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Desapego

de Diogo Castelão Sousa

em 29 Jul 2022

   A natureza da própria Vida é o desapego, o contínuo fluir dos tempos. Assim, abstrata, podemo-la pensar como uma energia num incessante fluir, omnipresente, mas cuja natureza lhe permite evidentemente caracterizar-se como liberta (livre) e plena de amor, na sua impassividade pura.
A Vida caracteriza-se por três aspetos fundamentais: o facto de ser totalmente desconhecida, transitória e interdependente. Gautama Buda soube-o expressar através de duas terminologias-chave: Anatta (Não-individualidade) e Anicca (Transitoriedade). Ambas remetem para a não-identificação com a matéria, ou mundo das formas, sintetizando-se na investigação daquilo que perece e permanece como real.


Ambos os três aspetos estão ligados. Assim, por detrás de todo o conhecimento, jaz o Desconhecido ou a perfeita sintonia entre a Vida tal como ela é e a consciência pura, como espelho, sem expectativas. Define-se por um estado de não-racionalização ou receptividade mental e, como tal, subjetivamente, experiencia tudo pela ‘primeira vez’, tal a pureza de um recém-nascido, dada a não interferência das forças ou tendências do passado, que filtram e interpretam a informação que recebem sob um véu, sem alcançar o que é inédito e atual.

De igual modo, por detrás de toda a forma aparentemente estável e concreta, jaz o ‘borbulhar íntimo dos átomos’, em constante mutação, mediante a resposta ou reação a diversos estímulos, vindos do meio-ambiente. Trata-se de um processo equivalente à reordenação das partículas, o que nos permite já não conceber ‘coisas’ ou ‘pessoas’ por palavras, mas sim entrever entidades energéticas, ou padrões vibratórios que correspondem a átomos e consciências, dentro de um campo energético unificado.

Por fim, por detrás de toda a suposta agência ou autoria de ações (individualidade), jazem forças desconhecidas, cósmicas, que comandam ou guiam a ação dos homens, oculta ou visivelmente, numa interdependência mútua, cuja origem é mais ou menos entrevista, dependendo do grau de consciência do Ser, mas que, em última análise, estão ligadas à própria constituição ou Leis do Universo.

Assim damos por nós neste puzzle ou paradigma que é vida humana, abstrata como ela é, mas clara, concisa e evidente, no seu dia-a-dia. A pergunta seria então a seguinte: podemos ou não descobrir a Vida tal como ela é na sua essência? Podemos ou não sintonizar a própria vontade ou mistério da existência? Contudo, para tal, é preciso recuar dois passos atrás, e questionar a própria individualidade ou ‘conceito’ que nos separa do Todo.

Mediante a reflexão no conceito budista Anatta (não-eu), inquirimos se somos ‘algo’ ou ‘alguém’ que procura obter respostas, ou se não seremos antes o Todo, inseparável das partes, que calmo e impassível, repousa em si mesmo, sem necessidade de procurar respostas, fruto de meros conceitos mentais? Trata-se na verdade, da contraparte ‘espiritual’ do conceito budista, o facto de revelar uma unidade imensa, que une intrinsecamente as várias constituintes do todo.
Assim, a unidade da Vida já não deveria ser encarada como algo exterior a nós, além ou ao nosso redor, mas aquilo já que somos em essência, o Todo, que não necessita de ‘mente’ ou ‘intelecto’ para se absorver em si mesmo, como objeto de contemplação, exigindo apenas profundidade de ação e atenção.

Deste modo, por vezes, ao nos submetermos a perguntas como: ‘Quem sou eu?’, ao invés de visar respostas, antes poderíamos rever a questão em si, como formulação. Pois se eu já sou o que sou, que ‘ser’ seria esse que necessita de ser encontrado? Ou não será a própria Vida e Consciência aquilo que desde já incorporamos como princípio na matéria, aqui e agora, sem separação?
Num momento de silêncio, a indagação mental ou racional ofereceriam o seu lugar à sintonia e alinhamento internos que, libertos da mente, se firmam na descoberta do princípio que se expressa sob a máxima ‘Eu Sou’, em cada forma, iluminando-a desde o seu interior. Aí, nesse processo, dá-se aquilo a que podemos chamar de ‘tomada de atenção’ ou ‘Consciência’, firmadas na luz e ser interiores.

Portanto, seriam as respostas mentais ou conceptuais aquilo que mais procuramos, na busca do sentido da vida? Ou antes algo que se julga perdido? Reunamos, pois, esforços, para entrever que, mais imperativo do que aquilo que se julga não saber, é a revelação daquilo que, desde já, se encontra no nosso interior. O processo de reminiscência, ou lembrança, do conhecimento que jaz adormecido dentro de nós. Aí se encontram as pérolas da sabedoria e o segredo para a justa evolução e realização interiores.
     


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