Fundação Maitreya
 
O menos mestre dos Mestres

de Maria João Firme

em 12 Out 2014

  Embora o nosso percurso de vida seja único e irrepetível, não se compadecendo com imitações baratas, por vezes, na nossa vida, necessitamos de uma orientação, de um apoio ou de uma inspiração. Nessas alturas, não somos capazes de ver a luz ao fundo do túnel, nem de nos distanciar das situações. Precisamos de alguém que nos dê a mão para treparmos um pouco ao céu e, pairando, nos observarmos a nós mesmos.É necessário procurar uma fonte de onde brote água cristalina, uma luz que ilumine o caminho ou um discurso em que se entrelacem os medos e anseios que nos atormentam. Procuramos amigos, psicólogos, terapeutas ou grupos que apregoam as suas verdades e que, “graças a deus”, nos podem tranquilizar. Temporariamente.


Temporariamente, até tropeçarmos no degrau seguinte, pois aí damos conta de como a água se turvou aos poucos, a luz enfraqueceu até desmaiar e o discurso se tornou repetitivo, circular e cansativo para nós. E o melhor que podemos fazer, antes do próximo passo, é agradecer a aprendizagem que fizémos, a nós que nos empenhámos nela, e aos que nos amorteceram as quedas.

O que, dito desta forma parece simples, quase nunca o é. Muitas das nossas experiências estão envoltas em sofrimento porque a nossa mente, cascata de múltiplas dúvidas, nascente do medo primordial, aqui está para nos atrapalhar, levantar obstáculos e nos fazer perder. E, se nos perdemos, é para que nos possamos... encontrar!

Mas esta mesma mente, quando devidamente “iluminada” e focada no seu caminho, é capaz de correr como um rio tranquilo, envolvendo mais e mais terra, navegar em direção à foz, até abraçar um coração de mar. E é aqui que, quando o discípulo está pronto, o mestre aparece e ajuda-o a alcançar a pacífica foz. Depois de algum merecido descanso, novamente surpresa... há um novo mundo por descobrir, porque a vida do estudante que busca o conhecimento está em constante mudança. Está perante uma nova etapa, onde correntes e forças aquáticas se movimentam por entre areias e algas marinhas, conquistando um novo espaço.

Enquanto discípulos, o nosso mestre, intangível ou de carne e osso, prepara-nos então os desafios desta nova etapa, para novamente sermos postos à prova. Muitos e bons mestres houve, de um só ou de múltiplos discípulos. Alguns tocaram multidões, tendo sido feitas várias interpretações das suas vidas, que deram origem a seitas, cismas e dissidências. Outros há que, na sua mestria, dizem que não há mestres pois estamos cá para ser os nossos próprios mestres. Por isso, dizem, não devemos acreditar em nada do que é pensado e dito por outros, ou sequer por nós mesmos. E só depois de afastarmos todas as crenças, podemos observar. E ao observar o que se passa em nós, iniciamos uma caminhada em que seremos mestres de nós próprios.

Esta ideia foi-me plantada, diretamente no coração, por alguém que não quer ser mestre, pois sabe que aqueles que querem ser mestres enfrentam um grande embuste. É necessária humildade para compreender que cada um de nós só pode arcar com a sua própria carga, e não pode carregar a dos outros, sob pena de ter que largar a que deve transportar. Mas há quem plante ideias, como sementes. Chamei-lhe – o menos mestre dos mestres.
   


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