Fundação Maitreya
 
O Budismo

de Maria Ferreira da Silva

em 08 Abr 2006

   A doutrina filosófica e religiosa do Budismo, presente com certas variantes em toda a Ásia, desde a Índia ao Japão, Tibete, China, Tailândia e Ceilão, tem como fundador e ponto central o Buddha. Buddha não é considerado um deus ou profeta mas um homem que atingiu a Iluminação ou um grande grau de sabedoria, devido a uma exaustiva busca interior e a uma superior disciplina. Foi um investigador incansável da natureza humana e das causas do sofrimento. Era excepcionalmente lúcido, convicto e objectivo, oferecendo os meios de purificar e libertar a mente da dor.

BuddhaApesar do seu grande empenho e amor na transmissão deste sublime ensinamento, depois da sua morte gerou-se confusão e exagero, tanto no Oriente, como mais tarde no Ocidente. A ignorância generalizada sobre a verdadeira doutrina e, em certos casos até, a distorção propositada têm contribuído para interpretações ocidentais incorrectas, tal a de que o Buddha negou a existência de Deus, e que portanto o Budismo é uma religião ateísta. Infelizmente, porém, também no Oriente as Nobres Doutrinas do Buddha foram adaptadas às circunstâncias históricas e a vontades pessoais, pelo que o Budismo acabou por ficar dividido em várias escolas, em parte derivadas da assimilação de culturas e religiões primitivas dos países onde era adoptado.

No Ceilão e na Tailândia por um lado, e no Tibete por outro, desenvolveram-se versões específicas do Budismo, chamadas respectivamente a escola Hīnayāna e a escola Mahāyāna, que conservam todavia em comum as três características fundamentais do ser humano: impermanência, sofrimento e a irrealidade de um eu, bem como as doutrinas das Quatro Nobres Verdades, Transmigração, karma e o Caminho do Meio.

Principalmente na Tailândia, que absorveu ao longo dos séculos, bastantes influências culturais indianas, o Budismo ficou não só como a religião dominante, quase única, como a que mais fielmente conservaria o Ensinamento do Buddha na sua pureza original. Este ensinamento, considerado pelos Mahāyanistas, o Pequeno Veículo, ou o Budismo Hīnayāna, preconiza a salvação individual pelo conhecimento das razões do sofrimento, tendo como base a renúncia, a abstinência e a pobreza. O Hīnayāna é a linha budista mais despida de conceitos religiosos e de ritualismos.

Já no Budismo Mahāyāna, ou Grande Veículo, presente especialmente no Tibete e restante Himālayas, há acréscimos e adaptações bem complexos, pois encontrou uma forte corrente da religião nativa, o Bon, donde resultou um budismo mais esotérico, mesclado de influências xamânicas e mágicas nas suas diversas formas, e superstições.
Embora as regras (vināya) entre os dois veículos sejam diferentes em muitos pontos, eles permanecem semelhantes na essência da doutrina.
O Mahāyāna distingue-se por um idealismo absoluto. Todas as formas, sons, cores, sensações físicas e espaciais, são apenas aparentes, pois por detrás não há nada. O Universo é ilusório. No Mahāyāna predomina a Compaixão, provavelmente demasiado ampliada ou exagerada, contudo justificando a necessidade de continuarem a reincarnar, aqueles seres perfeitos conhecidos como Bodhisattvas.

Quanto à doutrina Hīnayāna, ou Budismo Theravada ela já não tem como figura central o Bodhisattva mas o Arhat, o ser que ao atingir a perfeição se torna um Buddha não reincarnando mais. No Hīnayāna os fenómenos psíquicos não passam de produtos de imaginação, pois não existe um eu permanente, sendo essas demonstrações irreais.
Para ambas as Escolas há o Saṃsāra com as suas infinitas transmigrações e há o Nirvāṇa. Todos chegarão ao Nirvāṇa ao adquirir consciência deste estado libertador e alcançarão a condição de Buddha, porém, por fundamento a escola Mahāyāna tem a figura do Bodhisattva que continua a reincarnar renunciando ao Nirvāṇa para ajudar a humanidade. Naturalmente, a meta primitiva do Budismo, tal como foi explicada a alguns monges seguidores de Siddhārtha Gautama, o Buddha, foi a firme vontade de não voltar a reincarnar, libertando-se das vidas sucessivas e a extinção do eu separatista. Buddha exortara os seus discípulos a esforçarem-se por obter a salvação, ou seja, acabarem com o sofrimento e com a transmigração.
Porque se separaram as duas Escolas.

Depois do Buddha morrer foi convocado um Concílio do Sangha, para estabelecer se possível os três Pitakas ou Açafates do Cânone. Eram os regulamentos de disciplina da Ordem Vināya Pitaka, o Açafate dos Sermões Sutta Pitaka, e o Abhidharma ou o Açafate da Metafísica, Psicologia e Filosofia que, tal como se encontra hoje, é um comentário subsequente
Cem anos depois foi aberto um II Concílio em Vaiçali. Um sector do Sangha, pediu que fossem revistos os regulamentos e suavizados alguns deles, considerados rígidos, mas foram derrotados. Este sector, donde se originaram em parte os mahayanistas, separou-se ficando então os sthaviras, os antecessores dos theravadistas de hoje, sós no Concílio.

A causa principal da divergência doutrinária foi quanto aos meios de se alcançar a natureza de Buddha, que afirmavam os Anciãos, serem o fruto da estrita observância dos regulamentos, enquanto uma minoria não ortodoxa sustentava, como ainda hoje faz o Mahāyāna, ser o estado de Buddha inerente em cada ser, precisando apenas ser desenvolvido.
A origem dos termos Mahāyāna e Hīnayāna são incertas. Ayana significa “carreira” como uma designação secundária de “veículo”. Maha quer dizer “grande” e Hina “pequeno”. Ambos os termos foram inventados pelos mahayanistas para demonstrarem ser o seu credo uma carreira ou curso de vida, o melhor e maior para conduzir a humanidade à salvação. Por seu lado, o Hīnayāna que tem o nome de Theravada ou a Doutrina dos Anciãos, afirma seguir o caminho do Buddha tal como foi apontado pelo Mestre.

Nota: No Monier-Williams, Ayana= significa, caminho, senda, lugar de refúgio.

Do livro “A Eterna Sabedoria”.
   


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