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Tudong Irlandês - 2ª Parte

de Bhikkhu Appamado

em 03 Abr 2012

  (...anterior) Tratava-se apenas de um 'quadrado de céu' pontualmente no meio das nuvens, mas era tudo.
Algumas centenas de metros à frente, o tio de Alex (montanhista experiente que já havia percorrido os Himalaias várias vezes) esperava-nos, trazendo consigo o seu cão e outro que havia encontrado perdido na montanha. Já a mais do meio da descida encontrámos a dona (do cão perdido) que ficou radiante por reaver o seu fiel amigo (e vice-versa).

Os três dias seguintes foram passados a percorrer as montanhas Kerry. Quanto mais os dias passavam, quanto mais embrenhados nas montanhas nos encontrávamos, quanto mais a civilização ficava para trás, mais intemporal a nossa experiência se tornava. É como ter contacto com a nossa energia primeva, tocar no ponto em que a nossa humanidade se toca com o que está para além e antes dela, anterior ao seu início. As nossas origens, as nossas razões de existência, a demanda da humanidade no mundo desde os primórdios dos tempos, a nossa história de sobrevivência, de busca, de libertação. Tudo isto se torna parte da nossa experiência. Vivemos imbuídos nestas questões que se vão desvelando a cada passo do caminho. É como se tivéssemos a andar no nosso interior, em direcção a um centro que não tem lugar na dimensão espacial.

A dada altura ficámos sem água pelo que eu e Alex tivemos de, pacientemente, recolher gotas que escorriam pelo musgo de uma encosta. Levou-nos cerca de quarenta minutos para encher três garrafas. É assim que se dá valor a algo que normalmente tomamos como 'direito adquirido'. Nessa noite, cada gota desperdiçada não passava despercebida. Entretanto, 'cá fora', havia chegado a altura de deixar a montanha e voltar às planícies, pois tínhamos de alcançar a costa de maneira a apanhar um barco para Valencia Island. Já na planície 'trocámos' o Rori pelo Padraig, que veio ter connosco com um muito bem-vindo piquenique.

A última noite antes de irmos para a ilha foi passada a acampar junto ao mar. Eu e Alex estávamos inspirados e ficámos embrulhados nos sacos cama a fazer meditação sob as estrelas (§) até quase à meia-noite. Estava muito frio e vento, mas o bater das ondas era doce e suave, enrolava-nos nas suas curvas e levava a nossa mente para lá do fundo do mar, para um tempo antes do tempo.
Valencia Island é uma ilha viçosa, com uma atmosfera especial. Tem algo de sagrado, de resguardado e de misterioso. É como se ali houvesse um segredo guardado! Percorremos grande parte da ilha a pé. Pela primeira vez avistámos o destino final da viagem, os Skeligs, pequenas ilhas que foram outrora habitat de monges cristãos. Acampados para a noite, fizemos chá e descansámos. No dia seguinte descobrimos que havíamos acampado no local onde pela primeira vez se fizera a ligação com sucesso dos cabos de telégrafo entre a Europa e a América, em 1866. Imagine-se, cabos que atravessam o Oceano Atlântico!

De seguida fomos até Portmagee onde apanhamos o barco para os Skeligs. Entretanto juntaram-se a nós Mich, os pais e a irmã de Alex, a mãe (§) e um dos irmãos de Rori, perfazendo um total de 11 pessoas no grupo. A viagem de barco foi uma aventura. As ondas galgavam a proa. Todos os passageiros estavam vestidos com oleados, mas completamente encharcados. Já não sentíamos a chuva: tudo era água.

Chegados aos Skeligs a atmosfera austera da ilha e as construções monásticas não deixam ninguém indiferente. Foi com muita bravura e fé em Deus que estes homens ali se sediaram, longe da terra mãe, ligados apenas por um pequeno barco que 'quiçá' alguns dias por ano podia fazer a travessia. A vegetação da ilha é muito rasteira. As encostas muito escarpadas. Cultivar algo seria muito difícil dados os ventos fustigantes e o ambiente extremamente marinho (salgado). A ilha é invadida por papagaios do mar e muitas outras aves marinhas. Existe também uma simpática colónia de focas. Foi assim o culminar de uma peregrinação. Para mim, uma expansão. Para Alex um grande revelar da sua própria verdade, e decerto cada um dos participantes teve a sua experiência na medida da sua entrega.
  (... continua) 
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