Fundação Maitreya
 
A Espiritualidade na Gestão

de Swami Nikhileswarananda

em 02 Fev 2015

  Alguns monges meus irmãos inquiriram-me sobre o tópico de que iria falar. Eu disse: ‘Espiritualidade em Gestão’. Soou-lhes como um oximoro. Espiritualidade e Gestão’ É como gelo quente! Onde fica a espiritualidade e onde fica a gestão?! A espiritualidade lida com o espírito e a gestão com a matéria! Estão tão separados como o Polo Norte do Polo Sul. Esta é uma reacção normal, porque, se considera um sagrado e o outro secular. Isto acontece devido à nossa incorrecta noção destas duas palavras. Popularmente, a espiritualidade significa meditar algures numa floresta ou numa caverna, ou desempenhar ārātrikam nos templos, ou ainda adorar numa mesquita ou numa igreja – em resumo, participar em algum ritual. Mas a espiritualidade não é mais do que o desenvolvimento do nosso ser interior para alcançar a felicidade, a paz e a realização. Isto nada tem que ver com rituais.

Esta espiritualidade pode ser praticada a cada dia. Isto é o que o Swāmi Vivekānanda veio proclamar nesta época. Isto é o que a Irmã Nivedita na sua Introdução aos Trabalhos Completos de Swāmi Vivekānanda diz: ‘ Se os muitos e o Um são, na verdade, a mesma Realidade, então não serão só todos os modos de adoração, mas também todos os tipos de trabalho, todos os modos de luta, todos os tipos de criação, que são caminhos de realização. Por consequência, não existe qualquer distinção entre o sagrado e o secular. Trabalhar é orar. Conquistar é renunciar. A vida em si é religião… “. Esta é a realização que torna Vivekānanda o grande pregador do karma, não separado, mas como expressão de Jñana (2) e Bhakti. (3) Para ele, a oficina, o escritório, o pátio da quinta e o campo são cenários tão verdadeiros e certos para o encontro de Deus com o homem, como a cela do monge ou a porta do templo.’

Pelo mesmo ponto de vista, tanto a fábrica, como o comércio, é um lugar tão ajustado para a adoração de Deus como um templo, ou uma igreja, ou uma mesquita.
Em segundo lugar, também não temos uma compreensão correcta da palavra ’gestão’. A gestão não á mais do que senso comum organizado. Não é só gestão de negócios. Porém, mal pronunciamos a palavra ‘gestão’, equacionamos logo como a gestão de negócios. Peter Drucker, uma dos mais aclamados especialistas em gestão dos Estados Unidos, no seu último livro refere que nem sabemos como este erro tem vindo a acontecer desde 1930. Antes de 1930, gestão não significava apenas gestão de negócios. Cobria todos os tópicos, campos, assuntos. Mas, de algum modo, erramos aqui e agora temos de rectificá-lo, porque a gestão cobre todos os aspectos de nossas vidas e sociedades. Tal como a pediatria não é a medicina, a gestão de negócios não é a gestão – é apenas uma parte da gestão. Assim, podem existir gestão empresarial, NGOs, hospitais, agências governamentais, bancos e várias outras organizações.

De novo, a gestão não está restrita apenas a estas instituições. Pode ser a gestão pessoal, de si e de sua mente, do tempo, e também de cada dia. Afinal, é um senso comum organizado. A ciência e a arte de realizar algo produtivamente, com o máximo de utilização de recursos, é gestão. Deve ser aplicado a cada passo de vida, tal como Swāmi Vivekānanda dizia que o Vedānta devia ser aplicado a todas as situações e domínios da vida. Assim, se entendermos o verdadeiro significado das duas palavras – gestão e espiritualidade - não parecerão oximoros, quando falarmos de espiritualidade na gestão. No campo da gestão, a quarta vaga está a chegar lentamente. A primeira, foi o estilo de gestão inglês, quando o método de estudo do trabalho e medição do trabalho estava em voga, i.e., o Taylorismo. A segunda vaga, foi o estilo de gestão americano, quando Peter Drucker se tornou o guru de tudo. A terceira vaga, foi o estilo de gestão japonês, quando o TQM (A gestão da qualidade total), Gestão de Defeitos-zero e outras coisas se popularizaram. Agora, de forma calma e segura, está a chegar a quarta vaga, não só na Índia, mas em todo o mundo. É a gestão baseada na espiritualidade com uma abordagem holística à vida. Este tipo de gestão é baseado no ethos (1) indiano, na cultura espiritual. Agora a espiritualidade está na moda. Por exemplo, a revista Business Week, i.e., o jornal de Nova Iorque, num dos assuntos recentes diz que muitas empresas estão agora a adoptar o estilo vedântico de gestão, baseado na espiritualidade. Chamaram-lhe capitalismo-karma

Li um relato noticioso publicado no Times of India. Dizia que a América corporativa está a aderir à filosofia indiana em grande, o mesmo que a Business Week no seu último artigo. Frases dos textos antigos tais como a Bhagavad-Gītā estão a aparecer nos círculos de gestão e nos websites. As escolas de topo de Gestão estão a introduzir classes de auto controle, que estão a usar os métodos indianos para ajudar os gestores a estimularem as suas competências de liderança e a encontrarem paz interior entre os horários de vida esgotantes. O jornal chama-lhe Capitalismo-Karma – um ethos sob uma forma mais delicada e mais enfática que vem à tona na bolha pós-tecnológica. O texto oriental que mais está na moda é o introspectivo Bhagavad-Gītā.

Do mesmo modo, The Times of India relata que há muitas empresas americanas a adoptar o estilo vedântico de gestão. É o mantra da New Age para alguns dos países que se conduzem com CEOs (líderes executivo). Nos Estados Unidos, Ford e, na Índia, Godrej, Crompton Greaves, MTNL e outras empresas usaram mais ou menos estes conceitos de gestão védica. Ainda não é um movimento de massa, mas os líderes que tentaram isto notaram uma melhoria nos resultados.
De forma inversa, a espiritualidade também está a alcançar a gestão. A 8 de Setembro de 2008, uma notícia no The Times of India dizia: ‘ A Gestão entra no domínio divino - os cursos na Gestão de Templos oferecem gestores em vez de sacerdotes.’ Os líderes espirituais, acrescenta a reportagem, estão a lançar jargão de gestão ‘cool’ nos seus discursos. Com templos a proliferarem como cogumelos em todo o país, e cofres a transbordar com donativos, será que vai haver necessidade de gerir templos? Com certeza.

1) "ethos/etos [Sociologia] Conjunto dos costumes e práticas característicos de um povo em determinada época ou região.
2. Conjunto de características ou valores de determinado grupo ou movimento.

Vejam a popularidade de um diploma de curso oferecido pela Universidade Somnath Sanscrit. O primeiro lote de estudantes só está à espera dos resultados. O único curso em Mandir Vyavasthāpan (Gestão de Templos) tem quatro dissertações sobre aspectos religiosos, bem como de gestão prática de templos. As disciplinas que estudam incluem Arquitectura de Templos, Rituais, Gestão de Eventos, Gestão de Multidões, Sânscrito, Inglês, Contas e Legislação. Muitos NRIs (indianos não residentes) já requereram a exportação destes recém-formados ‘sacerdotes-cum-gestores’ para os seus templos.

A revista Week relatou uma matéria, em 20 de Abril de 2008, com a capa de revista a mostrar um cabeçalho interessante “CEO e Espiritualidade”. A história citava alguns CEOs, revelando como estavam a tentar adoptar a espiritualidade em suas vidas pessoais, bem como nas suas empresas, de forma a melhorarem não só as suas vidas, mas também as do seu pessoal. São vários os que já assumiram ter actualmente práticas regulares espirituais: Subhas Chandra Goyal-O Presidente da TV Zee, Anu Agha -o ex-Presidente de Thermax, Adi Godrej- das indústrias Godrej, Indu Jain- Presidente de Benntt and Coleman L.td, R.P.Nandy - o Director-Criativo de Pritish Nandy Communications, V.L.Doot - o Presidente da Videocon, etc.

Conheço, pessoalmente, em Belgaum, um dos nossos devotos que começou um “Āshram Empresarial”. Tem um ambiente de Āshram com um belíssimo auditório, uma sala de meditação e mais ainda. Todos os membros do pessoal quando chegam, primeiro vão ali meditar, cantam mantras e depois é que começam a trabalhar. Trabalham, oram e comem juntos neste “Business Āshram”. A empresa começou com um facturamento muito pequeno e agora o seu director não sabe como gastar o dinheiro.
Liberating the Corporate Soul (Libertando a alma corporativa) é um livro de Richard Barnet, que se tornou, a tempo inteiro, conselheiro espiritual de gestão espiritualizada. Os seus clientes são o Banco Mundial e o Governo Suíço. O livro de Deepak Chopra, Sete Leis de Sucesso Empresarial, o livro de Kenneth Blanchard O Poder da Gestão Ética, O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, todos eles demonstraram nos seus livros que já não é preciso enganar, para ganhar. Previamente pensou-se que, quanto mais se pudesse enganar os outros, mais se ganharia. Mas existe uma mudança de paradigma. Num dos livros, o autor afirma que o trabalho exclusivamente para proveito, é como jogar ténis com os olhos postos no painel dos pontos, em vez de postos na bola.

Há outro livro- Deus é o meu CEO- por Larry Julian, que é muito popular. O que é que Buddha faz no trabalho é um livro de Franz Metcalf e B.J.Gallagher. Gallagher também escreveu outro livro sobre a relação entre espiritualidade e gestão, e hoje há imensos livros sobre este tópico.
Existe, na América, uma instituição baseada na gestão que treina os CEO em todo o mundo. Organizou um seminário há pouco onde os CEO tinham de ver o filme Gandhi de Richard Attenbourgh. Encontraram quarenta qualidades que fazem um líder e que tornaram Gandhi em Mahatma (Grande Alma).

O World Economic Forum em Davos dedicou imenso tempo a explorar o tema –‘A Espiritualidade nos Negócios’. Como é evidente, agora existem muitas empresas a adoptar os conceitos de espiritualidade na gestão e estão a tirar benefícios daí. Mas põe-se a questão: porquê esta mudança de paradigma? Obviamente há muitas razões. Uma é a globalização - ela chegou, quer se goste, ou não. Pelo menos chegou na frente económica e, agora, o globo transformou-se numa aldeia. Os avanços na tecnologia da comunicação anularam as distâncias geográficas entre as nações. Por consequência, pode-se dizer que a velocidade de mudança nas tecnologias da comunicação foi a primeira razão para esta mudança de paradigma.

A segunda razão é a liberalização. Isto mudou a abordagem das nações para com a economia e para com outros factores relacionados. Consequentemente, deu-se a interdependência entre nações e com ela, a competição. A produtividade é, agora, uma necessidade, coisa que, antes, era apenas uma opção. Actualmente, se não houver produtividade, será retirado do mercado. Poderá entender-se tal pela fusão a que se chegou. A Bhagavad-Gītā afirma ‘yoga karmasu kaushalam’- ‘Yoga é destreza na acção, eficiência em acção’. Esta é uma lição essencial assumida pela maioria das empresas.

De novo, o conceito de ’liderança do empregado’ está-se a popularizar. Robert Greenleaf lançou este conceito em 1970. Para a América, este é um conceito novo, e é muito popular actualmente, mas na Índia não é um conceito novo, porque há 3000 anos Sri Krishna demonstrou a sua liderança de servo. O que significa liderança do empregado/servo? Liderar pelo exemplo – actuar com a atitude de que «eu sou o servo de todos». Swāmi Vivekānanda também o disse há muito tempo que, se se quer, de verdade, ser um verdadeiro líder, deve-se estar preparado para servir os outros. É o serviço desinteressado que fará um verdadeiro impacto nas pessoas com quem se trabalha. Swāmi Vivekānanda era ele próprio o verdadeiro exemplo desta atitude. Costumava citar o Guru Govind Singh e dizia: «Shirdaar to Shirdaar»,que significa – aquele que sacrificar a sua cabeça, o seu ego, o seu egoísmo, e ser humilde, só ele poderá liderar pelo exemplo, e tornar-se um verdadeiro chefe a longo prazo. Antes pensava-se que um bom chefe era aquele que conseguia impressionar os outros, pela sua exteriorização, ou por exercer poder proveniente da sua posição. Esses dias já lá vão. E porque é que a liderança do servo é importante? Peter Drucker explica no seu livro – estamos na idade dos trabalhadores com conhecimento. Não se podem controlar do mesmo modo que se costumava fazer com os trabalhadores de quarto nível. Antes, os trabalhadores de colarinho azul eram noventa por cento e o resto eram os de colarinho branco. Agora, com o advento da automatização em alguns países, o contrário é que é verdadeiro. Só dez por cento dos trabalhos são feitos pelos trabalhadores de colarinho azul. Assim Peter Drucker afirma: de agora em diante, os gestores e os executivos serão cada vez mais eficientes se não exercerem autoridade sobre os seus subordinados.

Isto é o que está a acontecer, de verdade. É por isso que se torna necessário chefiar através do exemplo do empregado e porque a liderança do empregado se está a popularizar tanto. Azim Premji foi entrevistado pelo India Today, que pretendeu explorar o segredo do seu sucesso e Premji disse: «Sinto que a gestão de tutela de Mahātma Gandhi foi muito relevante».
As sementes destes conceitos já estavam incrustadas nas nossas escrituras. Por exemplo, as Ishopanishad dizem –Ishā vāsyamidam sarvam yatkinca jagatyām jagat: Tena tyaktena bhunjithāh mā gridhah kasya svid dhanam -isto é, Todo o mundo está permeado por uma Consciência Universal. Tena tyaktena bhunjithāh – aprecia o mundo pela renúncia. E como é possível apreciar o mundo pela renúncia? A resposta está em cada um não ter de renunciar aos carros, casas, motas e telemóveis. Só há que renunciar ao seu egoísmo. Mā gridhah kasya svid dhanam – não cobices a riqueza alheia. Podes ganhar dinheiro por meios éticos e usá-lo para fins maiores.
Swāmi Vivekānanda exprimiu, pela primeira vez, esta gestão fiduciária a John D. Rockefeller, quando foi para a América participar no Parlamento das Religiões, que se deu em 1893. Rockefeller era o imperador da indústria do petróleo. Estava a passar por uma agonizante fase de frustração e tinha em mente a hipótese do suicídio. Nessa altura, um dos seus amigos sugeriu-lhe que, se quisesse recuperar a paz de espírito, deveria conhecer um yogi indiano que estava instalado em casa de um amigo seu. Rockefeller talvez tenha pensado: Agora tenho de ir pedir conselhos a um mendigo! Não!

Mas afinal numa bela manhã sempre foi ao tal lugar onde Swamiji estava instalado. Entrou na casa sem ser anunciado, para o escritório onde Swamiji se encontrava a ler um livro. Ele estava tão embrenhado que nem se deu conta de Rockefeller. Swamiji olhou para cima quando o outro bateu na mesa e disse: ”Sou Rockefeler.” Ao que Swamiji lhe respondeu:” O que deseja?” Claro que Rockefeller não estava habituado a este tipo de tratamento – era um magnata perante cuja presença, o próprio Presidente dos E.U.A. se levantaria, e claro que ficou muito aborrecido com isto. E então Rockefeller disse: “ Eu não quero nada”. “Porque veio, então?”. Rockefeller não teve resposta, porque tinha ido sem ser convidado. Então Swamiji disse:” Caro Rockefeller, eu sei porque veio. Veio por não ter paz de espírito.” E a partir daí começou a narrar muitos acontecimentos recentes de que só Rockefeller sabia, ao que, muito perturbado lhe perguntou: “Quem lhe disse isso?” E Swamiji respondeu: “Acha necessário que alguém me diga? Eu consigo ver através da sua mente, como se fosse um vidro.” Rockefeller ficou muito alarmado e Swami disse:” Vou-lhe dar um conselho - Se quer ter paz de espírito, lembre-se que não é dono da sua riqueza. Você não passa de um guardião dessa riqueza. Deus deu-lhe tanta riqueza, utilize-a para eliminar o sofrimento de tantos milhões de pessoas. Ao fazê-lo, achará a paz. Não existe outra forma de o fazer.”

Rockefeller não estava preparado para este tipo de conselho, e por consequência, saiu da sala tão abruptamente como entrou. Contudo, passados alguns dias, regressou e entrou da mesma maneira no escritório, onde Swamiji estava a ler algo com profunda atenção. Rockefeller bateu na mesa e Swamiji olhou para ele. Rockefeller pôs, então, um pedaço de papel na mesa no qual anunciava a doação de uma soma enorme para uma causa pública. Um Rockefeller orgulhoso afirmou:” Agora, agradeça-me por ter seguido o seu conselho.”, ao que Swamiji respondeu: ”Bom, na verdade, você tem é de me agradecer a mim.”

Este foi o começo da Fundação Rockefeller. No afadigado término de sua vida, Rockefelller escreveu a sua autobiografia, onde dizia: ”Há mais na vida do que a acumulação do dinheiro. O dinheiro é somente uma custódia nas mãos de cada um; usá-lo de forma imprópria é um grande pecado. A melhor forma de nos prepararmos para o fim da vida, é vivermos para os outros. E isso é o que estou a tentar fazer…” Bill Gates inspirou-se em David Rockefeller. Foi a Calcutá e quando os jornalistas lhe perguntaram porque tinha lá ido, respondeu que estava muito impressionado com os ensinamentos de Swāmi Vivekānanda. “Leu os livros dele?” e Gates respondeu: Não me deito sem ler algumas páginas dos livros de Swāmi Vivekānanda.

Quando tomei conhecimento desta notícia, não podia acreditar porque o meu conceito sobre Bill Gates era de que ele só acreditava na política de competição implacável. Mais tarde li no jornal que ele tinha feito uma grande doação a uma causa pública. Nessa altura Gates era o homem mais rico à face da terra com uma fortuna de 52 biliões de dólares, e dessa quantia tinha doado 30 biliões para fazer a Fundação Blinda e Bill Gates; por três anos consecutivos ele foi o maior doador. Por isso, o conceito de gestão fiduciária ou gestão holística tem vindo a ser cada vez mais apreciado.
A gestão do stress

Outro conceito que se tem vindo a popularizar é o da «gestão do stress». Na América, muitas empresas estão a ter formação regular neste assunto. Uma corporação de pesquisa com base em Chicago diz que 40% das empresas vão tendo estes cursos com regularidade. Na verdade, os modelos ocidentais de gestão de stress não estão a resultar, e os psicólogos ocidentais dizem que os sentimentos por exprimir ou suprimidos no subconsciente levam a problemas de stress. Daí aconselharem os seus pacientes a darem largas aos seus sentimentos. Mas o problema é que ao abrirem-se, podem perder os empregos. Sendo assim qual é o remédio? Pregar alfinetes - existem no mercado: azuis para ofensas, pretos para ofensas sérias e vermelhos para assassínios! Se alguém está chateado com os flagelos injustos do patrão, aí poderá, de forma representativa, assassiná-lo com a ajuda dos alfinetes vermelhos! Claro que estes só oferecem uma ajuda temporária, pois na manhã seguinte encara o chefe novamente e volta a deparar-se com o mesmo problema. Daí a razão para, agora, se estarem a voltar para a gestão espiritual e holística.
A revista Time na edição de 4 de Agosto 2003 apresentou na capa uma actriz de Hollywood a meditar. A história da capa era –“Diga apenas OM”. Relatava que dez milhões de americanos meditavam regularmente – o que é impossível ignorar actualmente na América. Nas casas corporativas, indústrias, salas de reuniões, salas de aula, prisões, aeroportos, estações de comboios – em todo o lado existem salas de meditação. EM 2004 viajei para a Europa e no aeroporto de Zurich vi um sinal a indicar o caminho para a sala de meditação e, tenho de admitir, foi muito belo. Então, agora está-se a virar para a gestão espiritual para lidar com o stress.

A ciência moderna provou que, para obter sucesso, o QI, ou Quociente de Inteligência, não é suficiente. Em 1991 Daniel Goleman fez uma pesquisa e afirmou que o Quociente Emocional, Q.E., era mais importante que o Q.I. Dizem que a empatia, simpatia, compreensão dos outros e a educação do lado direito do cérebro, são todos eles importantes se quiser realmente ser uma pessoa de sucesso a longo curso. A última descoberta da ciência moderna é o Q.S., Quociente Espiritual. Danah Zohar, uma Professora da Universidade de Oxford, escreveu um livro sobre inteligência espiritual. Ela afirma que neurológica, fisiológica, biológica e psicologicamente, sob qualquer ponto de vista, existem evidências conclusivas de que existe algo chamado de Q.S., que é a base quer do Q.I, quer do Q.E.

O que é o Q.I.? Este quociente dir-lhe-á como jogar o jogo da vida. O que é o Q.E.? Este dir-lhe-á como jogar o jogo da vida em circunstâncias que mudam, com varias estratégias. E o que é o Q.S.? A Inteligência Espiritual vai-lhe dizer se deve , ou não, jogar o jogo da vida. Qual é o significado da vida? Qual o seu objectivo? Qual é a finalidade básica da vida? Esta inteligência dar-lhe-á respostas a todas estas questões.

Outra descoberta é que o Q.I. se encontra em todas as espécies, incluindo os chips do computador! O Q.E. só se encontra em algumas espécies. Mas a Inteligência Espiritual existe apenas na espécie humana.

A questão que se coloca é, como desenvolver o Q. S. Há um crescente número de livros que têm vindo a ser escritos ensinando a despertar a Inteligência Espiritual. Mas a definição de melhor compreensão, penso ser a que foi dada por Swāmi Vivekānanda no seu livro rājayoga. Nele diz: “ Cada alma é potencialmente divina, o objectivo é manifestar esta Divindade interior, ao controlar a natureza, tanto a interna, como a externa. Fazei isto através do trabalho, da adoração, pelo controlo psíquico, pela filosofia – através de um deles, ou de vários, ou de todos – e libertai-vos. Este é o Todo da religião. Doutrinas, dogmas, rituais, livros, templos, ou formas, não passam de detalhes secundários”. Qualquer um dos quatro Yogas –Rāja-Yoga, Bhakti-Yoga, Jñana-Yoga e Karma-Yoga – podem, independentemente, levar-vos à realização última de Deus, ou ajudar na manifestação do Divino, conduzir-vos à felicidade infinita, à paz infinita. Mas a questão é – “qual o caminho a escolher?” Tal depende da vossa aptidão mental, ou nível mental de desenvolvimento”. Também a Swamiji lhe foi colocada a questão – O que faz? Ele respondeu que combina todos os quatro. Porquê? E Swamiji dá a solução:” Porque todos os Yogas têm certos limites, embora estes limites sejam ultrapassados quando se combinam os quatro e se colhem as suas vantagens.
No domínio da gestão desejamos a utilização máxima dos recursos existentes.

Da mesma forma, obtivemos os recursos. Temos mãos – porque é que não deveríamos trabalhar com as mãos para o Senhor? E ao fazê-lo, é Karma-Yoga. Também possuímos a mente. Porquê não meditar com a ajuda da mente? Ao fazê-lo, é Rāja-Yoga, i.e., meditação. Temos, então, um coração que sente, para sentir os outros, para dar e receber amor. Amemos, assim, o Senhor, amemos o Infinito, amemos o Último - este é o Bhakti-Yoga. Também temos o intelecto, através do qual conseguimos perceber o que é a realidade. Quando se pensa na Realidade Última, isso é Jñana-Yoga. Por isso Swāmi Vivekānanda nos pede para combinarmos os quatro yogas para alcançar a máxima utilização de todas as faculdades. Praticai simultaneamente os quatro yogas, sabendo que, claramente, a combinação dos quatro yogas integrais conduziriam até à Realidade Última. Isto, actualmente, é divulgado por muitos dos especialistas.

A mensagem de Swāmi Vivekānanda para a nova época é que não deverá haver qualquer diferença entre o ‘sagrado’ e o ‘secular’. O local de trabalho, a fábrica, casas de comércio, mercados, serão todos eles locais de adoração. O trabalho será, assim, convertido em adoração – não será necessário ir ao templo, igreja ou mesquita. Não precisa de ir até ao Himalaias ou à floresta. – onde quer que esteja, qualquer que seja o trabalho que lhe foi atribuído pelo Senhor, ao realizar esse trabalho como espírito da devoção, pode-se alcançar a Realidade Última e alcançar a derradeira felicidade, a derradeira paz, a alegria infinita e a felicidade infinita, aqui e agora.

# Swami Nikhileswarananda é Secretário do Ramakrishna Math e de Ramakrishna Mission Vivekananda Memorial, em Vadodara, no Gujarat. Este artigo foi baseado na prelecção dada por ele no Instituto a 12 de Dezembro 2008.

Tradução de Helena Gallis

   


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Impresso em 18/4/2024 às 9:54

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