Fundação Maitreya
 
Jesus Cristo segundo Rudolf Steiner - 2ª Parte

de Zelinda Mendonça

em 05 Mar 2011

  A natureza dos mistérios pré-cristãos ficará bem ilustrada se observarmos os chamados mistérios persas ou os mistérios de Mitra. Havia ali sete etapas de iniciação. Aquele que deveria ser elevado aos graus superiores da vivência espiritual passava pelas seguintes etapas: “Corvo”, “Oculto”, “Guerreiro”, “Leão” e no 5º davam-lhe o nome do povo a que pertencia. No 6º grau ele se tornava um “Herói Solar” e no 7º um “Pai”.Em relação aos quatro primeiros graus é suficiente dizer-se que o discípulo era introduzido numa vivencia espiritual cada vez mais profunda. No 5º grau a pessoa alcançava a capacidade de tornar-se um protector espiritual de todo o povo a que pertencia. Naquela época uma pessoa iniciada no 5º grau tinha uma determinada participação na vida espiritual.Os povos da Terra são conduzidos pelas entidades espirituais chamadas Arcanjos.

2.2.5 - Os mistérios pré-cristãos

O iniciado no 5º grau era elevado a essa esfera dos Arcanjos, nela participando. Eram necessários tais iniciados na Terra para guiar a humanidade

Como se alcançava o 5º grau de iniciação? – A alma era levada para fora do corpo (era essa a iniciação), ela tinha de abandonar a Terra, ascender ao mundo espiritual.
Quando era alcançado o 6º grau da iniciação antiga, o grau de “Herói Solar”, então se activava na alma da pessoa não só o que era necessário para guiar e dirigir um povo, mas algo mais elevado.
Se olharmos à evolução da humanidade na Terra veremos como os povos surgem e desaparecem, como os povos se transformam. Tal como as pessoas também os povos nascem e morrem. Mas o que um povo realizou para a Terra deve ficar preservado na evolução terrena global. E para que o trabalho de um povo pudesse ser continuado para além dele pelos espíritos a quem isso compete eram necessários os Heróis Solares, pois o que vive na alma de um desses Heróis Solares pode ser lido nos mundos superiores.
O Herói Solar, também tinha de sair do seu corpo, e enquanto permanecia fora dele, tinha o Sol verdadeiramente como morada.

Durante a sua iniciação ele está rodeado pelos planetas do sistema solar, durante a sua iniciação ele tinha que ser transportado para o Sol. Nos antigos mistérios isso só podia ser alcançado fora do corpo; e quando retornava a ele o iniciado se lembrava do que havia vivenciado fora do corpo, podendo empregá-lo como força para actuar na evolução e para o bem da humanidade inteira, então possuíam a força capaz de canalizar o trabalho de um povo para a evolução de toda a humanidade.
O que vivenciavam os Heróis Solares durante os três dias e meio que durava a iniciação? - Vivenciavam a comunhão com Cristo, que antes do mistério do Gólgota, ainda não estava na Terra.
Todos os antigos Heróis Solares ascendiam às altas esferas espirituais. Na Antiguidade só se podia entrar ali em comunidade com Cristo. Foi daquele mundo, ao qual os antigos iniciados tinham de ascender na sua iniciação, que Cristo desceu para a Terra.
Podemos pois dizer que em épocas antigas Cristo era alcançado por poucos mediante todo o procedimento iniciático, mas nos dias do Pentecostes foi alcançado, como que por um acontecimento natural, por todos os apóstolos de Cristo.
Na Antiguidade os homens tinham de ascender a Cristo, agora Cristo desce até eles.

Os apóstolos, num certo sentido, tornaram-se portadores daquele conteúdo máximo que os antigos heróis solares guardavam nas suas almas.
A força espiritual do Sol se havia derramado na alma dos homens, e a partir dali, continuou actuando na evolução da humanidade.
Para que tudo isso pudesse realizar-se, foram necessários os acontecimentos da Palestina.
Quem pensa que um espírito não sofre não conseguirá imaginar correctamente a infinita dor que o espírito de Cristo experimentou durante aqueles dias da Palestina.

Esse espírito viveu três anos no mundo físico e experimentou a morte no Gólgota, e antes tinha vivido em condições totalmente diferentes das terrenas – isso quer dizer que esse espírito não tivera um carma terrestre por isso todas as experiências e vivências pelas quais passou Cristo ganham um significado totalmente diferente das experiências atravessadas por uma alma humana.
Se nós sofremos, se passamos por esta ou aquela experiência, sabemos que o sofrimento está fundamentado no nosso carma.
Em Cristo isso significa um sofrimento não merecido, sem sentido cármico, um sofrimento inocente.
O 5º Evangelho mostra-nos a única vida terrena de 3 anos em que não se aplica, no sentido humano, o conceito de carma e que tampouco produziu carma.
O 5º Evangelho nos revela, por meio da visão clarividente retrospectiva que no início do seu caminho na Terra, Cristo não se unira completamente ao corpo de Jesus, havendo apenas uma ténue ligação entre o ser de Cristo e o corpo de Jesus.
Essa união deu-se de forma que, sempre que fosse necessário, a entidade de Cristo pudesse abandonar o corpo de Jesus.
O corpo de Jesus podia permanecer em algum lugar como que adormecido, e o ser de Cristo transportava-se espiritualmente a um outro lugar onde a sua presença fosse necessária.

O 5º Evangelho mostra-nos que, quando Cristo aparecia aos apóstolos, nem sempre o corpo de Jesus estava presente; frequentemente acontecia o corpo de Jesus ficar em algum lugar, e o espírito de Cristo aparecer aos apóstolos. Nessas ocasiões ele aparecia de forma que eles pudessem confundir a sua aparição com o corpo de Jesus.
Durante os três anos de vida na Terra, o espírito de Cristo foi-se unindo mais e mais intimamente ao corpo de Jesus; a entidade crística, como entidade etérica, foi se tornando cada vez mais semelhante ao corpo físico de Jesus de Nazaré.
O homem comum é um microcosmos perante o macrocosmos, uma imagem, uma réplica de todo o macrocosmos. Aquilo que o homem se torna na Terra é uma imagem reflectida de todo o imenso Universo.
No caso de Cristo aconteceu ao contrário: a entidade solar macrocósmica forma-se de acordo com o microcosmos humano; paulatinamente ela se aperta e se estreita, tornando-se cada vez mais semelhante ao microcosmos humano. É justamente o inverso.

No começo da vida de Cristo na Terra, após o baptismo no Jordão, a sua união com o corpo de Jesus era muito frouxa. A entidade de Cristo ainda estava bastante fora do corpo de Jesus. A actuação de Cristo na Terra era ainda algo totalmente supraterrena. Ele realizava curas que nenhuma força humana poderia realizar.
Falava aos homens com um poder de convicção divino. A entidade de Cristo actuava como um ser supraterreno.
Mas pouco a pouco foi-se assemelhando ao corpo de Jesus, comprimindo-se cada vez mais, submergindo nas condições terrenas e sofrendo um desvanecimento cada vez maior da força divina. A entidade de Cristo experimentou tudo isso à medida que se tornava semelhante ao corpo de Jesus; em certo sentido, essa era uma evolução descendente.
Cristo precisou sentir como o poder e a força divinos cada vez mais lhe escapavam à medida que ele se ia assemelhando ao corpo de Jesus de Nazaré.

Passo a passo, Deus foi se tornando Homem.
Tal como alguém vê o seu corpo desaparecer aos poucos no meio de tormentos infinitos, Cristo viu extinguir-se o seu conteúdo divino ao se tornar, cada vez mais semelhante ao corpo terrestre de Jesus. Torna-se semelhante a ele ao ponto de poder sentir medo, tal como um homem. (ex - suor no Monte das Oliveiras)
À medida que Cristo se identificava cada vez mais com o corpo de Jesus, Cristo foi-se tornando homem. A sua força milagrosa, divina, foi desaparecendo.

Desde a ocasião em que admirados espectadores rodeavam Cristo, consumou-se em três anos o caminho, até ao ponto em que a entidade de Cristo se tornou tão semelhante ao corpo de Jesus que, nesse corpo extremamente debilitado, já não conseguia responder ao interrogatório de Pilatos, Herodes e Caifás durante o seu julgamento.
Tanto se assemelhava ao corpo de Jesus de Nazaré, esse corpo cada vez mais debilitado, que ante a pergunta “Disseste que podes destruir o Templo e reconstrui-lo em três dias?”, a entidade de Cristo não mais conseguiu responder a partir desse físico frágil, calando-se diante do sumo sacerdote dos judeus e diante da pergunta de Pilatos: “Disseste que és o rei dos judeus?”

Foi este o caminho da Paixão, desde o baptismo no Jordão até à perda total do seu poder.
Pouco depois a multidão assombrada, que antes se havia maravilhado com as forças milagrosas supraterrenas de Cristo, não mais o rodeou com admiração, e sim postada diante da cruz, escarnecia da impotência do Deus que se tornara homem exclamando: “Se és Deus desce, ajudaste os outros agora ajuda-te a ti mesmo!”
Era uma dor infinita, à qual se somou aquele sofrimento pela humanidade tão decaída, justamente na época do Mistério do Gólgota.
Esta dor, porém, fez nascer o espírito que se derramou sobre os apóstolos na festa do Pentecostes.
Desse sofrimento nasceu o Amor cósmico supremo que no baptismo do Jordão, descera das esferas extraterrenas, celestiais, para a esfera terrestre; ele tornou-se semelhante ao homem, semelhante a um corpo humano, e experimentou o momento da máxima impotência divina a fim de originar o impulso que, na subsequente evolução da humanidade, conhecemos como sendo o impulso de Cristo.

2.2.6 - A antiga e a nova iniciação

No baptismo de João, quem era retirado da água com êxito, sabia por esse processo possuir em si um elemento espiritual, não sendo apenas um ser num corpo físico. Esse elemento espiritual se relacionava com o Espírito subjacente a todas as outras coisas.
Em que ponto tal consciência se diferenciava daquela de um antigo iniciado?
O antigo iniciado percebia as antigas entidades divino-espirituais, que já estavam ligadas à Terra. Agora, porém, sabia que o Supremo Espírito é aquele que se aproximou da Terra.

No baptismo de João os que eram baptizados eram mergulhados na água, todo o seu corpo físico imergia.
Em tal acontecimento algo muito extraordinário pode suceder.
Pode acontecer por exemplo que uma pessoa prestes a se afogar, tenha um choque tal que veja a sua vida toda a passar à sua frente como se fora um imenso panorama espiritual. Isto acontece porque por um instante ocorre o que só acontece após a morte: o corpo etérico desprende-se do corpo físico, livra-se das forças do corpo físico. Isto sucedia à maioria das pessoas baptizadas por João, e sucedeu especialmente no baptismo do Jesus natânico: o seu corpo etérico foi retirado. E neste justo momento pôde imergir no corpo de Jesus natânico, dele tomando posse, a sublime entidade que designamos por Cristo. Assim o Jesus natânico fica impregnado pelo ser de Cristo.
É isto o que dizem os mais antigos evangelhos manuscritos:
“Este é o meu Filho muito amado, hoje eu o gerei”. Isto significa que agora foi gerado o Filho do Céu, o Cristo.
O fecundador foi a Divindade Una que permeia o Cosmos, o receptor foi o corpo e toda a organização do Jesus natânico, que havia sido preparado para receber o germe das alturas.

2.2.6.1 – A sabedoria dos mistérios egípcios

“Quando subires ao puro éter, livre do teu corpo, serás um deus imortal esquivado da morte” – tal pensamento de Empédocles resume em poucas palavras o pensamento dos antigos egípcios a respeito do eterno no homem e a sua conexão com o Divino, como prova o chamado “Livro dos Mortos” decifrado no século XIX pelo zelo dos cientistas.
Trata-se da maior obra literária que os egípcios nos legaram. O livro contém várias recomendações e orações colocadas nos túmulos para servir de guia ao defunto liberto do seu envoltório mortal.
O neófito era submetido a processos misteriosos, destinados a aniquilar o que nele havia de terreno e a despertar a parcela superior. Para compreender o sentido de tais iniciações basta seguir o que está implícito na confissão de todos os que atravessaram uma iniciação:

“Diante de mim flutuava a imensa perspectiva, em cujo fim se encontra a perfeição divina. Senti esse poder divino em mim e sepultei o que em mim se opunha a ele. Morri para tudo o que é terreno. Morto como homem inferior, cheguei aos mundos inferiores onde convivi com os mortos, ou seja, os que já foram integrados no circuito da eterna ordem cósmica. Ressurgi desse reino, superando a morte, e tornei-me outro homem, desprendido do mundo transitório que, para mim, passou a ser impregnado pelo “Logos”. Pertenço agora àqueles que, possuindo a vida eterna, estarão sentados à direita de Osíris. Entrosado na ordem divina perene, serei um verdadeiro Osíris e terei nas minhas mãos o poder de julgar sobre vida e morte”. O neófito tinha de se submeter à experiência que o conduzisse a essa confissão. Trata-se de uma das mais sublimes vivências que podem advir ao homem.
Um não iniciado informado sobre tais experiências, desconhecendo o que se passa na alma do iniciado considera-o como fisicamente morto, sepultado e ressuscitado.
No âmbito da realidade sensorial, o facto que possui realidade espiritual num nível mais elevado parece violar as leis da natureza e constitui um “milagre” – a iniciação era pois um milagre. Quem quisesse entendê-la tinha de desenvolver em si as forças que lhe permitissem chegar a graus superiores da existência.

2.2.7 - Jesus de Nazaré dos 12 aos 30 anos

Vamos considerar este relato a partir do ano em que o Jesus natânico recebeu o eu de Zaratustra.
Nos anos que se seguiram ele foi crescendo de maneira muito especial. Os que viviam perto do jovem Jesus tinham uma opinião magnífica e grandiosa a seu respeito em decorrência daquelas respostas impressionantes dadas no Templo.
Viam nele um futuro escriba, que alcançaria um nível de erudição todo especial, elevadíssimo.
Depositavam nele grandes esperanças. Prestavam atenção a cada palavra.

Ele no entanto foi ficando cada vez mais calado, de forma a se tornar muitas vezes profundamente antipático com os seus amigos.
Contudo no seu íntimo passava por uma enorme luta, uma luta íntima que ocorreu aproximadamente entre os seus 12 e 18 anos de idade.
Na sua alma era como se desabrochassem tesouros de sabedoria guardados no seu interior, como se o Sol da antiga sabedoria de Zaratustra estivesse reluzindo com a forma da erudição judaica.
Parecia ao jovem que primeiramente ele tinha de assimilar da forma mais subtil e com maior atenção, tudo o que diziam os numerosos escribas que frequentavam a casa e dar respostas especiais para tudo. No começo, ainda na casa da Nazaré, ele surpreendia os escribas que lá iam e que o admiravam como uma criança-prodígio.
Mas depois foi se tornando cada vez mais calado, só escutando em silêncio o que os outros diziam. E ao fazê-lo, nasciam na sua própria alma ideias e impulsos morais muito elevados.
Ficava impressionado com o que escutava dos doutores da lei, porém isso causava-lhe alguma amargura pois parecia-lhe que o que os outros escribas relatavam das antigas tradições continham muitas informações inseguras e facilmente tendentes ao equívoco. Sentia-se sempre oprimido ao ouvir que nos tempos antigos, o espírito havia inspirado os profetas, que o próprio Deus havia falado inspirando os antigos profetas, e que agora essa inspiração se retirara das gerações seguintes.
Ele pressentia o que um dia aconteceria com ele próprio.

Os escribas diziam que o espírito que inspirava Elias não falava mais – mas alguns escribas acreditavam ouvir uma voz muito fraca. Essa voz estranha e inspiradora era denominada de Bath-Kol (filha da voz).
À medida que Jesus ouvia e sentia tudo isto, recebia ele próprio a inspiração por intermédio do Bath-.Kol.
Por meio da fecundação da sua alma com o eu de Zaratustra, Jesus de Nazaré tornou-se capaz de assimilar rapidamente todos os conhecimentos dos outros ao seu redor.
Aos 12 anos ele não só pôde dar aos escribas as respostas de poderoso significado, mas também ouvir o Bath-Kol no seu próprio peito. No entanto essa inspiração por intermédio do Bath-Kol agiu sobre Jesus aos 16 ou 17 anos de idade, de forma a fazê-lo passar por amargas e duras lutas internas.

Um certo dia numa vivência terrível para a sua alma, Jesus acreditou que o Bath-Kol lhe tivesse revelado: “eu não atinjo mais as alturas em que o Espírito realmente me pode revelar a verdade sobre o futuro do povo judaico.” Esse foi um momento terrível, um impulso terrível, quando o próprio Bath-Kol pareceu revelar-lhe que não poderia ser o continuador da antiga corrente de revelação.
Coloquemo-nos por um momento no espírito, na alma do jovem Jesus de Nazaré que passou por essas vivências anímicas.
Nesta época (pelos 16, 17, 18 anos, e até mais tarde) Jesus fazia viagens motivado pelo seu trabalho, ou por outras razões. Nessas viagens ficou conhecendo diversas regiões da Palestina e também algumas fora dela.
Naquela época (isto pode ser observado no Akasha pela visão clarividente) expandia-se pela região da Ásia Menor, e até mesmo na Europa, um culto asiático decorrente da mistura de outros cultos, mas que representava predominantemente o culto a Mitra.
Havia nas mais diversas regiões templos dedicados ao culto de Mitra.
Eram lugares onde se celebravam sacrifícios a Mitra e Attis. Tratava-se de um paganismo antigo.
(A Basílica de S. Pedro em Roma está construída sobre um desses templos. O cerimonial da Basílica de S. Pedro e tudo o que dela deriva não difere muito na sua forma exterior, do culto dos antigos sacrifícios a Attis. O seu culto é, em muitos aspectos, uma continuação do antigo culto a Mitra).

Jesus ficou conhecendo o que existia em tais locais de culto e ficou conhecendo a alma dos pagãos pela observação física exterior.
Jesus possuía então, em alto grau, uma poderosa força de clarividência que nele surgira de forma natural graças à transferência do eu de Zaratustra para a sua alma. Por isso ele tinha naqueles cultos, vivências que outros não tinham e que o abalavam profundamente. Quando em altares pagãos o sacerdote exercia o culto Jesus observava que diversos seres demoníacos eram atraídos pelo acto sacrificial. Descobriu também que alguns ídolos ali venerados não eram imagens de entidades espirituais boas, das hierarquias superiores, mas de poderes demoníacos.
As suas viagens continuaram até aos 20, 22, 24 anos. A sua alma sempre experimentava amarguras ao assistir à actuação dos demónios, e ao ver que o paganismo tinha chegado ao ponto de tomar demónios por deuses, até mesmo retratando nos seus ídolos imagens de selvagens poderes demoníacos que atraídos por essas imagens, por esses actos culturais, passavam para as pessoas que ali oravam tornando-as possessas. Foram pois experiências amargas as que Jesus teve de experimentar.
Mas essas experiências chegaram ao fim.

Cerca dos 24 anos Jesus teve uma experiência nova que seria somada àquela da desilusão que ele tivera por meio da voz do Bath-Kol. A cena foi a seguinte:
Jesus chega a um lugar de sacrifício dedicado a certa divindade, um local pagão.
O povo do lugar era triste, atribulado por todo o tipo de terríveis doenças anímicas que chegavam ao nível corpóreo.
Esse local há muito tinha sido abandonado pelos sacerdotes.
O povo lamentava-se pela ausência dos sacerdotes, as bênçãos dos sacrifícios já não desciam sobre eles que estavam doentes e leprosos e Jesus sentiu comiseração por esse povo. Na sua alma surgiram chamas de infinito amor por esses seres oprimidos.
Reconhecendo esse infinito amor por eles, disseram-lhe:” tu és o novo sacerdote enviado para nós”. Arrastaram-no para o altar do sacrifício pagão e colocaram-no lá em cima.
Então exigiam que ele executasse os sacrifícios para que a bênção do seu deus descesse sobre eles.
Enquanto isso acontecia, ele caiu como morto – a sua alma entrou numa espécie de êxtase; o povo ao seu redor acreditando que o seu deus voltara, presenciou o facto terrível, de aquele que havia tomado como novo sacerdote enviado pelo céu, estar caído como morto.

Mas a alma extasiada de Jesus sentiu-se como que alçada a esferas espirituais, como que arrebatada para a vida solar. Como que provenientes dessa esfera solar, ele ouviu ressoar palavras…palavras como as que a sua alma frequentemente ouvia por meio do Bath-Kol, mas estava mudado, havia-se transformado em algo totalmente diferente. A voz também vinha de uma direcção completamente diferente.
Traduzido para a nossa linguagem o que Jesus percebeu pode ser resumido no seguinte:

“AUM, amem!
Reinam os males
Testemunham o eu que se desprende,
A culpa pessoal por outros provocada,
Vivenciada no pão de cada dia,
Em que não actua a vontade dos céus,
Pois o homem se apartou do vosso reino
E esqueceu os vossos nomes,
Ó pais que estais nos céus.”

Essa voz fez a alma de Jesus voltar a si quando acordou daquele êxtase e ao olhar para a multidão dos sofredores e oprimidos que o haviam elevado ao altar, eis que a multidão tinha fugido. Ao lançar o olhar clarividente para longe, só conseguiu dirigi-lo a uma multidão de forças e seres demoníacos, todos eles ligados àquela gente.
Foi este o 2º acontecimento de grande importância, o segundo marco significativo que encerrou um dos períodos da vida atravessada por Jesus (a partir dos seus 12 anos).
Antes do baptismo no Jordão, a sua alma precisou travar conhecimento com os abismos da natureza humana.

Depois dessa viagem Jesus voltou para casa (foi mais ou menos na época da morte do pai). Ao regressar, Jesus trazia na sua alma uma profunda e vívida impressão dos efeitos demoníacos infiltrados no que sobrevivera das antigas religiões pagãs.
Certos níveis do conhecimento superior só podem ser alcançados tendo o iniciado conhecido os abismos da vida. Também com Jesus, por volta dos 24 anos aconteceu que ao perscrutar profundamente o íntimo de seres humanos, lhe pareceu como se neles se tivesse concentrado toda a miséria anímica da humanidade de então.

Desse modo aquela alma relativamente jovem tornou-se possuidora de uma tranquila e penetrante visão do espírito. Jesus tornou-se num homem que divisava as profundezas dos mistérios da vida, sendo capaz de enxergá-las como ninguém antes havia feito; pois até então ninguém pudera observar até que grau pode chegar a miséria humana.
Ele vira a miséria concentrada, vira como por meio de cerimónias religiosas é possível atrair todo o tipo de criaturas demoníacas. É certo que ninguém como ele recebera na alma aquela impressão infinitamente profunda ao ver aquele povo possuído por demónios.
Certamente ninguém na Terra estava tão bem preparado para a seguinte questão: - como se pode deter a expansão desse sofrimento na Terra?

Jesus tornara-se um iniciado no decorrer da vida, e isso chegou ao conhecimento de um grupo de pessoas que, naquela época, se reuniam numa ordem mundialmente conhecida como a ordem dos Essénios.

3 - Os essénios

Era uma ordem severa.
Para entrar tinha-se de passar por uma provação de no mínimo um ano.
Tinha de provar pela sua conduta moral, pelo serviço prestado às mais elevadas entidades espirituais, pelo sentido de justiça, de igualdade humana, pelo sentido de repúdio aos bens humanos exteriores, ser digno de tornar-se um iniciado.
Havia vários graus de iniciação para aproximação do mundo espiritual. Isolavam-se do resto da humanidade em severa disciplina monástica e praticavam certas medidas de purificação com o intuito de eliminar tudo o que fosse indigno no corpo e na alma.
Na ordem havia documentos antigos e tradições cujo conteúdo os membros mantinham em rigoroso sigilo.
Só podiam ensinar o que aprendiam dentro da Ordem.
Ao ingressar na ordem tinham de entregar todos os seus bens materiais.
Naquela época eram entre 4 a 5 mil membros, e lá chegavam pessoas de todas as localidades do mundo de então.
Tudo pertencia a todos. Uma lei extraordinariamente severa para as nossas condições actuais permitia que um essénio ajudasse com bens da Ordem, todas as pessoas necessitadas, excepto os membros da sua própria família.

Não podiam passar por uma porta que estivesse decorada com pinturas ou que tivesse imagens nas proximidades. Como eram reconhecidos na cidade de Jerusalém construíram portas não ornamentadas para também eles poderem entrar na cidade.
Havia um estabelecimento, recebido por doação dos essénios na Nazaré, e assim Jesus ficou sabendo o que era essa ordem.
Entre os essénios correu a notícia sobre a profunda sabedoria que sobreviera à alma de Jesus de Nazaré.
Entre os Essénios havia a ideia que se poderia denominar profética, de que entre os homens deste mundo, deveria surgir uma nova alma destinada a actuar como uma espécie de Messias. Por isso eles procuravam onde quer que houvesse almas especialmente sábias, tendo ficado profundamente tocados ao saberem do que surgira na alma de Jesus de Nazaré.
Por isso não há nada de extraordinário no facto de os essénios terem aceite Jesus de Nazaré na sua companhia como um membro externo, sem passar pela prova dos graus inferiores. Não é de estranhar que até os mais sábios entre os essénios tenham confiado de coração aberto seus segredos a este sábio jovem.

Na ordem dos essénios Jesus recebeu mensagens muito mais profundas, acerca dos segredos até então preservados, do que os que recebera dos escribas. Também ouviu muito do que recebera anteriormente na sua alma, como revelação luminosa do Bath-Kol.
Começou assim uma viva troca de ideias entre Jesus e os essénios.
No seu relacionamento com eles, entre os seus 25 e 29 anos, mais ou menos, Jesus de Nazaré tomou conhecimento de quase tudo o que a ordem tinha a oferecer.
O que não lhe era comunicado por palavras apresentava-se-lhe por meio de impressões clarividentes. Ele as recebia dentro da própria comunidade dos essénios ou mais tarde em casa onde deixava actuar dentro de si, numa vida mais contemplativa, o conteúdo introduzido na sua alma a partir de forças que lhe advinham, das quais os essénios nada sabiam mas que ele vivenciava na sua alma.

Dessas impressões interiores uma deve ser especialmente salientada pelo facto de poder aclarar todo o caminho espiritual da evolução da humanidade. Trata-se de uma importante visão em que Jesus teve uma espécie de êxtase durante o qual Buda lhe apareceu e lhe falou.
Sim, Buda apareceu a Jesus de Nazaré como consequência do intercâmbio de ideias com os essénios.
Pode-se dizer que naquela época ocorreu um diálogo espiritual entre Jesus e Buda.
Nesse diálogo Buda disse a Jesus:

“Se a minha doutrina se cumprisse, tal qual é, se se cumprisse totalmente, todos os seres humanos deveriam tornar-se iguais aos essénios. Porém isto não pode ocorrer. Foi este o engano na minha doutrina. Também os essénios só conseguem progredir na medida em que se isolam do resto da humanidade; para eles é preciso que existam essas almas humanas restantes. Por meio da minha doutrina só deveriam surgir literalmente essénios; mas isto não pode realizar-se”.
Esta foi uma vivência importante que Jesus teve no seu convívio com os essénios.
Jesus conheceu um outro homem, quase da mesma idade que ele e que também se aproximara da Ordem dos Essénios, embora de forma totalmente diferente; tampouco este se tornara essénio integralmente. Tratava-se de João Baptista, que pode-se dizer, vivia como um irmão leigo dentro da comunidade dos essénios.

A doutrina e todo o modo de viver dos essénios lhe causavam uma profunda impressão, e ele vivia no meio da Ordem como um irmão leigo, deixando-se estimular e inspirar.
Muitos diálogos sucederam entre Jesus e João Baptista.
Aconteceu que um dia Jesus enquanto falava com João Baptista, enxergou à sua frente a corporeidade física de João Baptista como que esmaecida e em seu lugar teve a visão de Elias.
Esta foi a sua segunda vivência anímica importante dentro da comunidade dos essénios.

Mas houve ainda outras vivências.
Jesus observou algo singular: quando chegava a lugares em que havia portas para essénios, portais sem imagens, Jesus não conseguia passar por elas sem ter uma amarga experiência. Embora fossem portais sem imagens, para ele havia aí formas espirituais; de ambos os lados aparecia sempre aquilo que chamamos de Arimã e Lúcifer.
Jesus levou pela vida as duas imagens de Lúcifer e Arimã, que havia visto nos portais essénios. Inicialmente isso não teve outro efeito senão mostrar-lhe que imperava algum mistério entre essas entidades espirituais e os essénios.
Certo dia depois de um diálogo importante e significativo em que haviam sido abordados muitos assuntos de elevadíssima espiritualidade, ao sair pelo portão do edifício principal dos essénios Jesus encontrou as figuras que sabia serem Lúcifer e Arimã a fugirem do mosteiro dos essénios. Então ele perguntou-se: para onde fogem? E esta pergunta ardia-lhe como fogo.

4 - Diálogo entre Jesus e sua mãe

Para compreender as suas dúvidas vamos acompanhar um diálogo com a sua mãe.
Esta é uma cena vivida por Jesus no final do seu 30º ano de vida – um diálogo com a sua mãe (aliás aquela que por meio da união das duas famílias se tornou sua mãe por muitos anos). Jesus tinha com ela um entendimento excelente e profundo, muito melhor do que com os restantes membros da família que viviam na casa; isto é, ele os compreendia bem mas o inverso não ocorria.
Já anteriormente ele conversara com a mãe sobre diversas das impressões que haviam surgido na sua alma; mas no referido momento houve um diálogo muito importante, que nos permite olhar fundo na sua alma.

Pelas vivências descritas ele havia-se tornado cada vez mais sábio, de forma que o seu rosto já revelava infinita sabedoria. Ao mesmo tempo porém havia chegado a uma certa tristeza interior, como muitas vezes acontecia, ainda que em grau menor.
Os primeiros frutos da sua sabedoria consistiram na verdade na tristeza que lhe sobrevinha ao contemplar os homens ao seu redor. Além disso nos últimos anos do seu 3º decénio, quando estava sozinho ele se via compelido a pensar cada vez mais em algo bem determinado: - a sua mudança aos 12 anos quando na sua alma entra Zaratustra. Inicialmente ele só sentia em si a infinita riqueza da alma de Zaratustra. Nessa época ele ainda não sabia ser o Zaratustra reencarnado, mas sabia que uma grande mudança lhe acontecera aos 12 anos.
Ele agora tinha amiúdo a seguinte sensação: “como tudo era diferente antes dessa mudança!” frequentemente pensava como era afectuoso o seu íntimo naquela época; pois quando menino vivera completamente extasiado, tivera a mais viva sensibilidade para todas as manifestações da natureza, para toda a grandiosidade da natureza, contudo tivera pouca predisposição para as conquistas do saber humano – pouco se interessara pelo que se poderia aprender na escola.

Seria um grande erro crer que este menino Jesus fosse até aos 12 anos especialmente dotado no sentido comum do termo.
Ele possuía bondade de coração.
Uma profunda compreensão por tudo o que fosse humano.
Sentimentos e impressões profundas.
Um feitio manso e angelical.
Aos 12 anos foi como se tudo tivesse saído violentamente da sua alma.
Agora tinha de recordar e sentir como antes dessa idade estivera unido à espiritualidade mais profunda do universo. Como a sua alma estivera aberta às profundezas das amplidões infinitas. Como ele vivera a partir dos 12 anos, encontrando então a sua alma preparada para uma espécie de assimilação da erudição hebraica, que lhe advinha espontaneamente, como que oriunda dele próprio; e como nas viagens conhecera, os cultos pagãos, como passara pela sua alma todo o saber e religiosidade do paganismo.
Dos 18 aos 24 anos convivera com o que a humanidade havia alcançado exotericamente e como aproximadamente aos 24 anos ingressara na comunidade dos essénios, aí conhecendo uma doutrina oculta e pessoas que a ela se dedicavam.

Ele sabia que só havia desabrochado na sua alma o que a humanidade acumulara desde a antiguidade.
Amiúde tinha de recordar como fora antes dos 12 anos, quando se sentia como que unido aos divinos fundamentos primordiais da existência, quando tudo nele era elementar e original, emergindo da sua índole amorosa, cálida, transbordante e unindo-se intimamente às demais forças da alma humana.
Estes sentimentos motivaram uma conversa muito especial entre ele e a mãe.
A mãe amava-o muito e frequentemente falavam sobre tudo o que de belo e grandioso se apresentara nele desde os 12 anos.
Nos primeiros anos ele omitira dela a luta interior que isto lhe provocava, de forma que ela apenas via o belo e o grandioso. Por isso muito do que sob a forma de uma espécie de confissão geral houve nesse diálogo era novidade para ela, mas ela acolheu tudo de forma afectuosa.
Existia nela uma compreensão profunda quanto ao estado de alma dele, quanto à saudade que ele tinha do estado em que vivera antes dos 12 anos de idade. Por isso ela tentou consolá-lo, falando-lhe sobretudo do que desde então surgira nele de tão belo e magnífico.

Lembrou-lhe a renovação das grandes doutrinas e fórmulas de sabedoria e dos conteúdos das leis do judaísmo, e de tudo o que se havia revelado por meio do judaísmo.
Ele sentiu um peso no coração ao ouvir a mãe valorizar o que ele sentia como superado.
Para Jesus, mesmo que Elias aparecesse novamente naquela época e quisesse anunciar à humanidade o melhor que ele experimentou nas amplidões celestiais, não existiam homens dotados de ouvidos para ouvir a sabedoria de Elias, dos antigos profetas ou mesmo de Moisés ou de Abraão. Seria impossível proclamar tudo o que esses profetas anunciaram. Suas palavras se perderiam no vento.
Jesus começava a vislumbrar que o que sabia não vinha só do judaísmo.
“Esse conhecimento do antigo judaísmo não significa mais nada para a Terra, pois os velhos judeus não estão mais aqui. Isso deve ser considerado sem valor na nossa Terra” – disse Jesus à sua mãe.
Quando ele afirmava não ter valor o que para ela era o mais sagrado, ela escutava achando isso estranho, mas como o amava profundamente só sentia um infinito amor e na sua alma cruzava-se um sentimento de compreensão pelo que ele lhe dizia.
Ele contou-lhe das suas viagens, da sua ida aos altares pagãos e o que havia experimentado. Reviveu no seu espírito como caíra prostrado no altar pagão e como ouvira a voz modificada do Bath-Kol.

Neste momento do diálogo com a mãe renasceu nele algo como uma renovação da antiga doutrina de Zaratustra. Ele ainda não sabia com certeza que levava dentro de si a alma de Zaratustra; mas a doutrina, a sabedoria, o impulso desse mestre emergiram nele enquanto falavam. Ele vivenciou esse grande impulso de Zaratustra em comunhão com a mãe. Na sua alma veio à tona toda a beleza e grandiosidade da antiga doutrina solar. Então ele lembrou-se das palavras do Bath-Kol e recitou-as à mãe

“AUM, amem!
Reinam os males
Testemunham o eu que se desprende,
A culpa pessoal por outros provocada,
Vivenciada no pão de cada dia,
Em que não actua a vontade dos céus,
Pois o homem se apartou do vosso reino
E esqueceu os vossos nomes,
Ó pais que estais nos céus.”

Com estas palavras toda a grandiosidade do culto de Mitra reacendeu-se na sua alma apresentando-se como uma genialidade interior.
Ele falou à sua mãe sobre a grandiosidade e a glória do paganismo, daquilo que estivera vivo nos antigos mistérios dos povos; muitos desses mistérios confluíram para os mistérios da Ásia Menor e do sul da Europa.
Mas na sua alma ele percebia como pouco a pouco esse culto se havia transformado, caindo sob os poderes demoníacos que ele mesmo vivenciara por volta dos 24 anos.
Ele recordou tudo o que se passara e pareceu-lhe que os homens da sua época não eram mais adequados para receber a antiga doutrina de Zaratustra.
Jesus disse “mesmo que todos os mistérios fossem reunidos num só e tudo o que no passado foi grande confluísse, não mais existiriam homens para ouvi-lo. Tudo seria inútil. E se eu saísse por aí anunciando aos homens o que ouvi como sendo o Bath-Kol transformado, iria revelar o segredo da razão de os homens na vida física não mais conseguirem viver em comunhão com os mistérios; é que hoje não existem mais homens que compreendam esse Bath-Kol (…) Os homens perderam a capacidade de ouvir o que se revelava e se ouvia no passado”.

Agora Jesus se dera conta de que o que escutara como sendo a voz modificada do Bath-Kol havia sido um ensinamento sagrado antiquíssimo, uma poderosa oração universal de todos os locais de mistérios, que ali era rezada e que tendo sido esquecida, se lhe revelara quando ele caíra prostrado junto ao altar pagão. Mas ele percebia também a impossibilidade de tornar isso compreensível agora.

Prosseguindo a conversa com a mãe falou sobre o que assimilou no círculo dos essénios.
Falou sobre a beleza, a grandeza e a glória da doutrina dos essénios, rememorou a sua suavidade e benevolência.
E a seguir fez o terceiro pronunciamento importante, que lhe brotara da sua conversação visionária com Buda: nem todos os homens podem tornar-se essénios. Tinha razão Hillel ao dizer: “não te separes da colectividade, mas sim trabalha e actua dentro dela”. Ora, sozinho o que sou eu? Assim fazem os essénios: separam-se dos homens, que por isso são condenados a ser infelizes”.
Disse também: “certa vez, quando eu ia saindo após uma íntima e importantíssima conversação com os essénios, avistei num portão Lúcifer e Arimã fugindo dali. Desde aquele momento, mãe querida, sei que os essénios se protegem por seu modo de viver e por sua doutrina oculta, de forma que Lúcifer e Arimã são obrigados a fugir das suas portas. Mas com isso, atiram Lúcifer e Arimã sobre os outros homens.”

Estas palavras abalaram profundamente a alma materna repleta de amor. Ela sentiu-se como que transformada, sentiu-se uma com ele.
E Jesus sentiu que tudo o que havia suportado sairá dele por meio desse diálogo. Ele percebeu e a mãe também.
Quanto mais ele falava, quanto mais a mãe escutava, mais ela ficava inteirada de toda a sabedoria que habitava nele desde os 12 anos. E, no entanto, era como se tudo tivesse desaparecido. Ele havia como que depositado no coração da mãe todas as vivencias que tivera e com as quais convivera até ali.
Depois dessa conversa ele ficou tão profundamente transformado que os irmãos adoptivos e os outros parentes pensaram que tivesse perdido a razão. “Que pena”, diziam, “ele sabia tanto! É verdade que sempre foi calado, mas agora perdeu o juízo”. Consideravam-no perdido. E de facto durante dias ele andou pela casa como um sonâmbulo.
O eu de Zartustra estava em vias de abandonar o corpo de Jesus. E a sua última decisão surgiu como que mecanicamente, fazendo com que ele saísse de casa e fosse ter com João Baptista. Assim sucedeu o baptismo por João no rio Jordão.
Com o diálogo com a mãe o eu de Zaratustra retirou-se. Jesus volta a ser o que fora até aos 12 anos; só que havia crescido.

5 – Surgimento de Cristo

Agora vivia na Terra um ser muito especial; a entidade de Cristo dentro de um corpo humano e que até então só existira nas esferas espirituais.
Esta entidade penetrou nestes três corpos tal qual se tornaram sob a influência dos 30 anos de vida de Jesus.
Cristo foi primeiro conduzido à solidão (isso nos é mostrado no 5º evangelho e no Akasha)
No corpo de Jesus estava encarnada a entidade de Cristo, Jesus sacrificara tudo o que antes o ligara ao mundo.
Cristo dizia a si próprio: “este é o corpo que percebeu a fuga de Arimã e de Lúcifer, que se deu conta de como os esforços dos essénios baniram Arimã e Lúcifer em direcção aos outros homens.” Sentiu-se atraído para aqueles, que estavam à mercê de Arimã e Lúcifer; pois são eles os poderes contra os quais os homens têm de lutar.
Foi assim que o ser crístico, que pela primeira vez habitava um corpo humano, se sentiu pela primeira vez impelido a lutar contra Arimã e Lúcifer.

6 - As Tentações

A cena das tentações consta de diversos evangelhos relatada sob aspectos diferentes.
As tentações tal como são vistas no Akasha
Cristo encontra Lúcifer quando está na solidão e este tenta agir com Cristo do mesmo modo como costuma agir com os homens apelando ao orgulho e ao auto-engrandecimento, quando os homens se atribuem demasiada importância e lhes falta humildade e auto-crítica.

- 1ª tentação – Lúcifer abordou Jesus Cristo aproximadamente com as seguintes palavras: (que também estão nos outros evangelhos) “olha para mim! Os outros reinos, onde está colocado o homem e que foram fundados pelos deuses e espíritos antigos, esses reinos envelheceram. Eu quero fundar um novo reino; eu te darei toda a beleza e magnificência dos reinos antigos se ingressares no meu reino. Mas deves separar-te dos outros deuses e aceitar-me a mim!” e Lúcifer descreveu toda a beleza do mundo luciférico, tudo o que deveria agradar à alma humana, mesmo que esta fosse bem pouco orgulhosa.
Mas a entidade de Cristo vinha dos mundos espirituais – sabia quem era Lúcifer e como deveria proceder a alma que não quisesse ser tentada por ele na Terra.

- 2ª Tentação – Lúcifer faz segunda investida, mas desta vez chamou Arimã para ajudá-lo e os dois falaram a Cristo. Lúcifer quis provocar o seu orgulho, Arimã quis apelar ao seu medo.
Disse Lúcifer: “Por meio da minha espiritualidade, por meio daquilo que eu sou capaz de dar-te, se me aceitares, não precisarás daquilo de que agora precisas por teres entrado como Cristo num corpo humano. Esse corpo te subjuga e te obriga a reconhecer a lei da gravidade. Eu posso fazer com que caias: o teu corpo humano te impede de superar a lei da gravidade. Porém, se me aceitares, vou suprimir as consequências da queda e nada te acontecerá!”
Arimã disse: “Eu te protegerei do medo: joga-te para baixo!”
E os dois o pressionavam.
Mas ele pôde salvar-se porque as pressões de ambos se neutralizaram; e conseguiu encontrar a força que o homem deve obter na Terra para superar Lúcifer e Arimã. Então Arimã disse: “Lúcifer, não me serves: só me atrapalhas, pois não aumentaste as minhas forças, e sim as diminuíste.”
Assim Arimã considerou que Lúcifer o atrapalhava e quis actuar sozinho e mandou-o embora.

- 3ª Tentação – Arimã faz a última investida sozinho:
“Transforma o mineral em pão, transforma pedras em pão, se queres vangloriar-te de possuir forças divinas!” Replicou Cristo: “nem só de pão vivem os homens, mas daquilo que, como espírito, provém dos mundos espirituais”. Então Arimã disse: “podes ter razão. Mas mesmo que tenhas razão, isto não me pode impedir de te prender de certa forma. Só conheces o que faz o espírito que desce das alturas. Ainda não estiveste no mundo humano. Lá em baixo existem homens bem diferentes; para eles é impossível alimentar-se apenas do espírito”.
Neste momento Arimã disse a Cristo algo que se podia saber na Terra, mas que o Deus recém-chegado a ela, não podia saber. Ele não sabia que lá em baixo era necessário transformar o mineral, o metal em dinheiro, em pão.
Arimã explicou então que lá em baixo os homens eram obrigados a alimentar-se com o dinheiro. Era neste ponto que Arimã ainda tinha poder. E disse: “hei-de fazer uso desse poder.”

Esta é a versão verdadeira do episódio das Tentações.
As questões não foram resolvidas de forma definitiva; as de Lúcifer sim, mas não as de Arimã. Por isso foi necessário ainda algo mais.
Quando Jesus Cristo deixou a solidão, sentiu-se como que elevado acima de tudo o que vivera e aprendera desde os 12 anos; sentiu o espírito de Cristo unido ao que vivera nele antes de completar essa idade.
Na verdade, ele não mais se sentia unido ao que na humanidade, havia-se tornado velho e ressequido. Até mesmo a linguagem falada no seu meio se lhe tornara indiferente, e no começo ele até ficava calado.
Pôs-se a andar pelos arredores de Nazaré e, mais longe, visitou muitos lugares onde já estivera como Jesus.

7 - Peregrinações de Jesus Cristo

Jesus Cristo peregrinou inicialmente de albergue em albergue; por toda a parte, trabalhava na casa das pessoas e junto com elas.
O que experimentara com a sentença de Arimã sobre o pão deixara-lhe uma profunda impressão. Por toda a parte ele encontrava as pessoas que já o conheciam e com as quais já trabalhara antes. Elas o reconheciam e ele realmente encontrou o povo a que Arimã tinha acesso, pois eles tinham necessidade de converter pedras em pão, ou o que vem a ser o mesmo – converter dinheiro, metal, em pão.
Ele não precisava entrar nas casas dos que seguiam as doutrinas de Hillel ou outras, mas ingressava nas daqueles que os outros evangelhos denominam publicanos e pecadores, pois eram os que dependiam da transformação das pedras em pão. Foi especialmente com estes que ele conviveu muito.

Muitas pessoas já o conheciam como Jesus de Nazaré, elas conheciam o seu modo suave, carinhoso, sábio; e em cada lar, em cada albergue, ele se havia tornado muito querido das pessoas.
Essa estima se conservava. Nessas casas muito se falava do homem bom, de Jesus de Nazaré, que por ali passara. Algumas dessas famílias se reuniam após o trabalho, depois do pôr-do-sol, e gostavam de falar sobre o homem afectuoso que estivera com eles quando era Jesus de Nazaré. Contava-se do seu amor e bondade, dos seus sentimentos belos e calorosos que os haviam permeado quando esse homem vivera sob o seu tecto.

Em diversas dessas casas, depois de falarem horas a fio, acontecia que a imagem desse Jesus penetrava na sala, como uma visão comum a todos. Sim, ele os visitava em espírito, ou também eles criavam a sua imagem espiritual.
Agora podem imaginar o que essas famílias sentiam quando ele lhes aparecia naquela visão comum a todos, e o que significou para essas famílias o facto de ele voltar agora, após o baptismo no Jordão, quando eles o reconheciam pelo seu aspecto exterior; só que o olhar se tornara mais brilhante.
O que se lhes manifestava agora era a natureza transformada de Jesus Cristo; manifestava-se especialmente o Jesus transformado pela incorporação de Cristo.
Antes eles sentiam o seu amor, a sua bondade e doçura, agora emanava dele uma força mágica.
Se antes se sentiam consolados, agora sentiam-se curados.
As pessoas iam ter com os vizinhos trazendo-os para as suas próprias casas quando eles também estavam atormentados.
Assim Jesus Cristo conseguiu realizar, entre as pessoas que estavam sob o domínio de Arimã, o que na Bíblia está descrito como a expulsão dos demónios.
Muitos daqueles demónios que ele vira no altar dos sacrifícios se afastavam das pessoas quando ele se aproximava. Os demónios viam nele o seu adversário.

8 - Surgimento do Pai-nosso

O contacto com as pessoas fez-lhe lembrar o Bath-Kol, que lhe revelara a antiga oração dos mistérios. Na sua mente se destacava a linha central dessa oração: “vivenciada no pão de cada dia.”
Aqueles que ele estava visitando tinham de transformar as pedras em pão. Dentre essas pessoas com as quais ele convivera, muitos só viviam do pão. E as palavras daquela oração pagã antiga, “vivenciada no pão de cada dia”, gravaram-se profundamente na sua alma.
Jesus Cristo sentia que na evolução da humanidade, por causa da necessidade do pão, os homens esqueceram o nome dos pais que estão nos céus, os nomes dos espíritos das hierarquias superiores. Convenceu-se então de que fora a vida no pão de cada dia que havia separado os homens dos céus e os conduzira ao egoísmo e a Arimã.

Quando repleto de tais pensamentos ele caminhava pela região, os que mais profundamente perceberam como Jesus estava transformado, tornaram-se seus discípulos e o seguiram. De diversos albergues ele levou consigo este ou aquele seguidor, que o acompanhava por ter a forte sensação das suas mudanças. Assim não tardou que se juntasse todo um grupo de tais discípulos.
Cristo tinha pois ao seu redor, homens que possuíam uma nova atitude básica nas suas almas. Graças a ele, tais homens se haviam tornado diferentes daqueles que não eram capazes de ouvir as verdades antigas.
Então a sua experiência terrena o iluminou: “o que devo comunicar aos homens, não é o modo como os deuses abriram o caminho do Espírito para a Terra, mas sim como os homens podem encontrar o caminho da Terra para o Espírito.”
Neste momento soou-lhe a voz do Bath-Kol, e ele soube que as fórmulas e orações de outrora precisavam ser “renovadas”; soube que agora o homem deveria procurar, de baixo para cima, o caminho para os mundos espirituais.
Então inverteu a última linha da oração pois assim era apropriado aos homens da nova era; estes não deveriam referir-se às muitas entidades espirituais das hierarquias, mas sim ao ser espiritual UNO.

“Pai-nosso que estais no céu” em vez de “e esqueceu os vossos nomes”, inverteu-a para “santificado seja o seu nome”. Em vez da penúltima linha que dizia “pois o homem se apartou do vosso reino”, ele a inverteu para: “venha a nós o teu reino”. E a linha “em que não actua a vontade dos céus” ele inverteu, porque deveria haver uma inversão completa do caminho para os mundos espirituais: “seja feita a tua vontade, assim na Terra como no céu”. E o mistério do pão, da encarnação no corpo físico, o mistério de tudo o que agora se lhe revelara plenamente por meio do aguilhão de Arimã, ele transformou de maneira que os homens percebessem que também o mundo físico provém dos mundos espirituais, embora o homem não o perceba de imediato. Assim transformou-se a linha “vivenciada no pão de cada dia “ num pedido “o pão-nosso de cada dia dá-nos hoje”. As palavras “a culpa pessoal, por outros provocada”, ele as inverteu para “perdoa-nos as nossas dívidas, assim com nós perdoamos aos nossos devedores”. E a linha que era a segunda na antiga oração dos mistérios: “testemunham o eu que se desprende”, ele a inverteu dizendo: “mas livra-nos”; e a primeira linha “reinam os males”, transformou-se em “do mal amem”.

E assim o que a cristandade ficou conhecendo como o Pai-nosso é a inversão das palavras proferidas pela voz transformada do Bath-Kol que Jesus ouvira ao cair prostrado no altar, transformando-se no que Cristo Jesus ensinou como sendo a nova oração dos mistérios.

Aqui se reproduzem os textos completos.

“AUM, amem!
Reinam os males
Testemunham o eu que se desprende,
A culpa pessoal por outros provocada,
Vivenciada no pão de cada dia,
Em que não actua a vontade dos céus,
Pois o homem se apartou do vosso reino
E esqueceu os vossos nomes,
Ó pais que estais nos céus.”

Pai-nosso, que estais nos céus,
Santificado seja o Teu nome,
Venha a nós o Teu reino,
Seja feita a Tua vontade, assim na terra como nos céus.
O pão-nosso de cada dia dá-nos hoje
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores,
E não nos deixes cair em tentação,
Mas livra-nos do mal. Amem.

Foi de forma semelhante que surgiu a revelação do Sermão da Montanha e outras ensinadas por Jesus Cristo aos seus discípulos.
Cristo usou, de certo modo, as roupas dos cultos antigos, mas só as vestiu como uma roupagem, sendo que agora, o conteúdo passou a ser o próprio Cristo.
Sobre os seus discípulos Jesus Cristo actuava de modo bem singular. Quando ele percorria a região, o efeito que exercia sobre os que o rodeavam era muito peculiar, era como se não estivesse somente no seu corpo; quando ele percorria a região, um ou outro discípulo, sentia às vezes como se o Mestre estivesse agindo dentro da sua própria alma e se punham a falar o que na realidade só Jesus Cristo sabia dizer.

Esse grupo caminhava pela região e encontrava pessoas, e quem falava nem sempre era Jesus Cristo; às vezes também falava um outro dos discípulos; pois ele compartilhava tudo com os discípulos inclusive a sabedoria.
No diálogo com o saduceu relatado no evangelho de Marcos, Jesus Cristo não falou a partir do corpo de Jesus, mas sim de um dos discípulos. Este fenómeno também acontecia quando Jesus Cristo deixava o grupo, ficando não obstante entre eles

Cristo continuava a percorrer o país com um grupo agora mais numeroso. Eles pregavam em muitos lugares – aqui falava um, ali outro do grupo de apóstolos, podendo-se crer ser Cristo quem falava. Pregavam ora num, ora noutro lugar e em ambos se podia crer ser Cristo quem falava, pois ele se revelava através de todos eles.

É possível observar uma conversa entre os escribas através da Crónica do Akasha. Eles diziam:
“Para provocar o afastamento do povo podíamos prender qualquer um deles e matá-lo; mas poderia não ser a pessoa certa, pois todos eles falam da mesma maneira. Isso não serviria, porque talvez o verdadeiro Jesus Cristo continuasse por aí. Temos de apanhar o verdadeiro”.
Só os próprios discípulos podiam reconhecê-lo, mas certamente não revelariam ao inimigo qual era o verdadeiro.

Todavia Arimã se havia tornado suficientemente forte em relação à questão em aberto (ganhar o pão de cada dia pela transformação das pedras em pão). Cristo não conseguiria ajustar esta questão nos mundos espirituais, mas somente na Terra.
Por meio do acto mais pesado e culposo, Ele estava destinado a experimentar o que significa fazer das pedras pão.
Arimã usou como instrumento Judas Iscariotes.

Ele não teria sido reconhecido senão pelo facto de um dos seus se colocar ao serviço de Arimã.
Judas cometeu a traição somente pelo dinheiro
Esta traição aconteceu porque Arimã guardou para si, como aguilhão, o facto de Cristo desconhecer o que era transformar as pedras em pão.
Então Cristo teve de ser subjugado pelo Senhor da Morte, isto é Arimã. É deste modo que o episódio da Tentação e o Mistério do Gólgota se relacionam com a traição de Judas.

Se lembrarmos tudo o que foi dito, sobre o desenvolvimento de Jesus de Nazaré vemos que a História Universal providenciou coisas extraordinárias, ao criar dois corpos e fazer com que a individualidade de Zaratustra habitasse primeiro o corpo de Jesus Salomónico até aos 12 anos de idade e depois o corpo do Jesus Natânico dos 12 aos 30 anos.
Jesus de Nazaré era uma pessoa do mais alto nível, mas não ascendeu pelo mesmo caminho que a individualidade de um adepto caminhando duma encarnação a outra. Foi diferente.
Na idade de 30 anos, quando a individualidade de Cristo penetra no corpo de Jesus de Nazaré, este abandona justamente esse corpo e a partir do momento do baptismo no Jordão (se deixarmos de lado Cristo) temos diante de nós um homem formado somente pelos corpos físico, etérico e astral, servindo de suporte para Cristo. Devemos distinguir entre o suporte de Cristo e o próprio Cristo que vive dentro desse suporte.

As forças desenvolvidas por uma individualidade não se situam nos invólucros exteriores e sim no fio da vida do eu que segue de encarnação em encarnação. As forças que pertenciam à individualidade de Zaratustra e se encontravam no corpo de Jesus de Nazaré, a fim de prepará-lo saem com a individualidade de Zaratustra. O que permanece é uma estrutura humana, mas que não poderia ser chamada de estrutura de um adepto; trata-se de um homem, um homem muito frágil.
Este ser humano no momento em que é abandonado por Zaratustra e a individualidade de Cristo o ocupa, envia ao seu encontro tudo o que normalmente emana da natureza humana do homem: o Tentador. E foi por isso que Cristo teve de passar por todas as preocupações e estados de desespero do Monte das Oliveiras.

Não pode chegar a um autentico conhecimento da essência de Cristo quem ignore que a entidade crística não habitava num homem situado no elevado nível de um adepto, mas num homem simples que se diferenciava dos outros pelo facto de ser apenas o invólucro humano abandonado por Zaratustra. O suporte de Cristo foi um homem e não um adepto. Reconhecendo-se isso, abre-se uma perspectiva de toda a essência dos acontecimentos do Golgota e da Palestina em geral.
O que permanece é uma estrutura humana frágil constituída pelos corpos físico, etérico e astral.
Com quem se relacionava então a vida de Jesus Cristo entre os 30 e os 33 anos? – Não com a individualidade que seguira de encarnação em encarnação mas com a individualidade que do cosmos penetrara no corpo de Jesus. Uma individualidade que nunca antes estivera ligada à Terra mas que se ligara a um corpo humano a partir do Cosmos. Neste sentido, os factos que se desenrolaram entre os 30 e os 33 anos de Jesus Cristo, eram próprios do deus Cristo e não de um ser humano.

O que aí acontece relaciona-se com os factos ocorridos antes mesmo que um fio de vida como o nosso penetrasse num organismo humano físico. Temos de retroceder até à antiga época lemúrica, até ao acontecimento mencionado no Antigo Testamento como “tentação pela serpente”. Esse acontecimento foi algo peculiar, e todos os homens sofriam as suas consequências ao encarnarem. Se ele não tivesse ocorrido, toda a evolução na Terra teria sido diferente, pois os homens teriam passado de uma encarnação à seguinte num estado de muito maior perfeição.
Aquilo que normalmente é conhecido como o “Pecado Original” despertou o homem para a sua actual individualidade. O ser humano não é responsável pelo pecado original. O pecado original é o envolvimento muito profundo do homem com a matéria e é da responsabilidade dos espíritos luciféricos.
Com este facto o homem pode chegar à força do amor e à liberdade, mas isto foi-lhe imposto.
Este envolvimento com a matéria não foi um feito humano porque ocorreu antes que os homens fossem capazes de tomar parte activa no seu destino. Foi algo que as potências superiores, dirigentes da evolução contínua, combinaram com os seres luciféricos.

O que então ocorreu necessitava de uma compensação. O pecado original, a Queda, ocorrera ao homem em estado pré-humano, exigia uma compensação, algo que tampouco fosse assunto humano, mas um assunto dos deuses entre si.
Esse assunto teve de se concretizar tão profundamente abaixo da matéria quanto se desenrolou acima da matéria o outro acontecimento, ocorrido antes que o homem fosse vinculado à matéria.
Deus teve de imergir na matéria tão profundamente quanto havia levado o homem a fazer.
Entreguemo-nos a toda a gravidade desse facto, e compreenderemos que essa encarnação de Cristo em Jesus era um assunto do próprio Cristo, dos deuses.
Qual foi então o chamamento dirigido ao homem? Em primeiro lugar ele devia ver como Deus compensa o feito do “pecado original”.
Isso não teria sido possível dentro da personalidade de um adepto; pois tal personalidade teria conseguido redimir-se pelas suas próprias forças da queda na matéria. Isso só era possível numa personalidade que não se destacasse dos outros homens.
Jesus só se destacou dos outros homens até aos 30 anos, altura em que Zaratustra abandona o seu corpo físico, etérico e astral, deixando a possibilidade de Cristo o ocupar.
E os homens participaram de um acontecimento que se desenrolou entre deuses, podendo vê-lo porque os deuses precisaram recorrer ao plano físico, a fim de possibilitar a realização desse assunto.
Por isso é melhor dizer que Cristo ofereceu um sacrifício num corpo físico em lugar de qualquer outra fórmula. E para o homem tratou-se de assistir a um problema entre deuses.
   


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Impresso em 28/3/2024 às 12:00

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