pág. 3 de 10
O Incondicionado
de Ajahn Sumedho
em 26 Jun 2016
(...anterior) Eu costumava interrogar-me sobre isto e dizia «se Ele estava iluminado, como poderia dizer uma coisa dessas?». Sinceramente acho que é algo perfeitamente estúpido de dizer se me perguntassem. Imaginem, alguém vos pergunta e vocês respondem «Eu Sou o/a perfeitamente iluminado/a», pois quem quer que dissesse isso eu não confiaria. Eu já cheguei a conhecer pessoas aqui em Amarāvati, uma entre as quais se proclamou Deus. Mas, na verdade, o Buddha (§) disse o que disse, pelo menos na escritura, não sei até que ponto a história é fidedigna, mas é uma boa história e o asceta foi-se embora e não acreditou. Então, será que o Buddha estava a dizer uma mentira, ou foi só presunção? Ou foi o “Eu” não pessoal? Portanto, isto é só uma reflexão sobre o uso deste pronome. Será que “Eu” sempre se refere a mim como uma pessoa? Ou é antes um testemunho da realidade? “Eu sou o iluminado”, “Eu sou o caminho”, “Eu Sou...”... e claro, para muitos de nós parece-se como sendo o ego, porque geralmente é assim que se usa a palavra, o pronome “eu”. E é óbvio, se alguém sente o seu ego envolvido, então vai interpretar como uma espécie de objectivo pessoal a ser alcançado, tornando-se personalidade... ou não será?
Por exemplo, no Advaita (Vedānta), eles usam o “Eu Sou” como “quem sou eu” ou usam a reflexão no “Eu Sou” de uma forma sábia. E então os budistas dizem «oh, no Advaita eles têm o “Eu” superior e o “Eu” inferior e o “Ātman” e é tudo uma porcaria, nós os budistas é que estamos certos...». Mas, será que realmente sabemos o que estamos a dizer? Será que compreendemos verdadeiramente a nossa própria convenção? Porque temos preconceitos e juízos tendenciosos a respeito de outras religiões, a respeito de outras convenções das quais não nos inteiramos nem compreendemos, nem as praticamos para as perceber, simplesmente as julgamos do ponto de vista da nossa própria convenção. É como a presunção de ser inglês não é? O Império Colonial Britânico, com certa presunção, ensinava as pessoas a serem civilizadas, porque a nossa civilização tinha muito mais brio do que qualquer outra, quando na realidade não compreendiam ninguém, e isto é ser o “eu” e o “meu”, que são convencidos, onde existe preconceito tendencioso e prejudicial que vem da ignorância.
E, então, apontando para a consciência, qualquer que seja a nossa raça, religião, classe ou o quer que seja, na realidade nós somos seres de consciência, isto é consciência. E a linguagem é algo que aprendemos e usamos em consciência. E neste Retiro aquilo para o qual aponto, não é para a convenção como algo que tenham que dominar, mas sim para o modo como devem usar a convenção do Budismo Theravada. Assim, não é para criar ou acrescentar mais presunção à que já possa haver. É usar isso, exactamente para ver e penetrar através da presunção, através da ignorância, preconceito ou apego que possa existir, é ir mais além, para ver o sofrimento que experimentamos ou que eu experimento quando estou agarrado a ideias, opiniões, posições e sentimentos de auto-importância. Deste modo, qualquer conceito, pensamentos ou atitudes que eu possa ter, ou nem ainda estar consciente, acaba quando começo a observar e reflectir no que realmente estou a pensar e a sentir. Eu costumava ser convencido de que não era convencido, porque eu não suporto gente convencida. Foi quando alguém falou em presunção dizendo que determinada pessoa era muito convencida, que eu comecei a reparar na forma como eu costumava julgar as outras pessoas como convencidas; reparei como estava a ser bem convencido, chegando a dizer: «eu não sou assim».
Portanto, o “Eu Sou”, como já indiquei anteriormente, se o ponho ao nível pessoal «Eu sou Ajahn Sumedho», deixa então de ser universal e torna-se pessoal, «Eu sou Americano-Britânico», se o puser em termos universais pode-se dizer «Eu sou... Amor». O que será isso?
(... continua)
|