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Apresentação do projecto de criação do Mosteiro Budista Theravada da Tradição da Floresta da Tailândia em Portugal.

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A prática da minhoca

de Ajahn Nyanarato

em 09 Abr 2022

  O venerável Ajahn Chah, um dos mais conhecidos professores do Budismo da Tradição da Floresta da Tailândia, costumava dizer: “A nossa prática é como a minhoca”. O que significa isto?
No mundo moderno queremos ver resultados o mais rapidamente possível, fazendo juízos acerca de quão eficientes as coisas são quão bem-feitas, quão atractivas, etc. Existe uma constante pressão para se estar actualizado com os últimos avanços e temer ser deixado para trás. Mas será que temos real força e confiança em nós próprios? Não será que estamos a perder a nossa confiança e integridade ainda que acreditemos que estamos a controlar o “nosso mundo”? Enquanto o chamado desenvolvimento ao nível material é tão invasivo e amplamente disseminado por toda a parte, o que é que tem vindo a acontecer connosco, o ser mais importante no meio de tudo isto?


Temos que correr para obter resultados e alcançar o mesmo lugar que todos as outras pessoas, da forma mais rápida possível; esta é uma percepção que toda a gente tem. Podemos assim manter o nosso espaço interior para perceber a beleza, a dor e as possibilidades dos outros?

Estas questões deveriam ser levadas em consideração quando sinceramente procuramos a paz, o viver pacificamente no meio da diversidade, e dentro deste contexto penso que a paciência é uma das qualidades chaves que necessitamos de reconhecer mais conscientemente. No Pāṭimokkha Ovāda, o conjunto de versos que sumariza os ensinamentos do Buddha (§), Khanti (Paciência) é a qualidade por excelência da prática religiosa. Muitas vezes vemos a paciência como antiquada e parece ser o oposto de estarmos actualizados com o desenvolvimento do mundo.

A meu ver a qualidade ou virtude da paciência é essencial para permitir que vivamos juntos pacificamente. Sabemos que ser impaciente muitas vezes bloqueia ou até mesmo destrói esse processo precioso, quer na nossa vida individual quer em sociedade. Khanti leva-nos a realizar sabedoria e compaixão, prevenindo-nos de cair em padrões egocêntricos.

Como é que somos quando estamos pacientes? Qual é o estado do nosso corpo e da nossa mente? É simplesmente negativo ou passivo? Não será esse, na realidade, o momento de nos nutrirmos e de retomarmos a nossa própria força?

No passado mês de Novembro tive a oportunidade de viajar pelo Butão durante dezasseis dias. Desde o início havia um forte sentimento de calma, um certo “à vontade” – esta expressão ressoava particularmente em mim. Ainda que outros países possam ter cenários mais espectaculares e vistas fantásticas que captem o olhar, o Butão destaca-se por oferecer este sentimento único de “à vontade”.

O modo tradicional de construção e de vestuário, grandes áreas de floresta virgem e templos com uma clara e pacífica dignidade … toda esta simplicidade, mas firmeza deu-me um toque de preenchimento. A integridade auto-suficiente e a confiança estão presentes naturalmente, sem esforço. Quando contactei com este sabor de maravilhoso contentamento de estilo de vida, senti como se fosse bem-vindo na atmosfera do “à vontade”.

Depois de eu ter regressado à Grã–Bretanha “um amigo perguntou-me “Como era a pobreza?”. Fiz uma pequena pausa e retorqui “Sim é um país pobre”. Depois perguntei-me porque tinha feito a pausa e percebi que a questão da pobreza e da riqueza não é tão relevante ali como noutros países. A pergunta, à qual estamos tão acostumados a fazer, é ela própria uma reflexão da perspectiva através da qual tendemos a ver o mundo.

É necessário que este ponto de vista material não seja a principal experiência da nossa vida. Se não limitarmos a maneira de saborear e de avaliar a vida, os aspectos esquecidos desta revelar-se-ão por si próprios. No Butão senti um profundo sentimento de contentamento o qual não experienciamos facilmente na sociedade moderna. Quando estamos envoltos nestes pensamentos apercebemo-nos de que a forma como nos relacionamos com o mundo poderia ser bem mais ampla e mais rica do que na limitada esfera do bem-estar material. No Butão a riqueza vem do contentamento e confiança na vida de cada um. Não temos de passar o tempo a batalhar para provarmos a nós próprios que somos alguém e para infinitamente obtermos bens. Pelo simples facto de poder tocar esta possível perspectiva, senti um alívio.

“Esquecido”, escrevi. Esta perspectiva não é algo para se criar, mas sim algo para parar, reconhecer e apreciar.

No Butão a vida deve ser bastante exigente em termos físicos. Muitas vezes podemos avistar socalcos muito inclinados com arroz cultivado em água, desde o nível mais baixo dos estreitos vales até quase ao topo das colinas. Sem dúvida que requer uma enorme quantidade de paciência. Mas aqui a nossa percepção de paciência poderá ser limitada de forma negativa.
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