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O meio é a mensagem

de Diogo Castelão Sousa

em 30 Jan 2022

   ‘O meio é a mensagem’. Esta é, talvez, uma das mais belas, enigmáticas e originais frases produzidas no séc. XX. McLuhan, seu autor, por alguns considerado um génio, quando a escreveu, sabemos que tinha em mente a compreensão dos meios de comunicação, por oposição ao estudo de seu conteúdo, no contexto de teoria dos media. Mais especificamente, falando da revolução dos meios televisivos, queria isto dizer que, enquanto as ‘massas’ se vidravam no miraculoso e inédito conteúdo por eles veiculado, McLuhan, por sua vez, distanciava-se e avaliava como profunda e globalmente o meio ‘em si’ alterava as relações humanas. Por conseguinte, o impacto das mensagens transmitidas pelos programas televisivos, ficava muito aquém, a seu ver, das mudanças culturais, sociais e tecnológicas, que este implementava no funcionamento não só da sociedade moderna, como da sua ‘psique’.


Na verdade, o mesmo poderia ser dito nos dias de hoje, quando cada vez mais a cultura tecnológica se apodera e controla os hábitos e rotinas do ser humano, de tal modo que esse meio ou ‘ecossistema’ rege e cinge os novos futuros padrões da sociedade humana. Um exemplo prático e concreto disto mesmo é a difícil relação da juventude hoje em dia com os telemóveis. O conteúdo em demasia faz de nós insensíveis. A atual cultura da Internet permite que muitas crianças se desviem do processo normal de crescimento, sendo ‘bombardeadas’ a toda a hora com informação, muitas vezes inútil ou de pouco valor. Uma infinidade de conteúdos é-lhes oferecida e é por isso que ficam tão dependentes do mesmo.

Coloquemos então a seguinte pergunta: Como lidar com este fenómeno? Em primeiro lugar, e parafraseando McLuhan, é preciso constatar que quando alguém fica ‘preso’ ao conteúdo, ao mesmo tempo fica ‘cego’ para o meio. Mas coloquemos isto em termos mais coloquiais: enquanto um jovem despende parte do seu dia-a-dia no telemóvel, a percepção que tem do tempo altera-se. Este é o ponto fulcral da questão. Como a sua referência é o conteúdo, sempre volátil e cambiante, sente que não passa mais do que uns meros minutos em cada assunto, dentro de um fluxo constante de informação. Contudo, para quem está de fora, sabe que são horas ‘agarrado ao telemóvel’ e dias gastos à sua ‘mercê’, resultando num vício insuperável. O que isto significa, claro, é que o conteúdo impede que fiquemos conscientes do meio, ou seja, da dependência que produz, sendo esta a principal mensagem de McLuhan, em pequena ou larga escala, individual ou coletivamente, quando fala nos efeitos hipnóticos do ‘conteúdo’. O meio torna-se, assim, mais impactante do que o mero conteúdo das nossas vidas. Saber isto é, portanto, reverter o processo.
Contudo, importa vincar, que este não se trata de um texto no âmbito de teoria dos media, senão um pequeno pensamento inusitado que visa agora testar e verificar se tal fórmula é aplicável a outros domínios, por nós insuspeitados, tais como o ramo das artes e meditação, como veremos mais adiante.

Ora, antes de mais, cabe dizer que, porventura, ao ouvir pela primeira vez que “o meio é a mensagem”, de certo modo fica-nos a impressão de que se trata de algo demasiado hermético e encriptado, enquanto não estiver bem inserido e de acordo com um determinado contexto, tornando-se o conceito demasiado obscuro e irrelevante para o nosso entendimento. Contudo, sua essência revela-se clara e entendida assim que dispusermos de um novo exemplo.

Tomemos como modelo a música vocal, no seu sentido mais lato, que comumente é apelidada de ‘linguagem universal’. Muito simplesmente, isto acontece, porque quando nós ouvimos um belo canto numa língua que não é a nossa, é porque sabemos que a mensagem não ‘está’ mais na letra do que no ‘som’, i.e., na melodia ou voz com que o músico canta, no timbre e sonância que desde logo sentimos. O coração ‘vibra’ e torna-se, por assim dizer, o receptáculo e não a mente, pois o ser, nesse momento, não se polariza mais na interpretação do conteúdo mas sim no ‘desfrutar’ e aprazimento do meio que, neste caso, é a voz.

O mesmo poderia ser dito para a pintura, que, por mais historicamente válida que seja, tal um retrato ou paisagem, ou por mais contexto ou explicações de que necessite, são a cor, a forma e o traço que definem o seu esplendor, a sua ‘mensagem’, a pincelada que transmite o sentimento do artista. Neste sentido, a vivacidade de um belo quadro ‘bate’, por assim dizer, o contexto histórico a que alude, quando as diversas referências que a permeiam, são substituídas, ao olhar do observador, por aquilo a que podemos chamar de ‘presença’, o mero ‘estar’ ou ‘energia’ do artefacto, que já não representa um conteúdo histórico, mas sim algo que transcende o espaço e o tempo e se ‘sintoniza’ com o observador.
   (... continua)  
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