A escrita perfeita advém da alegria interior e de uma metódica razão que, apesar de espontânea, advém do estudo prévio de obras e volumes vários. A perfeita sintonia entre o estado do escritor e o conteúdo da escrita revela ao leitor mais atento os meandros dos seus pensamentos e sentimentos, declarados ora através de versos ora passos da escrita. O mesmo se passa na música ou pintura, onde um compositor escolhendo determinada nota ou escala musical declara seus ‘interesses’ e revela ao público os pensamentos mais íntimos da sua vida interna. O pintor, escolhendo uma cor ou traço particular, revela a visão definidora do seu interior. Logo é perceptível que, sem atribuir ao ato artístico o rótulo de ‘música’, ‘pintura’ ou ‘escrita’ estamos perante a expressão criativa de estímulos energéticos. Se estes são elevados podemos denominá-la de inspiração (epifania), resultante numa dádiva à Humanidade ou vislumbre do Superior; pelo contrário, o seu oposto manifesta-se como ‘catarse’, que tem validade em planos ou etapas inferiores de existência (estados conscienciais) mas nunca em patamares mais elevados, que revogam a sua expressão.
Por que os Mestres vivem afastados dos aglomerados, nos distantes retiros Trans Himalaicos, isolados, onde não se percebe os avanços da civilização? É verdade, os Mestres vivem distantes do dinheiro e do prazer, porque prescindem das paixões humanas, e usam o seu poder em favor do mundo, não necessitam do bulício do barulhento mundo civilizado, artificial e desagregador dos valores superiores. Muito poucos Mestres, vivem nos grandes centros, a serviço da Hierarquia, sempre no anonimato, sustentando em seus ombros as rédeas do serviço mundial. Não obstante, o Mestre serve a humanidade e o seu poder atinge o mundo todo.
Para aqueles que estando em Florença decidam visitar o Museu de São Marcos, a primeira impressão que recebem vem do ambiente, lugar e espaços que circunscrevem o edifício, a que posteriormente se acrescenta a monumental obra de pintura que reveste o seu interior. Um elemento importante e determinante que contribui para o encanto e riqueza espiritual deste Museu, é a sua conservação intacta através dos séculos, apesar das vicissitudes e das estratificações históricas.Antigo Convento, é antes de mais hoje, um lugar de memórias, de memórias dominicanas, vinculado a homens ilustres da Ordem, desde Santo Antonino, a Frei Angélico, a Frei Savanarola e a Frei Bartolomeu, para mencionar apenas as personagens mais célebres que aqui viveram, às quais podemos acrescentar nomes de outras que se distinguiram nas mais diversas formas de expressão artística, cultural e mística da mesma época como Frei Paulino, Marco e Francesco della Robbia. Um elemento importante e determinante que contribui para o encanto e riqueza espiritual deste Museu, é a sua conservação intacta através dos séculos, apesar das vicissitudes e das estratificações históricas.
A contemplação do Cosmos origina uma das maiores viagens do espírito, provoca os sentimentos mais profundos do ser; reduz-nos à nossa insignificância; transporta-nos ao estremecimento, à grandeza, ao infinito, ao sublime, mas também à anulação do ego . Unifica o ser humano com o cosmos, o Uno. O mistério do universo começa com o silêncio, a plenitude, o sentimento de união com o Todo. Todavia, nem sempre se consegue escutar o silêncio, nem captar o mistério, nem mesmo percepcionar o detalhe de todas as «coisas». As coisas-em-si revelam-se por pormenores microscópicos e pela grande extensão do Universo, e o ser humano poderá contemplá-las e experimentá-las através da percepção e da experiência da união. Mas, simultaneamente, toma consciência do seu interior, o «eu», e do «inconsciente colectivo» junguiano [série de desenhos: Lamas, 2014]. A experiência de Unidade produz uma transformação no ser humano, a união com o Todo, tal como afirma Svâmi Prajnânpad: «c’est s’éprouver un avec tout» . O caminho da ascensão aos céus é um devaneio solitário, uma viagem sem regresso, ímpar, na medida em que nos transforma. Embarcamos numa viagem cósmica e tornamo-nos exploradores das multidimensões matemáticas . Este caminho segue numa linha curva e orgânica, tal como o Espaço: orgânico, fluido e em constante transmutação. Num movimento dinâmico, retorna ao mito dos céus antigos cujo significado continua oculto para o comum dos mortais.
A Academia de Arte de Veneza é uma das relíquias, guardada em magnífico edifício, outrora escola de pintura que, principalmente no Renascimento, albergou alunos notáveis. Originalmente, contém uma luz espiritual que irradia por si só, livremente, para acolher o feliz e digno visitante. É sob esta grata influência que, maravilhados, encontramos passo após passo, sala após sala, imagens das mais belas cores e contrastes, que nos conduzem a dimensões infinitas de criatividade. A admiração e a solenidade fez-nos parar diante de uma das mais transcendentes pinturas daquele que foi indiscutivelmente, grande: Ticiano.