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Filosofia Árabo-Islâmica

de Adel Sidarus

em 22 Ago 2024

  (...anterior) Encontro de sábios “Alchindius”) era muito ligado aos meios “mu‛tazilitas” – a já mencionada primeira escola teológica muçulmana, cuja doutrina foi imposta pela força a toda a comunidade islâmica por um breve, mas decisivo, lapso de tempo. Ele e al-Farâbî foram os verdadeiros fundadores da filosofia islâmica, tendo sido apodados, o primeiro de Faylasûf al-‛Arab (“Filósofo dos Árabes”) e o segundo de Faylasûf al-Islâm (“Filósofo do Islão”). Ambos abordaram todo o espectro das ciências filosóficas então transmitidas, mas não exerceram qualquer profissão, enquanto que Ibn Sînâ foi médico exímio, a nível da teoria e da prática, e exerceu, por várias ocasiões, cargos políticos cimeiros. Al-Kindî representava o intelectual puro, al-Farâbî, o verdadeiro “sábio” (hakîm; vivia como um asceta) e o genial e prolífero Ibn Sînâ, que morreu com apenas 57 anos, era um misto de homem pragmático, de trabalhador, de intelectual brilhante e de filósofo místico.

A filosofia deste trio “sagrado” baseia-se, em traços largos, numa ontologia que distingue a essência da existência em todos os seres, com a excepção de Deus, princípio primeiro e único de ambas as ordens do Ser. Nele, e apenas nele, há perfeita identidade entre essência e existência. Mercê deste pressuposto fundamental, o qual acautela claramente o princípio da transcendência divina, conseguiu-se recuperar a teoria da emanação do neoplatonismo alexandrino, nomeadamente a ideia base da continuidade cosmológica entre o Universo e a sua causa primeira. Os seres são “possíveis”, quer dizer, têm uma existência possível, se considerados “em si”, mas são “necessários” na perspectiva do seu Princípio último, o qual é “necessário per se”.

Um outro tema capital do neoplatonismo islâmico diz respeito à teoria do conhecimento: conhecimento de Deus em relação aos seres particulares, conhecimento do homem em relação ao Universo e ao Deus transcendental. Esta questão está intimamente ligada a uma outra cuja solução lhe fornecerá elementos de resposta. A filosofia árabe rejeita, de um modo geral, o postulado lógico-filosófico da criação a partir do nada (ex nihilo). Mas então, como conciliar a sagrada transcendência divina e o princípio filosófico segundo o qual do uno, da simplicidade absoluta, pode apenas provir uma entidade igualmente una? A solução foi mais ou menos encontrada através de teorias complicadas de processões sucessivas de uma série de “intelectos” (‛aql-s), cada um com a sua esfera própria, a partir do Intelecto primeiro. Estas processões ou emanações forneceram as bases da cosmologia, mas também da teoria do conhecimento, da revelação profética e da experiência mística. Desenvolveu-se também a importante doutrina do “intelecto agente” (al-‛aql al-fa‛‛âl) e o seu papel na intelecção humana, bem como na explicação racional da imortalidade da alma.

Esta elaboração fundadora da filosofia no Islão inclui ainda – a nível do próprio discurso metafísico – uma politologia. Situa-se obviamente no prolongamento da politeia grega, mas com a dimensão religiosa que toda a política tem no Islão. Al-Farâbî tem o tratado essencial sobre a matéria: al-Madîna al-Fâdila (“A Cidade virtuosa”), que se pode considerar um pouco como o correspondente muçulmano da Civitas Dei de S. Agostinho. A organização temporal da sociedade tem o duplo condão de assegurar o bem dos homens neste mundo (al-dunyâ) e de os preparar para o outro que há-de vir (al-âkhira). A união ou harmonia entre os membros da comunidade terrestre prefigura a união das almas entre elas e destas com Deus, na vida do Além. Deste modo, a politeia islâmica, a par da sua pretensão de estabelecer no nosso mundo a Lei de Deus revelada no Corão (§), abre-se para os horizontes místicos do amor universal e da união divina. Retomaremos a questão ao falar do iluminismo oriental, mas não podemos, infelizmente, abordar toda a filosofia ético-mística, a do “Homem perfeito”, que se elaborou na reflexão islâmica com base nos pressupostos metafísicos aqui esboçados.

O livreiro e bibliógrafo de Bagdade Ibn al-Nadîm, que escreveu no século X o que se pode considerar como a primeira história literária da língua árabe, transmite-nos o seguinte relato acerca do início da filosofia e das ciências no mundo islâmico.
   
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