Fundação Maitreya
 
Curso de Meditação - 8ª Lição

de Maria Ferreira da Silva

em 25 Mar 2020

  Há um meio de prover e de superar as eventuais misérias e sofrimentos da vida humana: é a mudança interna na Consciência e o despertar das faculdades espirituais. É um meio eficiente, capaz de não só destruir as aflições permanentemente através da tomada de Consciência, como também compreender a natureza integrante de si mesmo e das suas próprias emoções.

Beatriz de Dante Gabriel RossettiNirodha - Restrição

Nirodha – “absorção completa” é no sentido de a mente estar apenas numa forma de actividade e não ter distracção. Significa “restrição”, “supressão Nos Yoga Sūtras de Patañjali encontra-se:
“Yoga é a inibição das modificações da mente”
Nestas quatro palavras está implícito o conceito fundamental de todo o Caminho do Yoga; encontra-se nele definido todo o processo da prática da Meditação.
Um Sūtra é a condensação de palavras, na qual, cada uma tem uma definição correcta e preponderante.
A palavra anterior “inibir”, significa controlar pois é devido à mente dispersa, saltando de um assunto para outro incontrolada, que gera confusão.
Inibição significa diminuir a actividade da mente.

Lentamente através da Meditação (não há outro meio), aprende-se a direccionar a mente num único sentido e objectivo. Combater as dificuldades e acabar com a insatisfação é o objectivo mais importante deste superamento para atingir a Iluminação, estado no qual se está acima da miséria humana. A vida gera o caos e a miséria, que nos leva à ansiedade, pois estamos sempre a querer alguma coisa, mas conhecer a razão dessa miséria é a forma de transformá-la em riqueza: atitude positiva de vida.

Na realidade, não podemos transformar à força a vida dos outros, mas podemos transformar a nossa pelo esforço e aspiração espiritual. Gradualmente, operam-se modificações na mente, que consistem em pôr a mente a funcionar com novos conceitos.
A prática de Dhāraṇa (concentração) implica Nirodha, “restrição”, já que as distracções são substituídas por um objecto pelo qual a Meditação é aplicada, o Samyāma. Samyāma, Meditação com semente: ter algo em que meditar.
Com a prática, a tendência da mente será; permanecer no estado tranquilo em Nirūḍha, aquele estado em que a mente está absorta em si mesma.

Nirodha, não representa um estado, mas modos de transformação. No processo progressivo da prática de Meditação, a mente pode passar de um estágio para outro, sucessivamente, até conseguir que a mente mantenha estados mais ou menos prolongados de acalmia mental. E este espaço que medeia a tentativa da mente em suprimir a distracção sem interrupções, chama-se Nirūḍha. Este prolongamento da mente calma, e mantendo-se o mais tempo possível, representa o firme estabelecimento do estado de Nirūḍha.

Nirodha é o esforço – Nirūḍha é o estabelecimento.
Com a prática na supressão dos pensamentos ou das distracções da mente, consegue-se mais facilmente produzir e manter o estado de Nirūḍha.
A prática pontual de Meditação é que impulsiona certos mecanismos biológicos e mentais que acompanham a transformação de consciência, pois, meditar consiste em operar mudanças na consciência e Nirodha é uma das melhores práticas.
Nirodha é um passo importante para o controle da mente, pois progressivamente leva à supressão dos obstáculos, pela Concentração.
O métodMandala-Anahata - Chacra do coraçãoo Yoga (que o mesmo é dizer, Meditação) tem a capacidade de identificar os obstáculos que impedem o progresso do caminho, e também nos fornece as alternativas para ultrapassá-los.
O meio eficaz para se atingir este estado que leva à supressão ou inibição das modificações da mente, é o desapego pela prática da Meditação, senão os kleśas, que significam as aflições, permanecerão como obstáculos internos do ser humano.

Estes obstáculos (aflições) estão relacionados com os pesados fardos da existência humana. A sua análise fornece uma compreensão precisa e específica dos fenómenos da vida e contribui para os eliminar, ou seja, tomar consciência de emoções e sentimentos indesejáveis.
Qualquer actividade da mente pode ser positiva ou negativa, o que é necessário é criar condições para que a mente seja um instrumento perfeito adequado para a acção positiva, concisa e apenas num sentido.

Contudo, no estado de sonho, a vontade não tem controle sobre as combinações sensoriais e sentimentos e elas aparecem ao acaso ante a consciência como fantasias, influenciadas até certo ponto pelos desejos da mente subconsciente. No sono, o Eu Superior, o Espírito, retira-se para além do limiar da consciência e deixa a mente inferior, visto o cérebro funcionar apenas como matéria, deixando de influenciar a acção controladora da vontade. Mas, quando por acalmia mental, até mesmo os resquícios da mente inferior se retiram para além do limiar da consciência cerebral, temos o sono sem sonhos.

Segundo a doutrina dos Upaniṣadas e do Advaita Vedānta, existem estes três estados no ser humano que se completam com um quarto, Turīya, alcançável por quem transpõe a esfera da manifestação diferenciada, e emerge no Silêncio transcendente.
Vaiśvānara – comum a todos os seres, é o estado de vigília.
Taijasa – cujo estado é o sonho, onde a consciência está voltada para dentro.
Prājña – é o estado de sono profundo.

Uma das formas de superar os obstáculos é concentrar a mente na região do coração, que pode visualizar-se como uma flor de Lótus a brilhar sem cessar. Meditar sobre esta imagem ajuda a tranquilizar a mente.
A progressiva involução da Alma na matéria priva-a do auto - conhecimento e a isto chama-se Avidyā (ignorância) e assim os kleśas têm lugar, ou seja, as aflições da vida, o medo, a dor, a raiva e o egoísmo que priva a mente de claridade e o coração de amor.
Para ultrapassar as aflições:

Pode-se usar a Concentração e a Meditação no Coração.

Há um meio de prover e de superar as eventuais misérias e sofrimentos da vida humana: é a mudança interna na Consciência e o despertar das faculdades espirituais. É um meio eficiente, capaz de não só destruir as aflições permanentemente através da tomada de Consciência, como também compreender a natureza integrante de si mesmo e das suas próprias emoções. Deve-se ponderar constantemente, quando as tendências indesejáveis perturbam a forma que leva à reconstrução do carácter. Ao tomar-se consciência dos sentimentos e pensamentos qMandala - Kalachakraue afloram ao coração e à mente, cria-se responsabilidade.

Geralmente há a tendência do ser minimizar-se não só perante si próprio como ante a grandeza cósmica. A recusa a um caminho mais consciente, o qual normalmente designamos como caminho espiritual, deve-se à fuga da responsabilidade: responsabilidade como Ser, Ser – Espírito, como entidade inserida num Plano vasto, Universal, Cósmico. Porém, no caminho espiritual estão todos os seres, a diferença, está no assumir conscientemente esse caminho em direcção a Deus.
É, de facto, através de um percurso consciente, responsável, que o Ser (homem e mulher) sabe onde se situa, quem é, para o que veio e para onde vai. Não se trata da responsabilidade da personalidade, o emprego, a família, pois esta é a terrena. Obviamente, que se refere ao ser responsável perante si próprio, o que quer dizer; maior independência, bastar-se a si mesmo para ultrapassar as suas debilidades e carências pela força interior, bem como vir a conhecer a sua posição no Plano Divino e contribuir para que ele se cumpra.

A fuga à responsabilidade perante si e perante a Divindade, provém da negligência em assumir a sua integração no Todo, já que esta obriga não só a ser mais consciente, como também a contribuir concretamente com o seu exemplo, para a evolução espiritual da humanidade, implicando assim reconhecimento e respeito pelos outros e por toda a força vivente na Natureza. Ora, geralmente o ser humano, prefere assumir uma posição de indefeso, ignorante e inconsciente, em suma, de vítima. Nunca tem culpa de nada! Prefere então, submeter-se à resignação afundando nas aflições que ele mesmo semeou. Mas nós somos o Espírito! O Espírito é o Consciente! E é como tal que praticamos as nossas acções.

Era por isso que Rāmana Maharśi, um mestre vedantino, indiano do século passado, perguntava, “onde está o Eu”?
Esta era a pergunta de base do seu ensinamento. Esse Eu, é o Eu, Ser, Espírito. Contudo, ninguém de forma mental consegue identificá-lo; é necessário realizá-lo.
É em Śaṅkara, o mestre que formalizou o Advaita Vedānta na Índia, que encontramos mais valorizada a máxima: “Eu Sou Brahman”, “Aham Brahmāsmi” ou “Tu és Aquilo”, “Tat tvam asi”.
Para os ignorantes, pressupõe a ideia que basta apenas essa identificação do ser com Deus de forma mental, quando na realidade, para se chegar a tal ponto de consciência, à união com a Mente Divina, foi necessário, ou é, percorrer uma via de purificação, de certa disciplina, enfim ter feito certa evolução espiritual, quer nesta vida, quer nas anteriores, que permita tal consciência. Nos ensinamentos de Jesus também se encontra a frase: “Eu e o Pai somos Um”.

Muitos dizem estar com Deus, falar com Deus, mas há tantos graus de integração em Deus, quantos os estados de consciência dos seres. O ponto de união com Deus, tanto depende da força interior de cada um, como em realizar que está n´Ele. Há um ponto em que O conhecemos com a nossa inteligência, onde nos reconhecemos e acreditamos que Ele existe pelo conhecimento directo, de mente a Mente, de coração a Coração, e só nessa identificação podemos dizer que conhecemos Deus; até lá esse conhecimento é de forma vaga, inconsciente ou apenas mental!

Tempo de Meditação

As práticas de Concentração e de Meditação das lições anteriores e que resultaram naturalmente, num maior despojamento de si e ao desprendimento das coisas inúteis, pode tomar consciência da sua própria evolução, através das transformações que se operaram interior e exteriormente.
Agora, no seu ambiente de recolhimento, com a mente estabilizada e o coração puro, e após algum tempo de Meditação eleve a sua mente à Mente Divina.
Com esta prática vai-se integrando com Consciência na Inteligência Divina e novos horizontes despontarão...
   


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