Fundação Maitreya
 
Seja Consciente da Consciência – 2ª Parte

de Arun Kumar Laha

em 27 Abr 2014

  As próprias palavras “Existência Absoluta” descrevem que a única entidade real que existe no universo é a Consciência, só, e nada mais que a Consciência. Todas as outras coisas são criadas pela Consciência, usando-A como único ingrediente. A Consciência cria o universo físico só para Seu único deleite. A Consciência estava só e sentia-se aborrecida, como seria de esperar, da Sua existência solitária. Então, dividiu-Se em dois. Uma parte ficou como antes – nunca mudando, eterno Observador, Pura Consciência, para lá do tempo e do espaço. Usando os desejos criativos de Pura Consciência, a segunda metade cria o universo físico em permanente mudança, consistindo de tempo, espaço e “Sopa Quântica”. A segunda metade, que cria o universo físico é chamada de “Consciência Universal”.

Os cientistas ancestrais indianos chamaram ao desejo criativo da Consciência Pura “Māyā”, e de acordo com eles, a Consciência Universal é “Ishvara”, o Criador do oceano das quanta de energias, espaço e tempo. O recém-formado universo físico (criado por Ishvara, ou Consciência Universal) torna-se o parceiro da Consciência Pura para A afastar da solidão. Contudo, de acordo com alguns cientistas da Índia antiga, o universo físico da matéria, energias, espaço e tempo é um mero sonho da nunca activa e sempre presente Consciência. Para eles, este mundo material é irreal, como é a mera imaginação plena de desejo da Consciência em Si, sendo afinal, somente a Consciência a única entidade. De acordo com esta escola de pensamento, a Pura Consciência permanente não Se dividiu para criar Ishvara, porque a Pura Consciência é eternamente imutável. Os especialistas desta escola de pensamento acreditam que quer Ishvara (Criador do universo físico), quer o próprio universo físico, através do qual nós, seres humanos, percepcionamos usando os nossos órgãos dos sentidos, são tudo ilusões criadas pela Consciência Pura. (“ Nada há que seja real, nem algo que seja irreal. Tudo se torna possível em todo o lado neste sonho conhecido como criação” – Yoga Vāshista.)

Os antigos cientistas indianos exprimiam, pelas palavras “ Conhecimento Absoluto”, a ideia de que, se alguém pudesse chegar a conhecer a Consciência Pura, não haveria nada mais para conhecer. Isto porque a Consciência Pura só por Si é o Conhecedor, o processo de Conhecimento e o assunto de Conhecimento. Ao longo de variadas experiências metafísicas, os ancestrais cientistas indianos chegaram à convicção que o sistema nervoso humano, o cérebro humano bem treinado e bem purificado, e a consciência humana ligada ao corpo têm a capacidade de obter alguma percepção sobre a existência da Consciência Pura.

Felicidade Absoluta
Vamos, agora, passar à “Felicidade Absoluta”. Tal significa que, se alguém conseguir entender no âmago de seu coração, que a Consciência Pura é a única realidade eternamente imutável deste universo sempre em mudança, que a Consciência Pura é a única verdade subtil deste denso universo físico, que é a única semente a partir da qual todos os objectos deste universo foram germinados, aí a sua mente encher-se-á de alegria celeste ou Felicidade Absoluta. A mente humana tem a capacidade de alcançar esta realização através do seu poder intuitivo, e este não é mais que os olhos internos da consciência ligada ao corpo. Os nossos olhos densos ajudam-nos a conhecer apenas as coisas concretas e tangíveis, mas com a ajuda dos olhos interiores da nossa consciência conectada ao corpo, conseguimos conhecer a mais subtil de todas as entidades, i.e., a Consciência Pura.

O medo da morte de nossos corpos físico é o pior medo da mente humana, porque a mente é desconhecedora da natureza eterna do nosso ser. A maioria de nós pensa que o corpo físico é a única existência, a única verdade, a única realidade. Para a maioria, “Eu sou” significa um objecto físico que nasce, come, defeca, urina, cresce, reproduz-se e morre. Consideramo-nos meras máquinas feitas de carne e osso, e sabemos que, tal como todas as máquinas humanas, esta máquina (chamada de corpo humano) também é vulnerável à decadência e à morte. A eminência da morte física é, por consequência, a maior ameaça à nossa existência, uma vez que estamos sempre a ponderar consciente ou subconscientemente que não há nada permanente, para lá deste corpo físico em decadência. Não conseguimos convencer a mente que a nossa consciência conectada ao corpo (“Alma”, “Existência” ou “Ser”) é a nossa única identidade, e a Consciência a única realidade. Não conseguimos entender que a nossa existência é eterna e que a nossa existência não fica limitada a um período de tempo entre nascer e morrer; já existimos antes de nascer no nosso corpo físico e continuaremos a existir depois da destruição deste grosseiro e tangível corpo. Muito poucas pessoas que conseguiram entender este facto, conseguiram conquistar o medo da morte. As suas mentes ter-se-ão preenchido de quietude esotérica e eterna felicidade celestial.

A História da humanidade está cheio de biografias de numerosas personalidades muito valentes, que lutaram contra diversas adversidades, seja de cariz pessoal, seja de cariz social, sem medo da morte. Não hesitaram em sacrificar os seus corpos físicos por causas nobres. Neste contexto lembremos o que Swami Vivekananda disse: Sejam fortes! O símbolo da vida é força e crescimento. O símbolo da morte é fraqueza. Evitem qualquer fraqueza! É morte…. Se querem ter vida, têm de morrer a cada momento por ela. A vida e a morte são só diferentes expressões da mesma coisa, vistas sob perspectivas diferentes; são a elevação e a queda da mesma onda, e as duas formam um todo.

A teoria da criação universal do “Big bang” diz que antes desta ocorrência não havia matéria, energia, espaço ou tempo. Todas estas quatro entidades fundamentais do universo físico foram criadas a partir da “singularidade”, através de um desconhecido processo de explosão. Essa explosão é conhecida pelos físicos modernos pela alcunha de” Big bang “. A singularidade é o estado do universo pré-Big bang. Os especialistas desta popular especulação não fazem qualquer ideia da verdadeira natureza desta “singularidade”. Eles pensam que depois da explosão foi criada a matéria, as energias, o espaço e o tempo, e só mais tarde terá aparecido a consciência em alguns corpos físicos (por seu lado feitos de matéria, energias, espaço e tempo) chamados de criaturas vivas. Os cientistas ocidentais acreditam que a consciência não existia antes do Big bang. É sua firme convicção que a consciência é secundária nos organismos vivos devido a interacções entre matéria e energias; e estas matérias e energias terão sido resultado do Big bang. Erradamente, alguns cientistas pensam que a consciência é o resultado de funções do sistema nervoso de animais superiores. Mas na verdade, muitos seres vivos sem sistema nervoso (como os organismos unicelulares, e até mesmo vírus) conduzem as suas vidas de forma consciente e inteligente. Estudos feitos nos ciclos de vida provam, sem margem de dúvida, que todos eles cumprem a sua actividade biológica com deliberação consciente, e que não são meros escravos de qualquer força cega da Natureza.

Cosmologia
As visões dos antigos cientista indianos diferem das ideias dos modernos parceiros ocidentais. Os sábios da Índia pensavam que o universo tinha sido criado a partir de ume entidade singular, i.e., Pura Consciência. De acordo com a visão indiana, a Consciência Pura é, não só o Criador do universo físico, mas também o único ingrediente usado na criação deste mundo fenoménico. O universo físico criado é a forma manifestada do Criador, i.e., Pura Consciência. Assim, o “Criador” e a “Criação” são inseparáveis. O facto mais encorajador, é que só este conceito racional dos antigos cientistas indianos pode convincentemente responder a todas as questões sobre o universo físico e sobre o fenómeno chamado “Vida”.

Agora, a questão que se põe é, como é que a imutável Consciência Pura, que nunca está confinada pelo espaço, nem pelo tempo, se torna material para a criação do universo físico em permanente mudança, sempre confinado ao cone espácio-temporal? Os sábios da ancestral Índia lidaram de forma séria com esta questão e foram suficientemente verdadeiros para dizer: ”Não sabemos!”Não tentaram fabricar qualquer teoria ambígua para explicar este puzzle. Simplesmente expressaram a sua convicção baseada na experiência. O que é isso? Ofereceram um rasgado sorriso e disseram: ”Uma boneca feita de sal do mar não se atreveria a ir ao oceano para saber tudo sobre ele; se o tentasse fazer, a sua identidade separada perder-se-ia. Da mesma forma, a consciência conectada com o corpo e a inteligência humana são partes da Consciência Pura. Uma ínfima parte da totalidade não pode saber tudo do todo. Se a consciência ligada ao corpo de uma pessoa tentasse fazê-lo, a sua existência separada perder-se-ia e ele dissolver-se-ia no oceano da Pura Consciência. Porém, a consciência ligada ao corpo pode ter um vislumbre da Consciência Pura, e tem a possibilidade de entender que a Consciência Pura é a única entidade que tem existência real. Mas a resposta para a questão – porquê e quando a Consciência Pura criou o universo físico – permanece obscura para a mente humana.

Suponham que a Consciência Universal é um oceano de água. Nela flutuam bolas de gelo de variadas formas e tamanhos. Estas bolas são numerosos universos físicos com todos os seus planetas, estrelas e galáxias. A água, usando-se a si própria como único ingrediente, cria as bolas de gelo num oceano de água. Da mesma forma, a Consciência Universal cria estes universos físicos de matéria, energias, espaço e tempo, usando-se a Si Própria como único ingrediente. Os objectos físicos são tal e qual como jarras esculpidas a partir de blocos de gelo, imaginando que agora são eles que flutuam na água, contendo alguma água dentro deles. O corpo de uma jarra é feito de água condensada (gelo) e a água tanto existe dentro como fora dela. O corpo de um objecto é feito de matéria, energias, espaço e tempo do universo e dentro dele vive uma parte da Consciência Universal (apenas uma pequena porção de água está dentro da jarra de gelo). A parte da Consciência Universal que fica ligada ao corpo de um objecto chama-se “consciência ligada ao corpo” desse objecto. E esta consciência ligada ao corpo de uma matéria está em continuidade com a consciência ligada ao corpo de toda a matéria do universo, porque toda a matéria flutua na sopa feita de Consciência Universal, “Sopa Quântica”. E esta “Sopa Quântica” é criada pela Consciência Universal.A consci~encia ligada ao corpo de um objecto inanimado expressa-se menos do que a de uma criatura viva. E porauê? É porque no caso dos objectos animados, as imagens reais de Consciência Pura são projectadas nas suas consciências ligadas ao corpo.

Embora a consciência ligada ao corpo de todos os objectos animados e inanimados do universo estejam em continuidade entre si e com o oceano da Consciência Universal onde flutuam, só a consciência ligada ao corpo dos objectos animados são iluminados com a imagem directamente projectada da Pura Consciência. Imaginem uma chávena feita de gelo com pouca água lá dentro, flutuando no oceano de água. Imaginem que a verdadeira imagem da lua se projecta na água dentro do recipiente. Esta situação é como a do objecto animado. A chávena com água sem a imagem projectada da lua nela é como um objecto inanimado. Vejam a imagem da lua como a da Pura Consciência. É por esta razão que a consciência ligada ao corpo humano é mais desenvolvida que a da pedra.

Ao discutirem a criação do universo material, os antigos cientistas indianos usavam o termo “káran samudra”. Em sãoscrito “káran” significa “causa,” e “samudra” designa “oceano”, assim “káran samudra” quer dizer o oceano de uma entidade subtil, que é a causa de todas as coisas densas tangíveis do universo. De acordo com eles, os universos físicos consistindo de objectos com nomes e formas, são meras bolhas no oceano inominável e informe do “káran samudra” eternamente existente, e estas bolhas estão continuamente sendo criadas, existindo por um certo tempo estipulado, e depois sendo dissolvidas no oceano sem forma ou “káran samudra”. Então, o que é a “sopa Quântica” para os físicos modernos, é “káran samudra” para os cientistas antigos indianos.

Então, a consciência ligada ao vosso corpo, a consciência ligada ao meu corpo, a de um átomo, a de uma partícula de pó, a de uma pedra, de uma cabra, de uma árvore, de um planeta, de uma estrela, de uma galáxia, são a mesma e nada mais que a Própria Consciência Universal. O único fenómeno chamado “Vida” não é mais do que diferentes manifestações do trabalho feito pela imagem projectada da Consciência Pura em alguns objectos físicos densos, conhecidos por nós como organismos vivos. Vocês e eu somos conhecidos por diferentes nomes, por formas físicas diferentes, por parâmetros externos diferentes, mas a nível do Ser somos um e somos inseparáveis. Este conceito da não-dualidade (ensinamentos do Advaita Vedanta) é o maior contributo da cultura Védica da Índia antiga para a civilização humana. Este conhecimento singular é uma herança gloriosa não apenas para os indianos actuais, mas também para todos os que pertencem à raça humana. (Vide: Proof of Vedic Culture’s Global Existence por Stephen Knapp).

O Advaita Vedanta é o ponto mais elevado da sabedoria indiana. Este conceito analítico e racional não apresenta pontos de vista nem sectários nem dogmáticos; todas as pessoas de todas raças e credos têm todo o direito de estudá-lo com uma atitude crítica, em vez de aceitarem todas as ideias sem reservas. Têm toda a liberdade de subscrever os ensinamentos do Advaita Vedanta, ou de os descartar de imediato. A verdade é que o Advaita Vedanta tem sido estudado e as suas inferências têm sido verificadas por muitas personalidades distintas de todos os grupos humanos.
Albert Einstein, a consciência humana conectada ao corpo mais expressiva da história humana actual, uma vez afirmou: “Só existe uma maneira de saber tudo sobre a verdadeira natureza e sobre a “Vida”, e de compreender o determinismo da causa-efeito nos variados fenómenos do mundo físico. E tal meio é saber o que existe na mente de Deus, a Consciência Universal”. Ele também disse que todos os princípios e leis da realidade física, até à data desconhecidos da mente humana, são detalhes insignificantes de um grande plano esboçado pela Consciência Universal. Einstein observou que a mente humana ligada ao corpo terá ainda de ter acesso a esse plano básico inclusivo do todo. Todos os nossos estudos científicos analíticos sobre o universo físico, as variadas teses e antíteses metafísicas e filosóficas são insignificantes contributos para obter uma visão muito leve deste grande plano.

Desde a Idade Média na Europa que os cientistas ocidentais tentam, com afinco, resolver teorias simples (equações matemáticas) que poderão explicar racionalmente diversos incidentes do mundo fenoménico. As leis Mecânicas de Newton podem explicar tanto a queda de uma maça de uma árvore, quanto os movimentos dos planetas à volta do sol. A Teoria da Relatividade pode explicar quase todos os fenómenos do macrocosmo, mas é incapaz de explicar a maioria do comportamento das partículas do mundo subatómico. As leis das Mecânicas Quânticas conseguem explicar muito bem a natureza e o comportamento das partículas subatómicas, mas não conseguem explicar vários fenómenos do macrocosmo. Os cientistas modernos de várias nações tentam afincadamente resolver uma única equação matemática que governa e explica tudo do mundo físico. Ultimamente, renomados físicos concluíram que o sonho de chegar a uma abrangente “Teoria do Tudo” que pudesse relacionar todo o conhecimento alcançado até então sobre “força forte”, “força fraca”, energia electromagnética”, força gravitacional”, Teoria Geral da Relatividade”, Mecânica Quântica” e “Teoria das cordas”, não seria alcançado num futuro próximo. Espera-se que a“ Teoria de Tudo”venha a explicar racionalmente todos os fenómenos do universo – quer os do microcosmo, quer os do macrocosmo. Esta sonhada equação matemática é esperada para revelar todos os mistérios do universo e desse fenómeno singular chamado “Vida”. Mas tão grande teoria ainda está por descobrir. De acordo com físicos de renome, a “Teoria de Tudo” mantém-se oculta na mente de Deus.

Devemos dar atenção à opinião de Sri Ramakrishna, neste contexto. De acordo com ele, por muito que tentem espreitar os tesouros do rei guardados no seu peito de ferro, fracassarão. Mas, de um jeito ou de outro, se puderem chegar perto do rei, se conseguirem estabelecer com ele relações afáveis, ele próprio vos mostrará os seus tesouros secretos bem trancados no peito de ferro.
Da mesma forma, para resolver o mistério do universo, se confinarem a vossa atenção apenas no mundo material manifesto, nunca chegarão a alcançar esse fim tão almejado. Por isso, para obter explicações racionais do mistério do universo e compreender verdadeiramente o que é a “Vida”, necessitamos de nos aproximar da Consciência Pura que é o Conhecimento Absoluto. Só Ela poderá explicar tudo sobre o mundo. Grandiosos videntes da Consciência Pura sabem tudo sobre a “Vida” e tudo sobre o mundo material, mas esse conhecimento é difícil de comunicar ao vulgo das pessoas que vivem intoxicadas com os prazeres e as dores do mundo material. Não serão as discussões argumentativas, nem as equações matemáticas que poderão explicar esse conhecimento.

*Dr. Arun Kumar Laha é um Físico e autor de numerosos livros.
Artigo publicado pelo Boletim de Ramakrishna Mission Institute of Culture - Calcutá.
Tradução de Helena Gallis
   


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Impresso em 29/3/2024 às 13:24

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