Fundação Maitreya
 
Polémica entre a carne de vaca e o ambiente

de Lubélia Travassos

em 26 Set 2019

  Tenho vindo a acompanhar esta semana o alarido manifestado à volta da carne de vaca e as questões ambientais. Tem criado grande agitação e alarmismo em todo o País e Regiões Autónomas, com diversos artigos de opinião, que demonstram, por vezes, ignorância e hipocrisia na matéria, como sendo uma ameaça para as pessoas, amantes desenfreadas das delícias da carne, que têm medo de prescindir do prazer do seu consumo. Esta contenda surgiu porque o Reitor da Universidade de Coimbra referiu, perante centenas de alunos, o estado grave das alterações climáticas, nos nossos tempos, e já antes alertadas pelas Nações Unidas, decidindo, por isso, eliminar a carne de vaca das ementas das cantinas a partir de Janeiro de 2020, como medida preventiva para o futuro. Esta medida foi bem acatada pela juventude, e se a sua decisão é sincera, não tem nada a ver com problemas económicos e financeiros, nem políticos, só querendo servir de exemplo à sugestão da ONU. Além disso, o Reitor referiu que a carne era apenas uma parte das medidas a tomar, pelo que há outras decisões, tal como a substituição dos plásticos, e uma maior eficiência energética e alternativa para a diminuição da poluição.

Há quem opine, que aquela Instituição centenária esteja a imitar outras Faculdades estrangeiras, que proibiram o uso da carne nas suas instalações, por activismo demagógico, em que a ciência está a dar lugar ao marketing. Embora aleguem que o Reitor seja formado na área farmacêutica, e não tenha conhecimentos das questões ambientais, não implica que ele tenha mudado de opinião, e esteja agora mais atento às questões climatéricas, pretendendo aliar o estudo da ciência da saúde com a educação ambiental. Isso poderá contribuir para uma grande evolução científica e educacional na formação de futuros profissionais que, se aproveitada, será positiva para o futuro do nosso País e para o bem do nosso Planeta.

Diversas têm sido as críticas e contestações, que caíram como uma bomba, e até o PR também se pronunciou, com uma desculpa descabida de que não deixará de comer carne, no sentido talvez de agradar à maioria do povo e ganhar mais popularidade. O Reitor da UC não tomou esta decisão para o País, mas sim para as cantinas da Universidade, que são da sua responsabilidade. Por isso, todos os demais podem comer carne à vontade, conforme lhes dita a sua consciência humanista e planetária. Contudo, estou certa que estas medidas poderão ter repercussões num futuro próximo, pelo despertar da consciência dos portugueses, e melhorarem o seu modo de vida. Aliás, já há muita gente a tentar mudar a sua alimentação, conscientes pelo despertar para uma vida mais saudável e compassiva.

Como vegetariana há cinquenta anos, por motivos de saúde, espirituais, e por compaixão pelos homens e animais, estou consciente que não precisamos matar animais para sobrevivermos. De acordo com as investigações que tenho feito para inserir no meu livro de “Medicina Natural”, que não está à venda nas Livrarias, e só pode ser adquirido por encomenda à Editora no Porto, fiz, na segunda parte do livro, referência ao vegetarianismo, onde menciono as questões ambientais, económicas e ecológicas, assim como as espirituais, em que o vegetarianismo só traz vantagens.
Segundo o aspecto económico, haveria maior interesse na alimentação vegetariana, por ser menos dispendiosa mundialmente, e que poderia alimentar uma parte da humanidade que não tem o que comer.

O homem, com a pecuária bovina cria um ciclo vicioso ao estimular a monocultura dos grãos, tais como a soja, que depois são exportados para alimentar o gado, quando serviria de recurso para combater a fome e alimentar a humanidade, livre de toxinas. Se o mundo fosse vegetariano haveria lavouras mais diversificadas, sem a inseminação artificial de produção desenfreada da reprodução de animais em série, que servem para grandes negócios, e lucros de interesses económicos. A pecuária consegue esgotar o planeta, ocupando uma grande área terrestre, onde se derrubam florestas e se criam pastos para sustentar o luxo da carne, e que poderiam ser aproveitados para a agricultura, onde há solos ricos, e sustentar grande parte da população mundial que passa fome. Os cientistas advertem que o gosto do homem pela comida carnívora está a provocar a devastação, e a produção de cereais, para alimentação do gado, nos países ricos, poderia ser usada para alimentar uma grande quantidade de pessoas que vivem na miséria nos países pobres.

No aspecto ambiental vemos claramente que até um único bife pode ter um impacto ambiental assustador, pois no derrube das florestas e áreas de cultivo para servirem de pastos, os danos são devastadores e contribuem para o aquecimento global do planeta, sendo um dos principais causadores do problema de efeito de estufa os gases de flatulência libertados pelas vacas, e ovelhas. Além disso, poucos se apercebem que ao tornarem a criação de gado numa indústria, os animais reproduzem-se em tal proporção, que excedem, em número, os seres humanos, provocando uma considerável ameaça ambiental. Ademais, a crescente desertificação causada pelo excesso de pastos tornam a terra dura e impermeável à chuva. Os dejectos dos animais nestas propriedades poluem as águas subterrâneas dos poços, rios e lagos, devido ao nitrogénio que escapa do estrume e se transforma em amónio, contribuindo para a chuva ácida.

Por questões éticas e espirituais, há pessoas que são vegetarianas por razões religiosas, filosóficas e espirituais. Embora as razões de saúde e ecológicas sejam de relevante importância e mais propagadas, a única razão importante, para nos abstermos da alimentação carnívora, é o respeito e a compaixão que devemos ter pela vida animal, que tem o mesmo direito à vida como o ser humano, de acordo com a sua própria natureza e em condições que lhe sejam naturais e agradáveis. Os direitos dos animais não devem ser rejeitados como uma preocupação de pessoas excêntricas ou como uma ameaça ao bem-estar da humanidade. Dizem que as plantas também têm vida, contudo não possuem cérebro, nem sistema nervoso, que lhes permita sentir a dor tal como os animais, mas também se deve reduzir ao mínimo possível o dano que lhes possa causar. Se o homem evolui individualmente, o animal também evolui de forma colectiva, e ao matarmos para comer, embora indirectamente, não só contribuímos para a sua não evolução, como também damos um passo para o atraso da nossa própria evolução, e aumento da nossa agressividade.

Quanto à greve global pelo clima, especialmente, por jovens activistas, encabeçada pela jovem sueca que deu origem ao movimento, está na moda, mas nem sempre de forma consciente, devido a alguns exageros polémicos usados, pouco positivos, e até chocantes. Os jovens mal orientados podem agir pela vaidade de se tornarem heróis. A verdadeira manifestação deve ser consciente, humanista, em prol do bem geral da humanidade e do planeta.

Nota: "Medicina Natural" livro de Lubélia Travassos editado por Publicações Maitreya
   


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