Fundação Maitreya
 
Curso de Meditação 2ª Lição

de Maria Ferreira da Silva

em 26 Mar 2020

  Não é suficiente mantermo-nos saudáveis, devemos investigar, quem somos, como somos e a nossa relação com o mundo. Esta investigação interior, leva ao estudo e à leitura que ajudam a clarificar a mente, pois não basta só a pureza do corpo, é necessário dar alimento à mente como meio de auto-conhecimento e de reflexão, baseado em obras que nos esclareçam e elevem o pensamento. Já é uma forma de concentração. (No Hinduísmo a referência é o Veda).

Disciplina
Yāma


Tudo depende de como usamos a mente;
Pode ser fonte de problemas ou de felicidade.


Comecemos, nesta segunda parte, por enumerar os passos que conduzem ao conhecimento sobre os mecanismos da mente, para melhor entender e praticar a Meditação. Desenvolveremos algumas respostas às perguntas formuladas na 1ª Lição, bem como ajudaremos na prática da Concentração.
Baseamo-nos nas palavras em sânscrito porque contêm uma grande precisão no seu significado e clarificam a explicação dos métodos. Os sūtras, por exemplo, são fórmulas especulativas condensadas que revelam altos níveis de compreensão através da palavra.

Assim, de acordo com o Yoga, existem três coisas que podemos investigar como o significado da Meditação em si mesmo.
1º Tapas – É o meio pelo qual podemos conservar a forma física e a pureza interna. Palavra sânscrita, tem a sua raiz na palavra Tap, aquecer.
Pode estar ligado com jejum ou certa austeridade alimentar, mas significa também a prática do āsana e prāṇayāma (movimento harmonioso do corpo e respiração controlada), que ajudam a eliminar as impurezas do organismo. A atitude mental é muito importante na prática do prāṇayāma, pois não há movimento do corpo, ela consiste principalmente no sentir interior. Concluindo, implica purificação do corpo e da mente através da alimentação, da higiene, da respiração e dos pensamentos.

2º - O elemento que nos permite investigar é Svādhyāya, que significa Estudo, o estudo de si mesmo.

Quem somos? Onde estamos? Que fazemos no mundo?
Não é suficiente mantermo-nos saudáveis, devemos investigar, quem somos, como somos e a nossa relação com o mundo. Esta investigação interior, leva ao estudo e à leitura que ajudam a clarificar a mente, pois não basta só a pureza do corpo, é necessário dar alimento à mente como meio de auto-conhecimento e de reflexão, baseado em obras que nos esclareçam e elevem o pensamento. Já é uma forma de concentração. (No Hinduísmo a referência é o Veda).
O estudo, quando feito em certo recolhimento e atitude (ligado ao momento da aprendizagem) pode ser catalisador para uma compreensão mais profunda ou mesmo, para uma experiência espiritual importante. Uma frase, ou apenas uma palavra, pode incidir beneficamente na mente e no coração.

3º - Īśvara Praṇidhāna, significa “Amor ao Senhor”, mas também quer dizer, “qualidade de acção”, contemplação.

A base religiosa e filosófica da Índia assenta na ideia segundo a qual, o Universo tanto visível como invisível é uma manifestação de uma Realidade Divina. Matéria e Espírito são inseparáveis e juntos representam a própria estrutura do Universo. Consequentemente este princípio aplica-se aos seres humanos, Corpo-Alma-Espírito, e a prática da Meditação, sendo universal, contém intrinsecamente esse sentido de evocação do Divino.

A prática do āsana e do prāṇayāma são meios de manter a saúde e o estudo, mas não constituem a totalidade dos nossos actos, nem das nossas aspirações. Precisamos sempre de uma referência superior, algo que nos transcenda e nos inspire a alcançar: pureza interior, perfeição, paz e harmonia.

O Estudo que leva ao auto-conhecimento e a Aspiração a um objectivo superior são requisitos fundamentais que completam o caminho da Meditação.
Temos assim: Tapas, purificar o corpo; Svādhyāya, estudo; e Īśvara Praṇidhāna, Amor ao Senhor, que abarcam a totalidade da acção humana: boa forma física e mental, investigação sobre a qualidade da acção. E para quê?

Requisitos para a prática da Meditação.

Comecemos pelo Espaço. Convém delimitar pessoalmente o seu próprio, pois cada pessoa emana o seu magnetismo (isto se em grupo) que se traduz por uma energia ou vibração peculiar e única, pelo que não é conveniente ficarem muito juntas, já que as energias interferem umas com as outras, pois cada um, desenvolve certa força de pensamentos sempre diferente dos outros, e se alguém se distrai, deixando os seus pensamentos à toa, pode causar perturbações à sua volta; o pensamento é uma energia que flúi e pode ser captada por quem estiver mais afim. Deste modo, para meditar em grupo, exige-se responsabilidade. Uma boa Meditação em grupo dependerá da qualidade energética das pessoas, ou seja, da luz e da boa vibração que elas conseguem irradiar. Não obstante, a melhor fase, é a da Meditação na intimidade do seu próprio ambiente.
Quanto ao aspecto interno de purificação, implica o bom funcionamento do organismo, pois é com ele que realizamos a Iluminação ou a Libertação. Há órgãos vitais e de relação íntima com o cérebro e dos quais depende o seu bom funcionamento, e desde que são oferecidas ao cérebro as condições adequadas, então ele produz as substâncias necessárias para o equilíbrio psicossomático.

Os intestinos são outro órgão importante. Se os dejectos não são expelidos, intoxicam o organismo, envenenando o sangue e todo o sistema físico e psíquico incluindo o cérebro, que fica bloqueado e daqui vêm muitas doenças. Quando os intestinos funcionam bem, também eles fabricam as substâncias necessárias, (de entre elas a Melatonina) que ajuda a ascender a energia da kuṇḍalinī.

É sempre aconselhável comida leve e saudável . Fruta, yogurtes e cereais, de preferência integrais, sésamo e tofu, se não come carne. Procurar sempre o melhor para fazer trabalhar os intestinos sem problemas. Os laxativos destroem a flora intestinal e são uma violência para o organismo. De vez em quando um clister é indispensável, assim como um jejum, ou um dia só a fruta e sumos, ou de preferência, água.

Um aspecto importante para que resulte uma boa Meditação é a postura confortável. Sentar-se com as pernas cruzadas, “āsana”, que em sânscrito quer dizer, “permanecer”, estar estabelecido numa posição determinada.

Padmāsana, é a postura de Lótus, a mais divulgada, Siddhāsana a mais praticada.
A posição de pernas cruzadas, com a coluna um pouco levantada, apoiada por uma almofada e a cabeça na posição vertical é de grande benefício para a mente e para o corpo, é relaxante e obriga a energia a fluir em circuito fechado, de onde nada se escapa.

Esta posição permite descontrair e acalmar as energias corporais. O corpo, a respiração e a mente fundem-se no āsana (postura) e assenta aqui, a primeira atitude para a prática da Concentração, que é o método principal que leva à Meditação. A Concentração é o exercício básico da prática da Meditação:

Observar conscientemente o acto de respirar e o movimento dos pensamentos.

É imprescindível ter em conta as condições do ar que deve circular no recinto onde se pratica Meditação, caso contrário obriga a maior esforço mental. Os pulmões são órgãos de transmutação de energias, como tal é necessário oferecer-lhe as melhores condições para essa tarefa, sendo necessário locais limpos, arejados, sem fumos intoxicantes. O oxigénio de que o cérebro precisa, depende muito da pureza dos pulmões, um dos mecanismos mais sensíveis do corpo humano, que lhe fornece uma parte desse oxigénio já purificado. Na realidade os exercícios de respiração, que no Yoga se chamam prāṇayāma, ajudam a purificar, contudo, a própria Meditação desenvolve a capacidade por si só de purificar os pulmões. Quando a Meditação é feita ao ar livre na natureza é mais gratificante, pois a abundância de prāṇa remove rapidamente as toxinas armazenadas nos pulmões e consequentemente, a mente fica mais clara, permitindo uma Meditação mais profunda.

Tempo de Meditação

Agora que conhecem os requisitos principais para a prática da Meditação, sentados calmamente na postura correcta, devem continuar na Concentração.
1º Com os olhos fechados (para não haver distracção) e numa atitude solene, observe os pensamentos que afluem à mente; a seguir e de forma consciente, retire-os.
A Concentração consiste no controle dos pensamentos.
Este treino pode levar algum tempo até acalmar as energias tanto corporais como mentais, mas sem este primeiro passo não é possível chegar à Meditação.
E o que faz a Meditação? Ela opera mudanças na Consciência, através do controle da mente pela Concentração, que é o primeiro passo para a gradual supressão dos obstáculos, (bloqueios emocionais).

Acreditando que tem conseguido praticar com êxito, alguns minutos de Concentração, tente agora e depois da limpeza dos pensamentos, manter a Mente liberta o maior tempo possível.
Quando consegue ausentar os pensamentos nem que seja por uns minutos, já está a meditar...
No final da Meditação (não importa quanto tempo) o praticante verifica que a respiração se acalmou tanto que tem consciência da sua própria tranquilidade.
Não desista, não desanime, seja persistente. A mente precisa ser educada e este é o meio para um dia ter uma mente serena e direccioná-la para o objectivo final da Meditação, que é a união com Deus.
Pratique pelo menos uma vez por dia e ao deitar.
   


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