase é em despertar para a maneira como nos apegamos e agarramos inclusivamente a palavras como "nibbana", "Budismo", "prática", "sila" ou seja o que for.

Diz-se frequentemente que o caminho Budista é o do desapego, porém isso pode-se tornar apenas outra afirmação à qual nos apegamos e agarramos. É um Catch-22*: não importa o quanto tentemos fazer sentido, termina-se em confusão total devido à limitação da linguagem e da percepção. Temos de ir além da linguagem e da percepção, e o único modo de ir além dos pensamentos e hábitos emocionais é através da tomada de consciência - sermos conscientes dos pensamentos e das emoções. "A ilha para além da qual não se pode ir" é a metáfora para este estado de ser desperto e consciente, em oposição ao conceito de nos tornarmos despertos e conscientes.
Nas aulas de meditação, as pessoas começam frequentemente com uma ilusão básica, a qual nunca chegam a pôr à prova: a ideia de que "eu sou alguém com muitos apegos e muitos desejos e tenho de praticar de modo a livrar-me destes apegos e desejos. Não me devo agarrar a nada." Este é geralmente o ponto de partida. Portanto, começamos a nossa prática a partir desta base e, muitas vezes, o resultado é a desilusão e o desapontamento, pois a nossa prática está baseada no apego a uma ideia.

Eventualmente, apercebemo-nos que independentemente do esforço que façamos para nos tentarmos libertar do apego e do desejo, ou do que quer que façamos - tornarmo-nos monges ou ascetas, sentarmo-nos por horas e horas, irmos a retiros vezes sem conta, fazer todas as coisas que acreditamos que nos vão livrar dessas tendências – acabamos por nos sentir desapontados, porque a ilusão básica nunca foi reconhecida.
É por isso que a metáfora da ilha para além da qual não se pode ir é tão poderosa, pois aponta para o princípio duma consciência além da qual não se pode ir. É muito simples, muito directo e impossível de ser concebido. Temos de confiar nisso. Temos de confiar nesta simples capacidade que todos possuímos de estarmos totalmente presentes e totalmente despertos, e começar a reconhecer o apego e as ideias que temos acerca de nós próprios, acerca do mundo à nossa volta, acerca dos nossos pensamentos, percepções e sentimentos.

O caminho da plena atenção é o caminho do reconhecimento das condições tal como elas são. Reconhecemos simplesmente a sua presença, sem as julgar, criticar ou louvar. Aceitamos a sua presença, quer sejam condições positivas ou negativas. E, à medida que vamos confiando cada vez mais nesta consciência ou plena atenção, começamos a experienciar a realidade da ilha para além da qual não podemos ir.

Quando comecei a praticar meditação, a ideia que tinha de mim era a de alguém que estava muito confuso. Eu queria sair desta confusão e livrar-me dos meus problemas, e tornar-me alguém com um pensamento lúcido e que poderia um dia tornar-se iluminado. Foi isso que me levou (em direcção) à meditação Budista e à vida monástica.
Mas depois, reflectindo nesta posição de que "sou alguém que precisa de fazer algo ", comecei a ver isso como uma condição criada - uma ideia que eu tinha criado. E se eu actuasse a partir desse pressuposto, ainda que pudesse vir a desenvolver todo o tipo de aptidões e viver uma vida louvável, boa e benéfica para mim e para os outros, no fim da história, poder-me-ia sentir bastante desapontado por não ter atingido o objectivo do Nibbana.

Felizmente que na vida monástica tudo é direccionado para o momento presente.
  (... continua) 
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