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Ajahn Chah
de Bhikkhu Appamado em 16 Mai 2011 ![]() Caminhou durante vários anos pernoitando em florestas e recebendo comida nas vilas pelas quais passava no seu caminho, despendendo temporadas em mosteiros, assimilando os ensinamentos e praticando meditação. Foi durante a estadia no mosteiro de Wat Kow Wongkot que, pela primeira vez, ouviu falar de Ajahn Mun, um Mestre de Meditação altamente reverenciado. Um leigo informa-o onde este se encontra e Ajahn Chah, entusiasmado por se encontrar com um mestre realizado, parte em direcção ao Nordeste, em busca de Ajahn Mun. Assim que entrou no mosteiro onde Ajahn Mun se encontrava, Ajahn Chah foi invadido pela atmosfera tranquila e discreta do sítio. O silêncio estava carregado de vibração. Por esta altura Ajahn Chah debatia-se com um problema crucial. Havia estudado os ensinamentos acerca de moralidade, meditação e sabedoria, apresentados de forma precisa e detalhada, mas não conseguia compreender como é que estes poderiam ser postos em prática. Depois de prestarem os devidos respeitos Ajahn Chah expôs a sua questão ao que Ajahn Mun respondeu mencionando que, apesar dos ensinamentos serem realmente extensos, na sua essência eles são muito simples. Com consciência, se virmos que tudo surge no ‘coração-mente’…aí está o verdadeiro caminho! Este sucinto e directo ensinamento foi uma revelação para Ajahn Chah, transformando o seu modo de praticar. O caminho estava claro! Ajahn Mun aconselhou-o sobre o princípio básico dos ‘Dois Guardiões do Mundo’: hiri (um sentido de vergonha consciente) e ottapa (medo inteligente das consequências). Falou-lhe também do Caminho Óctuplo, sobre as Quatro Estradas para o Sucesso Espiritual e os Cinco Poderes Espirituais, falou sobre a forma como as coisas realmente são e sobre o caminho para a libertação. Ajahn Chah ficou em êxtase. Mais tarde Ajahn Chah referiu que apesar de ter chegado muito cansado, após ouvir Ajahn Mun toda a fadiga desapareceu e ele sentiu-se leve, com a mente clara e tranquila. No dia seguinte Ajahn Mun deu mais ensinamentos e Ajhan Chah estava agora esclarecido quanto à sua prática. Sentiu uma alegria e um êxtase no Dhamma como nunca antes. Um dos ensinamentos de Ajahn Mun que mais o inspirou foi o do Sikkhibhuto, ser ele próprio ‘Testemunha da Verdade’ e uma das explicações mais esclarecedoras foi a da distinção entre a mente e os estados transitórios que surgem e desaparece Durante os sete anos que se seguiram Ajahn Chah praticou ao estilo austero da Tradição da Floresta, deambulando pelas florestas em busca de locais calmos e reclusos onde pudesse desenvolver a sua meditação. Viveu em selvas repletas de cobras e tigres, usando reflexões sobre a morte para penetrar o verdadeiro significado da vida. Em 1954 foi convidado a voltar à vila onde nascera e instalou-se numa floresta dita ‘assombrada’ chamada ‘Pah Pong’. Apesar da malária, do abrigo precário e da pouca comida, muitos discípulos juntaram-se à sua volta. Ali começou o mosteiro hoje chamado ‘Wat Pah Pong’ e muitos outros mosteiros afiliados se espalharam por toda a Tailândia. Os ensinamentos de Ajahn Chah contêm aquilo que se pode chamar de ‘coração da meditação budista’ – as práticas simples e directas de acalmar o coração e abrir a mente para a verdadeira compreensão da verdade. Esta forma de constante vigilância tem vindo rapidamente a crescer como prática Budista no Ocidente, ensinando-nos a lidar com os estados mentais mais densos, como os medos, a ganância ou o sentimento de perda e a aprender o caminho da paciência, sabedoria e compaixão altruísta. Segundo Ajahn Chah o treino da mente não se trata apenas de nos sentarmos com os olhos fechados ou de aperfeiçoarmos uma técnica de meditação. Trata-se de uma grande renúncia. Uma das mais notáveis características do ensinamento de Ajahn Chah é a ênfase que ele deu à ordem monástica – o Sangha – e ao seu uso como veículo para a prática do Dhamma. Os resultados que obteve ao criar e ensinar comunidades monásticas sólidas são bastante evidentes nos inúmeros mosteiros que por seu intermédio se criaram e desenvolveram. No entanto, não se pode de forma alguma negar a sua particular habilidade para ensinar a comunidade leiga com a qual ele comunicava de forma brilhante, independentemente da condição humana e social desta. O estilo de ensinar simples mas profundo de Ajahn Chah era particularmente apelativo para os Ocidentais. Em 1966 o primeiro monge Ocidental, o Venerável Ajahn Sumedho, veio para Wat Nong Pah Pong. A partir de então o número de visitantes ocidentais começou a aumentar consideravelmente e cerca de sete anos após a chegada do Venerável Sumedho, formou-se um novo mosteiro do qual este viria a ser o abade – Wat Pah Nanachat (Mosteiro Internacional da floresta). Em 1977 Ajahn Chah e Ajahn Sumedho são convidados a visitar Inglaterra, onde dois anos mais tarde seria fundado o primeiro mosteiro europeu da tradição da floresta, Chithurst Buddhist Monastery. Por essa altura Ajahn Chah visitou de novo o Reino Unido, deslocando-se também ao Canadá e aos Estados Unidos para dar ensinamentos. Em 1981 Ajahn Chah ficaria doente, permanecendo acamado até ao fim da sua vida. Este acontecimento levou a que durante dez anos monges se revezassem nos cuidados ao mestre criando desta forma um sentido ainda maior de comunidade. Em 1992 Ajahn Chah morre deixando para trás uma fervilhante comunidade de mosteiros na Tailândia, em Inglaterra, Suíça, Itália, França, Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos da América, onde se continuam a praticar os ensinamentos do Buddha através da inspiração deste grande professor de meditação. Neste momento foram dados os primeiros passos para dar início a um Mosteiro da Tradição da Floresta em Portugal, ficando assim este país ainda mais privilegiado e abençoado com a sabedoria e o legado de Ajahn Chah. ![]() |
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