Kaivalya Navaneeta é um clássico Advaita amplamente conhecido, escrito em tâmil. Navaneeta significa manteiga. Kaivalya é o estado em si em que a alma existe isolada de toda a relação com o corpo, etc. Desde o vasto oceano do leite (os Upanishads, etc.), os grandes mestres têm extraído o leite da sabedoria com o qual encheram vasos ( textos antigos). Tandavaraya Swami, o autor de Kaivalya Navaneete, disse que tinha extraído a manteiga da nata do leite. Os que o tenham conseguido (porque se alimentaram com a manteiga-nata da sabedoria divina – Brahman jñāna – e ficaram eternamente satisfeitos) não vagarão alimentando-se do pó (os objectos sensoriais irreais).
A seguir aos Upanishads e ao Bhagavadgīta, o Śrimad Bhāgavatam é a Escritura indiana com mais autoridade. Através de histórias da vida de Avatāras, sábios, devotos e reis, populariza as verdades contidas nos Vedas. Neste momento, mais de duzentos milhões de hindus encontram nela, suas mais queridas expressões de fé religiosa e exemplos mais queridos. Estudá-la é a melhor de todas as formas para se familiarizar com a religião viva da Índia. Sua excelência peculiar está em que reconcilia o coração com a cabeça, a devoção com a aprendizagem. "É cozinhado na manteiga do Conhecimento", diz Śrī Ramakriṣṇa, um dos últimos profetas indianos, "e mergulhado no mel do Amor". Somente as partes mais genericamente interessantes do Śrimad Bhāgavatam - que correspondem a algo menos de metade do todo - estão incluídas na presente versão. Desta versão, por sua vez, cerca de metade é resumo e paráfrase, mais do que tradução; o restante, contudo, consistindo de ensinamentos de Śri Kriṣṇa a seu discípulo Uddhava (Livro XI), foi traduzido sem omissões e quase literalmente. Em todo o trabalho, teve-se como objectivo principal, interpretar em inglês o espírito íntimo do texto Sânscrito.Tanto quanto sei, até ao momento, o Bhāgavatam não foi ainda disponibilizado para o público de língua inglesa. Na revisão da minha tradução para a imprensa, tenho o prazer de mencionar que tive a assistência de meus amigos Jane Manchester e Frederick Manchester.
O homem ignorante, ligado a seu corpo, é controlado pelas impressões e tendências criadas por suas acções passadas, e é limitado pela lei do Karma. Mas o homem sábio, seus desejos sendo extintos, não é afectado por acções. Ele está além da lei do Karma. Uma vez que sua mente repousa no Ātman, ele não é afectado pelas condições que o cercam, embora possa continuar a viver no corpo e embora seus sentidos possam se mover entre os objectos dos sentidos. Pois ele compreendeu a vaidade de todos os objectos e na multiplicidade vê um Senhor infinito. Ele é como um homem que despertou do sono e aprendeu que seu sonho era um sonho. Só em ignorância, antes de se chegar à iluminação, as diversas acções, que são os trabalhos dos guṇas, parecem-se unir à Essência. Com o amanhecer do conhecimento, desaparecem. O Ātman, no entanto, permanece não afectado, pois nem na ignorância se torna impuro com os actos, nem no conhecimento se torna livre de impureza.
“Ali” (distante de “aqui”) existe o não realizado - como tal, comporta sofrimento. O calor do desejo impele ao movimento, exigindo labuta, de forma a chegar ‘aqui’. Quando chega ‘ali’, torna-se ‘aqui’. Mas, de novo surge outro ‘ali’. O processo repete-se, reunindo momentos – a dor acumula-se, bloqueando a liberdade e negando paz. Assim acontece com os não-despertos, vendo apenas a separação dos seres e das coisas, cegos às ligações que constroem o todo. Uma vez despertos, a consciência liberta vê todas as relações em tudo, entre aqui e ali. Nessa altura nada existe que possa sujeitar alguém a um esforço vão – tudo é fácil e livre, a paz torna-se activa. A consciência liberta não tem restrições. A sua movimentação daqui para ali não sofre crispações – pode mover-se perpetuamente. Não há perda de energia. A capacidade que tem para ver todos os factos de forma transparente não lhe permite gerar sofrimento, produzir ilusões ou erros de percepção. Permeia cada aqui e cada ali; está em todo o lado. É espaço mental, ākāśa, integrando o aqui, o ali, e o em todo o lado. Isto é omnipresença.
Uma boa parte da humanidade tem uma concepção de Deus derivada das religiões da Bíblia e sob essa perspectiva concebe-se Deus à escala humana, que embora superior em virtudes e poder, não deixa de ser um conceito terreno. No conceito oriental e sob a perspectiva do ensinamento do Buddha, vemos que a preocupação fundamental, não foi apresentar um conceito de Deus ou dizer que Ele existe, mas como “chegar” a Ele. O princípio da sua doutrina do Buddha reside na transformação do homem pelas acções e pensamentos correctos e só depois então, pode nesse percurso vir a desvendar a sua própria natureza e a conhecer a transcendência a qual designou por Nirvāna. Este autoconhecimento (no Budismo) visa que o homem transcenda a sua própria humanidade pelo estado de consciência desperta; ser autoconsciente, sem autocomiseração e vitimização, ou qualquer outro aspecto de fraqueza humana, através da recta conduta.