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A Realização do Infinito

de Rabindranath Tagore

em 12 Jun 2013

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Da mesma forma, a nossa alma precisa vagar no infinito, sentindo a cada momento que a sua alegria suprema reside na sensação de jamais poder chegar ao fim da sua realização.
A felicidade duradoura do homem não está em alcançar alguma coisa, mas em entregar-se àquilo que é maior do que ele próprio, a ideias que são mais amplas que a sua vida individual, ao ideal da pátria, da humanidade, de Deus. Esses ideais tornam mais fácil para ele abandonar tudo o que possui, sem exceptuar a sua própria vida. Sua existência é miserável e sórdida até que encontre algum grande ideal que realmente possa requisitá-lo inteiro, que possa libertá-lo de todo o apego às suas posses. O Buda e Jesus, e todos os nossos grandes profetas, representam esses grandes ideais. Eles colocam à nossa frente oportunidades de nos entregarmos inteiramente. Quando estendem a sua divina bandeja para esmolas, nos sentimos que não temos nada para dar, e descobrimos então que a nossa mais verdadeira alegria e libertação está em nos entregarmos, pois isso significa unimo-nos completamente com o infinito.

O homem não é completo; ele ainda está para ser. E ele é pequeno no que ele é, e se pudéssemos concebê-lo detendo-se aí para sempre, teríamos uma ideia do mais terrível inferno que se possa imaginar. No seu estar-para-ser ele é infinito, e aí se encontram o seu céu e a sua libertação. Naquilo que já é, ocupa-se a cada momento com o que pode obter e fazer; naquilo que está-para-ser, acha-se faminto de algo que é mais do que pode ser obtido, algo que nunca pode perder porque jamais o possuiu. O pólo finito da nossa existência encontra-se no mundo da necessidade. Nele o homem vai em busca de alimento para viver e de roupas para se aquecer. Nesse domínio – o domínio da natureza – sua função é obter coisas. O homem natural ocupa-se em aumentar as suas posses.
Esse acto de obter, porém, é parcial, e limita-se às necessidades do homem. Podemos ter uma coisa apenas até ao limite das nossas necessidades, exactamente como o vaso, que só pode conter água dentro dos limites no seu vazio. Nossa relação com o alimento está no comer, e a nossa relação com uma casa está apenas em habitá-la. Dizemos que uma coisa é benéfica quando preenche apenas alguma necessidade especial que temos. O obter, portanto, é sempre um obter parcial, e nunca pode ser de outro modo. A ânsia de adquirir pertence ao nosso ser finito.

Contudo, o lado da nossa existência que se direcciona ao infinito não procura riqueza, mas liberdade e alegria. Nele cessa o reino da necessidade, e nele a nossa função não é a de obter, mas ser. Ser o quê? Ser uno com Brahma, pois o domínio do infinito é o domínio da unidade. É por isso que diz o Upanishad: “Se o homem apreende a Deus, torna-se verdadeiro”. Aqui se trata de tornar-se, e não de ter mais. As palavras não se avolumam quando conhecemos o seu significado; elas se tornam verdadeiras, tornando-se unas com a ideia.

Embora o Ocidente tenha aceite como seu mestre aquele que audaciosamente proclamou a sua unidade com o Pai – e que exortou os seus seguidores a serem perfeitos como Deus -, nunca se reconciliou com essa ideia da nossa unidade com o ser infinito. O Ocidente condena, como algo blasfemo, qualquer insinuação de que o homem se torne Deus. A ideia de uma transcendência absoluta não foi certamente o que Cristo anunciou, nem é essa a ideia dos místicos cristãos, mas parece ser a ideia que se tornou popular no Ocidente cristão.

A mais elevada sabedoria do Oriente, contudo, sustenta que a função da nossa alma não é a de ganhar a Deus ou de utilizá-lo para qualquer propósito material específico. Tudo a que podemos aspirar é tão-somente nos tornarmos cada vez mais unos com Deus. No domínio da natureza, que é o domínio da diversidade, crescemos por meio da aquisição; no mundo espiritual, que é o domínio da unidade, crescemos através da perda de nós mesmos, através da união.
  (... continua) 
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