Fundação Maitreya
 
A morte do eu

de Diogo Castelão Sousa

em 22 Mai 2022

  Toda a espiritualidade fala de uma só morte, a morte do eu. O ‘eu’ é um aglomerado de ideias, imagens e experiências arrecadadas não só numa vida, como em várias. Forma-se um ‘eu’ quando há um centro a partir do qual possamos chamar ‘outro’ àqueles que nos rodeiam. Esta fase de entendimento ou evolução é obscurecida pela falta de discernimento que tal paradigma cria.
Começando pela infância, este conceito desenvolve-se e adquire força mediante certos eventos ou circunstâncias que possam acentuar mais a noção de ‘separação’. Num crescendo, a idade adulta, refletirá, clara e objetivamente, a trajetória evolutiva do ser, dado a importância dos primeiros anos de vida na construção e consolidação de uma correta estrutura psíquica.


Consequentemente, conhecer certos indivíduos, tais Santos, humanistas, Mestres espirituais ou pessoas que genuinamente investem no altruísmo, poderá contribuir fortemente para o exame e questionamento desta atitude egóica, que privilegia o que é seu (mundanamente), em detrimento do bem-comum. O total isolamento dos outros, acompanhado pelo sofrimento que isso gera, não só para nós, como para o resto da humanidade.

A existência vive-se, portanto, fragmentariamente, sem que o coração englobe ou alcance esse ‘Todo’. Vibra diminuta e fracamente, quase apagada na sua semi-existência, alimentada a medos e ideias, tais fragmentos do passado.

Assim, transcender tal paradigma, cria uma forte união entre todos aqueles que sábios souberam notar algo mais a alcançar: o ponto final da dissolução do ‘eu’. Esta dissolução aparente não engloba em si vil e atemorizadamente um vazio que preenche a totalidade do cosmos, mas um amor inabalável, que inclusive levou Jesus a proferir as seguintes palavras: ‘Amai o vosso próximo como a vós mesmos.’ [Mateus 22:39]. No fundo, apontando para essa experiência de união, de um Todo sem centro, a partir do qual o mundo já não gira à nossa volta, mas enfeitiça os nossos corações a buscar e voltar a amar ao Todo.

Neste processo, o ser resgata a pureza inerente ao âmago do seu ser, que tanto almeja, para ver de olhos abertos os erros e descuidos do passado, que agora já não nutre. Então aplicando as palavras do Senhor Jesus, torna-as reais, alimenta-as, vive-as a partir do mais profundo do seu Ser, alimentando a alma, que nutre, por sua vez, o coração. A voz interior ressoa de felicidade e diz ‘Estou aqui’. Assim o Bem se faz soar no interior do Ser e culmina na realização espiritual, que aguarda cada um, mediante a sua aspiração, honestidade e acometimento.

A história do ‘eu’ rompe-se, portanto, e dá lugar a um Ser de brilho e esplendor, de alegria direcionada à Vontade do Bem. Produzir frutos de tal grau ou madurez, significa acolher as bênçãos do Divino, amar o seu próximo como a si mesmo. Dentro desta união, dá-se a Simplicidade, que é o viver correto e justo. Só assim, além de descartar o mal, o Ser procura o bem e contenta-se com o que é. Tanto que passa a ser a Eternidade, além do momentâneo, aquilo que rege o seu ser.

Assim, poderia ainda subsistir a pergunta: será tal realização absoluta ou gradual? Mas tamanho fito ou jornada, realiza-se aos passos, ao contrário da tentação de muitos em poder crer que se realiza tudo de uma só vez. De tal modo que existem experiências de diversos graus da morte do ‘eu’, ou seja, de amor e compaixão, de benevolência para com e no Todo.
Portanto, além das questões que nos exortam sempre cada vez mais a investigar e a aprofundar o necessário, vejamos a força com que se nos depara a necessidade desta morte. A sua revelação. O seu êxito. E a sua graciosidade.
   


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