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Misticismo
de Annie Besant
em 19 Out 2013
(...anterior) Ela leva outras consigo, pois todas terão de misturar-se, e, embora falemos nos três Caminhos para a União – o Caminho de Jñanan, Sabedoria; o Caminho de Ichchhā, Vontade; o Caminho de Kriyā, Actividade – ainda assim eles se reúnem em um, ao fim, e são todas resumidas nessa reunião por uma palavra: “Serviço”. Todas as faculdades do intelecto devem erguer-se para a Razão Pura, essa grande qualidade de Buddhi, que se situa além até mesmo do esplendor do Manas Superior.
O Desejo, turbulento por sua natureza, torna-se, então, o inabalável poder da Vontade. Kriyā, que nos mantém ocupados com o mundo exterior, e deve mudar para Sacrifício, pois só a acção que é sacrifício não constrange. Tanto a boa como a má actividade nos ligam ao mundo, muito diferentes em seu resultado sobre o carácter, muito diferentes na direcção que imprimem à evolução, mas ainda assim, uma força constrangedora, levando-nos a recuar e muitas vezes, prendendo-nos com firmeza à roda em constante movimento da vida. E é apenas de uma forma que esses liames, tão delicadamente chamados “os laços do coração”, podem ser desfeitos, e isso se dá pelo sacrifício, no qual a acção é vista como realizada pelo Feitor Único, e o senso de separação se perde nessa mesma actividade, que se mostra mais acentuada na vida inferior do homem.
O que tenho estado a dizer é a própria essência do Misticismo, que se manifesta em muitas formas de expressão, algumas um tanto obscuras, outras claras; que se manifesta em todas as épocas do mundo, sempre e onde quer que homens tenham buscado a União como Supremo. Será conveniente que para a vossa instrução estudem essas várias expressões do Misticismo. Irão encontrá-las se seguirem a história das várias Nações do mundo, e os vários séculos do tempo. Encontrarão o Místico, o Yogī, em cada nível de vida, rico ou pobre, de alto nascimento ou nascido em camada inferior, príncipe ou camponês, mas por toda a parte trabalhando com o mesmo espírito e caminhando sobre o fio da navalha em direcção ao mesmo objectivo. Algum Mestre sempre estará junto dele, guiando-o para uma evolução mais rápida, temperando sua energia enquanto ele a desenvolve, na proporção dos obstáculos e das dificuldades que deve dominar. Esse homem nunca está realmente só, mesmo que pareça ser o mais solitário dos homens. Nunca está realmente abandonado, porque, como diz o Profeta Hebreu: “Lá em baixo estão os braços eternos”.
A verdade, entretanto, é que o Yogī tem de encarar tanto as trevas como a luz. Se permanecer muito tempo sob a luz, pode tornar-se cego pelo esplendor daquele brilho, que seus olhos não podem fitar sem deslumbramento. Todos os que palmilham aquele caminho sabem o que quer dizer “a noite da alma”. Parece-me que nisso se põe ênfase maior no Ocidente do que no Oriente, que há alterações mais rápidas de carácter catastrófico, mais ênfase e mais agonia, na experiência dos grandes Místicos do Ocidente do que na dos Místicos do Oriente. E estou inclinada a pensar que isso ocorre devido ao facto de que no todo, o corpo tem sido demasiadamente descuidado, no Ocidente. Há profunda diferença na forma pela qual o corpo é visto no Oriente e no Ocidente no Oriente ele é visto como a corporificação de Ātman, a ser, aos poucos, purificado, refinado, tornado subtil e delicado, a fim de que possa ser o veículo do Espírito. Não é desprezado, a não ser naquelas formas de Yoga (§) que se enquadram na qualidade tamásica, e das quais Sri Krishna fala quando declara que há algumas cujas tapas (austeridades) são tamásicas, torturam o corpo, a “a Mim, situado no corpo”.
A não ser nessas erróneas formas de Yoga, a disciplina aplicado ao corpo, no Oriente, tem sido do tipo temperado a que me referi; e, embora, como enfatizar isso, o Próprio Senhor Gautama tenha se dado a certas formas de Yoga até Seu corpo se tornou praticamente inútil para o propósito da vida, e Ele caísse, desmaiado, sobre o solo, sendo reanimado pelo leite que uma menina camponesa Lhe trouxe.
(... continua)
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