Fundação Maitreya
 
Sobre o Serviço

de Manuel Cavaco Nunes

em 12 Jul 2023

  É um impulso da alma e é tanto um impulso evolutivo da alma quanto o instinto da própria conservação ou da reprodução das espécies é uma demonstração da alma animal. Esta é uma declaração importante. É um instinto da alma, se nos permitem uma expressão tão inadequada e é, portanto, inato e peculiar ao desenvolvimento da alma. É a característica predominante da alma, exatamente como o desejo é a característica da natureza inferior. É um desejo de grupo do mesmo modo que na natureza inferior é o desejo da personalidade. É um impulso para o bem do grupo. Não se pode, portanto, ensiná-lo a qualquer pessoa como uma desejável evidência de aspiração, atuando do exterior, e com base numa teoria de serviço. É simplesmente o primeiro efeito real, evidenciado no plano físico, do fato de que a alma está começando a expressar-se externamente. Nem a teoria, nem a aspiração farão nem podem fazer de um homem um servidor verdadeiro. Então, por que se levam a cabo tantas atividades de demonstração de serviço no mundo?

Como definir a palavra "Serviço"?
A definição desta palavra não é fácil. Tentou-se muitas vezes fazê-lo segundo o ângulo da personalidade. O serviço pode-se definir abreviadamente como o efeito espontâneo do contato com a alma. Este contato é tão nítido e definido que a vida da alma pode fluir através do instrumento que ela deve utilizar forçosamente no plano físico. É a maneira como a natureza da alma se pode manifestar no mundo da atividade humana. O serviço não é qualidade ou uma ação; nem uma atividade em que as pessoas se devam esforçar vigorosamente, nem um método para salvar o mundo. Deve-se compreender claramente esta distinção, porque do contrário será falsa a atitude sobre esta transcendente demonstração da vida.

É um impulso da alma e é tanto um impulso evolutivo da alma quanto o instinto da própria conservação ou da reprodução das espécies é uma demonstração da alma animal. Esta é uma declaração importante. É um instinto da alma, se nos permitem uma expressão tão inadequada e é, portanto, inato e peculiar ao desenvolvimento da alma. É a característica predominante da alma, exatamente como o desejo é a característica da natureza inferior. É um desejo de grupo do mesmo modo que na natureza inferior é o desejo da personalidade. É um impulso para o bem do grupo. Não se pode, portanto, ensiná-lo a qualquer pessoa como uma desejável evidência de aspiração, atuando do exterior, e com base numa teoria de serviço. É simplesmente o primeiro efeito real, evidenciado no plano físico, do fato de que a alma está começando a expressar-se externamente.
Nem a teoria, nem a aspiração farão nem podem fazer de um homem um servidor verdadeiro. Então, por que se levam a cabo tantas atividades de demonstração de serviço no mundo?

Simplesmente porque a vida, as palavras e as obras do primeiro Grande Servidor do Mundo, Aquele que veio fazer-nos ver claramente o que é essencialmente o serviço, produziram efeitos e os homens hoje tentam sinceramente imitar o Seu exemplo, sem compreenderem bem que a imitação não os conduz a verdadeiros resultados, mas apenas indica uma possibilidade crescente.

Todas estas leis da Alma (e a Lei do Serviço não é uma exceção) manifestam-se inevitavelmente de duas maneiras. Primeiro, há o efeito sobre o indivíduo. Isto sucede quando se estabeleceu definitivamente contato com a alma e o seu mecanismo começou a responder. Tal fato já se deveria evidenciar agora entre os estudantes esotéricos, disseminados pelo mundo, porque chegaram ao ponto em que o verdadeiro servidor pode sair das suas fileiras e dar prova de ter estabelecido contato com a alma. Segundo, essas leis da alma começam a ter efeito grupal na própria humanidade e a influenciar a raça humana como um todo. Este efeito tem, em certa medida, a natureza de um refletor sobre a natureza de uma consciência superior e, por conseguinte, procura-se hoje com muito afinco poder servir e assim se realizam tantos esforços filantrópicos. Tudo isto, ainda assim, está colorido profundamente pela personalidade e frequentemente produz muitos danos, porque as pessoas procuram impor as suas ideias de serviço e as suas técnicas pessoais aos outros aspirantes. Talvez se tenham tornado sensíveis à impressão, mas muitas vezes interpretam mal a verdade e são influenciados pelos objetos da personalidade. Devem aprender a pôr ênfase no contato com a alma e em uma familiarização ativa com a vida egoica e não com o lado forma do serviço.

Queria pedir àqueles que respondem a estas ideias e que são sensíveis à impressão da alma (muitas vezes interpretando mal a verdade, preconcebidos pelos fins da personalidade) que ponham em relevo o contato com a alma e não o aspeto forma do serviço. A atividade ao lado forma põe ênfase sobre a ambição da personalidade, dissimulando-a pelo véu da miragem do serviço. Se pusermos cuidadosa atenção na essência do serviço - contato com a alma - e o tivermos alcançado, então o serviço prestado fluirá espontaneamente, correto e com bons frutos. Deste fato, o serviço desinteressado e profundo fluxo de vida espiritual, como foi demonstrado ultimamente no trabalho mundial, é uma indicação esperançosa.

Qual é o campo desta ciência e por que é chamada ciência?
Vamos considerar agora o campo onde se desenrola o serviço e a sua natureza como ciência.
O campo do serviço é antes de tudo a manifestação da vida do Espírito, operando na esfera da própria natureza humana. A primeira coisa que a alma tem a fazer quando se estabelece contato com a mesma e o homem a reconhece na consciência do seu cérebro, e devido à impressão ativa da mente, é conseguir que tome consciência de que ele é, de fato, um princípio vivente da divindade e depois prepare sua tripla natureza inferior para que esta se submeta automaticamente à Lei do Sacrifício. Então ela não será impedimento para a vida que deve jorrar através dele, e o fará. Esta é a primeira e a mais difícil tarefa e nela estão empenhados atualmente os aspirantes do mundo. Será que não indicará o ponto de evolução alcançado pela maioria? Quando o ritmo desta lei tiver sido imposto e o ímpeto natural do homem se tornar uma expressão da alma, e quando este ritmo se tornar natural e habitual, então o homem começará a "permanecer em estado de ser espiritual" e a vida que jorra através dele, suave e naturalmente, exercerá o seu efeito no seu meio ambiente e nos seus associados. A este efeito pode-se chamar "vida de serviço".

Pôs-se muita ênfase sobre o processo pelo qual a natureza inferior deve ser subjugada à Lei do Serviço superior e desenvolveu-se a ideia de sacrifício, nas suas piores implicações. Esta ideia insiste no choque inevitável e necessário entre a natureza inferior que age sob as suas próprias leis e os aspetos superiores que atuam segundo as leis espirituais. Então o sacrifício do inferior para com o superior assume grandes proporções e a palavra sacrifício torna-se perfeitamente apropriada. Há sacrifício. Há sofrimento. Há um processo de desapego. Há um prolongado esforço para permitir que a vida flua, enquanto que, firmemente, a personalidade interpõe barreiras e obstruções, uma após outra. Esta etapa e atitude podemos vê-la com simpatia e compreensão, pois há muitos que possuem tanta teoria sobre o serviço e a sua expressão, que falham ao prestá-lo e carecem de compreensão para entender o período de sofrimento que sempre precede toda a ampliação do serviço. As suas teorias bloqueiam-lhes o caminho para a verdadeira expressão e fecham a porta à compreensão do real. O elemento mental está demasiado ativo.

Quando o eu inferior se subordina aos ritmos superiores e obedece à nova Lei de Serviço, então a vida da alma começa a fluir através do homem e chega aos outros, e o efeito que produz na família e no seu grupo imediato será o de demonstrar uma verdadeira compreensão e uma assistência real. À medida que a corrente de vida se fortalece pela prática, o efeito propaga-se do pequeno grupo familiar à vizinhança. Tornam-se então possíveis contato cada vez mais vastos, até que com o tempo (se várias vidas tiverem sido assim gastas sob a Lei de Serviço), o efeito do derramamento do fluxo de vida pode-se verificar sobre a nação e no mundo. Mas isto não foi assim previsto nem se procura impor como um fim em si mesmo. Será uma expressão natural da vida da alma, adquirindo forma e direção conforme o raio a que pertença o homem e a expressão das vidas passadas do indivíduo; será colorida e ordenada pelas condições do ambiente - tempo, período, raça e idade. Será um fluxo vivente, uma entrega espontânea, e a vida, o poder e o amor assim manifestados, provenientes dos níveis da alma, possuirão uma força poderosa e atrativa sobre as unidades do grupo com as quais o discípulo se põe em contato nos três mundos de expressão da alma. Não há outros mundos atualmente em que a alma se possa expressar desta forma. Nada poderá reter ou interromper o poder desta vida de serviço natural e amoroso, exceto nos casos em que a personalidade procura interpor-se no caminho. Quando assim sucede, os Instrutores do lado interno da vida entendem que o serviço se altera e se deforma no negócio. Transforma-se em ambição, num esforço para fazer com que os outros sirvam como pensamos que o serviço deva ser prestado, num amor ao poder que impede o verdadeiro serviço, em vez de ser amor por nossos semelhantes. Há um ponto perigoso em cada vida, quando a teoria do serviço é reconhecida e a lei superior compreendida; porque então, devido à qualidade imitadora da personalidade, à sua natureza simiesca e ao ardor de um elevado grau de aspiração, pode facilmente confundir a teoria com a realidade, e os gestos externos da vida de serviço pela natural e espontânea corrente de vida da alma que flui através do seu mecanismo de expressão.

É necessário ter uma constante e crescente sutileza de discriminação e todos os estudantes dedicados são convidados a fazer o seu próprio inventário nesta altura. Estão em presença de um novo ciclo de serviço e devem valer-se de um novo dia de oportunidade. Há uma grande necessidade em permanecer no ser espiritual; onde há este equilíbrio, permanentemente, não haverá necessidade que outros os incitem ao serviço. Deixem fluir as "Forças de Luz" e as fileiras dos servidores do mundo aumentarão rapidamente. Permitam que o "Espírito de Paz" utilize a natureza inferior como instrumento, e reinarão a paz e a harmonia no campo do serviço pessoal. Permitam que o "Espírito de Boa Vontade" domine nossas mentes e não haverá lugar para a crítica e difusão de controvérsias destruidoras. É por esta razão, e com o fim de desenvolver um grupo de servidores que possam trabalhar segundo as linhas reais e espirituais, que se deve dar uma ênfase crescente à necessidade da Inofensividade. A inofensividade prepara o caminho para que a vida flua; faz desaparecer os obstáculos que se opõem à livre difusão do amor; a inofensividade é a chave que libera a natureza inferior das garras da ilusão mundial e do poder da existência fenomenal.

Expressamos a nossa convicção de que uma das mais importantes ciências da Era que agora começa se desenvolverá em torno da prestação ativa do serviço. Usamos a palavra "Ciência" porque o serviço, como qualidade espiritual, será rapidamente reconhecido como expressão fenoménica de uma realidade interior, e à medida que se avance em correta compreensão do serviço, muitas coisas sobre a natureza da alma se revelarão. O serviço é um método que produz resultados fenoménicos externos e tangíveis no plano físico. Chamo atenção para isto como prova de sua ativa qualidade criadora. Em virtude desta qualidade, o serviço será considerado como uma ciência mundial. É uma ânsia criadora, um impulso criador, uma formidável energia criadora. Esta criatividade do serviço foi já vagamente reconhecida no mundo das questões humanas sob diversos nomes como, por exemplo, o da ciência de orientação profissional. Já se reconhece o impulso proveniente da compreensão correta e do estado das relações sociais. Estuda-se também muito o aspeto em relação à criminologia e à orientação da juventude em todas as nações e grupos nacionais.

O serviço é por excelência, a técnica das corretas relações de grupo, quer seja na orientação de se tratar uma criança antissocial numa família, quer se trate da inteligente assimilação de um desordeiro num grupo, na manipulação de grupos antissociais nas nossas grandes cidades, na técnica correta a empregar na orientação das crianças dos nossos centros educativos ou na relação entre as religiões e partidos políticos, ou ainda entre nações. Tudo isto faz parte da nova e crescente Ciência do Serviço. A imposição desta lei da alma projetará, com o tempo, luz sobre um mundo perturbado e canalizará as energias humanas nas direções convenientes. Não é possível dar aqui mais do que estas breves indicações. O assunto é muito vasto, pois inclui o despertar da consciência espiritual com as suas responsabilidades, e a integração do indivíduo num grupo despertado; implica também a imposição de um novo ritmo mais elevado aos assuntos mundiais. Por conseguinte, constitui um esforço decididamente científico e impõe a atenção das melhores mentalidades. Além disso, deveria também vivamente atrair o esforço consagrado dos discípulos do mundo.

Quais são as características do verdadeiro servidor?
Estas características podem ser fácil e sucintamente apresentadas. Não são exatamente aquelas que nos fizeram crer que eram. Não me refiro aqui às qualidades requeridas para se trilhar o Caminho do Discipulado ou o Caminho Probatório. Estes são bem conhecidos. São os lugares comuns da vida espiritual e constituem o campo de batalha, ou o Kurukshetra, da maior parte dos aspirantes. Referimo-nos aqui às qualidades que aparecerão no homem quando atuar de acordo com o impulso da Lei do Serviço. Manifestar-se-á quando ele se tornar um verdadeiro canal para a vida da alma. As suas características principais são:

1 - Distinguir-se-ão, como se poderia esperar, pela qualidade da inofensividade e pela abstenção ativa da prática de atos ou palavras que possam ferir ou causar alguma incompreensão. Não prejudicará o seu grupo por palavra, sugestão, implicação, insinuação ou algo que produza descontentamento. Reparem que não digo "não ferirá qualquer indivíduo". Os que trabalham sob a Lei do Serviço não necessitam de ser lembrados de que nenhum indivíduo deve ser ferido. Frequentemente necessitam, sob a exuberância do estímulo espiritual e a intensidade de sua aspiração, de serem lembrados para demonstrar a inofensividade grupal.

2 - A segunda característica é a de permitir que os outros sirvam como melhor lhes parecer, pois é sabido que a vida que flui através do servidor individual deve encontrar os seus próprios canais e expressões, e a direção dessas correntes pode ser perigosa e impedir a execução do serviço projetado. Os esforços do servidor serão orientados em duas direções:
a - Ajudar os outros a "permanecer no ser espiritual", como ele próprio está aprendendo.
b - Ajudar o indivíduo a expressar o seu serviço no campo por ele escolhido, tal como é seu desejo e não como o assistente que o acompanha julga que ele o deva fazer.
Pode-se aqui aclarar um ponto. A tarefa dos que trabalham hoje no mundo sob a Lei do Serviço não é exercida, primariamente, por esse grupo que atua hoje no mundo sob o efeito da resposta geral a que fizemos referência acima. Esses efeitos são facilmente dirigidos para as atividades que, em seu conjunto, conhecemos como trabalho filantrópico, experiências educacionais ou assistência social na vida da comunidade. O nome dos que respondem a estes impulsos é legião e a vontade de servir dessa particular maneira não precisa de estímulos. Isto é perfeitamente evidente na admirável resposta dada às diversas campanhas de boa vontade. Mas o trabalho do novo tipo do servidor é dirigido para aqueles que estabeleceram contato com as suas almas e, portanto, prepararam-se para trabalhar sob a nova Lei de Aquário. Isto gira à volta da capacidade de permanecer não apenas "no ser espiritual", mas também na capacidade de trabalhar em conjunto com outros, em trabalho subjetivo, telepático e sintético. Esta diferença merece cuidadosa atenção porque pode-se facilmente fazer malograr esforços ao pretender alguém introduzir-se em campos já suficientemente organizados e atendidos, a julgar pelo que já tenham alcançado as unidades que agem em tais campos.

3 - A terceira característica do novo servidor é a qualidade de ser alegre. Esta toma o lugar do espírito crítico (o terrível criador da miséria); é o silêncio que ressoa.
Seria bom que refletissem sobre estas últimas palavras, porque o seu verdadeiro significado não se pode exprimir por palavras, mas apenas por meio de uma vida dedicada aos novos ritmos e ao serviço do todo. Então aquele "alegre som" e aquela "ressoante alegria" podem fazer pressentir o seu verdadeiro significado.

A Lei de repulsão e do desejo.
Vamo-nos ocupar, neste capítulo, do problema principal da humanidade. Contudo, tocaremos no tema muito abreviadamente e trataremos mais particularmente do aspeto, dele, que transfere o problema no que tange ao aspirante, para o problema do discípulo. Subjacente ao problema psicológico da humanidade tomada como um todo, encontra-se a atitude máxima em face da existência e que caracterizamos como Desejo. É sobre este impulso fundamental que estão baseadas todas as complexidades de menor importância, e a ele subordinadas, ou melhor, emergindo dele. Freud chamou a este impulso "sexo" - que, entretanto, é apenas outro nome dado ao impulso de atração pelo não-eu. Outros psicólogos falam desta atividade predominante como "a vida de desejo" da humanidade e explicam todas as tendências e características afins, todas as reações emocionais e tendências da vida mental em termos de desejos latentes, aspirações ardentes e aquisitivas, como "mecanismos de defesa" ou "meios de escape" à inevitabilidade das condições circundantes. A estas aspirações e desejos, e ao trabalho que comporta a sua realização, todos os homens dedicam a sua vida; tudo o que se faz representa um esforço com vistas a satisfazer à necessidade sentida, a fazer face ao desafio da existência com o seu anseio de felicidade, de céu e finalmente de alcançar um estado ideal esperado.

Tudo está governado por uma certa forma de necessidade urgente de satisfação e isto distingue a busca do homem em cada estágio de seu desenvolvimento - quer se trate do impulso instintivo da autoconservação, como se observa no selvagem, na conquista do sustento, ou nos problemas econômicos do homem moderno e civilizado; quer seja da necessidade da procriação e da satisfação do apetite demonstrado hoje na complexidade da vida sexual da raça; quer seja o desejo de ser popular, amado e estimado; ou pela ânsia do prazer intelectual e da apropriação mental da verdade; ou ainda pelo desejo profundamente arraigado de alcançar o céu e o descanso que caracteriza o cristão; ou a aspiração para obter a iluminação que constituiu o pedido do místico; ou o anelo para identificar-se com a realidade, como é "desejo" do ocultista. Tudo é desejo sob uma ou outra forma e é por estas necessidades que a humanidade está governada e controlada. Diria melhor que ela está definitivamente controlada, pois isto é uma simples definição do caso.

A compreensão desta inclinação fundamental ou fator controlador do homem encontra-se por detrás dos ensinamentos dados por Buda e estão personificados nas Quatro Nobres Verdades da filosofia budista, que podem resumir-se da seguinte maneira:
As Quatro Nobres Verdades
a) A existência no universo fenoménico é inseparável do sofrimento e da tristeza.
b) A causa do sofrimento é o desejo da existência no universo fenoménico.
c) A cessação do sofrimento alcança-se pela eliminação do desejo da existência fenoménica.
d) O Caminho que conduz à cessação do sofrimento é o nobre caminho óctuplo.

Foi a conscientização da urgente necessidade de se libertar o homem da sua natureza de desejos que levou o Cristo a insistir na necessidade de procurar o bem dos nossos semelhantes em vez do próprio bem, e a aconselhar a vida de serviço e do auto-sacrifício, do esquecimento-próprio e do amor para com todos os seres. Só neste caminho a mente e o "olho do coração" do homem podem afastá-lo das suas próprias necessidades e satisfazer as demandas mais urgentes da própria raça.
Enquanto o homem não se encontra no Caminho da Perfeição não pode captar realmente a demanda imperiosa da sua própria alma para libertar-se da procura de satisfações externas materiais, tangíveis e do desejo. Foi esta demanda que indicou a necessidade de a alma encarnar e de atuar, durante um período determinado, segundo a Lei da Reencarnação. À medida que o trabalho de pureza prossegue no Caminho da Purificação, esta demanda para a libertação toma-se mais forte e clara e, quando o homem acelerar os passos no aminho do Discipulado, então a Lei de Repulsão, pela primeira vez, poderá começar a controlar as suas reações. A princípio, isto produz-se inconscientemente, mas à medida que o discípulo vai recebendo as iniciações, aquela lei age mais poderosamente e aguça cada vez mais a sua compreensão.

Não temos a intenção, aqui, de nos ocuparmos do desenvolvimento do homem não evoluído e pouco desenvolvido em relação com as Leis da Alma. Procuro apenas desembaraçar o caminho do homem muito inteligente, dos aspirantes e dos discípulos do mundo. O progresso do homem não desenvolvido e do homem comum pode ser englobado no enunciado que segue e pela ordem apresentada, e que descreve os sucessivos estágios do seu progresso, sob o aguilhão do desejo:

1- O anseio de experimentar, existir e satisfazer a natureza instintiva.

2- A experiência, a ganância, a existência, seguidas de renovada exigência para a satisfação de mais complacência da sorte ou destino.

3- Ciclos sucessivos de exigências destas satisfações, um período de satisfação de caráter temporário, depois seguido de novas pretensões. Tal é a história da raça.

4- A experiência firme e constantemente procurada nos três planos da evolução humana.

5- A mesma experiência, mas desta vez como personalidade integrada.

6- A demanda é satisfeita até à saciedade, porque com o tempo todos os homens acabam por atingir o que desejam.

7- Depois vem a demanda de satisfações espirituais internas, de felicidade e de bem-aventurança. O "desejo celeste" torna-se poderoso.

8- Uma vaga compreensão de que duas coisas são necessárias: a purificação e a faculdade de escolher corretamente o que constitui a justa discriminação.

9- A visão dos pares de opostos.

10- O conhecimento do caminho estreito que se estende entre estes pares de opostos.

11- O discipulado e a repulsão ou repúdio (durante um largo período de tempo) do não-eu.

Tal é a abreviada e insuficientemente enunciada história do homem quando procura a felicidade, a alegria e a bem-aventurança, ou melhor (expressando em termos de realização) como ele progride da vida do instinto, passando para a vida do intelecto e, depois, desta apreensão intelectual até o estágio da iluminação e final identificação com a realidade, quando, daí em diante, ele se liberta da Grande Ilusão.

Duas coisas determinam a rapidez com que se pode - no Caminho do Discipulado - fazer atuar a Lei de Repulsão. Uma é a qualidade do seu motivo. Só o desejo de servir é suficiente para provocar a reorientação e a sujeição necessária à nova técnica da existência. A outra é a espontaneidade, para, a todo o custo, obedecer à luz que está nele e à sua volta. O serviço e a obediência são os grandes métodos de libertação e constituem as causas subjacentes que farão atuar a Lei da Repulsão, ajudando assim o aspirante a alcançar a anelada libertação. O serviço liberta-o de sua própria vida de pensamento e autodeterminação. A obediência à própria alma integra-o no todo maior, no qual seus próprios desejos e impulsos são negados, no interesse da vida mais vasta da humanidade e do Próprio Deus. Deus é o Grande Servidor e expressa a Sua vida divina por meio do Amor que sente no Seu coração pela humanidade.

Contudo, quando estas simples verdades são enunciadas e nos instam a servir ao irmão e obedecer à nossa alma, parece-nos coisa tão familiar e tão pouco interessante que só uma fraca resposta ecoa em nós. Mas se nos disserem que determinada meditação, praticada com uma definida fórmula de respiração e acompanhada de uma concentração regular sobre um centro específico, nos libertaria da roda da vida e nos identificaria com o eu espiritual e o seu mundo de ser, com que prazer, voluntária e alegremente, seguiríamos essas instruções. Mas quando, em termos de ciência ocultista, nos dizem que devemos servir e obedecer, não estamos tão interessados. Não obstante, servir é o método por excelência, a forma de despertar o centro cardíaco; e a obediência é igualmente potente para evocar a resposta dos dois centros da cabeça ao impacto da força da alma e para unificá-los num só campo de reconhecimento da alma. Como os homens compreendem tão pouco a potencialidade dos seus impulsos! Se o impulso para satisfazer o desejo é o estímulo fundamental da vida da forma do homem, também o impulso de servir é igualmente um estímulo fundamental da alma. Este é um dos enunciados mais importantes neste capítulo. Raras vezes é satisfeito. Contudo, sempre se encontram indicações de sua presença, mesmo até entre os seres humanos mais indesejáveis; e é evocado nos momentos cruciais do destino, ou em momentos de premente necessidade e de dificuldade suprema. O coração do homem é são, mas em geral está adormecido.

Servir e obedecer! Eis as palavras de ordem da vida do discípulo. Deturparam estas palavras com propaganda fanática e produziram fórmulas de filosofia e teologia religiosa; mas essas fórmulas velam ao mesmo tempo uma verdade. Foram também apresentadas ao exame dos homens como devoção à personalidade e obediência aos Mestres e aos dirigentes, em vez de serviço e da obediência à alma de todos os homens. Contudo, a verdade emerge constantemente de forma segura e deve inevitavelmente triunfar. Logo que o aspirante no Caminho Probatório tenha obtido a visão dela (por mais ligeira que seja), então a lei do desejo que o governou durante muito tempo, cederá lugar, lenta, mas seguramente, à Lei de Repulsão que, com o tempo, o libertará da escravatura do não-eu. Isto o conduzirá à prática da discriminação e da ausência de paixão (despaixão - imparcialidade) que são características do homem que está no caminho da libertação.

Recordemos, todavia, que um discernimento fundamentado numa determinação de ser livre e uma ausência de paixão - que é a indicação de um coração duro- aprisionarão o aspirante numa concha cristalizada que para um aspirante nessas condições é muito mais difícil romper do que a prisão normal da vida do homem egoísta comum. O desejo espiritual egoísta é muitas vezes o maior pecado dos pretensos esoteristas e deve ser cuidadosamente evitado. Portanto, a pessoa inteligente aplicar-se-á a servir e a obedecer.

Temas de Esoterismo: ‘SOBRE O SERVIÇO’ e ‘A LEI DE REPULSÃO E DO DESEJO’, dois excelentes artigos, que nos foram gentilmente cedidos pelo presado amigo Viriato Dias Gomes- MST. Estes temas são supostamente inspirados nos ensinamentos do Mestre Djwal Khul - O Tibetano. A nossa gratidão.
MCN
Partilhas Teosóficas.
   


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Impresso em 20/5/2024 às 13:01

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