Fundação Maitreya
 
Curso de Meditação - 6ª Lição

de Maria Ferreira da Silva

em 26 Mar 2020

  A evolução de consciência permite então, conhecer os mistérios da vida e dos erros do passado. Também só se pode conhecer os karmas passados (vidas passadas), quando se está preparado espiritualmente (não através de regressões) para o reconhecimento dos erros e aprender com eles a melhor relação com as dificuldades presentes.

Beatriz de Dante Gabriel RossettiSOFRIMENTO

Duhkha

Duhkha - está geralmente ligado ao conceito de sofrimento. Contudo, Duhkha implica aquilo que pode causar o sofrimento e não o sofrimento em si mesmo.
Duhkha é um estorvo na mente, uma limitação. De alguma maneira há sempre algo que nos incomoda e condiciona profundamente. Esta limitação é Duhkha. Quando nos sentimos bem com o sentimento de espaço e clareza mental, é o contrário de Duhkha: Sukha.

As palavras em sânscrito circunscrevem o significado e o objectivo inerente a cada sentimento e emoção, podendo-se assim “agarrar” cada palavra e associá-la ao obstáculo que temos de trabalhar. São palavras específicas, que dão impulso e claridade à mente. Duhkha é um exemplo, no qual uma só palavra tem um significado poderoso e directo.
A base do ensinamento do Buddha, por exemplo, consiste em como eliminar o sofrimento, pois enquanto o ser vive num corpo físico, se não houver atenção e superamento de si próprio, o sofrimento de alguma maneira permanecerá, já que a matéria restringe a mente, o movimento do corpo e os próprios sentimentos.

Poderemos falar, não da eliminação total de Duhkha, mas da sua diminuição, através da tomada de consciência de Avidyā (ignorância) pois esta sujeita todas as acções. Estamos acostumados a certas coisas e é difícil vermo-nos sem elas. Vivemos condicionados por certos hábitos e quando são interrompidos sentimo-nos incomodados, mas encaminhar a mente na direcção de um objecto de percepção pode atenuar o sofrimento.

Assim, quando sentados em Meditação, elevando ou fixando a mente num ponto que pode ser (por exemplo) um Maṇḍala, pratica-se o desprendimento e tal ajuda a desbloquear certas pressões mentais que são a causa do próprio sofrimento. Também se pode meditar noutros símbolos: numa rosa, num plano de amor, num Mestre da sua devoção. A esta prática de Meditação chama-se com semente, que quer dizer, ter um objecto para meditar.
Duhkha ou formas de sofrimento, provêm das nossas acções, que ora nos colocam em certos estados de felicidade, ora de infelicidade. É esta alternância que causa sofrimento. Quando não podemos continuar nas coisas de que gostamos é a infelicidade e a confusão. Devemos reconhecer estes incómodos da mente e retirá-los.

Dentro do aspecto de Duhkha, encontramos as três qualidades ou Guṇas
Tamas - Rājas - e Sattva.
Tamas – é pesadez, torpeza, confusão, conflito interior, isto é Duhkha.
Rājas – é a qualidade da mente que necessita frenesim, movimento mas que também produz Duhkha.
Sattva - é claridade, a mente está em repouso, obviamente, não produz Duhkha.
Estas qualidades são inerentes à mente, em que duas são nLamento - Edward Burne Jonesegativas e uma positiva, e cada uma pode ter o seu momento de predomínio, porém, interagem continuamente.
Duhkha não significa dor, é distinta da dor física.

Duhkha consiste numa moléstia ou perturbação dentro de nós, é essencialmente sofrimento mental e psíquico, onde não há localização de dor, mas um anseio por algo e vem a causar melancolia, apatia, sentimentos de culpa e de posse, podendo evoluir para a depressão.
Para reduzir o estado de confusão e de anseio é necessário sermos flexíveis e compreendermos que tudo é impermanente, e mesmo aquilo de que não gostamos hoje pode mudar amanhã, pois há sempre movimento e alternância. Só nos libertamos desta dualidade, quando alcançamos o estado de “isolamento” (kaivalya) por meio do desapego ou renúncia (distanciamento das coisas inúteis). Cada vez que o homem avança espiritualmente, sattva prevalece cada vez mais, e a mente pode ficar clara como cristal.

Avidyā (ignorância) distrai a mente. O objectivo da Meditação é acalmar a mente e mudar a qualidade da acção para evitar que Duhkha (sofrimento) chegue.

Transformar a melancolia em devoção a Deus, a apatia em vontade, a posse em dádiva.

A claridade mental dá-nos a conhecer as nossas virtudes e debilidades e conduz-nos a menos Duhkha. A prática de atitudes, leva a identificar tanto as virtudes como os defeitos e estes devem ser trabalhados até à sua transformação.

Obviamente, todos os seres humanos sofrem transformações no decurso de uma vida, desde o corpo físico à mente (estado psicológico); a Meditação permite acompanhar conscientemente essa transformação.

A palavra Viveka significa “ver a alternativa”. Vivekajñāna – discriminativo, discernimento. Sermos capazes de ver correctamente quem somos e como somos. O estado de Duhkha, não permite ser consciente, mas pode na realidade, ser diminuído, ou até evitado, pela capacidade de visualizar os erros, evitando-os. Quando nos vemos ao espelho não damos conta do espelho em si, mas apenas da nossa imagem. Temos dificuldade de separar a imagem do espelho, contudo, sabemos distinguir entre o espelho e nós.

Puruṣa, o Espírito (nós somos o Espírito) vê o objecto através da mente, se a mente está ofuscada não somos capazes de ver o objecto claramente, tal como um espelho se estiver baço. Quando a mente está clara é como se ela não existisse, assim, como num espelho limpo, a imagem é tão nítida e perfeita que não damos pelo vidro.

Só a remoção consciente dos obstáculos destrói o sofrimento.

A evolução de consciência permite então, conhecer os mistérios da vida e dos erros do passado. Também só se pode conhecer os karmas passados (vidas passadas), quando se está preparado espiritualmente (não através de regressõesMandala) para o reconhecimento dos erros e aprender com eles a melhor relação com as dificuldades presentes. O karma deixa marcas na Consciência, de vida para vida, que são os saṃskāra: acúmulo de experiências anteriores.

Saṃskāra, significa impressão, consequência. Traduz-se por “formações” ou “forças mentais”. São impressões da memória que marcaram o cérebro nesta vida, ou podem vir já de vidas passadas. São movimentos automáticos da mente, inconscientes.
Saṃskāra, é a soma de direcções que condicionam a mente, sem controlo ou por hábitos. O que se requer é criar novos saṃskāra mas na forma de movimentos positivos da mente e libertar-se da rotina, que limita a Consciência e causa sofrimento.

Saṃskāra, é o movimento constante e automático da mente numa direcção determinada. Podemos sempre reorientar a mente para estados elevados, e obter uma visão mais clara sobre determinado sentimento, ou melhor percepção do “objecto”. Se dirigimos a mente no sentido devido, estamos a purificá-la e a dar oportunidade de ver correctamente.

As formações incluem os impulsos volitivos ou intenções que precedem a acção. Podem ser: físicos, verbais e mentais.
Saṃskāra – significa grupo, agregado, um dos cinco agregados que constituem a totalidade do que é em geral conhecido como personalidade.
1º - a forma (corpo físico)
2º - a sensação
3º - a percepção
4º - formações mentais
5º - a Consciência

Um método importante dentro do Yoga para ultrapassar o sofrimento é a devoção a Īśvara (o Senhor do Mundo). É a crença em Deus. Pela devoção a Deus, eleva-se o pensamento, como meio de sublimação dos próprios obstáculos: é a Meditação com semente, Samyāma.
Em Yoga descreve-se Īśvara de uma forma especial e para entrar em relação com ele utiliza-se um símbolo, o OM. É um Mantra que quanto mais pronunciado, leva a maior compreensão e comunhão com Deus (para este sistema filosófico da Índia é chamado Īśvara) e haver cada vez maior integração espiritual. Para lá do som do OM está - Īśvara – pois está para além das formas. A repetição do OM (o Seu Nome) “Japa”, é importante e através da correcta pronúncia encontram-se novos significados, novas compreensões.

A prática de Īśvara Praṇidhāna, começa primeiro com a afirmação mental de “Seja feita a Vossa Vontade e não a minha”, porém, deve haver um sério esforço para produzir um contínuo recolhimento de Consciência, e remover os obstáculos da personalidade através da prática do amor e da devoção, (Bhakti) .

O Bhakti Yoga é o caminho que leva a conhecer a Vontade Divina, através do coração.

A entrega a Deus é um dos três passos importantes no caminho da Meditação. Deve ser desenvolvido após os dois primeiros, treinados anteriormente: a Concentração e a Meditação.

Tempo de Meditação

Com o seu ambiente previamente preparado para a Meditação e sentado na posição de Yoga, tente agora esse passo de devoção, após os exercícios de Concentração.

Com a mente dominada, vazia, dirija-a para o seu “Objecto Eleito” o Coração de Deus, para que a comunicação se estabeleça...

Gradualmente haverá integração e o resultado é sempre um bem-estar, um estado de Amor e de Luz: a Comunicação estabelece-se!
Permaneça na Luz!
   


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