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A Escrita Perfeita - Sânscrito

de Maria Ferreira da Silva

em 28 Mai 2024

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Na Índia, a expansão literária, cultural, artística e religiosa deve-se exactamente a muitos monarcas, que protegeram filósofos e místicos e as próprias doutrinas dos diversos sistemas. Fizeram melhorias sociais e incentivaram a arte, predominando sem dúvida o sentido religioso, místico e espiritual, talvez único no mundo. Tudo se baseia no sentido ético e moral (dharma), que permeia a vida da maioria dos povos da Índia, os que se encontram inseridos nas epopeias Mahābhārata(6) e Rāmāyaṇa. É nesta conjuntura de base religiosa ou espiritual que reside a nobreza da vivência indiana que já tanto influenciou o mundo, rompendo fronteiras continuando a inspirar Ocidente e Oriente com o seu belo e harmonioso Pensamento.

Para além dos muçulmanos nas suas primeiras incursões a partir do século XI, e dos que se lhes seguiram, compreendida como época dos Mogóis (§), séculos XIV a XVII, também depois os europeus – holandeses, ingleses e portugueses, estes especialmente em Goa, contribuíram para o “caldear” da Índia que conhecemos hoje. Por outro lado, já os próprios Indianos, se agrupavam e dividiam por categorias sociais e religiosas pelo poder das castas (§), diversificando a Índia, nas mais variadas etnias e expressões linguísticas.

Tal diversidade filosófica ou religiosa deve-se afinal a um bem precioso humano, que é a capacidade mental de investigar, encontrando-se na Índia a grande liberdade de pensamento e, portanto, a possibilidade de cada um pela própria inteligência, compreensão e realização espiritual concordar ou não com o estabelecido, ou aprofundar esta ou aquela filosofia, acrescentando e melhorando o entendimento. Acolhe-se, assimila-se, professa-se aquela religião, ou pratica-se o mais severo ascetismo, conforme a índole e a evolução espiritual de cada um, sem ferir ou aniquilar os outros, desrespeitar Deus ou deuses, ou impor dogmas doutrinais, respeitando assim, a liberdade própria e do próximo.

A educação, formação cultural e religiosa baseia-se numa atitude de vida, onde se integram todos estes componentes como um todo, onde o Sânscrito, a língua antiga, sagrada por herança própria, faz parte desta religiosidade da Índia. Portanto, cada palavra está ligada à espiritualidade na vida quotidiana, mesmo na sua estrutura social e económica. No Ocidente separamos a religião da vida social e cultural, enquanto na Índia isso é um todo inseparável.

Na realidade, toda a expressão linguística da Índia é baseada no Sânscrito(7), língua em que os deuses ou mesmo Brahman, a revelou aos Ṛṣis(8) e, ainda hoje tem um grande valor e poder intrínseco na sua pronunciação e efeito linguístico. Ao Sânscrito pode chamar-se a escrita perfeita, já que cada palavra expressa profundamente o objectivo, numa máxima directa e concisa do que pretende exprimir, e de facto, é nobre (ārya) pois numa só palavra, seja simples ou composta, comporta um vasto mundo de poder mental e espiritual que possibilita a compreensão imediata e impulsiona a expansão de Consciência. É uma língua viva, perene, desperta, direccionada para o entendimento superior, sendo ela mesma “construída” para elevar a mente humana, ou não fosse a “Palavra de Brahman”.

Brahman é a designação de Deus, nome ou palavra venerada no Hinduísmo, suporte inspirador de tantos tratados filosóficos-religiosos, embora o Hinduísmo seja uma religião sem fundador. Hindus designam-se os povos provenientes de Sindhu o nome tradicional do rio Indo, e só mais tarde (séc. XVIII) passou a designar a religião dominante da Índia, referindo-se aos hindus(9) como aqueles que se identificam com a casta, comunidade, região e idioma e que remontam a sua origem ao Veda, o “Saber”. Hoje este conceito está mais alargado, uma vez que a designação Sanatāna-dharma (Lei Eterna) envolve as obrigações sociais e os ideais do povo da Índia em geral, e não necessariamente os de uma comunidade, religião, corrente filosófica ou profissão de fé, ou casta.
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