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Não queremos morrer com raiva
de Maria João Firme
em 26 Ago 2014
Quase todos podemos testemunhar, como pensamentos e sentimentos saudáveis são facilmente destruídos pela raiva e pelo ódio. Se nunca experienciou este tipo de sentimentos, parabéns para si, provavelmente terá vindo a este mundo com potencialidades para ter uma vida “iluminada” e servir de farol aos que estão ao seu redor. Mas preste atenção, uma coisa é nunca ter sido invadido por sentimentos de raiva, revolta ou não aceitação, o que significa que tem o coração pleno de compaixão por todos os seres e situações, outra coisa são os filmes que realizou sobre si próprio!...
Podemos ter certos padrões de pensamento, como por exemplo: “Eu sou boazinha!... Outro dia desorientei-me com os meus pais, mas quem não o faria numa situação daquelas?...Não fui eu, mas “a outra Ana” que reagiu. Ou ainda, o pensamento que lhe surge depois de ter abandonado alguém sózinho no mundo, impreparado, e sem saber como sobreviver ou voltar “aos seus”: “Não tenho nada a ver com isso, sou uma pessoa correta. Para mais, ainda lhe perguntei, uma vez, se queria comprar bilhete de volta mas não quis, a opção foi dele.”
A raiva e o ódio são um fogo posto que incendeia e destrói rapidamente tudo o que encontra pela frente, feio ou aterrador, bonito ou maravilhoso. São labaredas capazes de mutilar todas as formas de vida e infligir-lhes longos períodos de sofrimento inútil. A indiferença, essa desloca-se fria por cima de terra queimada. É a outra face da raiva e do ódio, que optou por se enganar a si própria.
Para diluir estes sentimentos, Gautama Buda, Jesus Cristo e outros seres iluminados, vivendo no mundo ou em isolamento, sugeriram o desenvolvimento do amor e da compaixão. Alguns métodos ou técnicas há para o fazer, sabendo, porém, que nunca se chegará aí sem esforço, ou sem ser por mérito próprio. Já não há qualquer foro ou dízimo que o compense, nestes tempos, em que cada um é responsável pelo seu próprio interior ou consciência. E, como disse o monge budista da tradição tailandesa, Bhante Gunaratana, referindo-se a Buda “...ele não se livrou da raiva depois de se tornar um Buda; ele se tornou um Buda porque se livrou da raiva...”.
Como, tão certo como nascermos é morrermos, seguramente ninguém quererá morrer com sentimentos de ódio, raiva ou ressentimento, quais boomerangues que voltam sempre ao ponto de partida, com velocidade idêntica à que foram projetados. Também ninguém gostará de morrer com a alma gelada pela indiferença. Posto isto, a única hipótese lógica que temos, é trabalhar a nossa mente e o nosso coração para a Paz, aqui e agora. Pois, ao mudar consciente e pacientemente os nossos pensamentos, que também os nossos sentimentos se alterarão.
Como poderemos sentir raiva de alguém, sabendo que o seu comportamento reprovável, sobrevive num emaranhado de tristeza e mágoa? E, que direito temos de julgar o outro, desconhecendo as suas particulares circunstâncias?... Sendo que também o julgamento é um boomerang, será melhor atermo-nos à ideia de que cada um fez o melhor que podia e sabia. Acabo com o tema de uma palestra dada recentemente pelo monge indiano Bramachari Shubamrita, em Lisboa: “ Muda o teu pensamento - transforma a tua vida”.
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