Fundação Maitreya
 
Evangelhos - 2005 Comentados

de Firmamento Editora

em 26 Fev 2007

  O Livro EVANGELHOS 2005 COMENTADOS, da Firmamento Editora, publicado em Dezembro de 2004 contém os Evangelhos dominicais do ano de 2005, relidos e comentados por 61 pessoas com experiências de fé e de vida. Cada evangelho é comentado por uma pessoa cuja biografia, experiência interior ou religiosa justifique um encontro entre o texto bíblico e a sua experiência pessoal irrepetível e única. Por amável cedência da Firmamento e a autorização dos respectivos autores, congratulamo-nos por esta possibilidade de editar no Spiritus Site alguns desses comentários, este de Pedro Teixeira da Mota.



EVANGELHO Mt 5, 13-16

«Vós sois a luz do mundo»

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra.
Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo.
Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».
Mateus 4, 12-23

Vós sois a luz do mundo, Vos estis lux mundi.
Vos estis sal terrae, Vós sois o sal da terra
Apelo, aviso, exortação, afirmação jubilosa, experiência compartilhada, programa diário de vida?
Cada um de nós sentirá e realizará de modo próprio estes poderosos ditos de Jesus que desde há dois mil anos desafiam as consciências semi-adormecidas dos seres humanos.
Se somos a Luz do mundo, se esta é a natureza essencial do nosso ser, do eu profundo, do Espírito, então compreende-se que não podemos esconder esta Luz debaixo do alqueire, e que devemos mesmo proclamá-la e irradiá-la, do cimo do telhado, do cimo da nossa cabeça, como Jesus nos indica em seguida em fecundas analogias.
Mas sabemos que não é fácil sentirmos a nossa realidade luminosa, bem como conseguirmo-la manter no quotidiano. É preciso sobretudo grande e perseverante paciência e aspiração esperançosa para que, em oração e em meditação, consigamos constantemente recuperar e receber a luz do Espírito, graça esta pela qual somos fortalecidos para agir abnegada e harmoniosamente no dia a dia.

Provavelmente é a estas práticas espirituais, é a esta graça, ou estado harmonioso espiritual, que não são só os momentos interiorizados, mas também todos os que preenchem o dia na medida em que são vividos verticalmente, auto-conscientemente, amorosamente e em unidade, que Jesus alude quando nos diz: «Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso», S. Mateus (12,22).
Se a irradiação do teu olhar, do teu ver o mundo for simples, directa, unitiva, então todo o teu ser se revelará luminoso. Se o teu olhar não for detido e turvado por medos e desejos, se o teu olho espiritual estiver limpo e não enredado em pensamentos e emoções díspares, mas sim puro, indiviso e uno com a corrente espiritual do corpo místico Crístico, então a energia luminosa e bem aventurada do Espírito Santo percorrendo-te verás a luz no teu terceiro olho, tomarás consciência do corpo espiritual, teu futuro corpo incorruptível de glória.
“Vós sois a Luz do mundo” implica ainda que não podemos esmorecer, nem desistir, nem soçobrar perante todas as avalanches de dificuldades e negatividades – da inveja ao imperialismo - lançadas sobre nós e sobre o mundo pois somos a Luz matutina dele.

Não deixes apagar a Luz, “não varras o lugar da tocha, não despedaces a coroa, ou não comas o coração”, como dizem os Símbolos Pitagóricos, tão comentados no Renascimento pelos humanistas, são assim preceitos a relembrar e a reconquistar, pois diariamente seremos assaltados por problemas, conflitos, sugestões, slogans, que tentam ensombrar o nosso estado espiritual, a nossa capacidade interior de brilhar, de transfigurar-nos, ou seja, de partilharmos a nossa identidade de filhos de Deus.
Responsabilidade pois grande a dos discípulos: sendo a Luz do mundo, não desanimarem, não perderem a ligação com Xvarnat, a Luz da Glória, do antigo Irão, a Anima Mundi como diziam os herméticos e gnósticos, a Hagia Sophia, a Santa Sabedoria, tão venerada pelos místicos e filósofos da Igreja Ortodoxa, ou ainda a Luz das Luzes, a Luz da Aurora dos iniciados islâmicos e, portanto, lutarem e vencerem as tendências e influências alienantes, consumistas, superficializadoras que constantemente nos manipulam, tentam e assaltam.
O dito Vos estis sal terrae, “Vós sois o sal da terra” significa, pela função preservadora e de dar sabor do sal, e pela simbólica de justiça, que aos discípulos do rabi da Nazaré importa terem presente que a missão deles é conservarem e intensificarem as boas qualidades das pessoas e coisas e trabalharem no advento progressivo do Reino dos Céus nos corações humanos e portanto cada vez mais na Terra. A polaridade Céu Terra é em termos alquímicos apresentada como o enxofre flamejante e o sal terrestre e quinta-essência do mar, e a esta alquimia de unir as duas extremidades do eixo elemental e existencial, em nós e no mundo, se refere certamente Jesus.

Os discípulos devem pois viver com firmeza, alegria e justiça, harmonizando os ambientes, estimulando as potencialidades dos que os rodeiam, fermentando e levedando as situações em que estão envolvidos, catalisando soluções de concórdia cristalina, e não violentas e unilaterais, para os conflitos (até mundiais). Neste sentido a Boa Nova segundo S. Marcos (9-49) refere:”Tende sal em vós, e guardai paz entre vós”, no que se entende o preceito de se manter a irradiação espiritual e de amor, o ânimo forte e dialogante, que consegue dar sentido evolutivo, esperança e alegria à Vida e aos seus acontecimentos, relações e actos.
Porquê os discípulos e discípulas de Jesus o Cristo alcançarão estas promessas de serem o sal da terra e a luz do mundo mais do que outras pessoas?
Primeiro, porque a eles aplicam-se algumas das bem-aventuranças, que antecedem este dito no discurso de Jesus: “Bem ditos sejam os pobres e receptivos ao Espírito, os suaves ou humildes, os que tem fome e sede de justiça, os que se lamentam ou choram com razão, os misericordiosos, os puros de coração, os que possuem e transmitem a paz, os que são perseguidos sendo justos, ou pelo seu testemunho espiritual.”

Segundo, porque estão conscientes e praticam o conselho do Mestre registado no mesmo Evangelho segundo S. Mateus (18,19):”Também vos digo que se dois de vós se unirem entre si sobre a terra, qualquer coisa que pedirem, ser-lhe-ás concedida por meu Pai que está nos céus. Em verdade, onde dois ou três se reunirem em meu nome eu estarei no meio deles”, e cujo exemplo mais paradigmático e estimulante para nós será sempre a efusão do Espírito Santo no Pentecostes, que deverá ser constantemente relembrada e trabalhada, desde a família ao trabalho e aos pequenos grupos ou mesmo ocasionais encontros em que essa unidade de crentes e invocadores do ensinamento ou bênçãos de Jesus os faz sentir e tornar canais ou membros vivos e inspirados do corpo místico de Cristo, ou seja, da Sua omnipresença espiritual. E não nos esqueçamos que em Portugal, a Tradição do Espírito Santo, adquiriu a partir da rainha Santa Isabel, apoiada pelos Franciscanos e Templários, matizes e chamas únicas e perenes de fraternidade, liberdade e espiritualidade.

Terceiro, porque laboram na sementeira do Amor Divino, comungando com a Fonte Primordial que Jesus lhes revelou e dá e que é a Água Viva para toda a Eternidade, e da qual podem beber pela oração e contemplação, pela Eucaristia, pela leitura das escrituras sagradas e do grande livro da Natureza. Fonte esta que tanto é a ensinada à Samaritana a partir dum poço, como a explicada em: “Eu sou a Luz do mundo: quem me segue, não caminhará nas trevas, mas tem o Lume da vida”, o fogo do Amor, S. João (8,12).
É pois a partir da experiência do auto-conhecimento espiritual, e da vivência diária amorosa e luminosa (as boas obras salinas), que devemos ver e compreender estas passagens tão exaltantes da natureza do discípulo e do cristão, estendendo-se este termo ao seu sentido mais lato de adorador e amante de Deus, discípulo dos mestres ou santos, praticante do Amor-Sabedoria supremamente manifestado pelo mestre Jesus.
Tornar-nos capazes de as merecermos e de as vivenciarmos, eis o desafio diário, semanal, anual, eterno do Caminho, tanto meditativo e contemplativo como activo e harmonizador, que nos cabe por direito e obrigação de sermos filhos e filhas de Deus, discípulos do Mestre, almas luminosas e espirituais, seres fraternos, ecuménicos e universalistas.

Utilizou-se a versão do Novo Testamento Greco-Latina com anotações
de Erasmo. Edição 1705., bem como a edição do Novo Testamento editado em Paris 1541 por Robert Stethanus.
   


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