Fundação Maitreya
 
O Asceta Irascível

de Ramiro Calle

em 27 Abr 2012

  Este é mais um dos belíssimos contos do "Livro do Amor", que apresentamos em Sugestões de Leitura. As histórias e contos que recolhemos deste livro, muitas delas são milenárias, enquanto outras foram criadas pelo autor e integradas no seu conjunto. São contos que os mestres espirituais foram transmitindo desde a noite dos tempos, como exemplos válidos ou analogias para desenvolver a compreensão não só intelectual, mas também emocional e intuitiva.

Há já muitos anos que optara pelo caminho de ascese e permanecia retirado numa gruta da montanha, dedicado à busca espiritual.

Certo dia, encontrava-se a meditar quando um ratito começou a avançar pela gruta e, confiante, se aproximou do asceta e pôs-se a trepar-lhe pelas pernas. O asceta, farto e enfurecido, gritou:

_Deixa-me de vez em paz, roedor incómodo! Estás a impedir-me de entrar em profunda meditação e fundir-me com o Supremo!

_ Mas, senhor – balbuciou o rato – ando à procura de algum resto de comida, porque estou a morrer de fome.

_ Deves ser parvo! – exclamou o eremita. – Depois de tantos anos, estava quase a conseguir a união com o Supremo e tu estás a impedir-mo.
O ratito sorriu com certa ironia disse:

_ Se nem sequer és capaz de te sentir unido a mim, um miserável ratito, como é que podes
unir-te com o Supremo?
(em itálico a partir daqui)

O amor deve expandir-se a todas as criaturas. A melhor maneira de amar o Divino consiste em amar todos os seres com sentimentos, desde o mais minúsculo ao maior, sem diferenças. Podemos ser muitos crentes, perdermo-nos em rezas e liturgias, mas tudo isso vale nada se não houver amor e benevolência. No Oriente falou-se sempre dos seres com sentimentos, quer dizer, os que sentem. São os animais e o ser humano, porque as plantas sentem mas não têm o tipo de consciência para sentir como os animais. Na Índia, durante a época das chuvas, os grandes mestres espirituais paravam as suas ocupações, não só para evitar o incómodo das chuvas torrenciais da monção, mas porque nesse estação havia muito mais animais e era impossível caminhar sem os destruir.

O animal merece respeito, atenção e cooperação, mas devido a um entendimento incorrecto e fatalmente egocêntrico, muitas pessoas não reparam nisso e outras, ainda pior, maltratam selvaticamente os animais, o que diz muito sobre o seu misérrimo nível de consciência.
   


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