Fundação Maitreya
 
Vida e Arte

de Diogo Castelão Sousa

em 13 Out 2024

  A Arte é e será sempre subjetiva, sem fórmula, livre e sem limitações... poder-se-ia eventualmente aproximar da Ciência, regida pela sua objetividade, métodos e fórmulas asseveradas, contudo, a sua independência mantém-se intemporalmente, apesar de haverem determinados pontos em comum. A única investigação que poderá ser efetuada são, portanto, aproximações em torno do seu significado e não a apresentação de uma resposta cabal e universalmente consentida sobre a sua definição.

Em primeiro lugar, o significado da Arte está dependente da resposta a uma pergunta essencial. Antes de perguntarmos ‘o que é a Arte?’, é necessário perguntarmos ‘O que é a Vida?’. Só assim se tornará claro o seu propósito e função.

Consequentemente, havendo várias respostas para a mesma questão, assinalam-se os dois extremos que balizam os vários pontos de vista que o ser humano adopta na sua vida e, consequentemente, influenciam a sua concepção de Arte. Como tal, faremos uma breve introdução aos mesmos.

O primeiro, ao qual denominamos ‘atitude existencialista’, encara a Vida como um fenómeno contingente, desprovido de significado intrínseco, impelindo à criação psicológica de um sentido efémero, caracterizado pela fuga ao sofrimento e busca de prazeres temporais. Esta atitude é permeada por uma relatividade moral que, na maioria dos casos, é mitigada pelos costumes e leis vigentes que moldam as ações do indivíduo.

Na segunda acepção, denominamos ‘atitude religiosa’ o ponto de vista que assenta na premissa de a Vida ser impregnada por um Sentido atribuído à omnipresença de um Ser Superior, Eterno, que traça uma evolução ou plano para a consciência humana, através de um caminho a ser percorrido, fundado em práticas que permitem alcançar esse Objetivo.

Traçados estes dois extremos e apesar de a consciência humana, por vezes, se dividir entre ambos (ninguém olha unicamente os seus filhos como descendentes de símios nem reflete uma visão puramente teística em todas as suas ações) poderemos consequentemente abordar a forma como a Arte é influenciada pela resposta a estas questões maiores.

Naturalmente, a Arte assume diversas formas: política, histórica, contemporânea, disruptiva, educativa, minimalista, etc. Cada género obedece a uma visão. Cada obra segue um ‘código’ que contém a resposta à pergunta: ‘O que é a Vida?’.

Por conseguinte, do ‘ponto de vista existencialista’ a Arte tem como propósito a expressão criativa da condição humana. Dada a pluralidade de sentidos atribuídos à mesma (recriação psicológica), tudo o que espelha e explora as diferentes facetas da vida humana integra a inclusividade deste conceito. A Arte, deste ponto de vista, torna-se inclusiva e, principalmente, a arte contemporânea obedece a este regime. Tudo o que, como um prisma, reflete novas formas de ver o mundo (novas mundivisões), independentemente dos efeitos, nefastos ou benfazejos, é bem-vindo e adoptado pelo mundo artístico, como forma de inovação. Por outro lado, certas formas de expressão artística chegam a aproximar-se de uma espécie de ‘expurgação’, dado constituírem o meio pelo qual o indivíduo expressa o seu estado interno, por vezes caótico. Por conseguinte e, logicamente, por detrás de muitas destas obras está o sofrimento, como condição humana, que impulsiona a busca da compreensão ou consolo através de determinado objeto ou situação.

Assim, quanto mais fielmente a Arte expressar a essência desta perspetiva sobre a vida, i.e., a originalidade de significados e a consciência da mortalidade, mais apreciada será pela elite de seres que pertencem a esta esfera artística.

Em segunda acepção, para a atitude religiosa que responde à pergunta ‘O que é a Vida?’, a Arte é considerada como a expressão criativa que eleva e aproxima a consciência humana do Bem Comum. Tudo o que desvirtua esta premissa é excluído da sua essência, nomeadamente a ausência de uma ética ou atitude vocacionada para ideais superiores. Como tal, se porventura o sofrimento chega a ser retratado, é retratado como purificação, símbolo ou meio para chegar ao Objetivo (e não infortúnio). Toda a Arte que reúne esta visão é caracterizada consequentemente por um esforço para a elevação da consciência a um Bem Superior. Deste modo, inevitavelmente irá colidir com certas práticas artísticas contemporâneas, devido ao modo distinto como respondem à mesma pergunta: ‘O que é a Vida?’.

Nesta perspetiva, a forma mais elevada de Arte é a obra fruto de uma ‘inspiração superior’ que leva o artista a transmitir mensagens, por via simbólica de Planos ou Mundos Superiores, seja numa nota, palavra ou pincelada sua. O objetivo alcançado é a obra que representa de forma perfeita o ‘Divino’, surtindo um poder curativo no espectador.

Cabe ao Ser discernir qual dos caminhos pretende adoptar ou mesmo realizar, para poder encarar de forma justa aquilo que considera como Arte na sua vida, o que equivale a dizer que não serão as tradições ou instituições que lhe ditarão o conceito, mas a sua filosofia que determinará a essência do ato artístico na sua vida.
   


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Impresso em 16/10/2024 às 9:55

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