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A Realização do Infinito

de Rabindranath Tagore

em 12 Jun 2013

  (...anterior) De facto, se a palavra “alcançar” implica qualquer ideia de posse, então devemos admitir que o infinito é inatingível. Contudo, precisamos ter em mente que o mais elevado prazer do homem não está em ter, mas em alcançar, que é, ao mesmo tempo, não alcançar. Nossos prazeres físicos não deixam margem para o não-realizado. Tal como o satélite morto da terra, eles têm pouca atmosfera ao seu redor. Quando tomamos alimento satisfazemos a nossa fome, realizamos um acto de posse completo. Enquanto a fome não é satisfeita, comer é um prazer, pois então o nosso gosto em comer toca o infinito em cada ponto. Todavia, quando o nosso apetite é satisfeito ou, noutras palavras, quando o nosso desejo de comer atinge o fim do estágio da sua não realização, ele também atinge o fim do seu prazer.

Em todos os nossos prazeres intelectuais a margem é mais larga e o limite fica mais distante. Em todo nosso amor mais profundo alcançar e não alcançar sempre correm em paralelo. Numa das nossas canções vishnavas a amante diz ao amado: “sinto-me como se tivesse contemplado a beleza do seu rosto desde o meu nascimento, e ainda assim meus olhos continuam famintos; sinto-me como se o tivesse estreitado junto ao meu coração durante milhões de anos, e ainda assim o meu coração não está satisfeito” Isto deixa claro que o que procuramos nos nossos prazeres é realmente o infinito. Nosso desejo de sermos ricos não é um desejo de obter determinada soma de dinheiro, mas é indefinido, e os nossos mais fugazes prazeres são apenas momentâneos toques do eterno. A tragédia humana da vida humana reside nas nossas vãs tentativas de esticar os limites das coisas que nunca se podem tornar ilimitadas, de alcançar o infinito absurdamente acrescentando degraus e degraus na escadaria do infinito.

A partir disso torna-se evidente que o real desejo da nossa alma é ir além de todas as nossas posses. Cercada de coisas que pode tocar e sentir, ela grita: “Estou cansada de alcançar! Ah, onde se encontra aquele que jamais pode ser alcançado?”

Na história do homem vemos em todos os lugares que o espírito de renúncia é a mais profunda realidade da alma humana. Quando a alma diz a respeito de qualquer coisa: “Eu não o quero, porque estou acima dela”, a lama está expressando a mais elevada verdade sobre si mesma. Quando a menina se torna grande demais para a sua boneca, quando percebe que em todos os aspectos é mais do que a sua boneca, ela a deixa de lado. Pelo próprio acto de possuir nós reconhecemos que somos maiores do que as coisas que possuímos. É uma total miséria ficarmos presos a coisas menores do que nós mesmos. Foi isso que Maitreyi sentiu quando seu marido lhe entregou suas propriedades na véspera de abandonar o lar. Ela perguntou: “Essas coisas materiais poderiam ajudar alguém a atingir o mais alto?” – ou, em outras palavras, “Elas são mais do que a minha alma é para mim?” Quando o marido lhe respondeu: “Elas a tornarão rica em posses mundanas”, Maitreyī disse imediatamente: “Então o que vou fazer com elas?” Apenas quando o homem de facto percebe o que são as suas posses, ele deixa de ter ilusões sobre elas. Com efeito, aí ele reconhece que a sua alma está muito acima dessas coisas, e torna-se livre da sua alma quando ultrapassa as suas posses. O progresso do homem no caminho da vida eterna passa através de uma série de renúncias.

Que não possamos absolutamente possuir o ser infinito não é mera proposição intelectual. Isso deve ser experienciado, e tal experiência é êxtase. O pássaro, enquanto voa no céu, a cada batida das asas experimenta que o céu é sem limites e que suas asas jamais podem levá-lo para além do céu. Nisso reside a sua alegria. Na gaiola o céu é limitado? Pode até ser o suficiente para os propósitos da vida do pássaro, mas não mais do que o necessário. O pássaro não pode regozijar-se dentro dos limites do necessário. Ele deve sentir que o que possui é incomensuravelmente mais do que aquilo que nunca poderia desejar ou compreender, e só então pode sentir-se feliz.
  (... continua) 
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