Da consciência
de Diogo Castelão Sousa em 23 Jan 2023 Consciência é ‘relação’. A forma como nos relacionamos com os outros e connosco mesmos define a totalidade da nossa consciência. Consciência é uma realidade que pode ser vista sob dois grandes prismas, nomeadamente a faculdade perceptiva e a ética. Ao amalgamar estes dois princípios num só, obtemos aquilo a que podemos denominar ‘relação’, precisamente essa que detemos com a vida.
Tal evidencia, desde já, interação entre dois polos. O primeiro, já enunciado, é a matéria ou mundo onde habitamos. O segundo, nesta relação, traduz-se por aquilo que somos, ou seja, algo indefinível, mas que podemos traduzir por Espírito ou Essência. Assim, o Espírito relaciona-se com a Matéria através da Consciência. Esta consciência tem a capacidade de se expandir e atingir um nível que a transfigura em autoconsciência. Autoconsciência significa o reconhecimento inteligente da relação que detemos com a vida. A autoconsciência distingue o ser humano dos restantes animais e reinos num grau qualitativo, dado que, embora possuam formas rudimentares de consciência, não demonstram sinais de autoconsciência. Contudo, tal não invalida que, de um certo ponto de vista ou parâmetro, em comparação com seres de índole evolutiva superior, o ser humano se assemelhe a um ser ‘inferior’ e, como tal, apresente ainda um percurso a ser trilhado evolutivamente. ‘Consciência’ é a realidade que se torna irredutível a conceitos, dado ser impalpável, invisível, anterior aos objetos dos sentidos, fazendo parte do próprio sujeito. Pode-se descrever essencialmente através da sua correlação com o aspeto energético do ser, a sua energia individual. Cada consciência representa um vórtice de energias, dado que a ‘relação’ que detemos com a vida gera forças e polaridades particulares. Assim, há quem equivale o termo ‘Consciência’ a ‘Alma’, que se define por um núcleo de forças que sintetizam e individualizam a relação que o Espírito tem com a vida por determinado ‘canal’. Essa individualidade não é, contudo, estática, podendo ser metamorfoseada, dado que nesta acepção do termo, ‘alma’ trata-se de uma energia dinâmica, capaz de ser ‘modelada’ por diferentes formas. Tal indicia, de certo modo que cada um poderia, pela sua própria força de vontade, fazer renascer em si mesmo uma consciência nova e inteiramente desperta, não invalidando ações passadas, mas recriando por inteiro o futuro à sua frente. Por outro lado, a alma ou consciência enferma é aquela que se esquece da sua origem, ou Espírito que a antecede. Como tal, no caso das relações humanas, com especial incisão no tema da Mulher, acontece aquilo a que denominamos ‘objetificação’. Objetificação é o ato de ver em outrem não um ‘sujeito’ ou Espírito, mas um ‘objeto’ ou materialidade. É constatar o lado físico sem divisar o domínio do espírito, ou luz que vive dentro do ser. No mundo das aparências é fácil esquecer o Espírito encapsulado na matéria e, como tal, o ser humano vê-se no direito de abusar ignorantemente dos outros, justamente porque não encontra ou descobre em si mesmo o Espírito ou Essência que mora nele. A memória do Espírito atinge-se primeiro pela autoconsciência; o reconhecimento de que sou um ser dotado de consciência e escolha. A consciência de Deus equivale posteriormente ao reconhecimento daquilo que reside antes da consciência humana. O Espírito não é conceptualizável, mas intuível pelo mero facto de haver ‘algo’ que antecede a consciência individual, que é maior do que a mera individualização do ser. A consciência é, portanto, uma ponte, um meio e um veículo para o reconhecimento do Espírito, estado impassível de unidade, que experiencia o mundo terreno, das formas ou aparências através dela. Neste sentido, quando se adquire “mais consciência”, mais perto estamos da Realidade Última. Quando nessa relação contemplativa se introduz a calma e equanimidade (através da meditação), o silêncio e a quietude penetram a consciência, aproximando o ser do seu Criador pela afinidade de ‘atributos’. Aquele que atinge a impassibilidade na consciência humana aproxima-se da impassibilidade do Espírito. Autoconsciência significa, portanto, a percepção e o domínio dos próprios mecanismos e funcionamentos da mente, incluindo a percepção da forma como o sofrimento opera, cessa e dá lugar à paz de espírito. Aqui se intui como a responsabilidade ética está ligada à evolução da consciência, pois cada vez mais o ser humano intui que em estágios superiores a qualidade de vida não depende do aperfeiçoamento de condições externas, mas da evolução do seu estado de consciência ou alinhamento interno. Consequentemente, no espectro mais elevado, a consciência de Cristo traduz-se pelo arquétipo da relação ideal a ter perante a Vida, ou seja, a relação que emana do Amor e Sabedoria, espelhos do Criador; enquanto que no nível mais baixo, inferior, encontra-se o caos ou a relação que deturpa e prejudica o universo ou faixa de existência onde o ser se insere. É através desta autoconsciência que se decifram os mistérios da existência, as suas dimensões e níveis mais subtis, onde estão localizados os maiores desígnios. Este é o mistério da Consciência. |
® http://www.fundacaomaitreya.com Impresso em 13/10/2024 às 10:43 © 2004-2024, Todos os direitos reservados |