Fundação Maitreya
 
Os Mistérios Crísticos

de Maria Ferreira da Silva

em 10 Jun 2024

  As civilizações encadeiam-se e progridem. Assim vamos encontrar outros Focos de Luz, neste planeta, que são verdadeiros poços magnéticos e espirituais. Quando a Civilização Egípcia começou a perder vitalidade, entrando em declínio, um outro valor magnético estava a ser intensificado, aquele para onde Deus dirigiu o Seu Olhar, Israel … A Civilização Hebraica foi então o ponto alto da civilização ocidental, o berço de tantos profetas e a continuadora da Civilização Egípcia no que concerne às Iniciações Colectivas da humanidade. Coube a vez a outro Iniciado de fazer ou impulsionar a história, ao trazer o conhecimento dos Mistérios Iniciáticos do Egipto para Israel, transmitidos pelo seu poder e força. Foi Moisés o “eleito” para transportar a Poder Espiritual que daria continuidade ao progresso evolutivo da civilização no Ocidente embora, já desde tempos remotos, o Poder e a Luz tenham brilhado especialmente neste solo, receptáculo de Patriarcas, Reis e Profetas através dos quais se foi lentamente preparando a vinda de Cristo. Ele traria para a humanidade um novo poder: a grande Iniciação, a mais importante Iniciação Colectiva que é a Cristificação. Esta transferência do Poder Espiritual para Israel feita por Moisés, quando abandonou o Egipto, correspondeu ao começo do fim desta civilização, onde até então residia a maior fonte de Poder Espiritual.

A Arca da Aliança, mandada construir por Deus, substituiu os Santuários Sagrados do Egipto e passou a concentrar em si a energia do Poder de Deus para a evolução espiritual dos homens. A civilização que é portadora da Arca da Aliança, avança e progride muito mais que outras.
Moisés foi tanto místico como chefe e legislador, mas entregou o sacerdócio a seu irmão Aarão, para chefiar melhor os duros hebreus. Quando libertou o povo do jugo da escravatura egípcia, instituiu leis próprias e um culto que assegurava a união deste com Deus, ou Yavé, que estava presente na arca da Aliança, símbolo manifestado do Poder de Deus. Impôs numerosas disposições legislativas, religiosas e sociais.

Moisés estava instruído em toda a sabedoria egípcia, era homem sábio, e a prova principal que atesta a grande responsabilidade colectiva, dos valores morais e religiosos ensinado aos hebreus, está na instituição do culto a um só Deus.

Israel foi preparado desde muito cedo para toda a evolução religiosa que lá se verificou desde a submersão da Atlântida, sendo a história da Arca de Noé uma figuração disso. Com efeito aqui desembarcaram grupos sobreviventes das últimas conflagrações da Atlântida. Outros entraram pelas enseadas e costas da Europa e das Ilhas Britânicas, do que restam muitas tradições sobretudo na Irlanda e Escócia, sendo esta última, o ponto principal da ligação com a futura civilização europeia.

Quando me encontrava em Jerusalém junto às muralhas e descia para a porta de Jafa, compreendi, numa revelação espiritual invulgar, que os maiores acontecimentos religiosos da Terra puderam passar-se ali. E perguntei: «Porque é que tantos seres de Luz aqui nasceram?» E enquanto caminhava, Deus foi-me respondendo. Um Foco de Luz intensa descia d’Ele, projectando-se sobre Israel, e era portador de energias com atributos especiais e específicos para que pudessem nascer seres de tanta Luz. O Poder de Deus emanou assim para esta terra e seres, muito concreta e especialmente e, por isso, para eles, Deus era “vivo” e não uma noção abstracta, ou crença.
Após Moisés, milhares de anos se passaram, até ao ponto em que também esta Civilização Hebraica entrou em declínio, e foi então Jesus, desta vez, o transmissor do Poder Divino, desta terra para outra. Através do Cristianismo, floresceu na Europa para nova civilização, até porque a Arca da Aliança, foi trazida pelos romanos para o Ocidente e dada aos primeiros cristãos …

A Idade Média, por exemplo, foi já uma época de fervilhar do intelecto e do espírito humano, bem patente na cultura e na arte, em que as suas belas catedrais conseguiam transmitir Deus por si só, em cada pedra, vitral e artefacto. Foi também época prodigiosa pelo valor oculto e hermético trazido para o Ocidente com os filósofos alquimistas, e os astrónomos astrólogos, numa continuidade do que se aprendera no Egipto, na Caldeia, na Grécia e Palestina, realizando-se cada vez mais a sabedoria da síntese, do que Alexandria fora já um gérmen. Assim, os alquimistas medievais consideravam o Egipto como país da alquimia e para se diferenciarem dos filósofos profanos, chamavam-se a si próprios os filósofos herméticos. Com Cristo foi iniciada uma nova era para a humanidade.

Ensinou-nos a não precisarmos de outrem, ou de mestres para a ligação com o Divino e como obtermos essa ligação ou Iniciação directa com os planos espirituais. Substituiu o mestre físico pelo mestre invisível, transcendente, espiritual, daí a razão e necessidade de Ele ter morrido, pois só desta forma nos daria a conhecer a ressurreição, que não foi outra coisa senão mostrar-nos a realidade do espírito, o transcender da morte e a continuidade da vida após ela. Por isso Jesus dizia: «Só chegais ao Pai, através de mim». A ressurreição, não é o que erroneamente uma parte dos cristãos entende: os corpos não ressuscitam, mas sim a Consciência ou o Espírito; ou seja, após a morte, há uma plenitude de vida. Também, quando incarnados no corpo físico, se obtém determinado grau, ou estado espiritual resultante da purificação mental e psíquica, tem-se certas capacidades e sensibilidades para se poder ver com os olhos da Alma o Cristo nos planos invisíveis. Foi esta a Iniciação Maior que Cristo trouxe à humanidade: a Cristificação, que significa a abertura do coração ao amor espiritual. Ele ensinou-nos que através do amor que lhe dedicámos, atingimos a energia crística e obtemos assim, em comunhão com os planos espirituais, a Iniciação Maior. Deu-nos, pois os Mistérios Internos da Iniciação.

O Cristo, é assim chamado, porque existe a energia “Crística” para a evolução da Terra. É uma das tantas energias cósmicas enviadas de Deus, para o progresso do homem. Existe um Ser que pela sua elevada estatura espiritual e cósmica, representa para a Terra essa energia “Crística” e que se chama Cristo. Jesus, sem dúvida um alto Iniciado, transferiu essa energia para a humanidade, ou seja, deu-a a conhecer através da doutrina do Amor e afirmou que podíamos obter o Reino dos Céus. Jesus era de tal forma puro e evoluído, que estava ligado e identificado perfeitamente com esse Ser que personifica e irradia essa energia dos Planos Cósmicos e Espirituais, e pôde falar com a sabedoria de Cristo, porque com Ele, eram Um. Contudo, a transfiguração foi outro passo dos Mistérios, foi a união com o Pai, Deus ou o Absoluto.

Jesus trouxe a maior Iniciação Colectiva e abertamente deu-a a conhecer. Temos de entender que dentro dessa “massa” humana estão os mais adiantados. Foram eles o exemplo para a humanidade. A pureza dos santos ao longo dos séculos, mostrou-nos como se obtém essa Presença do Cristo em nós e como viver também em comunhão com a energia Crística.

É neste estágio para a Iniciação Crística que é necessária a sublimação sexual, na medida em que essa energia, que está dentro de nós, mas adormecida, para as funções superiores tem de despertar e subir para o coração, razão porque na doutrina religiosa é imposta a castidade. É nesta fase de pureza sexual que o homem tem a oportunidade de ganhar consciência do valor real da energia sexual. Ela deve ser trabalhada, transmutada e, só mais tarde, vem a sabedoria de saber usá-la correctamente e de compreender como o amor entre o homem e a mulher pode ser vivido divinamente. Antes aprendeu inconscientemente a viver esse amor humano como homem e mulher, pois esta é a forma mais fácil de se desenvolver o coração.

Quando o ser está pronto, é-lhe permitido ter vidas em que se dedica ao ascetismo, pois ao guardar a sua energia sexual, transcende-a, elevando-a para o amor religioso; neste caso, aprende a amar o Mestre Espiritual, com o seu interior, sublimando afectos humanos e libertando-se até de mestres físicos, como eram necessários nas Iniciações Menores.
Não há dúvida que podemos considerar a religião cristã importantíssima para a humanidade, pois ela é a única, na sua especificidade, a ter sido criada para a Iniciação Crística. No entanto, tem limites, pois há iniciações posteriores mais elevadas, às quais podem chegar seres não só de outras religiões, como de diversos modos de pensar, ou filosofias.

A vida em que se atinge a Iniciação Crística exige ascetismo, castidade e por vezes até a vida monástica, pois é no recolhimento, na oração ou meditação que se adquire a pureza interna e se guarda a energia sexual, que permite a necessária abertura do coração (chacra cardíaco) para o Amor Divino, e é este o começo da emancipação do homem: compreende que pode ligar-se pessoal e directamente com Cristo e com Deus, (embora os padres se tenham erguido como intermediários na religião católica).

Havia e há uma forma mais fácil de obter esta Iniciação: é nascer num corpo feminino, que permite a grande oportunidade de se tornar a Esposa de Cristo. Este é um dos Mistérios da Iniciação Colectiva Crística, mas bem oculto… Deu-se assim a possibilidade de tantas Almas passarem esta Iniciação e na qual um ponto importante era e é a visão, ou a presença de Cristo, ou Jesus. É uma das chaves dos Mistérios do Plano Crístico, constituídos de segredos que a maior parte, ou mesmo todas as santas, não puderam contar. Havia as limitações ortodoxas e houve a Inquisição: umas por pudor, e outras ainda, mais lúcidas, pela compreensão de que o que se passava com elas era tão íntimo e tão estranho que não poderiam revelar a ninguém, senão corriam o risco de serem consideradas desequilibradas, calaram-se. Era a força do medo, falta de conhecimento e também a lúcida prudência, a ocultarem o aspecto mais misterioso da Cristificação. Aqui e acolá, porém, alguns indícios, por exemplo, santa Teresa de Lisieux, dá a entender algo, mas onde iria parar se o contasse …
E em que consiste então este mistério?

O segredo consiste na troca de energias de Amor entre a mística e Jesus. Quando o ser se purificou o suficiente para entrar no plano vibratório da Energia de Cristo, aproxima-se d’Ele e é o próprio Cristo que irradia e emana a sua energia directamente ao coração e desperta certos chakras ou centros nervosos. Um deles, o da energia sexual, é activado e provoca estados intensos de amor que podem levar ao orgasmo, ao mesmo tempo que essa mesma energia sobe para o coração, rebentando com o que bloqueia o coração místico, emergindo então o êxtase. Será tanto mais forte, quanto mais entrega e pureza houver, pois na pureza o Mestre Jesus pode aproximar-se mais, ou enviar energia mais intensa. Isto passa-se num nível muito íntimo e profundo, entre a mística e o Cristo; não há espaço para mais ninguém e o que se passa é de facto ela tornar-se a Esposa de Cristo. Compreende-se como elas se refugiavam do mundo, e não pretendiam contacto humano, pois Cristo é sublime …

Segredo ainda mais oculto e cerrado, será o do homem.
Quantos místicos houve que foram capazes de passar esta Iniciação? A energia sexual tem de ser entregue a Cristo …

Conheci uma freira carmelita, que desabafou comigo, já depois de ter feito a sua ligação com Cristo, dizendo-me: «tantos anos perdi na vida activa: se soubesse da existência desta felicidade, tinha escolhido logo e para sempre a vida contemplativa, ou clausura. Não há vida mais bela!».
Estou de acordo com o que ela diz, pois sei bem a quanta felicidade fui arrebatada nas mais sublimes uniões com o Mestre Jesus. Não há felicidade terrena comparável à transcendência do amor supremo e divino.

Para mim, quando chegou a hora de readquirir ou tomar consciência do meu estado crístico, fruto da Iniciação efectuada noutra vida, foi ao olhar uma imagem de Cristo colocada numa parede, que me provocou um arrepio intenso e deleitoso, percorrendo o corpo. Fiquei algo assustada e confusa, mas percebi, por mensagem telepática do Mestre, o que me iria acontecer futuramente. E assim, num lampejo de segundos e numa experiência espiritual, era-me revelada a Iniciação, ou o mais profundo dos mistérios. E de facto, após ter enveredado pelo caminho da libertação, realizando correctas decisões, dias de jejuns e meditações, comecei o desapego do mundo e a posse pelo Cristo! …
Foi um profundo despertar da Alma: quanto mais me elevava à consciência de Cristo, mais me apercebia da necessidade de sublimar a personalidade e de deixar o eu e, quanto mais me tornava una com o Mestre, mais me desvinculava das pessoas. Foi também a abertura ao Caminho Iniciático consciente, onde me foi dado em aviso algo incompreensível do que era a morte simbólica das Iniciações: num sonho, via-me morta, vestida de branco, dentro de um caixão e os meus três filhos olhavam-me, apenas olhavam …

Esta viria a ser uma das mortes simbólicas mais importantes, pois a partir de então comecei a receber ensinamentos do Mestre para me desapegar e para renunciar, mais tarde, à condição de mãe. Foi, como se calcula, das mortes mais difíceis de realizar e o desapego sem sofrimento só foi lentamente realizado pela ajuda do grande Amor vindo de Cristo.

Ao se atingir o estado de Cristificação atinge-se também uma expansão de consciência, em que se passa a ver o mundo por um prisma diferente e a ter outra compreensão acerca de nós, além de que a presença de Jesus nos conforta e encoraja muito. Ele fala-nos e a nossa vida passa a ser dirigida por Ele e nada se faz sem a Sua Vontade. Assim, no estado de iniciada, não se goza de consciência pessoal, mas sim de consciência cósmica. Para se chegar a este modo de ser, ou estado, “morre-se” constantemente para esta vida: a personalidade, surgida da temporalidade, é sacrificada e não pode mais reduzir-se à categoria do mundo profano. Ela é limitada, sublimada e elevada, mediante as transformações que se operam no interior e chega-se a uma lucidez e espontaneidade pura, passando-se a viver no “eterno presente”, fora do tempo.

Quando se fala de Iniciações Colectivas temos de ter em conta que os mistérios mais profundos são ocultados às “massas” e só se revelam, por si mesmos, aos mais avançados. Por exemplo, a Ciência Sagrada do Egipto, jamais saiu dos santuários. Quanto à Iniciação Crística, ela atinge-se individualmente; mas primeiro as características que se tem de adquirir e purificar são desenvolvidas lentamente e em conjunto, até se alcançar o ponto em que se destaca dessa “massa”.

O mote indispensável para esta Iniciação ao nível das “massas” é, sem dúvida, a devoção. A devoção é desenvolvida nos povos, e neste caso com o Cristianismo, através da vida de um Ser, que ficou como marco e exemplo de como podemos alcançar o reino de Deus, ou dos céus. Assim se estabeleceu uma religião, pois as religiões são o elo entre o Céu e a Terra, e o caminho condutor do homem para Deus. Tudo que seja para elevar a Alma, ou projectar mentalmente o homem ao infinito, constitui um acto religioso. Enquanto o homem não passa a ver tudo o que o rodeia como sagrado e, principalmente, o seu interior, faz sempre a distinção entre o profano e o sagrado e limita-se. Uma religião não passa então de ser constituída aparentemente por dogmas e regras morais, com os quais o homem se deve guiar na sociedade; mas, por detrás, na sua essência, ela provoca transformações, ajuda a adquirir virtudes, eleva a devoção, impõe respeito para com algo que transcende a matéria e que solenemente pode passar a desejar-se alcançar.

A emancipação, ou iluminação, dá-se quando o homem compreende que já não precisa da religião para o elevar ao Divino. Pelas reincarnações que passou aglomerou conhecimento, assimilou os bens e essências dessas religiões, passou transformações, armazenou tudo no seu sub-consciente, que faz parte agora da sua expansão de consciência, e sabe então caminhar sozinho.

III Capítulo do Livro, "As Iniciações".
   


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Impresso em 18/10/2024 às 5:15

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