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Investigar para Contemplar
de Maria em 01 Nov 2012 ![]() “Captar a verdade é uma revelação que resulta de uma compreensão profunda”. O que é a felicidade? Para uns pode ser uma relação amorosa, para outros, um copo de vinho, para outros os bens de consumo (compras de marca etc.), mas esta felicidade fútil é, naturalmente, passageira. A definição de felicidade designa um estado que causa um sentimento de plenitude pela durabilidade do bem-estar interior. Pode considerar-se como felicidade relativa uma satisfação momentânea, e como felicidade absoluta o que leva à plenitude, pela assimilação da realização espiritual, tornando-se mesmo num estado irreversível. Sendo então, a felicidade um estado, a sua definição depende da realização espiritual de cada um – a beleza da felicidade está, naturalmente, no interior de quem contempla. Deste modo, investigar sobre o sentido de felicidade, ajuda-nos a usar a faculdade de compreender a nossa natureza através de um método introspectivo e ao mesmo tempo aprender a dominar a nossa vida directamente. A maioria das pessoas tem pouco domínio da mente, pouca concentração – sempre discursiva - onde os pensamentos não são muito claros. Perdem-se em vagas de pensamentos que assumem como realidade, mesmo que estejam apenas a imaginar os problemas, e em muitos casos sofrem por antecipação. A confusão mental resulta da falta de conteúdos precisos e objectivos, ou então pela obsessão de um desejo tornado compulsivo. A investigação sobre quem somos, donde viemos e para onde vamos conduz-nos à nossa natureza interior, onde iremos encontrar muitas respostas. Ela pode ligar-nos aos ideais superiores, como altruísmo, compaixão e aspiração espiritual, onde então encontraremos motivos de contemplação. A contemplação resulta de um estado de apaziguamento emocional, físico e mental. Para contemplar precisamos de esvaziar a nossa mente dos problemas mesquinhos. Contemplar é transcender. A transcendência adquire-se, gradualmente, pelo poder da transformação interior e, esta só pode acontecer pelo auto-conhecimento. Podemos começar pelas observações mais básicas. Esse exame interior é no sentido de compreender porque geramos estados de insatisfação, de medos e de rebeldia que destroem a nossa serenidade e nos leva ao sofrimento. Apercebemo-nos que temos sentimentos de raiva, de ciúme, ódio e desejos egocêntricos, que nos fazem mal ao coração e à mente. Ao termos consciência desses sentimentos mais negativos podemos acalmá-los, usando a nossa vontade para transformar esses factores mentais bloqueadores, que impedem o nosso discernimento, em sentimentos positivos. Os sentimentos negativos causam maleitas na mente e no coração, destruindo a alegria interior, enquanto o amor, o altruísmo e a compaixão a geram. A maior parte do sofrimento humano deriva da avidez, negligência e egoísmo. Só guiando-se por uma via de transformação espiritual se sublimam os aspectos negativos do carácter, aliviando a mente dos obstáculos frustrantes, autênticos venenos, onde então a contemplação tem lugar. Muitos abandonaram as práticas religiosas, outros rejeitam mesmo qualquer religião e esta laicidade acaba numa ausência de educação espiritual, o que se torna num empobrecimento humano, mesmo na sua liberdade intelectual. Liberdade e espiritualidade requerem disciplina - ajustando-as à vivência diária de forma harmoniosa e que sirva de base à evolução humana - para que não se corra o risco de sair da realidade da vida. O sentido de investigar, tornou-se claro para mim quando percebi que cada um é responsável pela sua própria vida e o sofrimento somos nós que o causamos. Não somos vítimas dos outros. Podemos citar o velho ditado: “colhemos o que semeamos”. E, assim, temos o Destino versus Dever - Karma. As filosofias orientais baseiam-se na lei da causa e do efeito: cada acção tem repercussões na acção seguinte, bem como cada vida que temos, tem consequências na vida futura. Assim sendo, requer-se mais responsabilidade pelo que pensamos, dizemos e fazemos. A lei de causa e de feito que no Oriente se chama Karma, implica, acção; o acto que influencia o nosso destino no agora e, o dever, que é aquilo pelo qual somos responsáveis, para que as nossas acções não tenham efeitos destrutivos. A investigação que propus inicialmente, pode oferecer-nos múltiplos campos de estudo de acordo com o estado de Consciência de cada um, mas também nos reporta a este destino, o Karma, prerrogativa que em parte condiciona a nossa vida, já à nascença. Na verdade, uma parte dela já vem destinada: a família onde se nasce, a sociedade onde nos inserimos e a missão pessoal de cada um. Para além disto, logicamente, ainda nos resta liberdade dentro destes parâmetros que nos são impostos, para decidirmos a melhor forma de agir e para tomar decisões pessoais, usando a vontade. A liberdade para as acções passa, obviamente, por esta responsabilidade: fazer bem e melhor. Isto é o que nos resta do livre arbítrio; fazer sempre bem o que quer que façamos, ditando deste modo, o nosso futuro, pois somos nós que o “profetizamos”. De facto, colhemos o que semeamos; todas as acções que cometemos desencadeiam movimentos à nossa volta ou na nossa esfera de actuação. Qualquer fenómeno ligado à natureza nasce de alguma interdependência com o ambiente onde se insere. Uma flor que cai do caule… Se nos determos a contemplar uma flor sabemos que houve múltiplos processos antes da sua queda e a seguir muitos outros vão levar as suas folhas a espalhar-se e a interligar-se novamente com a restante natureza. A compreensão sobre o Karma retrata-se em todos os processos da natureza seja no homem, no animal ou na vegetação: nascemos, vivemos e morremos. A vida é uma interdependência destes fenómenos naturais. E, qualquer fenómeno, não pode acontecer se não estiver ligado e relacionado com outros. É o encadeamento dos acontecimentos que nos dá a referência para nos situarmos perenemente na realidade da vida. Porém, é um processo tão automático na nossa vivência diária, que não parámos para pensar, que a acção que se executa em determinado momento é fruto de acontecimentos anteriores e, o futuro dessa acção, fica traçado no momento presente. Desta forma, a vida consiste num grande fluxo de acontecimentos de ondas dinâmicas todos relacionados entre si, inter-agindo continuamente. A inter-relação e a impermanência são dois fenómenos bem reais na vida humana – passado, presente, e futuro – misturam-se em momentos tão fugazes que geram eternamente a impermanência. Assim até para respirar precisamos do oxigénio. Onde se produz o oxigénio? Na natureza, que por sua vez, precisa da combinação da atmosfera que o planeta gera no seu movimento, que por seu lado, esse movimento se deve à força da gravidade exercida pelo Sol, inserido na galáxia e, esta, na infinidade cósmica… Tudo se encadeia numa evolução em espiral que conduz a vida humana, sempre num sentido mais elevado de ideais que mereçam a nossa contemplação. Temos então, para além do karma pessoal (dever de cada um consigo mesmo), o social e colectivo (dever para com os outros, a sociedade) e o espiritual (o dever de evoluir para a Transcendência ou ligação à Unidade). E como se chega à Transcendência? Pela investigação – primeiro ela passa pelo trabalho mental de usar o cérebro num método de Concentração. O benefício que se dá ao cérebro, pelo silêncio da mente contribui para o melhoramento da nossa saúde mental e espiritual. Segunda, tomar consciência dos pensamentos que afluem à mente, observando até percebermos que temos força mental (o silêncio devolveu à mente a sua força) suficiente para os parar de vez – quando o conseguimos, então, já estamos a meditar. Pela meditação, a mente fica apaziguada nos seus movimentos, pois reduzimos as funções cerebrais aos seus mecanismos naturais, que nos traz a paz mental e se vai repercutindo no coração, brotando então, o amor incondicional. A prática da meditação constitui o meio que confere ao Ser a capacidade de adquirir o poder de: a) Libertar-se da forma b) Criar c) Dirigir a energia por um acto de vontade d) Agir construtivamente no presente e no futuro. Pela meditação, podemo-nos libertar da ilusão dos sentidos e da sua atracção vibratória, estabelecendo o nosso centro de energia positiva e, conscientemente, sermos capazes de a usar. Como última e terceira parte da nossa investigação, temos a Contemplação. Em sânscrito chama-se Samādhi, o êxtase, a Unidade, a Transcendência, que esta sim, então se traduz, por felicidade total. É, então, possível viver a transcendência investigando no reino da mente. Só através de um estado de Consciência desenvolvida superiormente se compreende e realiza a Unidade pela superação do Ego (eu). Assim, pela emancipação individual se transferirá a Consciência para a auto-consciência divina, ou seja, pelo auto-conhecimento se realiza internamente, reconhecendo-se e reconhecendo, naturalmente os outros e só neste conhecimento se encontra a compreensão da Unidade: o motivo da nossa Contemplação. ![]() |
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