Fundação Maitreya
 
Simultaneidade

de Diogo Castelão Sousa

em 02 Set 2022

  Será o futuro diferente do passado? Será a memória independente do vir-a-ser? Experiências acumuladas, sentimentos vividos, serão eles realmente diferentes daquela ‘projeção de expectativas’, a que chamamos futuro? Ou não corresponderão antes à ideia que temos dele? Nesse sentido, o futuro é o passado. Consequentemente, resta-nos aferir o facto de que essa percepção acontece sempre no presente. Logo, concluímos: Passado, Presente e Futuro, todos coincidem num só ponto: o intemporal momento presente.

É errado pensar em divisões onde elas não existem, ainda que aparentemente assim seja. Desde logo, cabe-nos perceber o seguinte: a simultaneidade de tudo, da Existência. A perfeita inter-relação de corpos, planos, energias e Dimensões. Existe uma história ou teoria que diz que um simples bater de asas de borboleta num canto do planeta, pode provocar um furacão no outro lado do hemisfério. Por analogia, costuma-se ouvir dizer que uma pequena ação de graças pode desencadear, algures no futuro, uma revolução, inclusive de grandes proporções. Qualquer um destes ditos fará justiça ao aludir a esta condição de interdependência entre os vários seres, e seus diversos estados conscienciais.

Assim, temos que a Existência é uma, mas não só. Na sua diversidade, o Tempo, por exemplo, parece criar separações (aparências), devido à impressão de ‘continuidade’ que recebemos delas (identidade), ou seja, através de uma cristalização psicológica de objetos, pessoas e ambientes, como coisas definitivas e duradouras. Contudo, essas ‘coisas’ são ‘coisas’ que se criam em nós, à medida que vamos formulando um julgamento acerca delas, e adquirindo uma imagem própria, subjetiva, de acordo com algum estado consciencial, de onde derivam tais perceções. Nessa ilusão aparente (fechada), não vemos a verdade das coisas mas apenas a imagem que temos delas.

Percebendo isto, porventura percecionamos a simultaneidade de tudo, de todos os tempos e ações, ou seja, da sua profunda interligação. Assim, cada estado consciencial ou condicionamento deriva de decisões e escolhas passadas (conscientes ou não), denominadas vasanas; através destas impressões, formulam-se disposições futuras que, de acordo com a qualidade de ação, elaboram destinos ‘diferentes’. Assim se processa o devir, enquanto que, misteriosamente, ao mesmo tempo, a Eternidade ‘está’, sem futuro ou passado, Imutável na sua natureza…

Não pode assim ser descrita a Existência na sua totalidade, mas resumida a certos aspetos e Leis fundamentais. Logo, ao tentar apreendê-la analiticamente, o ser, ao fazer uso de um quadro mental de sentido, desanima ou, pelo menos, fica apreensivo com o tempo, dado que captá-la através da especulação coloca sempre barreiras demasiado limitantes à consciência aventureira, que almeja o Bem e a Verdade.

Decerto, aquilo ‘que’ vemos é o ‘modo’ como o vemos. Assim, ver uma árvore é, de certo modo, pensá-la. Pois o simples ato de a ‘captar’, isolando-a contra o pano de fundo da Existência, do universal devir cósmico, cristalizando-a no seu aspeto mais exterior e aparente, impede a percepção ou experiência, de um modo mais real e abrangente, da interligação de todos os seres (do todo em si mesmo), ou seja, do fluídico e dinâmico processo de vida entre partes, que na sua totalidade se revela verdadeiramente inseparável entre si; nesse devir não se retêm imagens, aparências, mas são águas que, na superfície das coisas, nunca param e ‘nunca são as mesmas’.

Na verdade, aprofundar qualquer tema, tal uma manifestação ou aspeto particular da Natureza, exige sempre esta liberdade mental, ou seja, uma frescura imediata de se saber ser a primeira e última vez que tal fenómeno acontece, dentro da sua brevidade, ou ainda um constante, imenso e universal devir cósmico, realizando o seu aspeto único, de ser algo verdadeiramente inédito e nunca antes visto. Assim, ver uma ‘coisa’ não como algo já previamente estabelecido, conceptualizado, mas sim um ‘processo-em-aberto’ confere maior liberdade e percepção àquele que discrimina o real do transitório, aquilo que jaz por detrás do movimento das formas ou aparências, tornando, deste modo, o ser mais apto a entrar em sintonia com a própria Vida, de a captar como ‘transformação’ contínua, onde um ritual de fogos purificadores sustenta continuamente a evolução ininterrupta dos seres.

Conclui-se, portanto, neste breve e pequeno apontamento, que o essencial está ligado fundamentalmente ao modo como percecionamos ou julgamos ser a vida. Encará-la, assim, de outro ângulo, numa amplitude maior, possibilita a alteração ou transformação de tal forma, em tal grau, que aquilo que antes poderia parecer um obstáculo, pode vir a se transfigurar no mais belo dos milagres.
   


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