Fundação Maitreya
 
Jesus Cristo segundo Rudolf Steiner - 4ª Parte

de Zelinda Mendonça

em 16 Mai 2011

  O cristão não iniciado poderá buscar o caminho que leva a Cristo por meio da Eucaristia. O cristão iniciado que vem a conhecer Cristo por meio da Ciência do Espírito poderá elevar-se espiritualmente ao que deverá constituir, futuramente, um caminho exotérico. Essa evolução constituirá uma força capaz de trazer ao homem uma ampliação do impulso crístico. Mas então todas as cerimónias também mudarão e o que ocorreu outrora pelos atributos do pão e do vinho ocorrerá futuramente por uma Eucaristia espiritual. Porém a ideia de Eucaristia (comunhão) permanecerá.



13 – Paralelismo entre Buda e Cristo
Os discípulos de Buda consideravam-no um iniciado e Jesus inicialmente foi encarado como tal pela sua comunidade.

Hoje conhecemos o paralelismo existente entre Buda e Cristo.
O nascimento de Buda foi anunciado por um elefante branco, que desce do céu e revela à rainha Maya que ela dará à luz um homem divino, que induzirá todos os seres ao amor e à harmonia, unindo-os numa íntima aliança.
No evangelho de Lucas podemos ler:
“… a uma virgem desposada por um homem que se chamava José, da casa de David; o nome da virgem era Maria. E o anjo aproximou-se dela, dizendo: Salve, cheia de graça. (…) Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, a quem chamarás Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo.

Os brâmanes, sacerdotes hindus, sabendo o que significa o nascimento de um buda, explicam o sonho de Maya.
De forma análoga lemos em Mateus (2,4 e seguintes) que Herodes reunindo todos os principais sacerdotes e escribas do povo perguntava-lhes onde havia de nascer Cristo?

O brâman Asita declara a respeito de Buda “É esta a criança que será Buda, o Redentor, que conduzirá à imortalidade, à liberdade e à luz”.
Compare-se com o que diz Lucas (2,25)
“Eis que havia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem este justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. (…) Quando os pais trouxeram o menino para fazer pelo menino o que a lei ordenava, Simeão tomou-o nos seus braços e louvou a Deus, dizendo: Senhor, agora despede em paz o Teu servo segundo Tua palavra; porque seus olhos já viram Tua salvação, a qual preparaste ante a face de todos os povos: luz para iluminar os gentios, e para a glória de Teu povo de Israel”.

Conta-se de Buda que este se perdeu quando tinha 12 anos, tendo sido reencontrado debaixo de uma árvore, cercado por poetas e sábios de então, aos quais ensinava.
Isto corresponde ao que diz Lucas (2,41 e seguintes)
“E seus pais iam anualmente a Jerusalém pela festa da Páscoa. Quando o menino tinha 12 anos, subiram eles a Jerusalém conforme o costume do dia da festa Ao regressarem ficou o menino em Jerusalém, sem que os seus pais o soubessem. Mas estes, julgando que ele estivesse entre os companheiros de viagem, andaram caminho de um dia, procurando-o entre os parentes e conhecidos; e não o achando, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três dias depois o encontraram no Templo sentado entre os doutores ouvindo-os e interrogando-os; todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas.”

Depois de viver em solidão, o Buda foi recebido, no seu regresso, pela bênção de uma virgem: “Bem-aventurada a mãe, bem-aventurado o pai, bem-aventurada a esposa a quem pertences.” Ele porém responde: “Bem-aventurados são apenas os que estão no Nirvana”, isto é, os que entraram na eterna ordem cósmica.
Em Lucas (11,27) diz-se o seguinte: “E enquanto ele assim falava, uma mulher, no meio da multidão, levantou a voz e disse-lhe: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram. Mas ele respondeu: antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a observam.”

No decorrer da vida de Buda, o Tentador se aproxima dele e promete-lhe todos os reinos da Terra. Buda recusa tudo com estas palavras: “Bem sei que me pertence um reino, mas não quero um reino terreno; serei um Buda e farei todo o mundo regozijar-se.”
O tentador tem de admitir: “meu domínio terminou”.
Jesus responde à mesma tentação (Mateus 4,10 e seguintes) deste modo: “vai-te, Satanás! Pois está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”
Então o diabo o deixou.

Existem outros paralelismos com o mesmo resultado.
A vida de Buda findou subitamente. Sentindo-se doente durante uma peregrinação, chegou ao rio Hiranja, perto de Cusinagara, e deitou-se num tapete estendido por Ananda, seu discípulo favorito. Então seu corpo começou a brilhar e ele morreu, com o corpo luzindo, pronunciando as palavras: “Nada perdura”
Esta descrição da morte de Buda corresponde à transfiguração de Jesus. (Lucas 9,28 e seguintes) “Cerca de oito dias depois de haver assim falado, ele levou consigo Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar. Enquanto orava, o aspecto do seu rosto alterou-se e as suas vestes tornaram-se brancas e resplandecentes.”

Neste ponto termina a vida de Buda; mas é apenas aí que começa a parte mais importante da vida de Jesus: a paixão a morte a e a ressurreição. E a diferença entre ambos reside, justamente, em ter-se tornado necessário prolongar a vida de Jesus Cristo além da vida de Buda.
Buda e Cristo não podem ser compreendidos se apenas ressaltarmos o que têm em comum.

A concordância na vida dos dois redentores impõe uma conclusão inequívoca. Quando os sábios sacerdotes ouvem falar sobre a espécie de nascimento que ocorreu, logo sabem do que se trata. Sabem que estão na presença de um homem-deus, sabem de antemão qual a essência da personalidade aí surgida. Por esse motivo, a vida dessa individualidade só pode ser de um homem-deus, cujo padrão já conhecem. O decurso de tal vida parece prefigurado para a eternidade.
A lenda de Buda não é uma biografia no sentido trivial, assim como também não o pretendem ser os Evangelhos com referência a Jesus Cristo. Ambos falam da vida característica de um redentor do mundo. O modelo para ambos deve ser procurado na tradição dos mistérios e não na história física exterior.

A vida de Jesus contém mais do que a de Buda, que finda com a transfiguração. Na vida de Jesus, o mais importante se inicia após a mesma.
Buda chegou ao ponto em que a luz divina começa a brilhar no homem; ele enfrenta a morte física e passa a ser a luz do mundo.
Jesus vai mais longe, pois não morre fisicamente no instante em que o transfigura a luz universal. Nesse instante ele é um Buda, mas está chegando a um nível que corresponde a um grau superior de iniciação. Jesus sofre e morre, seu corpo físico desaparece. Ele ressurge e se revela à sua comunidade como o Cristo.
Buda dissolve-se, no momento da transfiguração na bem-aventurada existência da espiritualidade universal.
Jesus Cristo desperta essa espiritualidade, mais uma vez para a existência terrena, sob forma humana.
Buda provara pela sua vida, que o homem é o Logos e que volta ao Logos, à Luz, mediante a sua morte terrena. Em Jesus o próprio Logos se personificou: nele o Verbo se fez carne.

14 - Os caminhos para Cristo
Para Jesus deve ter sido algo como um pesadelo pensar que muitos homens não poderiam achar o caminho certo.
Ele pretendia reduzir o abismo entre o povo e os adeptos.

O cristianismo devia ser o meio para que cada um encontrasse o caminho, e mesmo quem não estivesse maduro não devia ser excluído da corrente iniciática. O Filho do Homem veio para buscar e salvar o que se havia perdido.

Como pode o indivíduo assimilar, pouco a pouco o que emanou de Cristo pela ressurreição?
O cristianismo era uma religião apropriada para todos os homens e capaz de ser aceite por todos. Não era necessário qualquer desenvolvimento oculto ou esotérico para chegar a Cristo.

A visão dos que tinham a experiência dos factos ocultos, no ocidente, mormente das relações entre o mundo e o impulso de Cristo estava perturbada pela falta de um ensinamento correcto relativo às vidas repetidas.
De toda a cosmovisão e vida cristã sempre surgia algo como uma aspiração teosófica. Esta actuou por toda a parte, mesmo nos caminhos exotéricos dos homens que não podiam ir além de uma participação exterior na vida comunitária cristã.

O discípulo dos mistérios via que no mundo suprasensível uma mentira significa o obscurecimento de uma certa luz e que uma acção desamorosa queima algo no mundo espiritual pelo fogo da insensibilidade; e também que com os seus erros o homem apaga alguma “luz” no Macrocosmos.
Esse efeito, resultado de um acontecimento objectivo era mostrado ao neófito – o erro que apaga algo no plano astral, produzindo a escuridão, ou um acto desamoroso que actua como um fogo destrutivo.

Na sua vida exotérica, o homem ignora o que se passa ao seu redor, a nível dos mundos supra-sensíveis.
A um indivíduo, que era introduzido nos mistérios, tornava-se visível o efeito das sensações e emoções

Para que o homem não só encontre o caminho para Cristo mas também não sofra uma ruptura da sua relação com o Macrocosmos, deve reconhecer que todo o erro ou pecado não é um acontecimento subjectivo, e sim objectivo; - algo acontece lá fora no mundo.

A visão do mundo que pouco a pouco se formou demonstra que a possibilidade de conhecer a essência viva da natureza, desapareceu da contemplação da natureza exterior e do pensamento a seu respeito.

Falando desta maneira não pretendo fazer uma crítica depreciativa. Era necessário que a natureza fosse esvaziada de deuses e desespiritualizada para que o homem pudesse conceber a soma de pensamentos abstractos que o capacitassem a compreender a natureza, tal como se tornou possível nas ideias de Copérnico, Kepler e Galileu.
A humanidade precisava elaborar a teia de pensamentos que redundou na nossa era das máquinas. Por outro lado essa era necessitava de um substituto para o que não podia existir na vida exotérica, uma alternativa pela impossibilidade de se encontrar um caminho que conduzisse da Terra ao espiritual. Pois se houvesse uma possibilidade de achar o caminho para o espiritual, os homens deveriam ter encontrado o caminho para Cristo, tal como ele será encontrado nos próximos séculos.

“O que era necessário para se achar tal caminho exotérico conduzindo a Cristo…?”

14.1 – Os caminhos exotéricos
14.1.1 – A Eucaristia

O homem precisa convencer-se de que a matéria não é algo totalmente estranho ao seu interior, ao elemento espiritual dentro dele.
- Como realizar isso? – Pela revelação de algo que fosse simultaneamente espírito e matéria. – Isso se deu pela conservação e cultivo da Eucaristia, como instituição cristã, através de séculos. Existem factos sobre os quais não se discute enquanto são compreendidos – a disputa começa quando se deixa de entendê-los.
Foi assim com a Eucaristia. Ela foi aceite sem discussão enquanto se sabia que existem cerimoniais pelos quais o espírito pode ser acrescentado à matéria. O homem sabia que a permeação da matéria com o espírito significa uma cristificação.
Na alvorada do materialismo os homens não entenderam mais o que subjaz à Eucaristia, passaram a discutir se o pão e o vinho eram apenas símbolos do divino ou se havia realmente um influxo de forças divinas; numa palavra, surgiram as discussões características da era mais recente, as quais significam para uma pessoa de visão mais profunda, a prova de estar perdida a compreensão primordial do fenómeno.

A Eucaristia foi, para os indivíduos que queriam chegar-se a Cristo, um substituto perfeito do caminho esotérico quando eles não queriam segui-lo. Eles podiam realizar, pela Eucaristia, uma autêntica união com Cristo. Este será um caminho para Cristo durante muitos séculos. As coisas sofrem uma transformação gradativa; o que era correcto durante certo tempo se metamorfoseará, pouco a pouco, em algo diferente quando os homens estiverem maduros para tal. É nesse sentido que se deve actuar, captar no espírito algo concreto e real.
Os homens ao se tornarem maduros, graças às meditações e concentrações e a tudo o que aprendemos como conhecimentos dos mundos superiores, experimentarão a comunhão em espírito; então dentro deles viverão pensamentos – pensamentos meditativos que interiormente equivalerão ao signo da Eucaristia, do pão consagrado.
O cristão não iniciado poderá buscar o caminho que leva a Cristo por meio da Eucaristia.
O cristão iniciado que vem a conhecer Cristo por meio da Ciência do Espírito poderá elevar-se espiritualmente ao que deverá constituir, futuramente, um caminho exotérico. Essa evolução constituirá uma força capaz de trazer ao homem uma ampliação do impulso crístico. Mas então todas as cerimónias também mudarão e o que ocorreu outrora pelos atributos do pão e do vinho ocorrerá futuramente por uma Eucaristia espiritual.
Porém a ideia de Eucaristia (comunhão) permanecerá.

14.1.2 – Os Evangelhos
Este era o outro caminho exotérico para chegar a Cristo.
Os Evangelhos eram lidos em tempos passados de maneira que os homens sentiam chegar de fora algo que a alma ansiava, pois esta encontrava uma descrição real do Redentor que ela sabia dever existir no Universo
Para os indivíduos capazes de ler os Evangelhos dessa maneira já estava liquidada uma infinidade de perguntas que só se transformaram em “questões” para os indivíduos muito inteligentes do nosso tempo.

Os Evangelhos contêm elementos diversos.
1 – Relatam factos, e isso de modo tal que aparentemente pretendem constituir factos históricos.
2 – Há parábolas que por sua forma de narrar factos, pretendem simbolizar as verdades mais profundas.
3 – Contêm doutrinas formando a cosmovisão cristã.

No Evangelho de João não encontramos qualquer parábola propriamente dita. Ele estava ligado a uma escola esotérica em que não se necessitava recorrer às parábolas.

Os quatro escribas estão ligados a quatro tradições diferentes. Cada um deles descreve a vida de Jesus de acordo com suas tradições iniciáticas e, se existem semelhanças entre as narrações dos três primeiros evangelistas, os sinópticos, isso nada mais prova senão que essas tradições eram similares.
O quarto Evangelho está imbuído de ideias que lembram a filosofia religiosa de Fílon, o que tão pouco prova outra coisa senão que ambos estão ligados à mesma tradição esotérica.

Convém lembrar que João começa o seu Evangelho, usando palavras introdutórias que postulam uma interpretação bem definida:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, uma glória do Filho Unigénito do Pai, cheio de abnegação e verdade.”
Quem coloca tais palavras no começo da sua narração indica claramente que deseja ser interpretado em sentido particularmente profundo.
Quem aduzir aqui explanações apenas racionais assemelha-se a quem acredita que Otelo “realmente “ mata Desdémona no palco.
Qual é o sentido das palavras introdutórias de João? Diz, claramente, que fala de algo eterno, de algo existente desde os primórdios. Conta factos mas não os que são observados pela vista e pelo ouvido. Ele esconde atrás dos factos o “Verbo” que está no Espírito Cósmico, e para ele esses factos são o instrumento por meio do qual se exprime um sentido mais amplo.

É lícito concluir que deve haver um significado profundo quando João refere a ressurreição de um morto, a ressurreição de Lázaro, facto esse tão difícil de entender para os olhos, os ouvidos e o intelecto lógico.
Devemos admitir que toda a narrativa do Evangelho de João está coberta por um véu de mistério. Senão como interpretar as palavras de Jesus: “A doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado”. Esta é a tradução usual, mas chegaremos mais perto da realidade se traduzirmos de acordo com o texto grego: “…para a manifestação (revelação) de Deus, a fim de que o filho de Deus seja por ela glorificado”. E qual seria o sentido destas outras palavras (João 11,4 e 25): “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá”.
As palavras de Jesus adquirem, porém, vida e sentido tão logo as consideramos como expressão de um acontecimento espiritual. Podemos neste caso até interpretá-las literalmente, assim como se encontram no texto. Jesus diz que ele é a ressurreição ora realizada em Lázaro, e que ele é a vida vivida por Lázaro. Levemos ao pé de letra o que Jesus é, no evangelho de João: ele é o “Verbo que se fez carne”, o eterno que existia nos primórdios. Se ele é a ressurreição, o que surgiu em Lázaro foi o Eterno, o Primordial. Estamos, pois, em presença de uma ressurreição do “Verbo” eterno, e esse “Verbo” é a vida para a qual Lázaro foi ressuscitado. Nessa altura vive nele o “Verbo”, o espírito, o que antes não acontecia.

Todo o nascimento implica uma doença, a doença da mãe. Porém essa doença não leva à morte, mas a uma nova vida. O que adoeceu em Lázaro foi a parte da qual nasceu o “homem novo”, aquele que foi permeado pelo “Verbo”.
Sem dúvida alguma, os acontecimentos de Betânia constituem uma ressurreição em sentido espiritual.
Lázaro penetrou o “Verbo Eterno”. No sentido dos mistérios, ele se tornou um iniciado. E o acontecimento que nos é relatado tem de ser um processo iniciático.
Tinha-se consumado uma iniciação, tal como toda a Antiguidade a conhecera. Jesus havia agido como um iniciador. Assim se havia concebido a união com o Divino.
Em Lázaro foi realizado por Jesus o grande milagre da transmutação da vida, de acordo com antiquíssimas tradições. Deste modo o cristianismo é vinculado aos mistérios.
Lázaro além de ser o primeiro iniciado cristão, foi ainda o único a ser iniciado pelo próprio Jesus Cristo.
Nas palavras “Lázaro, vem para fora!” pode-se reconhecer o chamado pelo qual os iniciadores sacerdotais do Egipto chamavam de volta à vida normal os que se sujeitavam aos processos iniciáticos, destinados a ofuscar-lhes a visão do mundo transitório e convencê-los da existência do eterno.

Jesus porém tornara público o segredo dos mistérios! Os judeus não podiam deixar sem punição tal atitude assim como os gregos se vingavam daqueles que traíam os segredos dos mistérios. Isso é perfeitamente compreensível.
Mas o que importava a Jesus era preparar as pessoas para a compreensão do “Mistério do Gólgota”.

Antes somente os “videntes”, isto é os iniciados, podiam entender algo do tal processo iniciático; doravante, os segredos dos mundos superiores deviam tornar-se acessíveis também aos que “creram, apesar de não terem visto”.

O mistério do Gólgota fez com que se derramasse sobre a comunidade cristã o que antes se derramara sobre os iniciados nos templos de mistérios. O iniciado cristão pode tornar-se consciente do conteúdo do “Mistério do Gólgota”, enquanto que a simples fé faz o homem participar inconscientemente da corrente mística que partiu dos acontecimentos descritos no Novo Testamento e que, desde então, impregnou a vida espiritual da humanidade.

A evolução do cristianismo tem se dado de forma que, até agora, a grande maioria das pessoas não foi capaz de chegar à compreensão dos mistérios, dos factos crísticos, por um conhecimento clarividente próprio.
É preciso reconhecer que o cristianismo tem penetrado em inúmeros corações humanos e, até certo grau, também tem sido reconhecido na sua essência, sem que esses corações fossem capazes de perceber os mundos superiores para extrair do conhecimento a seu respeito uma visão clarividente do que, com o mistério de Gólgota e tudo referente a ele, realmente aconteceu para a evolução humana.

Teremos de fazer uma distinção entre, de um lado a inclinação das religiões e a busca do conhecimento sobre Cristo, por quem ainda nada sabe da pesquisa supra-sensível e de outro, o que só pode ser conhecido pela consciência clarividente ou o conhecimento de comunicações recebidas, pelos pesquisadores clarividentes a respeito dos mistérios do cristianismo.

Só no século XX haverá, de certa maneira, uma renovação do facto crístico, pelo início de um desenvolvimento superior das forças cognitivas humanas em geral.
No decorrer dos próximos três milénios isso proporcionará a um número crescente de pessoas uma visão imediata de Jesus Cristo mesmo sem possuírem uma preparação clarividente especial.
Até agora isso não tinha sido possível. Até agora havia apenas duas fontes de conhecimento dos mistérios cristãos:
1- Os Evangelhos e tudo o que emana dos seus conteúdos e da tradição relacionada com eles.
2- A existência de um número cada vez maior de pessoas capazes de perceber os mundos superiores e comunicar os factos dos acontecimentos crísticos, havendo os que se tornaram seus seguidores.

14.2 – Os caminhos esotéricos
Agora, a partir do século XX, começa a existir mais uma fonte de conhecimento. Ela surge pelo facto de um número cada vez maior de pessoas ser capaz de uma ampliação, uma elevação das forças cognitivas não produzidas por meditação, concentrações ou outros exercícios.
Um número crescente de pessoas poderão reproduzir para si próprios, o evento de Paulo diante de Damasco. Isso marcará uma época que, podemos dizer, proporcionará uma maneira directa de visualizar o significado e a entidade de Jesus Cristo.

Qual a diferença entre estes dois processos? – O conhecimento através do desenvolvimento esotérico e o que os homens perceberão sem esse desenvolvimento nos próximos três milénios, a partir do século XX?
Trata-se de coisas totalmente diversas. E se quisermos receber uma resposta à pergunta sobre em que consiste essa diferença, só a obteremos perguntando à pesquisa clarividente porque Cristo penetrará cada vez mais na consciência comum a partir do século XX.
E a razão é a seguinte:
Assim como no início da nossa era se desenrolou na Palestina um evento cujo papel essencial coube a Cristo, outro acontecimento significativo ocorrerá no decorrer do século XX, próximo ao seu final; todavia isso não se dará no plano físico, mas nos mundos superiores – ou melhor naquele que chamamos mundo etérico. Esse acontecimento terá, para a evolução da humanidade, um significado tão fundamental como o teve o efeito da Palestina no início da nossa era.

O acontecimento do Gólgota significou, para o próprio Cristo, que um deus morreu e superou a morte, facto que nunca acontecera antes nem acontecerá depois, sendo um facto consumado.

No futuro haverá um evento de significado profundo que não terá lugar no plano físico, mas no mundo etérico. E pelo facto de esse acontecimento se realizar com o próprio Cristo, surgirá a possibilidade de os homens terem uma visão sua. As capacidades dos homens ir-se-ão aprimorando e a partir da nossa época haverá um número suficientemente grande de pessoas capazes de ver Cristo, de modo que o que até agora existia como fé, de maneira correcta, será substituído pelo que se poderá chamar de “visão de Cristo”.

Que acontecimento será esse?
É o facto de uma função de âmbito cósmico, ligada à evolução do homem, passar para Cristo. - Cristo vai ser o senhor do carma na evolução da humanidade. E isso será o início do que nos Evangelhos, encontramos expresso nas seguintes palavras: “Ele voltará para separar ou trazer a “crisis” para os vivos e os mortos”.
De acordo com a pesquisa oculta, esse evento não deverá ser compreendido como algo único ocorrendo no plano físico – isso se relacionará com toda a evolução futura da humanidade.

O cristianismo e a evolução cristã significam uma espécie de preparação para o facto de Cristo se tornar o senhor do carma; caberá a ele determinar qual é a nossa conta cármica – como se relacionarão na vida o nosso débito e o nosso crédito.

15 – Cristo e os seus discípulos após a Ressurreição
É muito importante saber das relações de Cristo com os seus discípulos que foram capazes de o compreender.
Os Evangelhos contêm muito pouco sobre a relação de Cristo com os discípulos após a ressurreição. Através dos Evangelhos ficamos com um pressentimento de algo especial. Mas sem o conhecimento esotérico não vamos além de pressentimentos.
Estes pressentimentos ficam acrescidos com o “evento de Damasco”. Esta experiência deu a Paulo o conhecimento confiável de que Cristo tinha passado pela morte e que depois dela estava vinculado à evolução da Terra como Cristo vivo.
Porque foi tão importante esta experiência de Paulo em Damasco? – Paulo já era um iniciado nos ensinamentos hebraicos. Para ele era muito difícil compreender que Jesus Cristo tivesse sido condenado à morte vergonhosa na cruz de acordo com a lei e a justiça humanas. Paulo não aceitava que as antigas profecias se referissem a um ser que havia sido condenado de acordo com a lei. Até o acontecimento de Damasco a morte vergonhosa de Jesus era a prova de que ele não podia ser o Messias.
Algo de muito profundo e grandioso está contido nesta confissão da conversão de Paulo.

As tradições que ainda existiam nos primeiros séculos depois de Cristo não existem mais. Quando muito elas podem se manter sob a forma de registos históricos exteriores, mantidos por alguma sociedade secreta que não as compreende.
Precisamos reencontrar, por meio da Ciência Espiritual aquilo que supera as escassas informações concernentes a Cristo, depois do Mistério do Gólgota.

O que disse Cristo ressuscitado aos seus discípulos, que eram realmente iniciados, que não está mencionado nos Evangelhos?
Cristo ensinou os seus iniciados que a nossa origem é de um mundo no qual a morte não existe; ele aprendeu sobre a morte aqui na Terra e a venceu.
Se compreendermos a relação entre o mundo terrestre e o divino, será possível levar o intelecto novamente de volta à espiritualidade.
Vamos expressar de forma aproximada o conteúdo dos ensinamentos esotéricos dados por Cristo aos seus discípulos iniciados: - o que ele lhes deu foi o ensinamento sobre a morte, tal como ele é percebido do ponto de vista do mundo divino.
Para melhor compreender precisamos ter em consideração que os primeiros seres humanos que viveram na Terra eram capazes de receber a sabedoria dos deuses através de capacidades clarividentes atávicas. Isto significa que seres divinos desciam de mundos espirituais para a Terra, podiam comunicar os seus ensinamentos aos seres humanos – de forma espiritual, é claro – e estes, por sua vez, ensinavam outras pessoas também de forma espiritual.

Esta condição, que transcende a terrestre, podia ser alcançada principalmente pelos iniciados nos Mistérios. Na sua maioria, eles tinham as suas almas fora dos seus corpos e era dessa maneira que podiam receber as comunicações dos deuses de forma espiritual, porque não estavam dependentes da forma exterior da linguagem ou palavra falada.
Os deuses ensinavam os seres humanos sobre o que as almas vivenciam antes de descerem a um corpo terrestre pela concepção.
As pessoas tinham a sensação de estarem sendo lembradas de algo, sentiam como se as comunicações dos deuses os lembrassem das suas experiências no mundo anímico espiritual, antes da concepção.
Em Platão ainda existem ecos de que esta era a realidade em épocas primordiais.
Esta sabedoria era de um tipo diferente, as pessoas nada sabiam sobre a morte. Pode parecer estranho para nós hoje em dia, mas é verdade: os antigos habitantes da Terra desconheciam a morte, tal como as crianças desconhecem.
As pessoas eram instruídas e passavam esse ensinamento aos outros que ainda possuíam a clarividência atávica. Tinham consciência do facto de o seu ser anímico ter descido dos mundos divino-espirituais para um corpo e que também deixaria este corpo.
Nascimento e morte parecia-lhes uma metamorfose, e não algo que representasse o começo e o fim de um processo. Podemos dizer que a alma humana na sua evolução constante considerava a vida na Terra como um intervalo.
Eles não percebiam o ponto “a” e “b” como início e fim, mas apenas viam a corrente ininterrupta da vida da alma e do espírito.

A morte era algo que pertencia a “Maya” (ilusão) e não causava grande impressão aos seres humanos, pois eles conheciam apenas a vida.
Quando observavam o nascimento viam a vida humana estender-se além do nascimento, no espiritual.
Quando observavam a morte, a vida do espírito e da alma também se estendia além da morte, no espiritual.
Mas gradualmente os seres humanos abandonaram este estado.
Ao observarmos retrospectivamente a evolução da humanidade, desde o passado muito remoto até à época do Mistério do Gólgota, podemos dizer: os seres humanos aprenderam cada vez mais a conhecer a morte.

Então surgiu a pergunta: o que acontece à alma quando o ser humano passa pela morte? Pensavam sobre a natureza dessa continuação, não pensavam na morte como um fim. Só com a aproximação do Mistério do Gólgota é que começaram a sentir que a morte tinha um significado e que a vida na Terra era algo que tinha fim.
Os seres humanos sobre a Terra chegaram a esse sentimento, pois era necessário para a evolução da humanidade, que a compreensão ou intelecto chegassem à Terra. E o intelecto depende de que sejamos passíveis de morrer.
Portanto o ser humano devia ser seduzido pela morte. Ele precisava tomar conhecimento da morte. As épocas anteriores nas quais o ser humano desconhecia a morte eram completamente não intelectuais. O homem conhecia as ideias por inspirações do mundo espiritual e não pensava sobre elas.
Não havia intelecto, mas este precisava existir.
Do ponto de vista físico podemos dizer que a morte pode penetrar porque o ser humano deposita sais, ou seja, substâncias minerais sólidas, substâncias mortas não apenas no corpo, mas também no seu cérebro. O cérebro tem a tendência constante para a morte.
Se o ser humano tivesse permanecido o mesmo que no passado, quando ele não conhecia realmente a morte, nunca teria sido capaz de desenvolver o intelecto, pois este só é possível num mundo em que a morte exerce influência. Esta é a forma em que a questão se apresenta quando vista a partir do aspecto humano.
Mas ela também pode ser contemplada do ponto de vista das Hierarquias Superiores e neste caso a questão apresenta-se assim: não era possível para as Hierarquias Superiores, formar a Terra de tal maneira que ela seja capaz de infundir as forças que levam os seres humanos ao intelecto. Para isso temos de confiar num ser totalmente diferente, que venha de outra direcção diferente da nossa – Arimã.
Arimã é um ser que não pertence às hierarquias, ele penetra a corrente desde outro ponto de partida. Devemos nos aliar ele. Se tolerarmos a actuação de Arimã na evolução da Terra, ele nos trará a morte, e com ela o intelecto. Arimã conhece a morte porque está unido à Terra e percorreu caminhos que o puseram em relação com a evolução terrestre. Ele é um iniciado, um conhecedor da morte e por esta razão é o senhor do intelecto.
Os deuses tiveram de recorrer a Arimã, a evolução não pode continuar sem Arimã. Mas admitindo Arimã perdemos o direito à Terra, e Arimã cujo único interesse consiste em permear a Terra com o intelecto, poderá reclamá-la para si.
Havia apenas uma única possibilidade, a de que os próprios deuses aprendessem sobre algo que eles não tinham acesso nas suas moradas divinas, inacessíveis a Arimã – ou seja os deuses teriam que aprender a conhecer a própria morte na Terra, através de um dos seus emissários – Cristo.
Assim o mistério do Gólgota significou para os deuses um enriquecimento do seu saber por meio do conhecimento da morte.
Se um deus não tivesse passado pela morte, a Terra inteira ter-se-ia tornado completamente intelectual, sem atingir jamais a evolução que os deuses haviam planeado para ela desde o início.
As pessoas precisavam de se defrontar com o sentimento de que através da morte, ou seja através do intelecto, entramos numa corrente de evolução que é bem diferente daquela da qual nos originamos.

Cristo ensinou os seus iniciados que vimos de um mundo no qual a morte não existe; ele aprendeu sobre a morte aqui na Terra e a venceu.
Se compreendermos a relação entre o mundo terrestre e o divino, será possível levar o intelecto de volta à espiritualidade.
Quem entende toda a evolução da humanidade sabe que os deuses venceram Arimã à medida que utilizaram as suas forças para o benefício da Terra, e que o seu poder foi controlado porque os próprios deuses aprenderam a conhecer a morte na entidade de Cristo.
De facto os deuses colocaram Arimã na evolução terrestre, mas ao fazer uso dele, o forçaram a descer até à evolução da Terra sem poder completar o seu domínio.
Quem aprende a conhecer Arimã a partir do Mistério do Gólgota, e quem o conheceu antes, sabe que Arimã aguardava o momento da história mundial em que ele não ia invadir apenas o subconsciente e o inconsciente mas invadiria também a consciência do ser humano.
A intervenção de Arimã foi possível, mas o aspecto crucial foi tirado do seu governo. Desde então Arimã utiliza toda e qualquer oportunidade para encorajar o ser humano ao uso exclusivo do intelecto.
Ele até hoje mantém a esperança de conseguir induzir o ser humano a utilizar apenas o seu intelecto.
No período dos anos quarenta do século XIX até ao redor do final deste século Arimã pôde alimentar novas esperanças quanto ao seu domínio sobre a Terra em função da influência predominante do materialismo.
Até a Teologia se tornou materialista nesse período – a Teologia tornou-se anti-cristã e o teólogo Overbeck, de Basileia, escreveu um livro no qual tentou provar que a Teologia moderna já não é cristã. Ele deu novas esperanças a Arimã.
Lúcifer teve grande influência na antiga evolução da humanidade
Arimã começou a ter influência sobre a consciência humana a partir do mistério do Gólgota. Antes disso ele também exercia influência mas não sobre a consciência do ser humano.
Em certo sentido Arimã foi forçado a participar da evolução da Terra. Sem ele os deuses não teriam podido introduzir o intelectualismo na humanidade.
Temos portanto no Mistério do Gólgota a realização de uma batalha entre deuses.
A cruz do Gólgota não deve ser tomada como algo terrestre, mas como algo que tem significado para o Universo todo – este era o conteúdo do cristianismo esotérico.

Os deuses introduziram as forças arimãnicas, sem permitir que elas fossem nocivas aos homens, mas para serem usadas por eles.
O conhecimento fundamental entregue aos discípulos através do Mistério do Gólgota foi que os seres humanos podiam novamente aproximar-se dos mundos divinos que eles haviam deixado. Os discípulos foram permeados por este conhecimento de impacto durante o primeiro período da evolução cristã.

A incorporação do intelecto começou durante os séculos IV e V depois do Mistério do Gólgota e sofreu uma intensificação principalmente no século XV.
Este desenvolvimento do intelecto trouxe como consequência a perda da sabedoria antiga, que possibilitava ao ser humano apreender algo sobre as verdades espirituais. O ser humano esqueceu, por todo um período de tempo, tudo o que tinha significado esotérico no Cristianismo.
Os ensinamentos esotéricos mantiveram-se sob os cuidados de sociedades secretas, mas os seus membros já não os compreendiam. Actualmente (fim do séc. XIX, princípio do séc. XX) não as compreendem com certeza.

Que convicção faltava a Paulo sobre Jesus ser ou não o Messias? – A convicção que pode haver erro na verdade que costumava fluir para os homens a partir dos deuses. Pois os seres humanos caíram em erro – um erro tão terrível que o ser mais inocente de todos havia sofrido a morte na cruz.
A sabedoria divina original descia até à sabedoria dos escribas na cultura hebraica, os contemporâneos hebreus do Mistério do Gólgota.
Saulo pensava: esta sabedoria só pode conter a verdade. Quando Paulo ainda era Saulo costumava dizer: se aquele que morreu na cruz é de facto Cristo e o Messias, deve haver erro nesta corrente de sabedoria.
O erro deve estar misturado à verdade, e apenas a comprovação de que isso de facto aconteceu poderia convencer Paulo, e somente o próprio Cristo poderia convencê-lo ao aparecer-lhe em Damasco.

O segredo do Gólgota é a inclusão da morte na vida.
Antes dele o conhecimento da vida não incluía a morte, depois dele, a morte torna-se conhecida como uma parte essencial da vida, como uma experiência que fortalece a vida.

16 - Cristo, o senhor do carma
O facto que se realizará e que pertencerá ao mundo supra-sensível, e só nele poderá ser observado, foi caracterizado com estas palavras:
- “Cristo passará a ser dono do carma para os homens”. Isto significa que futuramente os factos cármicos serão ordenados por Cristo. Os homens do futuro terão cada vez mais a seguinte sensação: “Eu atravesso o portal da morte com a minha conta cármica. De um lado estão os meus actos e pensamentos bons, belos e inteligentes e de outro tudo o que fiz de mau, ruim, estúpido e feio. E será Cristo que actuará como juiz na sequência das encarnações futuras, para pôr em ordem essa conta cármica.”

Nas encarnações posteriores deverão ocorrer eventos pelos quais o nosso carma será equilibrado – cada um deverá colher o que semeou. O carma continuará sendo uma lei justa. A compensação cármica deverá ocorrer em cada indivíduo de maneira a integrar-se, da melhor maneira possível, no todo da realidade cósmica. Devemos harmonizar o nosso carma de maneira a actuar, tão bem quanto possível, em prol do progresso de todo o género humano na Terra.
Integrar a nossa compensação cármica no carma da Terra e no progresso da humanidade, eis o que cabe a Cristo fazer no futuro. E isso ocorrerá principalmente durante o período que passarmos entre a morte e o novo nascimento.
Está-se iniciando a era em que, no momento de uma acção, os homens terão um presságio, ou até uma imagem nítida, uma sensação do que será a compensação cármica dessa acção.

O homem não acreditará mais nisto: “o que fizeste é algo que pode morrer contigo”, mas saberá peremptoriamente: “o acto não morrerá contigo, e sim terá uma consequência que te acompanhará na tua existência futura”.

O período em que os portais do mundo espiritual estiveram fechados para os homens chega ao fim. Os homens terão que elevar-se novamente ao mundo espiritual. Despertarão as capacidades que tornarão os homens participantes dele. A clarividência continuará a ser algo diferente dessa participação.
Os homens saberão que não estavam sós, pois em toda a parte existem seres espirituais relacionados com eles. E o ser humano aprenderá a conviver com eles.

O próprio Cristo será vivenciado pelos homens como figura-etérica, e essa vivência será tal que eles saberão claramente, como Paulo diante de Damasco, que Cristo vive.

17 - As vidas repetidas
O mistério do Gólgota por um lado, deu à evolução humana o maior impulso, por outro, ele se realiza na época do maior obscurecimento da alma humana.
Houve tempos da evolução humana em que os homens podiam saber que a individualidade humana passa por vidas repetidas, pois eles tinham lembrança do passado. Nos tempos em que os homens procuravam Cristo pelo caminho exotérico, tudo se passava como uma preparação infantil.
Foi por esta razão que os homens não podiam ser inteirados da experiência de vidas repetidas, pois isso apenas os teria confundido, já que não estavam maduros para tal.
Assim o cristianismo desenvolve-se durante dois milénios sem que pudesse ser mencionada a ideia da reencarnação.
O cristianismo perde a visão das vidas repetidas. No budismo perde-se a noção do “eu humano” 500 anos a.c. embora conserve a noção de vidas consecutivas.

Futuramente os homens sentirão algo estranho dentro de si, algo que precisa ser compreendido. Esse algo estranho é o eu oriundo de vidas anteriores. Essa sensação será angustiante, produzindo medo naqueles que não puderem explicá-la a partir das vidas repetidas. Esses sentimentos serão amenizados pelas sensações produzidas pelo reconhecimento do espiritual que nos alertarão: “Precisamos conceber a nossa vida como algo que se estende a vidas anteriores na Terra.”

18 - O segundo evento Crístico
A mudança da organização psíquica humana há-de vir. Ela terá como início o evento que principia no século XX e que podemos chamar de segundo evento crístico: as pessoas com capacidades superiores despertas verão o “Senhor do Carma”.

Algumas pessoas poderão objectar que muitos dos que vivem neste momento estarão mortos na época em que o século XX culminará no evento de Cristo, mas eles se encontrarão na existência entre a morte e o novo nascimento. Ora a alma que se houver preparado para o evento crístico também o vivenciará – quer se encontre num corpo físico ou na existência entre a morte e um novo nascimento.
Os próximos três milénios proporcionarão aos homens a oportunidade de receber essa preparação.

Estamos avançados apenas o suficiente para que o homem possa conceber o bem e ser um indivíduo inteligente e sábio, sem ser necessariamente moralmente bom.
O sentido da evolução interior consistirá na transformação dos conceitos do bem em impulsos morais. Será essa a evolução dos próximos tempos.
Decorridos os próximos três milénios, será possível falar numa língua inconcebível pela nossa cabeça de hoje. Tudo o que for intelectual será ao mesmo tempo moral e o elemento moral penetrará nos corações dos homens.

No decorrer dos próximos três milénios, o género humano deverá como que imbuir-se de uma moralidade mágica; caso contrário, não poderia suportar tal desenvolvimento e abusaria dele.

O homem desceu de alturas divinas; o seu destino era desenvolver-se de uma certa maneira, mas devido à influência Luciférica ele foi lançado mais profundamente dentro da matéria do que teria ocorrido sem essa influência. Isso transformou a sua evolução na Terra. Isto está simbolizado na bíblia pelo pecado original.
Ao chegar ao ponto mais baixo, o homem precisava de um poderoso impulso para ascender. Isso só poderia ocorrer através de um ser das hierarquias espirituais que denominamos Cristo. Ele tomou essa decisão nos mundos superiores, mas não precisava fazê-lo para o seu próprio desenvolvimento – pois a entidade crística teria realizado a sua evolução por um caminho infinitamente mais elevado do que o nível em que se achavam os homens na sua caminhada; ela poderia ter, por assim dizer, passado ao largo, sem interferir na evolução da humanidade. E a humanidade continuaria a sua evolução descendente.

19 - O papel de Cristo e os Mistérios da Antiguidade
O ser crístico, antes do baptismo no Jordão, não pertencia à esfera terrena. Ele desceu das esferas supraterrenas para a esfera terrena. Foi preciso que entre o baptismo no Jordão e o acontecimento do Pentecostes ele passasse por essas vivências, a fim de transformar o ser celeste de Cristo na entidade terrena de Cristo.

Muito, infinitamente muito, é dito ao expressarmos este mistério com as seguintes palavras: desde o acontecimento do Pentecostes, a entidade de Cristo está entre as almas humanas na Terra.

O que aconteceu entre o baptismo por João e o acontecimento do Pentecostes sucedeu para que a sua morada no mundo espiritual pudesse ser trocada pela morada na esfera terrena.

O evento da Palestina é único: trata-se da descida à Terra de uma entidade superior, não terrena, e da permanência dessa entidade na esfera terrestre até que esta esfera, sob a sua influência, tenha passado pela necessária transformação. Portanto, desde aquele tempo a entidade de Cristo actua na Terra.

Para entender perfeitamente o acontecimento do Pentecostes é necessário compreender o que se passava na Antiguidade onde existiam mistérios, iniciações por cujo meio a alma humana era levada a participar da vida espiritual. Com o Pentecostes essa experiência é directa.

20 - A Iniciação Cristã
Quem quiser ter uma experiência supra-sensível do evento de Cristo, tem de se submeter à actuação dos sete graus da nossa iniciação cristã:
- O lava-pés
- A flagelação
- A coroa de espinhos
- A morte mística
- O sepultamento
- A ressurreição
- A ascensão

Se essas sensações não forem bastante intensas, em todo o caso terão o efeito de tornar-se fortes e cheias de amor, no sentido correcto da palavra; todavia o que aí é incorporado, só chega até ao corpo etérico.
Mas se as sensações tiverem atingido o corpo físico – os pés banhados em água, o corpo coberto de ferimentos – então terão sido impressas mais fortemente na nossa natureza, pois penetraram até ao corpo físico. É assim que aparecem os estigmas. Ao fazermos isso, ocorre nada menos que a preparação do nosso corpo físico para receber pouco a pouco o fantoma que emana da sepultura do Gólgota.

21 - O cristianismo como facto místico
“Vivenciando em si Cristo, o homem vivencia o meio pelo qual crescem a sua coragem e a sua força de acção, o meio pelo qual cresce a consciência da sua dignidade humana, pois vem a saber que deve situar-se correctamente na humanidade. E ao mesmo tempo vivencia o que os adeptos dos mistérios gregos podiam vivenciar: o Amor Universal; pois o que vive no cristianismo vive como amor universal, abrangendo todas as entidades exteriores. E ele ainda vivencia simultaneamente o destemor, pelo facto de nunca precisar ter medo, de não precisar desesperar-se frente ao mundo, descobrindo – em plena liberdade e ao mesmo tempo com humildade – a devoção pelos segredos do universo.”

Eis o que o homem pode conhecer ao se impregnar com o que entrou no lugar dos antigos mistérios: o cristianismo como facto místico
Na filosofia ocidental foi dito o seguinte: o homem nunca poderia ver cores se não tivesse olhos, não poderia ouvir sons se não tivesse ouvidos; escuro e mudo seria então o mundo para ele. Mas assim como é verdade que sem olhos não se percebem cores e sem ouvidos não se ouvem sons, também é verdade outra sentença: sem luz não teria surgido olho algum. (…) “O olho é uma criação da luz”-disse Goethe. Assim o Cristo místico – o Cristo de que fala o clarividente, conforme o viu Paulo, por força da clarividência – não esteve sempre no homem.
Na época pré-cristã, ele não era alcançável, por qualquer desenvolvimento nos mistérios, do modo como é possível após o Mistério do Gólgota.

Para que possa existir o Cristo “interior”, para que o homem superior possa nascer, é necessário um Cristo “histórico”, a incorporação de Cristo em Jesus. E se documento nenhum afiançava, de alguma maneira, uma biografia de Jesus de Nazaré, devia-se dizer: assim como um olho só pode surgir pelo efeito da luz, para um Cristo místico é necessário ter existido o Cristo histórico.
Não é por documentos externos que se conhece a figura de Jesus. Durante longo tempo se soube disso no desenvolvimento ocidental – e será novamente sabido.
A Ciência Espiritual modelará o que resultar dos seus círculos de maneira que isso possa conduzir a um verdadeiro conhecimento de Cristo – e com isso também a Jesus. O facto de Jesus ter sido alheado do mundo, tendo-se dissolvido os métodos para a pesquisa a seu respeito, o aprofundamento na essência de Cristo levará a conhecer novamente a grandeza de Jesus de Nazaré.

O caminho que leva a reconhecer Cristo por meio de vivências internas da alma conduz, através dos processos desenrolados na alma humana, a realmente compreender o “facto místico” do cristianismo e captar a evolução da humanidade de modo tal que o evento crístico incida como o mais significativo acontecimento da evolução humana.
É assim que o caminho nos leva a Jesus por intermédio de Cristo. Cristo trará em si germes frutíferos para conduzir a humanidade não só a uma concepção genérica, panteísta do Espírito Universal, mas a que o homem compreenda a sua própria história da seguinte maneira: do mesmo modo como ele sente a Terra ligada a toda a existência cósmica, assim também sentirá a sua história unida a um acontecimento supersensível, super-histórico. E esse acontecimento é o facto de o ser crístico estar no centro da evolução humana como um evento supersensível, místico, e de que será reconhecido pela humanidade do futuro, independentemente de qualquer pesquisa histórica e de quaisquer documentos.
Cristo continuará a ser a forte pedra angular do desenvolvimento humano, mesmo ao se reconhecer que todos os documentos, para uma biografia de Jesus falham. O homem buscará em si próprio as forças para fazer nascer a sua história de maneira nova – e com isso, também a história da evolução universal.

O homem desceu de alturas divinas; o seu destino era desenvolver-se de uma certa maneira, mas devido à influência luciférica ele foi lançado mais profundamente dentro da matéria do que teria ocorrido sem essa influência. Isso transformou a sua evolução na Terra.
Ao chegar ao ponto mais baixo, o homem precisava de um poderoso impulso para ascender. Isso só podia ocorrer pela decisão de um ser das hierarquias espirituais, aquele que denominamos Cristo.

O ser crístico não precisava cá vir para o seu próprio desenvolvimento, mas a humanidade teria simplesmente sofrido uma queda. Mas graças à sua decisão de se unir a um homem, facultou à humanidade o caminho ascendente.
Cristo realizou algo que não era necessário para a sua evolução. Esse acto foi um acto de Amor Divino. Devemos portanto a esse acto o facto de sermos entes livres.
Os homens não deveriam conceber, a noção de liberdade sem o pensamento da redenção por Cristo. Se quisermos ser livres, devemos considerar-nos devedores de Cristo. Só então teremos a noção correcta de liberdade.

22 - O que mudou com a vinda de Cristo
A chegada à terra de Cristo fez ressoar pela primeira vez, clara e nitidamente uma nova linguagem. E esta pôde ser tão clara e nitidamente acolhida no seio do povo hebraico pelo facto desse povo haver perseverado, até uma época mais tardia, o que podemos apresentar como o eco dos antigos iniciados atlânticos.
A força de Cristo era diferente daquela reinante no círculo aonde ele fora introduzido. Dizia-se aí “Eu e o Pai Abraão somos um”.
Cristo porém dizia – “Existe um outro Pai, por meio do qual o eu encontrará o caminho para o Divino; pois o “Eu” ou “Eu-sou”, e o Divino são um!
Assim pôde Cristo descrever a força que ele queria comunicar aos homens com as palavras do Evangelho de João. “Pois antes de existir Abraão, existia o “Eu-sou”. E o Eu-sou nada é senão o nome que o próprio Cristo se atribuía. E no homem se acende esta consciência: “Em mim vive algo que existia muito antes de Abraão; não preciso de ir até Abraão, pois em mim encontro o Espírito – Pai Divino” – e então ele pode transformar em bem aquilo que foi trazido por Lúcifer para o cultivo e o desenvolvimento do eu e que levou ao atraso da humanidade.

Eis o feito de Cristo: - ter transformado em bem a influência de Lúcifer.
Lúcifer trouxe aos homens liberdade e autonomia. Cristo transformou essa liberdade em Amor. E pelo laço crístico os homens são conduzidos ao amor espiritual.

Uma verdade que o homem deve inscrever na alma como uma elevada moral, é não dizer que é mau ou imperfeito determinado facto, sempre que se confronta com algo mau no mundo, mas perguntar:
- “Como posso evoluir para o conhecimento de que num contexto superior de sabedoria existente no Cosmos, esse algo mau será transformado em algo bom?”

E a resposta é:
- “Ao ver algo mau, o homem deve contemplar a sua própria alma e perguntar-se: “como é que não estou tão avançado para ao me defrontar com algo mau, reconhecer nele algo bom.”

Trabalho coligido da bibliografia de Rudolf Steiner por Zelinda Mendonça
Revisão de texto e colaboração de Trindade de Sousa

Bibliografia
Livros de Rudolf Steiner

Evangelho de Marcos, Editora Antroposófica, 1996, Brasil
Evangelho de Mateus, Editora Antroposófica, 1985, Brasil
Evangelho de Lucas, Editora Antroposófica, 2ª edição revista, 1996, Brasil
Evangelho de João, Editora Antroposófica, 2ª edição, 1996, Brasil
Apocalipse de João, Editora Antroposófica, 2003, Brasil
O Quinto Evangelho, Editora Antroposófica, 2ª edição, 2007, Brasil
De Jesus a Cristo, Editora Antroposófica, 2ª edição, 2007, Brasil
O Conhecimento dos Mundos Superiores, Editora Antroposófica, 6ª edição de 2004, Brasil
A Ciência Oculta, Editora Antroposófica, 6ª edição, 2006, Brasil
Reencarnação – Manifestações do Carma, Planeta Editora, 2008,Lisboa
Centros de Mistérios na Idade Média, Editora João de Barro, 1ª edição, Fevereiro de 2006, Brasil
Crónica do Akasha, Editora Antroposófica, 2ª edição, 2000, Brasil
Direcção Espiritual do homem e da Humanidade, Editora Antroposófica, 2ª edição, 1991, Brasil
O Cristianismo como Facto Místico, Editora Antroposófica, 2ª edição, 1996, Brasil
As Origens do Pai-Nosso, Editora Antroposófica, 5ª edição, 2006, Brasil
Palavra Cósmica e Respiração – Cristianismo Exotérico e Esotérico, Editora João de Barro, 1ªedição, Fevereiro de 2006, Brasil
Minha Vida, Editora Antroposófica, 2006, Brasil
   


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