Fundação Maitreya
 
O Ensinamento do Buddha

de Edmond Székeley

em 31 Jan 2009

  "O Budismo é uma noção dinâmica da vida e da existência, sem formas definitivas estáticas, rígidas ou fixas. Não há nada de definitivo nem rígido, existe circulação eterna de tudo o que existe, e a individualidade está também sujeita a esta mudança dinâmica constante. A noção fundamental do Buddha jaz precisamente nisto, que a individualidade, a separação de uma parte da vida da vida universal, é somente ilusão. A individualidade é a ilusão e a decepção superficial dos nossos sentidos, pois que só uma unidade dinâmica de existência sem fim nem limites existe. Tudo o que existe não existe, mas aparece e desaparece".

Introdução

Apresentamos a tradução de um texto de Edmond Székley sobre “O Ensinamento do Buddha”, que esperamos de alguma forma possa inspirar o despertar para uma outra perspectiva no caminho do ser humano, na descoberta dessa verdadeira essência e sustentabilidade interior. Uma descoberta e atenção fundamental para que um novo empreendimento possa nascer ao nível individual, num tempo em que a verdadeira economia já não pode advir do exterior, nem depender do poder capital ou da sujeição ao trabalho como factores que dilaceram um mundo sujeitado a extremos. Deve sim, assentar numa cooperação mútua e voluntária que independentemente de políticas, religião e autocracia, ultrapassará a cegueira social e se fundará na riqueza de uma nova temperança e vontade, em espírito e responsabilidade individual dos recursos interiores, por entre as comunidades. Valorize-se e conheça-se então o poder que jaz aqui e agora, seja num país, num indivíduo ou no caminho a escolher e a discernir na forja de uma consciência superior.
Introdução e tradução de Bhikkhu Dhammiko

De Edmond Székeley

Este texto diz respeito ao ensinamento do Buddha, com especial referência à doutrina da reencarnação. Sinto-me feliz pela oportunidade de falar sobre este assunto, uma vez que os ensinamentos do Buddha exerceram uma grande influência na humanidade ao longo de todo o percurso da história universal, e um terço da humanidade é seguidora dos preceitos do Buddha. Sinto-me também feliz por falar acerca das noções do Buddha, uma vez que têm sido tão imperfeitamente compreendidas e deficientemente interpretadas, especialmente no mundo ocidental.

Antes de falar sobre Buddha – O Iluminado – devo primeiramente prestar homenagem ao homem que descobriu a língua e a literatura Tibetana, tendo este providenciado um conhecimento positivo sobre Buddha ao Mundo Ocidental. Um pouco mais de um século atrás surgiu o único dicionário completo em língua Inglesa – Tibetana; a primeira e única gramática da língua Tibetana; e um terceiro trabalho chamado “Pesquisas Asiáticas”. Nestes trabalhos fundamentais baseiam-se todas as pesquisas feitas acerca do Buddha e da literatura Tibetana. O autor destes trabalhos foi Csoma de Körös, um viajante e filologista da Transilvânia que foi o primeiro homem da Europa a ser iniciado na literatura Tibetana e no Budismo. Este homem extraordinário que foi professor de filologia numa pequena cidade da Transilvânia, um certo dia pegou numa cópia dos Evangelhos que pôs no bolso e com um bastão na mão virou-se para os seus amigos e disse: “Vou-me embora para o Tibete”. Perguntaram-lhe como chegaria ao Tibete, não tendo ele conhecimento nem dos idiomas nem dos sítios de passagem a caminho do Tibete, e sem sequer ter dinheiro para essa longa viagem.

Viajar a pé do centro da Europa para o Tibete à cem anos atrás, não foi uma coisa simples e levou alguns anos. O caminho viandante delineou-se pela Grécia, Ásia Menor, Cáucaso, Pérsia, Mesopotâmia, o elevado Planalto de Pamir, Índia e por entre os Himālayas, por onde desceu até ao Tibete. Revoluções e guerras depararam-se-lhe no caminho; foi diversas vezes atacado por bandidos e arrasado pela doença; muitas vezes foi preso como espião; mas finalmente com o bastão na sua mão, como ele dizia, para suportar o seu corpo cansado, e os evangelhos no seu bolso, para suportar o seu espírito cansado, chegou ao Tibete.

Depois seguiram-se alguns anos de estudo profundo. Os Lamas do Tibete, que naquele tempo eram os únicos e perfeitos possuidores da língua, da literatura e das obras-primas do Budismo Tibetano, ao início receberam o visitante europeu com suspeita, mas aos poucos este estranho estrangeiro foi conquistando as suas simpatias. Repararam que se tinham passado muitos dias sem que ele comesse ou dormisse, ao mesmo tempo que ponderava sobre as folhas amarelas e textos antigos, estudando-os à luz do Sol e da Lua. Longos anos se passaram desta forma e finalmente foi aceite por eles. Amiúde foi-lhe sendo dado toda a informação que pediu. Após quatro anos de intenso labor de dia e de noite, o Dicionário completo Anglo - Tibetano e Gramática Tibetana estavam concluídos. Levou estas obras de volta para a Índia, aonde previamente tinha sido bibliotecário na “Royal Asiatic Society”. Entregou as Obras-Primas nessa Sociedade para publicação e de seguida partiu novamente para o Tibete, para traduzir todas as obras-primas da literatura Budista. Mas o destino não o deixou regressar ao Tibete, pois que a sua força vital estava já esgotada pelo trabalho contínuo e pelos sofrimentos no caminho, acabando por morrer aos pés dos Himālayas. O seu túmulo encontra-se em Darjeeling na Índia. Todo o conhecimento que temos sobre os textos originais tibetanos do Buddha baseia-se no seu trabalho. Sem ele não teríamos a actual literatura sobre o Buddha, assim como sem Bach não teríamos a música da época actual. Os seus trabalhos filológicos são bem conhecidos e todos os orientalistas os estudam, mas a correspondência e cartas que escreveu para a sua família na Transilvânia, durante as viagens que realizou, não são conhecidas. Estes últimos escritos são da maior importância, pois revelam-no não só como filologista, mas também como filósofo, profundamente versado no Budismo. O que sei do Buddha, sei-o através das suas cartas que tive oportunidade de ler. Eu devo explicar-vos como cheguei a ler essas cartas. A razão é simples, é que ele escreveu estas cartas para a sua família, que é também a minha, sendo Csoma de Körös meu antepassado directo.

A palestra de hoje assume-se de uma grande importância para mim, uma vez que posso interpretar a noção original que ele tinha da reencarnação do Buddha, apresentada numa carta, a última dirigida à sua família. Encontrei algumas passagens onde ele expressa o seu contentamento ao concluir a sua missão e publicar os três trabalhos fundamentais sobre língua Tibetana e literatura Tibetana, expressando também pena por não poder ter traduzido tudo quanto ele tencionava traduzir, pois sente só lhe restarem mais uns poucos dias de vida. Ele diz que espera que outros o sigam e continuem o seu trabalho, mas ao mesmo tempo diz sentir que o mundo Ocidental não consegue compreender o Budismo. Ele teme isso porque encontra uma grande diferença entre o Budismo e o espírito Ocidental.

A sua previsão parece-se justificar, pois que os nossos orientalistas e cientistas Ocidentais decidiram catalogar o Budismo entre os mais diversos compartimentos na história da filosofia Ocidental. Colocaram-no num compartimento juntamente com o pessimismo; num outro que chamamos panteísmo, e num terceiro compartimento que denominamos com vários nomes, mas que nem no mínimo cobre as ideias do Budismo. Então espíritos mais iluminados apareceram, que viram enfim que o Budismo não é só pessimismo, pois que há tranquilidade absoluta e convicção na atitude do Buddha e de seus discípulos. A força superior com que eles se debatem pelo seu objectivo, não se harmoniza como o pessimismo. É verdade que nos Aforismos do Buddha está escrito: “O nascimento é sofrimento, doença é sofrimento, velhice é sofrimento, morte é sofrimento, estar longe de quem se ama é sofrimento, estar com quem não se ama é sofrimento, não ser capaz se atingir o nosso objectivo é sofrimento, atingir os nossos objectivos e perdê-los é sofrimento, toda esta vida é sofrimento.” São estas as palavras que inspiraram erradamente a interpretação ocidental do Buddha. É uma verdade que toda a gigante arquitectura do Budismo assenta em quatro verdades fundamentais – na verdade acerca do sofrimento; na verdade acerca da origem do sofrimento; na verdade acerca da cessação do sofrimento; e na verdade acerca do caminho que conduz à cessação do sofrimento. Mas qualificar o Budismo como pessimismo baseando-se nas duas primeiras verdades, é uma noção totalmente errada.

A segunda parte menos compreendida do Budismo é a doutrina do Nirvāṇa. Na Europa o Nirvāṇa é interpretado como sendo nada. Isto é o segundo grande erro. As palavras que causaram este erro são as seguintes. Quando perguntaram ao Buddha: “O que é o Nirvāṇa?” ele respondeu: “Nirvāṇa é não-existência e nem existência.” Mas que Nirvāṇa que não sendo existência nem não-existência não pode explicar o Nirvāṇa, pois que também existe um retorno e reflexo de todas as coisas que é “Samsāra”. Tudo o que é criado aparece, desaparece e morre, mas existe algo que nunca apareceu, que nunca foi criado, que nunca desaparecerá e que nunca morrerá e isso é Nirvāṇa. Estas parecem ser verdades bastante obscuras para os ouvidos ocidentais – e muito naturalmente, sobre algo que nunca teve um início e que nunca terá um fim; aparenta ser um princípio metafísico muito estranho. Por outro lado o Nirvāṇa não é só isto, mas segundo o Buddha, é um estado de espírito. Nirvāṇa é usado com sentido duplo. Este estado de espírito é um estado consciente em que o indivíduo estabeleceu contacto com aquilo que nunca foi criado e que nunca desaparecerá. Este estado de consciência não é um princípio, uma teoria, mas vida intensa. E é por essa razão que nunca poderá ser compreendido se o abordarmos através de fórmulas filológicas ou filosóficas.

O terceiro erro fundamental no ocidente com respeito ao Budismo refere-se à reencarnação. Na generalidade, as palavras do Buddha são interpretadas no sentido de que existe uma individualidade que morre e renasce em forma de animais, de homens ou em várias formas superiores de consciência. O Buddha disse isto? Sim e não. Quando perguntaram ao Buddha se a nossa individualidade sobrevivia depois da morte, ou se retornamos algumas vezes aqui a esta vida e se somos os mesmos nas nossas futuras formas de vida, o Buddha respondeu apresentando uma alegoria da natureza. “Se tiverdes dez tochas das quais a primeira é acendida, e subsequentemente a segunda é acendida pela primeira, a terceira pela segunda, a quarta pela terceira e por aí adiante até à décima, será a chama da décima tocha a mesma que a primeira?” O que é que se poderá responder? Sim e não.

O Budismo é uma noção dinâmica da vida e da existência, sem formas definitivas estáticas, rígidas ou fixas. Não há nada de definitivo nem rígido, existe circulação eterna de tudo o que existe, e a individualidade está também sujeita a esta mudança dinâmica constante. A noção fundamental do Buddha jaz precisamente nisto, que a individualidade, a separação de uma parte da vida da vida universal, é somente ilusão. A individualidade é a ilusão e a decepção superficial dos nossos sentidos, pois que só uma unidade dinâmica de existência sem fim nem limites existe. Tudo o que existe não existe, mas aparece e desaparece. Existem surgimentos e desaparecimentos dinâmicos eternos. Assim é também com a individualidade na forma como é compreendida na Europa, que pelo Buddha é negada e considerada como ilusão. Portanto, ele não podia ensinar que aquilo que ele nega e declara como ilusão, seja algo de constante.

Vejamos mais de perto a noção de Nirvāṇa. O que é que de acordo com as ciências contemporâneas poder-se-á afirmar que nunca começou e nunca desaparecerá? Sabemos pelas mais recentes pesquisas de Jeans, Millikan e Einstein que a matéria tem uma origem. Sabemos que em várias partes do espaço cósmico existem novas nebulosas cósmicas e sistemas solares em formação. Da mesma forma sabemos que em várias partes do ilimitado espaço cósmico, existem vários sistemas planetários em processo de desaparecimento, irradiando diversas radiações cósmicas, aonde a matéria está a ser transformada em radiações. Portanto podemos ver que não é possível procurarmos aquilo que nunca aparece e que nunca desaparecerá em qualquer sistema solar ou planeta. Só existe uma coisa que as ciências contemporâneas admitem ser constante e eterno, e isso é o oceano ilimitado das várias radiações do espaço cósmico; não sistemas solares, não nebulosas e não planetas, mas espaço cósmico ilimitado e eterno adentro do qual vem toda a forma de energia de todo o sistema solar e de todo o planeta, que é a fonte inesgotável e eterna de diferentes formas ilimitadas de energia. Nós sabemos que a luz vem à Terra procedendo de estrelas e nebulosas remotas, levando milhões e milhões de anos a chegar até nós. Possivelmente a Terra ainda não existia quando essa luz começou sua viagem em direcção a nós, ou talvez o Sol ou o planeta de onde essa luz proveio já tenha cessado de existir no momento em que a luz aqui chegou. Não só a luz chega à Terra, mas também intermináveis formas de energias e radiações cósmicas que se encontram num espaço cósmico incondicionado e sem limites, energias de variadas formas de todo o planeta e sistema solar. Planetas, sistemas solares e nebulosas, aparecem e desaparecem; a energia é transformada em matéria, e a matéria é transformada em energia, mas existe algo que não aparece nem desaparece e que é eterno, e isso é este grande oceano cósmico de toda a forma de radiação e energia que constantemente cria novos sistemas solares e nebulosas. Mas este grande oceano por si próprio mantém-se sempre eterno, pois que para si se dirigem todas as manifestações de todas as formas de energias de todo o sistema solar e planeta. Portanto é a fonte eterna, incondicionada e ilimitada de toda a vida cósmica; lá não existe vida, mas alimenta a vida em todo o planeta. Assim percebemos que existe algo que nem aparece nem desaparece. Os resultados mais recentes da ciência contemporânea afirmam o que se pensou ser um absurdo, a noção de Nirvāṇa do Buddha.

Ora, examinemos agora o duplo significado de Nirvāṇa como estado de espírito e como estado de consciência. Aqueles que estudaram o papel protagonizado por várias radiações cósmicas e suas influências no homem, determinaram que o organismo humano representado pelo seu sistema nervoso é um aparelho receptor perfeito de todas as formas de energia e radiações que chegam à nossa atmosfera, procedentes do oceano cósmico incondicionado das várias energias e radiações. Também sabemos que existe sempre a possibilidade de tornar este aparelho receptor gradualmente mais perfeito, de forma a que mais e mais fontes de energia sejam abertas para nós, capazes de serem absorvidas, assim como um aparelho receptor sem fios que quanto mais perfeitamente construído, mais capaz será de captar uma maior variedade de ondas (frequências) e a uma maior distância. Assim entramos cada vez mais em maior e mais perfeito contacto com as várias formas de radiações e energias da vida universal e do espaço cósmico. Estes não são exclusivamente a fonte de energia, mas sim também uma fonte de conhecimento, apesar de não ser um conhecimento no sentido escolástico. A vida e a existência são algo muito mais complicado do que o que é possível de definir, e o pensamento é só uma de entre as muitas manifestações da vida e existência. Esta nova fonte de conhecimento não procede de livros nem definições, mas vem do intenso viver interno da verdade, da verdade que não é outra senão a vida ela própria; unidade com tudo o que nos rodeia, unidade com a vida universal, reconhecimento de que somos o mesmo que as plantas, as árvores, os animais e outros indivíduos, como o sol que brilha, como a chuva que cai, que somos partes orgânicas do universo, de que temos em nós a circulação do sangue assim como na natureza existe a circulação da água.
Temos em nós os ossos assim como a natureza tem em si os minerais; temos em nós as propagações e radiações dos nossos neurónios assim como na natureza temos a propagação das radiações solar e outras. Consistimos do que nos rodeia, somos um e o mesmo com tudo o que nos rodeia. Se destruímos algo à nossa volta, destruímo-nos a nós próprios; se destruímos qualquer vida, seja ela animal ou planta ou homem, destruímo-nos a nós próprios. Se enganamos alguém, enganamo-nos a nós próprios; se roubamos alguém, roubamo-nos a nós próprios. Pois que a ilusão de que somos algo à parte e diferente do resto do universo é um grande erro. Assim, a moral prática do Budismo é uma verdade muito superior. Nem o Buddha nem os seus discípulos alguma vez mataram algum animal. As suas vidas eram completamente naturais e simples; eles comiam uma vez por dia e coisas muito simples; era até proibido comer a qualquer outra hora do dia. Era até proibido dormir numa cama mole. Porquê?

Segundo o Buddha, assim como uma chama toma posse da erva seca, assim também a sede pelos prazeres da vida toma posse de nós, acorrenta-nos e escraviza-nos na constante circulação em mutação de todas as coisas. Prāṇa e Apāṇa, olhos, ouvidos, boca, nariz, pele, e mente; estes são o corpo. Isto gera contacto com o mundo exterior, com influências em mutação, com cores, com gostos, com formas, com sons; apreende o que nós chamamos os prazeres da vida; cria geração; geração cria nascimento, e nascimento cria doença, velhice, morte, sofrimento e miséria. Então é necessário, libertarmo-nos desta constante circulação de coisas que começa com a ignorância, que continua com tendências, que continua com pensamentos, que continua com nome e corpo, com forma individual e vida, que continua com os vários sentidos, órgãos e influências, que continua com a sede pela vida, que nos conduz à geração, que nos conduz ao nascimento, que nos conduz à velhice, à morte, à miséria e ao sofrimento. É como um fogo permanente que constantemente recebe novo combustível e que continua incessantemente. E o Buddha mostra-nos o caminho que nos afasta disso, que nos conduz para fora desta constante circulação. Este é o caminho da cessação do sofrimento. Nós devemos apagar a sede pelos prazeres da vida, e então não haverá nenhuma geração do indivíduo e nenhum novo nascimento, e nenhuma nova morte, sofrimento ou miséria.

Os discípulos do Buddha perguntaram-lhe: “O que é que nos dás em troca dos prazeres da vida, quando nos dizes que devemos apagar a sede?” E então o Buddha respondeu com a descrição do Nirvana. Os seus discípulos desejavam ouvir que o Nirvana era um tipo de paraíso onde prazeres eternos e constantes os esperavam, mas o Buddha respondeu-lhes com uma parábola. Ele não se preocupou com pensamentos metafísicos e censurou a especulação metafísica. Ele sempre se focou na principal e singular realidade – o sofrimento. Toda a sua concepção foi senão uma grande cruzada contra o sofrimento, para que o sofrimento terminasse. Quando lhe foi perguntado acerca do propósito e fim da existência e da origem da existência, ele respondeu com uma parábola. “Um homem,” disse ele, “caminhava na floresta e foi ferido por uma flecha envenenada. Em vez de tirar a flecha do corpo, de forma a evitar que o veneno lhe chega-se ao coração e o matasse, começou a pensar sobre quem teria lançado a flecha, quem seria seu pai, e quem seria o seu avô. E enquanto ponderava estas coisas, o veneno chegou-lhe ao coração e morreu.” Isto é especulação estéril e metafísica. O mais urgente é vermo-nos livres do sofrimento. Se nós já parámos o sofrimento, então teremos tempo e podemos então resolver os problemas metafísicos que restam. Noutra parábola ele disse: “Está uma casa em chamas e um homem a dormir na casa, e alguém vem e acorda-o dizendo, ‘Levanta-te e corre, pois a casa está em chamas e o telhado vai cair a qualquer momento.’ Então o homem lá dentro, em vez de fugir da casa, responde-lhe dizendo, ‘Por favor vê se não está a chover lá fora, diz-me se o ar não está frio,’ em vez de se salvar a si próprio.” Este é o homem que constantemente especula sobre problemas metafísicos em vez de se salvar a si próprio da casa em chamas.
Tudo está em chamas, na chama da violência, na chama do egoísmo, na chama da guerra e do ódio. Nós temos que nos salvar do fogo. Isto é o mais urgente. Tudo o resto é secundário. Assim o Buddha na sua grande caminhada reflecte acerca da razão do sofrimento. Todos os seus pensamentos se viram para a matriz do sofrimento universal, e ele mostra-nos o caminho que nos liberta desse sofrimento. Não me é possível dar detalhes do caminho que ele apresenta, mas posso simplesmente caracterizá-lo em poucas palavras. Uma vida simples, natural. Paz interior intensa, ensinando os ignorantes e sempre num gradual aperfeiçoamento da consciência humana. Nós temos meditações que são capazes de nos abrir para formas de consciência cada vez mais superiores, uma unidade maior com o eterno oceano incondicionado da vida cósmica, conduzindo à absorção de fontes cada vez mais elevadas de crescentes energias superiores e ao progressivo desaparecimento da ilusão a que chamamos de “eu”, da individualidade.

Há vários estágios neste caminho de auto-aperfeiçoamento. Quem já estabeleceu contacto com a eterna fonte cósmica de energias superiores da vida universal, denomina-se de “Arhat” ou “Arahat”. Quem pelas suas forças chega a este nível superior de consciência denomina-se de “Buddhi”. Distingue-se então entre “Buddhi” que encontra a verdade e segue a verdade, progredindo pelo caminho até ao Nirvana, que é a unidade com o eterno oceano da vida universal, e o outro “Buddhi” que encontra a verdade mas que, em vez de imediatamente seguir o caminho para o Nirvāṇa, regressa por entre os homens, para lhes passar a verdade e conduzi-los para fora do sofrimento.

Existe uma Lenda Budista muito bonita dos séculos mais recentes. ‘Gautama Buddha, o Iluminado, estava em meditação nos Himālayas. Muitos meses e anos se passaram e no entanto ele ainda permanecia no seu estado de meditação. Vieram ventos, vieram chuvas, os ventos sopraram terra sobre o seu corpo, pequenas sementes aí pousaram e erva começou a crescer. Veio um casal de andorinhas que construíram o ninho sobre o seu ombro. As andorinhas regressaram ao seu ninho todos os anos durante muito tempo, mas uma certa Primavera elas não regressaram. Então nos olhos do Buddha, o Perfeito, que estava à porta do Nirvāṇa para onde tinha sido convidado pelos Deuses, lágrimas apareceram, pois ele sentiu saudade das andorinhas. E o Buddha descobriu que ainda não estava pronto para entrar no Nirvāṇa; ainda havia sofrimento no seu coração e ele regressou por entre os homens para lhes ensinar o caminho.’ Esta lenda pitoresca ensina o ponto final do Budismo. O Budismo não é passividade, o Budismo não é pessimismo; o Budismo afirmou a existência do sofrimento, mas também mostrou o caminho que conduz à libertação do sofrimento. Mostrou como podemos obter progressivamente mais forças elevadas de consciência e como nos podemos libertar da ilusão da escravidão em que imaginamos estar separados da vida universal à nossa volta. O Budismo mostrou como nós podemos extinguir o fogo constante dos prazeres inferiores da via e como abrir perante nós, novas fontes inesgotáveis de constantes energias renovadas e criadas, que nos conduzem mais e mais progressivamente a entrar em perfeito contacto com o oceano cósmico da vida universal.

Podemos ver que existe um propósito então, um caminho no Budismo; nós possuímos o remédio para terminar o sofrimento; sabemos como efectuar a unidade com algo onde o sofrimento não existe; com o oceano universal da eterna vida cósmica. O Budismo mostrou como dissolver a nossa ilusória consciência individual na consciência universal da vida cósmica. Mas o Buddha diz que nem todas as pessoas estão prontas para imediatamente alcançar este propósito, e é aqui que entra a noção de reencarnação.

De forma a compreendermos o conceito de reencarnação do Buddha, é necessário conhecer a noção que o Buddha chamava de “Viñana”, que podemos exprimir pela palavra “pensamento”. No entanto, o pensamento na perspectiva do Buddha, não é só simplesmente uma função fisiológica, mas uma forma de energia como a luz, a electricidade ou o éter; é um elemento. Pensamento e radiações de correntes de pensamento são como os elementos. Então o Buddha põe a questão: “O que somos nós? Serei eu a minha mão? Serei eu o meu corpo? Serei eu a minha cabeça?” E a resposta é, Não! Ele profere outra parábola. “É a charrete uma roda? Será a charrete os eixos? A cobertura?” E ele responde, “Não!” Se nós analisarmos esta afirmação à luz da biologia contemporânea, nós vemos que qualquer célula do nosso organismo muda a cada sete anos e nada existe hoje em nós que era há sete anos atrás. Portanto nós não somos um sequer dos nossos órgãos. A diferença entre um homem e outro não está no facto de terem diferentes mãos e pés, ou sangue diferente, mas na sua consciência, nos seus pensamentos. Lembremos que no Budismo o pensamento não é uma função física, mas sim uma força elementar. Então, segundo o Buddha, nós somos essencialmente a força dos pensamentos da nossa consciência.

Segundo o Buddha, tudo de que consiste o nosso corpo vem e vai e muda em nós, mas esta força, esta energia que nós criamos pelos nossos pensamentos, não como uma simples função fisiológica mas como a criação de uma forma de energia, de radiações que são projectadas no espaço, nunca se perderá, pois que toda a energia é conservada e permanece. Correntes de pensamento são uma força elementar; constantemente criadas por nós, elas são perceptíveis por outros indivíduos capazes de as apreender. Mas não são perceptíveis por todos, pois que ninguém é capaz de captar correntes mais elevadas de pensamento, do que aquelas que possui ou que é capaz de criar. Se estas correntes de pensamento, como força elementar, forem suficientemente fortes para ascender acima das forças gravíticas do nosso planeta, irão então para o espaço cósmico incondicionado e, unir-se-ão a todas as forças das fortes correntes de pensamento superiores que existem no eterno oceano cósmico de diferentes energias procedentes de todos os sistemas solares, que não só do nosso. E tal como correntes de pensamento superior vão deste planeta para o espaço cósmico, assim também há vida e outros seres vivos em outros planetas que emitem correntes para o espaço cósmico, pois que a vida não é unicamente um privilégio do nosso planeta, mas existe em outros planetas. Na verdade existem incomparáveis formas de vida superiores noutros planetas. Estas formas superiores de pensamento estão constantemente no caminho para o espaço cósmico e todas estas correntes superiores de pensamento, encontram-se no eterno oceano cósmico de energias superiores, formando a consciência universal. Lá, os seres já não existem com limites individuais, mas tudo é o Um que influência pela sua força dinâmica e universal todas as formas de vida em todos os planetas.

Se nós formos capazes de estabelecer contacto com este eterno oceano universal das correntes superiores de pensamento de todos os seres vivos que por si próprios foram capazes, pelo seu grau de perfeição, de ascender acima das forças gravíticas dos seus planetas, se formos também capazes de vencer as forças gravíticas da nossa Terra, então poderemos unir-nos a este eterno oceano cósmico e os nossos pensamentos unir-se-ão e dissolver-se-ão no eterno oceano cósmico das elevadas correntes de pensamentos. Tal como as plantas que crescendo na vertical superam a gravidade, tal como um pássaro que supera a gravidade ao voar no ar, assim também é o homem que representando uma forma elevada de evolução terrena é capaz de vencer a força da gravidade pelos seus pensamentos. Se estas correntes de pensamento são suficientemente fortes para vencer a força gravítica terrena, então atravessarão o espaço cósmico, pois que a projecção das mais elevadas e subtis energias de pensamento não possui limite nem tempo. Correntes de pensamento fortes são capazes de atravessar o universo num momento, e este eterno oceano cósmico de correntes superiores de pensamento, esta consciência universal, é o Nirvāṇa do Buddha. Não o nada ou divindade.

O que é que acontece então, àquelas correntes de pensamento que não são capazes de ascender acima da esfera gravítica da Terra? Elas deverão permanecer dentro da esfera gravítica da Terra, dentro da circulação de todas as coisas. Mas elas serão apreendidas e capturadas por uma nova forma de vida, e assim uma corrente de pensamento não ficará perdida, pois continuará a sua vida na consciência do individuo (forma)* que a capturar (para onde é atraída)*. As correntes de pensamento, como forças elementares, circulam constantemente na esfera gravítica da Terra e todos os novos organismos que nascem, nesse momento e, mesmo ainda no seu estado embrionário, estão sujeitos às influências das correntes de pensamento ao seu redor. Pelo seu aparelho receptor, pelo seu sistema nervoso, os organismos atraem estas correntes de pensamento e estas então reencarnam no novo ser e subsistem na sua consciência individual. Se o novo organismo que captura estas correntes de pensamento, que as absorveu e as assimilou na sua consciência, pode aperfeiçoar gradativamente o seu sistema nervoso ao entrar cada vez mais em harmonia com todas as forças e leis naturais, então, finalmente, quando é capaz de sublimar estas correntes de pensamento ao ponto de transcender a esfera gravítica do nosso planeta, elas unir-se-ão ao oceano de consciência universal.

Como vemos, no conceito de reencarnação do Buddha, não é o mesmo indivíduo que sobrevive mas simplesmente correntes de pensamento que sobrevivem. Agora, em objecção pode-se perguntar como é que estas correntes de pensamento podem influenciar o organismo humano. Não precisamos de ir longe para encontrar exemplos. O pensamento que é criado à nossa volta influencia-nos através da capacidade receptiva dos nossos sistemas nervosos. Se permanecermos mesmo que pouco tempo entre indivíduos que têm pensamentos desequilibrados inferiores, em breve sentiremos o desequilíbrio. Por sua vez, se permanecermos mesmo que pouco tempo entre indivíduos os quais o seu sistema nervoso cria correntes de pensamento harmonioso, sentir-nos-emos bem diferentes. Forças de pensamento circulam à nossa volta e transformam-nos constantemente, enquanto nós, por nossa parte, constantemente criamos correntes de pensamento. O indivíduo como criador de correntes de pensamento é um pensamento activo na irradiação universal de correntes de pensamento.

Ora, se nós estabelecermos contacto com correntes superiores de pensamento, nós abrimos para a nossa consciência, fontes superiores de energia. Se nós analisarmos a função criativa do génio, nós vamos encontrar o contacto momentâneo com formas superiores de conhecimento, energia e harmonia. É a noção do Budismo que nos dá a chave para a compreensão do enigma do génio.
O génio é a capacidade de momentaneamente estabelecer um contacto elevado com correntes superiores de pensamento, fontes de energia de onde o protagonista do génio deriva profundos pensamentos e inspiração, resultando assim nas sinfonias de música ou nas cores de um quadro, e por aí fora, dependendo em que formas de energia superior ele se concentra, com que estabelece contacto.

Por sua vez, os indivíduos que criam pensamentos inferiores estabelecem contacto com correntes de pensamento inferiores. O indivíduo que possui correntes de pensamento inferiores como o medo, imediatamente estabelece contacto com todos os indivíduos que têm o mesmo tipo de pensamentos. O indivíduo que cria correntes inferiores de pensamentos violentos, imediatamente estabelece contacto com todos os indivíduos de pensamento violento. E aquele que cria correntes de pensamento de ódio, igualmente gera contacto com as correntes inferiores de todos os indivíduos que têm pensamentos de ódio. Assim, a antiga tese Sânscrita está correcta, nós somos o que os nossos pensamentos são. Os nossos pensamentos podem ser para nós fontes superiores de energia, harmonia e conhecimento, mas da mesma forma podem ser fontes inferiores de ódio, egoísmo, violência e ignorância. Cada novo pensamento que temos é sempre imediatamente retribuído ou sancionado no momento da sua criação segundo a qualidade desse pensamento. Pensamentos superiores libertam na nossa consciência forças superiores de energia, enquanto, que pensamentos inferiores abrem a porta para forças inferiores de correntes de pensamento. Portanto, o cerne da concepção do Buddha centra-se nos pensamentos, assim como Jesus proíbe não só os maus actos como também os maus pensamentos. Pois que os pensamentos criam subsequentemente acções segundo os vários processos psicológicos da consciência. Então o Buddha, como Jesus, proibiu os maus pensamentos, desarmoniosos, pois que se tivermos harmonia nos nossos pensamentos, então por conseguinte teremos também harmonia nas nossas acções. As leis psicológicas fundamentais do Buddha e de Jesus são verdades psicológicas profundas, uma vez que todos os pensamentos inferiores criam uma secreção glandular inferior nos nossos organismos, que gradativamente paralisa a nossa vitalidade. Quando pelo contrário, as correntes harmoniosas de pensamento geram em nós uma actividade glandular perfeita e dirigem todo o nosso organismo.

Ou seja, a moralidade do Buddha e dos Evangelhos está baseada em forças fisiológicas, nas leis naturais. Existe sem dúvida, um tribunal superior universal que imediatamente retribui ou sanciona os nossos pensamentos no momento da sua criação. Nós podemos talvez evitar as sanções da lei social, mas nunca jamais evitar a sanção deste tribunal superior universal. A noção de Nirvāṇa e de reencarnação do Buddha não é uma pálida definição oficial, mas sim vida intensa. Existe intercâmbio entre as várias formas de energia incondicionada e as energias da vida e da existência individual. O homem é um receptor destas várias formas de energia que constantemente mudam a todo o momento da existência, e o indivíduo muda com elas.

Então o Buddha afirma que a individualidade é ilusão, pois que na verdade não existe. Existem formas de energia em constante mudança que atravessam as várias consciências individuais que aparecem e desaparecem na esfera gravítica do nosso planeta. Esta esfera gravítica actua como um grande filtro; todas as correntes inferiores de pensamento são mantidas a circular na esfera gravítica do nosso planeta, enquanto que todas as correntes superiores de pensamento são permitidas entrar no eterno oceano cósmico da vida e da consciência universais.

Assim é a breve descrição que posso partilhar sobre a perspectiva do Buddha, que é sempre mal interpretada no Ocidente. Na sua última carta, Csoma de Körös escreveu: “Temo que os verdadeiros ensinamentos do Buddha não serão compreendidos na Europa; aqueles que os compreendem hão-de vivê-los e não escreverão sobre eles. Pois que a verdade do Buddha é a vida e só a vivência intensa que ninguém é capaz de exprimir na escrita. Por outro lado, aqueles que escrevem sobre o Budismo não viveram o Budismo e não o compreenderão.” Fazendo uma análise ao que se viu produzido no último século, os seus medos estavam bem fundados.
Temos milhares de livros sobre o Budismo, e os cientistas e pseudo-cientistas, cada um interpreta o Budismo de forma diferente. Mas estas interpretações são pálidas sombras do original – meras especulações metafísicas e classificações de ideias. Pois que o Budismo não é um sistema filosófico; o Budismo é vida. O Buddha nada escreveu, assim como Jesus nada escreveu. Ambos viveram a vida completa; ambos alcançaram a harmonia neles próprios e em seu redor e nada escreveram. Porque não? Porque o escrever significa a negação de toda a verdade, pois que a verdade não pode ser inserida nos versos das Escrituras. Tem aparecido muitos comentários acerca dos pensamentos do Buddha, frequentemente efectuados por aqueles que nunca realmente viveram as verdades do Buddha, que nunca praticaram os sistemas de meditação que o Buddha recomendou, que nunca atingiram o grau de consciência que podem tornar as verdades do Buddha compreensíveis a si próprios, pessoas que muitas das vezes apresentaram uma falta de conhecimento em Sânscrito e de Pali. Muitos, por sua vez, escreveram comentários baseados em comentários precedentes, e este processo é repetido ad infinitum. Assim nasce o caos. Ambas a América e a Europa conhecem o Budismo deste ponto de vista, através de comentários pálidos e inválidos e de traduções pedantes e defeituosas que só reproduzem cuidadosamente cada nuance gramatical, ao mesmo tempo que a essência se escapa. Os pensamentos e o espírito por detrás das regras gramaticais não são encontrados, pois que para serem sentidos não é suficiente ter só gramática e vocabulário, mas também um intenso viver das verdades. A fonte do conhecimento delineada pelo Buddha e seus discípulos não foi livros nem definições, mas sim o contacto superior, a recepção e a absorção, proveniente das correntes superiores das várias energias de pensamento que nos chegam a todo o momento da nossa vida, procedendo do eterno oceano cósmico, da grande acumulação de todas as correntes superiores de pensamento geradas por uma inúmera variedade de formas de vida em todo o planeta onde a vida existe.

Para o Buddha e os seus discípulos, a criação deste contacto era o essencial. Não as formas pedantes e definições; não os ossos secos desprovidos de sangue e músculo. O Budismo é uma verdade rica, vivida, rica em pensamentos, rica em cores, rica em vitalidade; é a vida em si própria.

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Primeira edição: 1938


* (…) – Referência do tradutor.

Tradução: Bhikkhu Dhammiko
   


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Impresso em 29/3/2024 às 15:05

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