pág. 2 de 8
Os Estoicos e os Jainas
de Maria
em 02 Abr 2023
(...anterior) Encontramos este conceito no Hinduísmo e com relevância no Jainismo, onde a prática de virtudes e austeridades, elevam o homem à inteligência ou cabeça do Homem Universal, personificação velada de Deus, de quem não se fala no Jainismo. O Homem Universal, do qual todos os homens fazem parte, constitui o objectivo do asceta que pelo esforço e aspiração deve subir ao Tecto do mundo. Os homens que se mantêm no seu “status” mais baixo de consciência e nada sabem de virtudes, mantêm-se nas partes inferiores deste Homem Universal, ou seja, nos seus pés e conforme se vão purificando, alcançam outras partes do Universo, até à purificação final, que é a integração no seu cérebro ou Inteligência. Embora no Jainismo não haja uma concepção de um Deus Criador, Ele vem a ser personificado neste Homem Universal, que constitui a aspiração de todo o homem. Os santos ou os iluminados que alcançam a libertação, são os Tīrthakaras que libertaram as suas Almas, através de práticas espirituais e da firme auto-disciplina durante muitas vidas. Qualquer um de nós pode consegui-lo do mesmo modo, se possuir força de vontade e abnegada aspiração. A espiritualidade perfeita é o objectivo de todo o ser humano, e nem mesmo os deuses são capazes de tal.
No Jainismo, o principal objectivo é chegar-se à indiferença aos prazeres do mundo e ao sofrimento, pela elevação de consciência. Os monges ou adeptos ensinam a forma prática de o conseguir, pela disciplina, pela pureza e pela meditação, para que sejam eliminadas as partículas cármicas que envolvem a matéria, o corpo físico e que obscurecem a Alma, não a deixando viver a sua identidade plena e feliz.
A finalidade dos Estóicos, tal como os Jainas, consiste também, na indiferença perante a adversidade e no fluir com a própria natureza interior, nada se desejando. E perante aquilo que não se pode mudar, ficar firme e tranquilo interiormente, mesmo que seja perante a morte, pois ela é encarada como uma lei natural e, a sabedoria reside em saber aceitá-la ou enfrentá-la com serenidade.
Os Estóicos também exigiam pureza, desprezo pelos bens terrenos, meditação sobre a morte e, faziam uma exortação à humildade e às virtudes mais nobres.
Assim, para a morte, os Estóicos e os Jainas caminham de mãos dadas pela via do jejum. Cleanto (um estóico) foi disso um exemplo, tal como o fazem muitos jainas, que quando sentem chegada a hora de deixar o seu revestimento físico, entram na morte pelo jejum e, enfrentam-na com consciência. Porém, ainda há os mais drásticos, que se imolam pelo fogo, tal como o fez o Jaina trazido para o Ocidente por Alexandre Magno.
Cleanto, o filósofo que sucedeu a Zen (§)ão, o fundador da escola Estóica, tem na sua morte a mesma nobreza que um Jaina.
Em consequência de uma doença, foi mandado jejuar por algum tempo mas, terminado o prazo, continuou a recusar os alimentos com o pretexto de que, como já tinha ido meio caminho até à morte, não estava na disposição de trilhar o mesmo caminho duas vezes.
Se bem que quase igual a valorização das virtudes nas filosofias Estóica e Jaina, penso que a profundidade de compreensão desta última é suprema. Com efeito, uma filosofia será tanto mais compreensível quanto mais se aproxima da Verdade, numa clara definição e sistematização de ideias, que quanto mais perfeitas ou puras, mais se consubstancializam numa essência mística ou religiosa. A filosofia é a forma de usar o pensamento, tornado distintas as coisas e os seres, através de ideias definidas, concisas e claras. Quanto mais claro e definido o pensamento, mais próximo e acessível se torna a grande número de mentes pela compreensão. Ora, a compreensão é sabedoria e inteligência e, provém daquele aspecto mais abstracto ou elevado dum Absoluto sem forma, que com a Sua Essência permeia todo o Cosmos, tal como os Estóicos e os Jainas o conceberam. O objectivo de todo o ser humano é atingir por meio das práticas de virtudes, esta pureza inteligente ou Pensamento Puro.
(... continua) 
|