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Graal
de Pedro Teixeira da Mota
em 20 Jul 2014
(...anterior) Abu Fazal, o cronista principal do imperador Akbar e seu íntimo, retractará o ambiente da época escrevendo mais tarde sobre a sua adolescência e os encontros que presenciara: «Por vezes o meu coração era atraído para os sábios do Cataio, outras para os ascetas do Líbano, outras vezes o desejo de conversar com os lamas do Tibete quebrava a minha paz, e outras vezes a ânsia de passar algum tempo com os padres de Portugal puxava a minha roupa» e descreve uma das sessões do pioneiro diálogo (ainda que por vezes muito exclusivista por parte de cada um dos religiosos…), através do qual Akbar procurava investigar o valor das várias religiões tendo em vista o princípio que aceitara: «Deus deve ser adorado com todo o tipo de adoração» e não só o de uma religião...
Abu - Fazal entrega a Akbar a crónica do imperador, Akbarnama...
Oiçamos então o persa Abu Fazal, na sua notável crónica "Akbarnama": «A Casa de Adoração foi uma noite iluminada pela presença do Padre Rodolfo, que não tinha rival quanto a inteligência e sabedoria entre os doutores cristãos. Vários homens críticos e enganadores atacaram-no e isso permitiu a assembleia presenciar o julgamento calmo e justo. Estes homens lançavam as velhas asserções, e não tentavam chegar à verdade por meio do raciocínio…Com perfeita calma e grave convicção da verdade, o Padre replicou aos seus argumentos».
Graças às três missões enviadas e a mais alguns portugueses que por lá chegaram trocar-se-ão muitas riquezas, informações, arte e ciências, patentes sobretudo nas artes decorativas e pintura, em que o imperador Jahangir sobressaiu como mecenas e estudioso do simbolismo artístico comparado.
Em 1581 o imperador mogol Akbar, tendo partido numa expedição a Cabul, e levando consigo o Padre jesuíta António Monserrate pede a este que lhe mostre num mapa Portugal e a Índia, e discutem assuntos como o celibato do clero e a identidade do Espírito Santo, pela noite a fora. No regresso à então denominada Roma do Oriente, Goa, o P. Monserrate explicou que Akbar clamava pertencer à seita dos místicos do Islão, dos sufis e que o mais lhe importava era contemplar Deus e repetir os seus nomes.
Em 1582, Akbar deixa mesmo de seguir as prescrições e doutrinas da sharia, a religião muçulmana no seu aspecto exterior de lei, e na base do zoroastrismo, jainismo, sufismo e hinduísmo funda a Din Ilahi, a Visão ou Fé Divina, embrião da tomada de consciência precoce da religião universal, ou não fosse ele um imperador de grande visão e que terá como membros uma centena de seus próximos e que transmitirá entre outros ensinamentos um dos ditos mais apreciados: «Deus deve ser adorado com todo o tipo de adoração».
Graças a este diálogo, de Deli e de Agra partirão as primeiras expedições e missões ao Tibete, ao Gobi, ao Turquestão sendo de realçar os contributos heróicos dos jesuítas António de Andrade, Bento de Góis e Estêvão Caçela e Ipolito Desideri. E mesmo depois de os padres terem deixado de imaginar que converteriam algum dos imperadores e as missões cessarem, alguns portugueses continuaram a brilhar nas cortes mógois e indianas sendo de destacar a médica D. Juliana (§) Dias da Costa, que será ama, conselheira e mestra da corte mogol no tempo dos imperadores Aurangzeb e Bahadur Shah (§), até morrer em 1734. Este último tinha-a como uma segunda mãe (§) e dizia que se ela fosse homem escolhi-a para vizir.
Noutras cortes indianas médicos, militares e padres cooperam e são devidamente apreciados. O P. Figueiredo fornece os livros astronómicos que alegram e estimulam o gosto pela astronomia do raja de Jaipur, Jai Singh Sawai, o construtor dos ainda hoje visitáveis observatórios de Jaipur e Delhi. Ao sul, no império de Vijayanagar, o guru do imperador usa uns óculos que lhe foram fornecidos pelos portugueses.
Foram numerosos os indianos e goeses que ultrapassando as barreiras das castas (§) puderam viajar e evoluir para se formarem em leis ou religião e chegarem tanto a grande erudição como à santidade, tal S.
(... continua)
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