Fundação Maitreya
 
O Vegetarianismo e os seus benefícios

de Lubélia Travassos

em 03 Jan 2023

  Num passado muito longínquo o homem era passivo e vegetariano. Alimentava-se de frutos, folhas e raízes, ainda que a sua dieta não incluísse plantas proteicas por desconhecimento, pois não sabiam plantá-las. Há mais de dois milhões e meio de anos é que a dieta do homem mudou, assim que começaram a fabricar instrumentos e armas de pedra, que lhes permitiu incluir na sua alimentação a carne dos grandes mamíferos. Apesar da herança legada pelos nossos antepassados, hoje é felizmente possível fazer uma dieta rica em proteínas sem necessidade da ingestão de carne proveniente do sofrimento dos animais. Ser vegetariano exige mais cuidados e conhecimento de nutrição, mas também proporciona uma dieta (alimentação) mais saudável. E, pelo facto de exigir cuidados, o vegetariano tende a prestar mais atenção no que come e nos efeitos disso sobre o seu corpo, tornando-se desta forma num hábito mais salutar.

"Na verdade, todo aquele que espalhar a semente de morte e de dor nunca poderá colher amor e alegria".
Pitágoras

Vegetarianismo é o termo que se usa para o regime alimentar natural e saudável que não implica o sacrifício e morte de animais para a alimentação humana. Segundo a designação da União Vegetariana Internacional, «vegetarianismo é a prática de não comer carne, aves, peixes, e seus subprodutos, com ou sem uso de lacticínios e ovos». Por conseguinte, ser vegetariano significa não ingerir carne nem derivados de animais provenientes da sua morte. A origem da palavra “vegetariano” não deriva da alimentação vegetal, mas sim do termo latino “vegetus”, que significa “saudável, vigoroso, forte”.

Na nossa civilização ocidental, a maior parte das pessoas não sabe o que é ser vegetariano, e quando se fala nesta palavra, a primeira reacção delas é de que um vegetariano só come saladas. Puro e infeliz comentário! A comida vegetariana é muito mais diversificada e rica do que a confeccionada com carnes ou peixes e todos os produtos provenientes da morte de animais. Não incluo os produtos procedentes de animais vivos, porque para comê-los não é preciso sacrificá-los, tais como o leite e seus derivados e os ovos, que se não forem fecundados não dão origem ao animal.

Quando cito civilização ocidental, incluo também a influência da Religião Cristã, que predomina na maior parte do ocidente, e para quem, no presente, o vegetarianismo lhe é completamente estranho. O mesmo não se poderá dizer para a maioria da civilização oriental, incluindo várias religiões, em que o vegetarianismo sempre predominou desde tempos primórdios e faz parte do seu modo de vida natural.

Ser vegetariano não significa ter de fazer qualquer dieta ou sacrifício, mas sim seguir um modo de vida natural e mais puro, a fim de se obter uma melhor manutenção do corpo e do espírito. Não significa, igualmente, ter de fazer sacrifícios e exagerar, ao ponto de ser fanático, restringindo todas as gorduras ou coisas doces. Contudo, há que usar mas não abusar, pois tudo na nossa vida deve ser feito com moderação. Aliás, um bom vegetariano tem de saber que é preciso seguir um regime alimentar ponderado, que contenha as proteínas, hidratos de carbono, lípidos, necessários ao equilíbrio do organismo, que se encontram em muitos vegetais, leguminosas, grãos e frutos secos, além das vitaminas e minerais, que o ajudam a fortificar-se.

Não é raro encontrar-se um determinado número de pessoas que pensam que os vegetarianos são normalmente do tipo raquítico, ou melhor dizendo, têm de ser muito magros, pois se o fazem é para seguir uma dieta que os mantenha elegantes, e chegam até a interrogar-se como é possível uma pessoa mais desenvolvida ser vegetariana! Na verdade, nem todas as pessoas se desenvolvem geneticamente da mesma forma e obtêm uma estatura forte, quer sejam vegetarianos ou não. É curioso verificar-se que quase todos os animais de maior porte são vegetarianos e passivos, o que significa que se desenvolvem melhor do que os que são carnívoros e de índole feroz e agressiva. Temos como exemplo o elefante, o rinoceronte, o hipopótamo, o gorila, o gado bovino, suíno e toda a classe de ruminantes, que são vegetarianos e em geral passivos. O mesmo pode acontecer com as crianças que são vegetarianas desde a infância e que mantêm uma alimentação equilibrada, onde predomine, em especial, produtos lácteos. Elas crescem e tornam-se jovens e adultos muito mais saudáveis e naturalmente adquirem maior estatura e são mais passivas.

Porém, há também aqueles vegetarianos que optam por esta dieta porque sabem ser uma maneira de viver mais saudável, mas não têm qualquer convicção espiritual. Fazem-no por simples culto do corpo e do seu bem-estar físico. Muitos conseguem até exagerar, tornando-se demasiado radicais, ao abusarem de uma alimentação desequilibrada só para exibirem uma boa forma física.

Esses não são os verdadeiros vegetarianos, pois só pensam neles próprios e no culto do corpo. O verdadeiro vegetariano é aquele que pratica o vegetarianismo a pensar em manter não só um corpo saudável como também uma mente sã, por pura convicção filosófica e espiritual, além da compaixão que sentem pelos animais inocentes, que são o seu próximo mais inferior. Paradoxalmente, verifica-se que o homem, afinal, come animais que são vegetarianos, tornando-se ele próprio primitivo, carnívoro e a agir do mesmo modo que as feras selvagens!

AS DIVERSAS CATEGORIAS DE VEGETARIANISMO

O vegetarianismo pode dividir-se em diversas categorias:

Lacto-ovo-vegetariana: A alimentação lacto-ovo vegetariana consiste em todo o tipo de vegetais e legumes, todos os produtos lácteos, ovos, grãos, cereais e todos os frutos. Esta é a dieta praticada pela maior parte dos vegetarianos, em especial no ocidente.

Lacto-vegetariana: Será, provavelmente a categoria que insere o maior número de vegetarianos, visto ser a dieta que predomina especialmente no sul da Índia, por razões religiosas entre os Hindus. Nesta dieta incluem os produtos de lacticínios, todo o tipo de vegetais, leguminosas, grãos, cereais e frutos. Contudo, os ovos como alimento altamente proteico estão proibidos, pois dizem conter a vibração da vida. Todavia já há uma certa abertura em casos excepcionais para recuperação da saúde, especialmente ocular, visto o ovo conter muita luteína e zeaxantina e, que os médicos Hindus têm alertado para o facto dos ovos não fecundados não conterem o esperma vital, pelo que não envolvem a matança.

Vegan: Esta categoria é mais restrita que as anteriores, e está hoje muito em voga no Ocidente, ainda que não contemple qualquer convicção religiosa ou espiritual. A alimentação Vegan não contém qualquer produto animal, contudo, pode ser perfeitamente compatível com uma boa saúde, se predominar nela todo o tipo de vegetais, leguminosas, grãos e frutos, em quantidade considerável.

Embora os vegans não consumam qualquer produto de origem animal, isto é, para além de não ingerirem todo o tipo de carne estão, igualmente, excluídos os ovos, o leite e o mel. Porém, os que adoptaram esta alimentação vegan devem ter mais cuidado que a maioria das pessoas. Para que o seu organismo obtenha tudo o que necessita, torna-se muito importante incluir alimentos que contenham proteínas, vitaminas e minerais, que se encontram normalmente na carne, no peixe ou nos produtos lácteos. Como a sua alimentação precisa incluir proteínas, vitaminas e minerais têm de comer mais leguminosas e produtos de soja, arroz e pão integral. Devem, além disso juntar algumas sementes de girassol, amendoins, e frutos secos, a pelo menos uma refeição por dia. E, nos seus hábitos alimentares, para obterem a energia sustentável, têm de comer pelo menos 3 doses por dia de arroz, cereais, pão integral ou batatas.

Os seus seguidores excluem, também, todo o tipo de exploração animal: as roupas de couro, a lã e a seda natural são igualmente proibidas. Nota-se, porém, que, hoje, muitos vegans chegam ao ponto de exacerbarem o seu ideal, pouco humanista, em fanatismo, ao excluírem e marginalizarem, de forma agressiva, dos seus relacionamentos, todas as pessoas que não comungarem do seu idealismo, associando-se apenas com os seus iguais.

Semi-vegetariana: São as pessoas que se dizem vegetarianas, mas não o são, pois, abrem excepções para o peixe e para as aves. Não são bem vistos pelos outros grupos, por serem falsos vegetarianos, pois a única recusa deles é a inclusão de carne vermelha, que alegam, de forma oportunista, ser por questões de saúde.

Macrobiótica: Outra versão que não se pode considerar de todo vegetariana, são os macrobióticos. Além de incluírem todos os vegetais, leguminosas, grãos e cereais, comem também peixe, que consideram ser de um reino animal diferente, por ser aquático. Esta é a dieta tradicional japonesa, que pode ser vegan, ovo-lacto-vegetariana e também inclui o peixe. Permitem-se, porém, a várias restrições, onde a dieta acompanha as estações do ano, visto o cardápio ter de incluir toda uma árvore, desde a semente até ao fruto.

Crudivorismo: As pessoas que cultivam a alimentação crudívora só comem vegetais crus. É uma dieta muito complexa que exige muitos cuidados e pode provocar desnutrição, uma vez que exclui os grãos, as melhores fontes de proteínas e ferro necessárias aos vegetarianos.

Frugivorismo: Nesta categoria, os frugívoros não só rejeitam a carne, como também evitam machucar ou matar os vegetais. Limitam-se apenas a comer aquilo que as plantas querem que seja comido: os frutos e as castanhas. Para eles o consumo de folhas, caules e raízes constituem uma violência. Igualmente, esta dieta não é saudável por ser pobre em proteínas, vitaminas e minerais.


O HOMEM DEVERIA SER VEGETARIANO

Questões de saúde

Por questões de melhor saúde e bem-estar humano o regime vegetariano é de longe muito mais favorável, visto a dieta vegetariana ser mais saudável do que a que inclui alimentos de origem animal depois de morto.

Se as pessoas pensassem na comida que põem no prato, ter vindo de um animal que foi transformado em cadáver, de certeza se recusariam a comê-la. A carne vermelha, embora digam ser magra, tem gordura, pois não há carne sem gordura, quer seja vermelha ou branca. A diferença entre uma e outra é que a vermelha, dos animais grandes, contem mais nutrientes e ferro, e a branca, das aves e peixes, por serem animais mais pequenos não precisam de tantos nutrientes e ferro.

Está provado cientificamente que quem come mais carne vermelha, tem muito mais probabilidades de contrair cancro e de sofrer enfartes do miocárdio, que são as maiores causas de morte no mundo. Nos Estados Unidos da América há muito tempo que vêm fazendo campanha para as pessoas consumirem menos carne vermelha e gordura animal, consideradas gorduras saturadas, pois estas contribuem para aumentar a taxa de colesterol, a principal causa dos ataques cardíacos. Norma essa que vem sendo adoptada pelo resto do mundo. Não obstante, na dieta mediterrânica nota-se uma taxa mais baixa de mortalidade, ainda que haja um consumo desenfreado de carne vermelha nos países mediterrânicos, pelo facto das pessoas seguirem uma dieta variada e consumirem também muitos vegetais frescos, azeite e vinho. Vários estudos têm revelado que os comedores de carne morrem mais de cancro do intestino, da boca, da faringe, do estômago, do seio e da próstata, em casos também aliados à escassa ingestão de vegetais e de legumes, e pelo substancial aumento de hidratos de carbono.

Não há dúvida de que poderemos ter uma alimentação saudável sem qualquer espécie de carne, e um vegetariano convicto, e bem informado, tende a prestar muita atenção ao que come, com todos os nutrientes necessários para manter uma vida saudável. Os vegetais fazem bem a toda a gente, quer seja vegetariana ou não. Mas uma coisa é certa, uma dieta rica em frutos, legumes e verduras reduz, sem dúvida nenhuma, as probabilidades de se contrair cancro do esófago, da boca, do estômago, dos intestinos, pulmões, laringe, além de evitar os ataques cardíacos. Ingerindo legumes amarelos e frutos que têm mais “caroteno”, podemos prevenir o cancro do estômago. A incidência de cancro da mama poderá ser evitada se a mulher ingerir soja, muito rica em “isoflavona”, e é também um bom substituto de “estrogénio”, além de ajudar a combater a osteoporose. A ingestão regular de alho na alimentação, para quem não for intolerante, poderá também ajudar a fortalecer o sistema imunológico, visto conter “alicina”. Entre todos os vegetais, a soja é naturalmente a mais rica e completa em proteínas e outros nutrientes.

As pessoas que adoptam o regime “ovo-lacto-vegetariano” não têm quaisquer problemas com as proteínas, uma vez que os produtos provenientes de animais, tais como o leite e todos os seus derivados, e os ovos, têm tantas proteínas como a carne. O único senão é que o leite e os ovos são pobres em minerais, tais como o ferro, fundamental para o equilíbrio da saúde. Todos sabem que sem ferro as células podem morrer, causando a anemia. Por isso, todos os vegetarianos desta categoria precisam de comer muitos vegetais variados, em especial os verdes, e a “soja”, feijão, brócolos, couve, espinafres, que são ricos em ferro. Sendo que o ferro dos vegetais é menos absorvido pelo corpo do que o de origem animal, a quantidade a ingerir destes vegetais deverá ser considerável, e as refeições deverão ser acompanhadas com sumo de laranja, porque a vitamina C ajuda na absorção do ferro. Além disso convém consumirem arroz integral e trigo integral ou Espelta (o trigo verdadeiro e muito proteico, por que o trigo que consumimos foi geneticamente modificado, cujo glúten é prejudicial a algumas pessoas que podem ser intolerantes ou celíacas), pois a casca destes grãos é muito rica em ferro.

No caso das pessoas que optam pelo regime “Vegan”, apesar de a sua dieta ser mais equilibrada, porque não comem produtos animais, isto é, os ovos, o leite e os seus derivados, a sua dieta tem um senão, por ser pobre em Vitamina B12, que é fabricada por bactérias, e pode ser encontrada nos animais que as comem ao pastarem. Contudo, esse assunto é fácil de resolver. Ou comem alimentos fortificados com as vitaminas do grupo B, tendo geralmente maior quantidade de B12, ou tomam um suplemento alimentar de Vitamina B12, visto o nosso corpo não a produzir, e é muito rara nos vegetais.

Em suma, ser vegetariano só traz benefícios. Se avaliássemos as consequências nefastas que a ingestão da carne traz à nossa vida, teríamos uma atitude completamente diferente. Essas consequências dão origem a inúmeras doenças, para além das já mencionadas, como a arteriosclerose, todos os tipos de doenças cardíacas, pedra nos rins, cirroses do fígado e diversos tipos de cancro, etc. A todas estas doenças tem sido estabelecida uma ligação à gordura animal e ao colesterol, assim como às toxinas que o animal liberta quando morre. Os animais não estão sempre saudáveis como parecem, e antes de morrerem segregam substâncias tóxicas. Por essa razão, quando ingerimos a carne do animal, também ingerimos os microrganismos e diversas toxinas.

De acordo com a Enciclopédia Britânica, os nossos corpos contêm ácido úrico e muitas outras toxinas que aparecem no nosso sangue e nos tecidos musculares do corpo. Se compararmos os 65% da mistura impura que contém um bife às proteínas obtidas pelas nozes, frutos secos, grãos e legumes, observaremos que estes últimos são notavelmente mais puros. A comida vegetariana é, na verdade, muito mais pura e adequada à alimentação do homem do que a carne, assim como mantém a sua frescura muito mais tempo e melhor que a carne.

Questões Económicas e Ambientais

Questões Económicas

Segundo o aspecto económico, haveria maior interesse na alimentação vegetariana, por ser muito menos dispendiosa mundialmente, além do que poderia alimentar uma parte da humanidade que não tem o que comer.

O homem, com a pecuária bovina, cria um ciclo vicioso ao estimular a monocultura de grãos, tais como a soja que depois são exportados para serem dados ao gado, quando serviria de recurso para combater a fome e alimentar uma humanidade vegetariana sem toxinas. Se o mundo fosse vegetariano, haveria lavouras mais diversificadas, sem a inseminação artificial de produção desenfreada de animais para se reproduzirem em série e servirem de grandes negócios e maiores lucros de interesses económicos. Todavia, o problema não se cinge só à comida! A pecuária consegue esgotar o planeta de outras formas, ocupando por exemplo uma grande área terrestre, que está cada vez mais a expandir-se. A necessidade de pastos está a aumentar e perigosamente se derrubam florestas para atender àquela necessidade.

Em países com solo rico, e onde grande parte da população é miserável e passa fome, a maioria dos alimentos produzidos destinam-se a sustentar o luxo da carne, quando a mesma só alimenta uma pequena parcela da população, que certamente não morreria de fome se a deixasse de comer, pois existem muitas fontes alternativas entre os grãos que alimentam os animais. Aliás, com os cereais produzidos para satisfazer a pecuária, especialmente a soja, rica em proteínas, seria possível alimentar mais de um terço da população mundial que passa fome.

Está provado que se os homens fossem todos vegetarianos não haveria tanta fome no mundo. Na verdade, os rebanhos consomem uma grande parte dos recursos da Terra. Por exemplo uma vaca num único gole consegue beber dois litros de água, o que pode perfazer o consumo de 100 litros de água por dia e para produzir um quilo de carne poderá gastar-se até quarenta mil litros de água. Não obstante, para se produzir um quilo de cereais só deveremos despender mil e trezentos litros de água. Vendo bem um quilo de qualquer vegetal pode custar menos que o custo de 200 litros de água. Para um mundo que está a sofrer grandes problemas com a falta de água, isso constitui uma grande diferença para o agravamento económico de alguns países.

Como todos sabemos, grande parte dos vegetais e grãos que se produz no mundo serve para alimentar os animais que depois consumimos. Paradoxalmente os homens plantam vegetais e grãos que poderiam servir para a alimentação da humanidade que anda a morrer de fome, e nutre com eles os rebanhos que depois irão comer, o que o torna mais primitivo do que os próprios animais que, afinal são vegetarianos.

Há quem refira que o problema de comer carne é imoral e que não temos o direito de matar para comer. Todavia, não basta apenas deixar de comer carne para acabar com a matança. Infelizmente existem muitos mais produtos no mercado que incluem animais mortos do que nós podemos imaginar.

Comecemos por citar que uma grande parte da indústria de vestuário depende dos animais. Temos o couro, que é a pele dos animais abatidos. Para separar o fio da seda é necessário ferver o bicho-da-seda. Os filmes fotográficos e do cinema são recobertos por uma gelatina extraída da canela da vaca. Um Vegan que seja radical terá agora ao menos a oportunidade de tirar fotografias digitais. Dos pés dos bovinos extraem-se substâncias usadas na espuma dos extintores de incêndio. O sangue do boi é usado para um fixador para tinturas e a sua gordura é usada para o fabrico de pneus, plásticos, detergentes, velas e no PVC. Muitos cremes de barbear, champôs, cosméticos e dinamite derivam da glicerina, substância que contém gordura bovina. Uma grande quantidade de medicamentos é feita com partes de órgãos de animais bovinos, que vai do pâncreas ao cordão umbilical e testículos.

Na indústria alimentar, além do bife, há um pouco das vacas em vários produtos, que não damos conta. A gelatina deve a sua consistência ao colagénio extraído da pele e dos ossos, ou da mão de vaca. Inclusive a pastilha elástica contem colagénio de vaca, como quase toda a comida elástica. Até os queijos não escapam, visto serem curados com uma enzima do estômago do bezerro. Muitos outros animais são usados pela indústria alimentícia, além do gado bovino.

Questões Ambientais e Ecológicas

No aspecto ambiental vemos claramente que até um único bife pode ter um impacto ambiental assustador.

No derrube de florestas e áreas de cultivo para servirem de pastos, os danos ambientais são devastadores e contribuem ainda para o aquecimento global do planeta, tendo como um dos principais causadores do problema de efeito de estufa, os gases de flatulência libertados pelos bois e ovelhas.

Poucos se apercebem também, que ao tornarem a criação de gado numa indústria, os animais reproduzem-se numa tal proporção que excedem em número os seres humanos na razão de três para um, provocando uma considerável ameaça ambiental. A esse respeito, o Instituto Mundial de Vigilância considera um perigo para a crescente desertificação causada não só por excesso de pastos, que tornam a terra dura e impermeável à chuva, mas também constitui uma ameaça mais séria causada pelo encarceramento de milhares de animais em propriedades de produção. Certo é que os dejectos dos animais destas propriedades poluem as águas subterrâneas dos poços, rios e lagos, devido ao nitrogénio que se escapa do estrume e se transforma em amónio, contribuindo para a chuva ácida. O citado Instituto menciona, igualmente, no seu relatório, que milhões de toneladas de gás metano, que constitui um factor importante para o efeito de estufa, são produzidos por animais, que se tornam vítimas indefesas de programas de criação artificial de gado.

No seu livro «Beyond Beef: The Rise and Fall of the Cattle Culture» (O que está para além da carne de vaca que comemos), Jeremy Rifkin salienta, que a apetência dos ocidentais pelo bife, dá origem à criação de desertos, destrói a atmosfera, envenena os sistemas de rega e provoca a devastação por outras formas. Ele refere também que não é só o gosto do homem pela comida carnívora que está a provocar a devastação, mas também a produção de cereais para alimentar o gado nos países ricos, que poderiam ser usados para alimentar uma grande quantidade de pessoas, que vivem na miséria noutros países pobres.

Questões Éticas e Espirituais

Há pessoas que são vegetarianas por razões religiosas e espirituais, tais como os Jainistas, os Hindus, os Budistas, os adventistas do sétimo dia e os espiritualistas. Outras são-no por razões filosóficas e espirituais tais como os Teósofos, que estudam Teosofia, membros ou não da Sociedade Teosófica e os Rosacrucianos da Fraternidade Rosa-cruz de Max Heindel. Teosofia é a Sabedoria Divina, a Religião de Sabedoria, de onde provêm todas as Religiões. A Teosofia, embora definida de várias maneiras, de acordo com as palavras de Helena P. Blavatsky, abrange um conhecimento simultaneamente científico, filosófico e religioso, que salienta a necessidade da ligação do homem com tudo o que existe no Universo. É o conhecimento que abarca tudo o que é fiel aos factos da Natureza, tudo o que corresponde à realidade da existência. Assim, sempre que a ciência expõe o que é verdadeiro, faz parte da Teosofia.

Ainda que as razões de saúde e ecológicas, já referidas, sejam de relevante importância, e das mais propagadas, a única razão importante para nos abstermos da alimentação carnívora é o respeito que devemos ter pela vida animal. Sob o ponto de vista Teosófico, os animais têm o mesmo direito à vida que o ser humano, de acordo com a sua própria natureza, em condições que lhe sejam naturais e agradáveis. Além , os direitos dos animais não devem ser rejeitados como se tratasse de uma preocupação de pessoas excêntricas ou como uma ameaça ao bem-estar da humanidade.

Uma das questões que são com frequência alvo de argumento, é de que as plantas também têm vida. Todavia, todo aquele que reconhece o princípio teosófico da unidade compromete-se em reduzir ao mínimo possível o dano que lhes possa causar. Sabemos que a planta tem vida, contudo, não possui cérebro nem sistema nervoso que lhe permita sentir a dor da mesma forma que os animais. A tradição antiga refere-nos que os santos homens dos tempos antigos se alimentavam apenas de frutos, pois mantinham o mesmo princípio de causar o menor sofrimento possível. Deveríamos, de facto, infligir o menor mal possível até às plantas, o que não é de maneira nenhuma razão para tratar os animais como objectos inertes e matá-los como se existissem apenas para satisfação do homem.

Na verdade, todo aquele que se propõe entrar num caminho espiritual sério, deverá, desde logo, pensar em alterar o seu modo de vida. Para isso terá de começar a fazer uma vida pura e limpa, cuidando não só do seu corpo físico como do espiritual. Quanto ao corpo físico, a primeira coisa a fazer é a alteração dos hábitos alimentares. Deixar de comer carne e peixe e seus derivados, depois dos animais mortos, e optar por uma alimentação vegetariana, a fim de se dar ao mesmo tempo uma purificação interior do corpo e da mente.

Embora não seja obrigatório ser-se vegetariano para entrar na Sociedade Teosófica e estudar Teosofia, um verdadeiro Teósofo deveria seguir esta linha, se pretende, de facto, ser coerente no seu estudo da Teosofia, para que se dê uma mudança completa que o leve à realização de um Novo Homem. Além disso, ao aprender essa doutrina, ele começa a compreender que os animais têm o mesmo direito à vida que o homem, porque também evoluem, e ao comê-los estão indirectamente a matá-los e a não deixá-los evoluir.

No entanto, a principal causa para que não matemos os animais para comê-los, é a compaixão que devemos ter por eles, que têm o mesmo direito à vida que o Ser humano por que, tal como o homem evolui individualmente, também os animais evoluem, embora o façam de forma colectiva. Matando-os para comer, ainda que de forma indirecta, não só contribuímos para a sua não evolução, como também damos um passo para o atraso na nossa própria evolução, provocando, também, um substancial aumento de agressividade.

O Indiano Osho, nascido em Madhya Paresh, professor catedrático de Filosofia na Universidade de Jabalpur, dedicado totalmente ao estudo da espiritualidade, fundou comunas e retiros de meditação em Poona, perto de Bombaim, e também no Oregon nos Estados Unidos. Grande defensor do vegetarianismo, realizou palestras por todo o mundo, em que mencionava ser vegetariano e gostaria que toda a gente no mundo se tornasse vegetariana. Ele referia que deveríamos criar uma regra de que nenhuma comida não vegetariana deveria fazer parte do cardápio das Universidades, porque matar e praticar a violência em nome da alimentação é tão mau e desumano, que não se pode esperar, que essas pessoas se comportem de uma maneira amorosa, sensível, humana. A alimentação não vegetariana é uma das causas básicas de toda a sociedade estar numa luta quase contínua. Ela torna o homem insensível, duro como uma rocha, e cria raiva e violência, que poderiam ser facilmente evitadas.

Osho mencionava que os seus discípulos eram vegetarianos, não como culto, não como uma crença, mas porque as suas meditações os tornavam mais humanos, mais sensíveis de coração, pois podiam perceber toda a estupidez que é matar seres sensíveis para comer. Era, na verdade, a sensibilidade deles, a consciência estética que os tornavam vegetarianos. Ele não ensinava o vegetarianismo, sendo que o mesmo é um subproduto da meditação. Afirmava ele, que por milhares de anos, sempre que a meditação acontecia, as pessoas se tornavam vegetarianas.

Tomemos como exemplo os Jainas, adeptos do Jainismo, uma das mais antigas e nobres religiões do mundo, que são vegetarianos há milhares de anos. Todavia, teremos de salientar que todos os seus 24 mestres vieram da casta de guerreiros, em que todos eles comiam carne, e eram guerreiros profissionais. No entanto, estas pessoas mudaram radicalmente as suas vidas assim que começaram a fazer meditação, que transformou por completo a sua visão. Então, aconteceu uma coisa extraordinária! Deixaram cair as espadas, assim como o seu espírito guerreiro, e um novo fenómeno começou a surgir, com um tremendo sentimento de amor para com a existência. Os Jainas tornaram-se absolutamente unos com o todo, e o vegetarianismo foi apenas uma pequena parte dessa grande revolução.

O Jainismo é a primeira religião que tornou o vegetarianismo uma necessidade fundamental para a transformação da consciência, e os seus seguidores estão certos. Na verdade, o acto de matar, apenas para comer, torna a nossa consciência pesada, insensível, e precisamos de ter uma consciência muito sensível, leve, amorosa e compassiva, porque sem se ser compassivo e amoroso estaremos a reprimir o nosso próprio progresso.

Aconteceu o mesmo com o Budismo. Buddha, que era vegetariano, ensinava os seus discípulos para não comerem carne, ainda que não se tratasse apenas de uma questão de reverência à vida. Era também uma questão de que se não estivermos repletos de reverência à vida, o nosso coração tornar-se-á enrijecido, tornando-se o amor falso, e a compaixão não passará de apenas uma palavra.

A preocupação de Gautama Buddha e de Mahavira era de que o ser humano não deveria comer apenas para viver. Ele deveria comer para crescer numa consciência mais pura. Um comedor de carne permanece inconsciente, acorrentado à terra, não podendo voar pelo céu da consciência. As duas coisas não podem coexistir, visto que, quando estamos a tornar-nos cada vez mais conscientes, se deixarmos de estar mesmo conscientes daquilo que estamos a fazer, apenas para satisfazer o paladar, torna-se impossível não matar. Podemos alimentar-nos de comidas vegetarianas deliciosas, pelo que o hábito de comer carne pode tornar-se completamente desnecessário e apodrecido do passado.

Porém, o mesmo não se pode dizer com o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo, que não são vegetarianos pela simples razão de que essas religiões nunca se depararam com a revolução que a verdadeira meditação profunda traz, pois infelizmente nunca se deram conta da mesma. Não obstante, tem havido grandes mudanças, sendo que em Israel, Tel-Aviv é, hoje, considerada a capital do vegetarianismo.

Para Osho o vegetarianismo não é a sua filosofia, mas sim um acessório, e não queria insistir nele, mas insistia na meditação. Sugeria que deveríamos estar mais alerta, mais silenciosos, alegres, extasiados para encontrarmos o nosso centro mais profundo, sendo que com isso muitas coisas se seguiriam por si mesmas, sem repressão, sem luta, sem esforço, nem tortura. Ele referia que a meditação era a única religião essencial, e tudo o que se seguiria era virtude, visto vir espontaneamente. Ao meditarmos, uma nova perceptividade e sensibilidade começam a crescer, e, desta forma não contribuiremos para a morte dos animais.

Há milhões de pessoas que nunca pensaram no vegetarianismo. Desde a infância que contribuem para o assassinato de animais. A humanidade perdeu o seu coração, para o que precisamos de trazê-la de volta à sua sensibilidade, que poderá torná-la vegetariana. Nascemos e crescemos em famílias que não se preocupavam com o que comíamos. Aceitávamos, desde o início, tudo o que nos era dado e acostumamo-nos com isso. Essa é uma das razões porque o maior número de iluminados aconteceu na Índia, pois este é o único País em que as pessoas são vegetarianas. No entanto, também existe na Índia pessoas que não são vegetarianas, todavia, nenhuma dessas foi iluminada.

O vegetarianismo funciona como uma purificação. Quando comemos animais, ficamos pesados e somos puxados mais para a terra. Ao contrário, quando se é vegetariano, sentimo-nos leves, e está-se mais sob a lei da graça, do poder, e começamos a ser elevados para o céu. O vegetarianismo significa: “não destrua a vida, pois vida é Deus”. Devemos evitar destruí-la, senão estaremos a destruir a própria ecologia. E há algo muito científico por detrás disso. Não é por acaso que todas as religiões e filosofias espirituais, que nasceram na Índia, são basicamente vegetarianas, e que todas as que nasceram fora da Índia não são vegetarianas. Os cumes mais elevados da consciência religiosa nasceram na Índia.

Pitágoras foi o primeiro a introduzir o vegetarianismo no Ocidente. É de uma grande profundidade o ser humano aprender a viver em irmandade com todas as criaturas. Essa é a base e é somente sobre essa base que podemos basear a nossa prece, a nossa meditação, pois se comemos carne ela torna-se mais difícil.

A contribuição de Pitágoras à filosofia ocidental é imensa e incalculável. Ele introduziu pela primeira vez o vegetarianismo no Ocidente. Sendo a ideia do vegetarianismo de imenso valor, ela está baseada na grande reverência à vida. A mente moderna pode agora entender isso de uma maneira muito melhor, pois sabemos que todas as formas de vida estão interligadas. O ser humano não é uma ilha, ele existe numa rede infinita de milhões de formas de vida e existência. Na verdade existimos numa corrente, não estamos separados, pelo que ao destruirmos outros animais não é apenas terrível e desumano, mas também não científico. Estamos a destruir a nossa própria fundação, já que a vida existe numa unidade orgânica, e o ser humano existe como parte desse conjunto.

O vegetarianismo não tem nada a ver com religião, ele é algo basicamente científico. Não tem nada a ver com a moralidade, mas muito a ver com a estética. É inacreditável que um ser humano de sensibilidade, de consciência, de compreensão e de amor possa comer carne. E, se ele puder comer carne, então está a faltar alguma coisa. Ele ainda está inconsciente nalguma dimensão do que está a fazer, inconsciente das implicações dos seus actos.

Infelizmente, Pitágoras não foi ouvido, e não foi acreditado. Pelo contrário, foi ridicularizado e perseguido, embora tenha trazido um dos maiores tesouros do Oriente para o Ocidente, e uma grande experiência. Se ele tivesse sido ouvido, o Ocidente poderia ter-se tornado num mundo totalmente diferente.

Não podemos mudar a consciência humana a menos que comecemos a mudar o corpo humano. Quando comemos carne, estamos absorvendo o animal em nós, e o animal precisa de ser transcendido. Temos de evitar isso! Tentemos então ser vegetarianos e ficaremos surpresos. A meditação torna-se mais fácil, o amor torna-se mais subtil e perderemos a nossa rudeza. Começamos a tornar-nos mais sensíveis, menos sensuais, e o nosso corpo começará também a possuir uma vibração diferente. Tornar-nos-emos mais graciosos, mais suaves, menos agressivos e mais receptivos. O vegetarianismo origina uma mudança alquímica em nós, ele cria o espaço no qual o metal básico pode ser transformado em ouro.

Além destas questões aqui mencionadas, há ainda as de como o vegetarianismo é visto numa perspectiva Teosófica, o direito dos Animais, e as razões Ocultas.

De acordo com as razões Ocultas, há um trecho do livro de RAMATIS “Magia da Redenção”, em que ele nos faz uma grande advertência, de que «… a Terra, a partir do III Milénio será promovida a uma Escola Planetária ginasial, que requer a inscrição de alunos libertos de injunções instintivas e primárias da animalidade inferior. Ele continua a advertir os homens da Terra da sua tremenda responsabilidade espiritual pelo derramamento de sangue de animais e aves, nos matadouros, frigoríficos, chacinas e açougues, cuja barbárie civilizada gera lancinante karma humano, e se torna a principal fonte de infelicidade terrena.

Pois, enquanto, o sangue do irmão menor verter de forma tão cruel, na face da Terra, os espíritos desencarnados também terão farto fornecimento de ‘tónus vital’, para a prática nefanda do vampirismo, obsessão e feitiçaria. Sob a justiça implacável da Lei do Karma, a quantidade de sangue vertida pelos animais e aves, resulta pela acção reflexa, em igual quantidade de sangue humano jorrado em lutas fratricidas nos morticínios das guerras e guerrilhas! «Cada matadouro construído no mundo proporciona a encarnação de um ‘Hitler’ ou ‘Átila’, verdadeiros flagelos, semeadores de sofrimento da humanidade, como executores inconscientes da Lei Kármica. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória! A guerra jamais será eliminada da face da Terra, enquanto explorardes a ‘indústria da morte’, mediante esses abomináveis matadouros e frigoríficos de aves e animais, pois, estes, tal como os homens são filhos do mesmo Deus e criados para a mesma felicidade. A Divindade não seria tão austera e injusta, permitindo, que o homem dito racional, seja feliz, enquanto massacrar o irmão menor, indefeso e serviçal, pois ele também sente!

Extraído do livro “MEDICINA NATURAL”, Parte II - “O Vegetarianismo e os seus Benefícios”, de Lubélia Travassos. (Dezembro 2022). Publicações Maitreya.
   


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Impresso em 29/3/2024 às 7:16

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