Fundação Maitreya
 
Grande Campo Energético

de Jack Patterson

em 26 Mar 2007

  Deus é simbolizado em muitas religiões pelo Sol como sendo o centro vivificante do Sistema Solar que sustenta toda a vida. O Sol irradia uma quantidade de energia inconcebível, tal como a luz que se transforma em calor, quando encontra um objecto sólido como a Terra. Contudo, muitas mais energias subtis provêm do sol, pois diz-se que ele é o centro espiritual oculto; o Ātma Supremo ou Vontade Divina. Isso foi reconhecido nos rituais das religiões antigas. No antigo Egipto, Ra era adorado como Deus Sol, mas mais tarde o Poder Divino de Ra foi unificado à Unidade do Deus oculto, Amen, para que Amen-Ra se tornasse no nome da Divindade Suprema. Na religião Grega, Apolo é considerado como o “Deus Sol”.

O Único Grande Campo Energético
Totalmente Abrangente


Para além da compreensão humana

Até mesmo hoje, muitos Hindus entoam diariamente o Grande Mantra ao Sol – o “Gāyatri”. Porém, esta é realmente uma invocação à Única Realidade Suprema cujo centro, conforme sugerem os esoteristas, está no Sol.
H. P. Blavatsky escreveu que a Realidade Única transcende o poder da mente humana impossível de descrever.
Esta dificuldade foi expressa de maneira clara por um recluso que tinha estudado teosofia enquanto esteve preso. Numa carta dirigida ao editor disse: «eu não tenho um nome para o meu Deus. Acredito que há Um Deus, embora recuse absolutamente dar-Lhe um nome. Pela razão de que não poderemos conceber algo totalmente desconhecido para a consciência, deixando apenas uma etiqueta. Deus é o princípio, mas desde quando, e o que significa isso? Desde que existo, o passado é a minha memória (que ainda continua comigo) e nunca foi evasiva; e o futuro (se alguém tomar nota dos padrões cíclicos) é só uma repetição do passado embora levemente alterado».
Devido à dificuldade para expressar em palavras uma realidade que está para além da compreensão humana, algumas tradições resolveram o problema ao definirem o que Deus não é. Na tradição Indiana, a Única Realidade é descrita por “Neti Neti” – “não é isto: não é aquilo” – não é nada que não possamos saber com a consciência da personalidade. Noutras tradições, o nome de Deus é tão sagrado que não se pode pronunciar. O Judaico Y H V H, o Nome inefável da eterna e sempre persistente Existência, não queria dizer para ser pronunciado, mas foi mais tarde mal pronunciado como Jeová. Os Maoris da Nova Zelândia também mantinham o nome do seu Deus Supremo, Io, tão sagrado que só era pronunciado sob as mais propícias circunstâncias.
Mas, à Derradeira Realidade, a infinita causa original do Universo sem limites, tem sido dado nomes em muitas religiões. É “diversificadamente denominado de Deus ou Divindade, Alá, Parabrāhmane ou Brāhmane, ou Aquele ou o Destituído, o Tao ou Ain Soph”, mencionando-se apenas algumas destas designações. Comum a este vasto e antigo espectro de pensamento está o entendimento posterior de que a causa original é omnipresente e incognoscível. Paradoxalmente, embora irreconhecível, Deus ou Alá ou Brāhmane está sempre presente, tão perto e íntimo quanto se respira. Tal como o salmo bíblico (139 v.7) pergunta: «Para onde devo ir para além do teu espírito? Ou para onde devo fugir da tua presença?»

Em Terminologia Teosófica

Olhámos de forma breve para a terminologia usada em várias religiões para expressar os seus conceitos de Deus. Tal como já vimos, Deus é geralmente visto como incognoscível para a mente humana, mas ao mesmo tempo é visto como omnipresente. Por isso será útil tentar ver como estes conceitos e terminologia têm sido adaptados aos ensinamentos teosóficos, no qual se faz uma distinção entre um Deus Absoluto e um Deus Imanente.
Um dos fundadores da Sociedade Teosófica, H. P. Blavatsky, escreve de maneira que sugere que o seu conhecimento de Realidade proveio de uma origem superior à mente humana normal. Ela admite a possibilidade de um Princípio Omnipresente, Eterno, Ilimitado e Imutável [i.e. inalterável], no qual é impossível toda a especulação, uma vez que transcende o poder da concepção humana e só pode ser tolhido por qualquer expressão humana ou imagem. Ainda que tal conceito esteja para além da compreensão humana muitos humanos aceitarão o conceito intelectual de um Absoluto, que é perfeito e evidente em Eternidade porque parece reunir as suas necessidades religiosas mais profundas. Contudo, encontramos dificuldades ao tentar compreender como este Absoluto pode ainda estar num mundo manifestado em tempo e espaço. Para que isto seja possível, a única realidade Absoluta, não activa, deverá se tornar activa quantas mais unidades houver individuais ou “vidas”. A escritura Indiana, Bhagavad Gītā, que expressa verdadeiramente a tradição exotérica diz, que mesmo que a Realidade Única tenha manifestado um “fragmento” de si própria ainda permanece. Conceito que torna a compreensão mais difícil! Como isso acontece, parece ser na verdade um mistério, pois transcende a compreensão humana. Expressões que evitam a ideia da criação foram usadas por H. P. Blavatsky e mais tarde por escritores teosóficos. Mencionam-se algumas:
«Os muitos emanados da Unidade» ou «A Unidade revela fora da sua Essência o mundo dos Muitos».
«A Doutrina Secreta defende que a Unidade transforma os muitos através de um processo de emanação. A Existência Única exala um pensamento como se existisse, que se transforma no Cosmos. O nosso mundo de formas miríades separadas solidifica-se gradualmente por graus, da sua origem unitária. Proveniente de um estado passivo em que se encontra potencialmente inactivo, o processo do mundo movimenta a constante actividade incessante que vemos à nossa volta».
Isso leva-nos a sugerir que o Pensamento Divino ou Ideação deverá preceder desta emanação, ponto de vista que é geralmente aceite por aqueles que acreditam que o pensamento precede a acção ou que “a inteligência vem em primeiro lugar”. Mas este ponto de vista não vê Deus criando um mundo e dando passagem. A Unidade permanece como a derradeira essência em todas as coisas. H. P. Blavatsky esclarece: «A raiz de toda a natureza, objectiva e subjectiva, e tudo o mais no Universo, visível e invisível é, foi e será sempre a única essência absoluta, de onde tudo começa, e para o qual tudo regressa».
H.P.B. usa as palavras “única essência absoluta” que é tudo. Alguns teósofos acham que é ilusório dizer que somos todos Um, porque na vida estamos completamente conscientes de que “o meu corpo é diferente de todos os outros corpos”. A separação aparente é óbvia. Por isso dizem que a Unidade é uma Singularidade da Essência não da expressão manifestada. Mas outros insistem que a essência de uma coisa é aquela coisa. A partir deste ponto de vista o Todo se torna Um. Estes diferentes pontos de vista mostram claramente a dificuldade de explicar por palavras um assunto tão incompreensível quanto a Realidade Única. Talvez possamos dizer seguramente que embora o próprio Absoluto seja incompreensível, a sua actividade pode ser percebida a todos os níveis.
Em terminologia teosófica o mundo que “emana” existe dentro do Logos – o Ser Supremo que pode ser considerado como “Deus Imanente” em todas as coisas. Logos, no Grego, significa “palavra, discurso ou razão”, e poderá portanto conter som criativo. Como termo significa, em teosofia, certamente o aspecto formativo criativo de Mahāt ou Mente Divina. Na tradição Indiana a sua equivalência é: Īśvara, o Supremo, ou o Senhor de um sistema Solar ou planeta.
Para que a evolução funcione no mundo dos muitos é necessário dualidade, a fim de providenciar as interacções que dão forma à manifestação. A dualidade primária está entre o espírito e a matéria, mas ambos são realmente a Única Energia polarizada nos dois extremos. O Espírito é o Absoluto dentro do mundo manifestado, e de acordo com H. P. Blavatsky está em toda a matéria e substância como o Princípio Vida. A Vida, que é espírito, é movimento. O seu oposto, a matéria, que providencia a base do mundo da forma é o aspecto estável da dualidade. O desempenho do princípio de vida activo através do mundo de formas produz consciência e torna a evolução possível. Esta dualidade é, com certeza, derradeiramente ilusória porque a viagem evolucionária para seres auto-conscientes é de volta à Unidade de onde eles provêm – embora tragam agora consigo os frutos das experiências aprendidas no mundo de dualidade.
Poderá haver algum elemento de objectividade nos níveis superiores da consciência, mas aqueles que alcançaram a consciência unitiva ou cósmica relatam que experimentaram todo o Universo dentro da sua própria consciência individual. Eles são o Universo em que tudo indica que a este nível a dualidade é transcendente. Contudo, para nós que estamos nos mundos inferiores da personalidade, o sujeito, o objecto e todas as outras dualidades são absolutamente reais.
Em muitos conceitos religiosos faz-se uma distinção fundamental entre o espírito e a matéria. Mas H.P. Blavatsky faz-nos lembrar que ambos provêm da Única Origem Transcendental. Sem matéria, o espírito deixa de existir. O espírito é a derradeira sublimação da matéria e a matéria a cristalização do espírito. A mesma ideia é expressa, de forma levemente diferente, por outro escritor: «Por conseguinte, o espírito como originador e a matéria como resultante não são realidades independentes, mas duas facetas (dois pólos) da Realidade Única; sendo a matéria espírito na sua forma mais densa, e o espírito matéria mais sublimada. O espírito e a matéria são a única energia, mas vemo-la como se fosse polarizada.
Os cientistas hoje confirmam que as partículas sub-atómicas, que constituem a base de formas materiais, são exactamente parcelas de energia. Por isso, ambos espírito e matéria são energia. O primeiro, numa forma muito mais subtil daquela Energia Única, está sempre em movimento, enquanto que o último, a matéria, é a mesma Energia numa forma mais estabilizada. Contudo, só há uma Única Energia.
Para que hoje um conceito aceitável sobre a Realidade Única seja válido, tem de ser baseado em energia. Deve também, com certeza, ser expresso em linguagem moderna que esteja ao mesmo tempo em conformidade com a terminologia teosófica.

O Único Grande Campo Energético Totalmente Abrangente

No mundo moderno qualquer conceito aceitável sobre Deus deveria incluir a “Totalidade” e a “Unicidade” incluídas nos primeiros capítulos, a fim de se adaptar ao Universo como um grande campo energético.
Para que estes critérios sejam encontrados, Deus deveria ser concebido como o “Único Grande Campo Energético Totalmente Abrangente” no qual vivemos e nos movemos e temos o nosso ser. Há vida em tudo – não existe matéria morta, por isso este Grande Campo Energético deverá incluir não só a força de vida ou espírito em todas as formas, como também a matéria daquela forma, desde a mais pequena partícula sub-atómica, ao completo sistema solar. Não só deverá incluir o mundo visível e tangível, como também os reinos invisíveis que estão cheios de vida a um nível mais subtil e menos focalizado. Tudo se encontra dentro desta Unicidade que hoje é denominada Deus-Energia.
Alguns já tomaram consciência deste grande campo energético quando se encontram em meditação profunda, eles reconheceram ser um com toda a vida numa experiência transcendental de consciência cósmica. Mas, quer estejamos conscientes ou não aquele campo energético está sempre lá. Poderá ser comparado à energia eléctrica que é gerada numa estação de electricidade e depois transmitida para as casas e fábricas. A potência eléctrica está sempre nos fios mas só tomamos consciência dela quando um interruptor é ligado e a lâmpada se acende ou uma máquina começa a trabalhar. Nesta analogia, todas as coisas activas são um foco daquela energia, e ao estar activa revela o campo energético universal tal como a lâmpada se acende quando ligamos o interruptor.

Nós Somos Deus

De acordo com a filosofia Advaita de Śaṅkara, a Realidade Única não se encontra algures “ali” ou “no céu” separada de nós “aqui em baixo”. Encontramo-nos, de facto, imersos ou enterrados no solo divino. H. P. Blavatsky também afirmou que a alma (o aspecto superior da consciência humana – talvez devesse ser chamada de espírito) é fundamentalmente idêntica a esta Realidade Absoluta. «Cada um de nós é uma chama inseparável da Vida Única». Estas declarações significam literalmente que todos os aspectos da nossa natureza humana, até mesmo a própria personalidade nas limitações da existência física, têm origem na Realidade Única. «Cada um de nós está enraizado naquela Realidade e é, portanto na essência, divino, “uno e idêntico à Realidade Suprema do Universo”, sendo a própria Realidade Suprema “um aspecto da Raiz Desconhecida” como H. P. Blavatsky costumava expressá-la».
Nós somos esse Único Grande Campo Energético, essa Unicidade. Somos Deus! Ele não está em nós; somos Ele. Talvez dentro do nosso mais amplo conceito devêssemos livrar-nos do pronome pessoal e dizer nós somos Ele.
Diz-se que uma reivindicação aparentemente semelhante foi feita por um poeta místico, William Blake, quando disse “Eu sou Jesus Cristo! – mas, também sois vós e todos vós”. Somos todos Um. H. P. Blavatsky disse que partilhamos uma Única Consciência. São as formas da nossa personalidade de pensamento e sentimento que nos dão um sentido ilusório de separação. Nós pensamos erradamente na parcela da Consciência Única, que usamos como sendo nós próprios, esquecendo que derradeiramente fazemos parte de um todo maior.
Ken Wilber no seu livro “The Ātman Project” (O Projecto Ātma) indica que a continuação de um sentimento de identidade separada anula a nossa realização de que somos todos Um. «De acordo com a filosofia permanente, a redescoberta desta Totalidade infinita e eterna é o maior e único desejo e necessidade dos homens e mulheres. Pois, não só Ātma é a natureza básica de todas as almas, como cada alma ou cada sujeito sabe ou tem a intuição de que assim é. Cada individuo – cada ser sensitivo – possui a intuição constante de que a sua Natureza prévia é o infinito e eterno, o Todo e a Totalidade – ele torna-se possuído, ou seja, com a verdadeira intuição Ātma».
Wilber continua a dizer que, para alcançar esta realização de transcendência, é preciso que se dê a morte da “personalidade separada” e, para a maior parte de nós esta é o nosso bem mais precioso. Porém, bem que esta consciência intuitiva poderia ser a nossa natureza essencial, que é Ātma ou Vontade Divina, no processo evolucionário, que nos conduz através de experiências sem conta e no domínio de todos os obstáculos até que, por fim a nossa auto identidade se transmute em Totalidade.

Homem e Deus

Tal como temos conhecimento, no mundo, a consciência da personalidade parece ser o âmago do nosso ser. Dizemos “eu penso”, “eu sinto”, e ficamos preocupados com o que pensamos e sentimos e, em menor extensão, com as pessoas e coisas que chegam ao nosso campo de consciência. Mas não estamos realmente interessados naquilo que faz o pensamento e o sentimento – que é a única coisa que podemos saber, porque somos aquilo. No dia a dia o que se vê, toca, cheira e se ouve é aceite como sendo real e torna-se o mundo “objectivo” “lá fora”. Tornamo-nos imersos num mundo de dualidade.
O homem, portanto, com a sua mente enraizada em dualidade – percepção subjectiva e objectiva – tem-se considerado, durante séculos, separado e diferente de Deus. Ele formou um conceito de um Deus Pessoal, com atributos um pouco diferentes dos de um ser humano. Até mesmo, hoje, alguns de nós imaginam que a devoção a Deus fora de nós próprios, embora possa ser sincera, está a perpetuar esta dualidade e a obscurecer o conceito essencial de Unicidade.

Por Jack Patterson*
Extraído do Boletim Teosófico da Nova Zelândia de Junho 2002.

* «Jack Patterson, nasceu em Maio de 1912 e faleceu a 18 de Fevereiro de 2002, na Nova Zelândia, seu País natal. Desde muito novo que começou a sentir grande interesse pelo mar e por barcos, e adorava velejar. Estudou na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, onde completou um bacharel em Arte e Arquitectura depois da guerra, e fez a sua carreira profissional como Arquitecto. Muitos edifícios importantes e casas na Nova Zelândia são da sua autoria. Durante a I Guerra Mundial serviu na Reserva Real Naval da Nova Zelândia, como tenente da armada, em muitos barcos, na maior parte no Mediterrâneo. No fim da guerra já possuía o seu próprio barco. Foi um grande e dedicado trabalhador de Teosofia. Começou a sua actividade teosófica desde jovem, e reformou-se mais cedo para poder ir para Adyar, Índia, para ajudar a Sociedade Teosófica, nos preparativos do Centenário em 1975. Foi Secretário- Geral da ST na Nova Zelândia (1985-1987) e na Austrália (1988-1991). Viajou e fez várias conferências em diversas partes do mundo, como conferencista internacional da ST. É autor de vários artigos e brochuras com tópicos teosóficos muito interessantes e de grande qualidade. Foi, também, autor de um livro, muito popular, publicado há poucos anos, “Probing the Mysteries of Existence” (Prova dos Mistérios da Existência), cuja primeira edição de 15.000 cópias, foram vendidas imediatamente após a sua publicação».

   


® http://www.fundacaomaitreya.com

Impresso em 29/3/2024 às 0:12

© 2004-2024, Todos os direitos reservados