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O Livro do Amor
de Ramiro Calle em 19 Fev 2012 ![]() Introdução Se há algo de que este mundo necessita urgentemente, é de amor. Será o único antídoto eficiente para conseguir vencer a cobiça cada vez desmedida, o ódio, a raiva e o ressentimento. O amor é a única força capaz de transformar uma sociedade de violência e desigualdades, numa sociedade onde reine o sossego e a fraternidade. O amor é a energia que aproxima as pessoas, as comunica e harmoniza, as anima e conforta, as torna receptivas às necessidades alheias. É uma actividade emocional muito intensa, uma tendência afectiva que surge do mais íntimo e profundo de cada um. Segue as suas leis muito especiais e, às vezes, bem diferentes das do pensamento conceptual e binário; tem as suas regras e, simultaneamente, não tem nenhuma. Perguntei a um mestre indiano o que era o amor e ele disse: «O amor é o amor». Mas há amor cego e que inclusive, se pode tornar destrutivo, porque deixa de ser o verdadeiro amor, e há amor com sabedoria, consciência e lucidez. Não se deve confundir paixão com amor, mas é possível a paixão com amor, e então alcança uma dimensão infinitamente mais rica, fiável e reveladora. Frequentemente, a paixão sem amor perturba, e quando se desvanece, restam apenas cinzas na relação afectiva. Como é diferente a paixão com amor! Também se deve diferenciar entre a sexualidade sem amor e a sexualidade amorosa ou com amor, esta última muito mais enriquecedora e plena. Qualquer um é capaz de dizer que ama, mas contam-se pelos dedos os que amam verdadeiramente. É possível aprender a amar mais e melhor? Naturalmente que sim, mas não se trata apenas de uma firme determinação ou acto de vontade, sendo necessário exercitar-se para seguir esse caminho do amor mais genuíno, desinteressado, incondicional e à luz da consciência. Muitas vezes, sob o pretexto do amor, o ser humano encobre as suas tendências mais obscuras, inclusive as mais egoístas e destruidoras. Para que o amor possa eclodir com todo o seu vigor e autenticidade, muitas vezes é preciso modificar muitas atitudes e, sobretudo, amadurecer emocionalmente e tornar-se menos egocêntrico, possessivo e egoísta. As histórias e contos que recolhemos neste livro, muitas delas são milenárias, enquanto outras foram criadas pelo autor e integradas no seu conjunto. São contos que os mestres espirituais foram transmitindo desde a noite dos tempos, como exemplos válidos ou analogias para desenvolver a compreensão não só intelectual, mas também emocional e intuitiva. Reunimos contos que reflectem as numerosas manifestações do amor e as mais diversas expressões da afectividade. Há contos sobre a paixão, o amor do casal, a amizade, fraternidade e inclusive à última realidade ou divindade. São contos curtos que resultam extremamente inspiradores e que instruem espiritual e emocionalmente as pessoas e, simultaneamente, são tão amenos quanto instrutivos. Mas o amor vai mais além de todas as palavras e á a força mais maravilhosa para unir coração com coração e despertar o verdadeiro respeito por todas as criaturas vivas. Todas as palavras acabam por sobrar, porque, como dizia o grande místico Kabir, «só o que ama compreende». E não há compreensão mais sublime, mais bela, mais inebriante. O Místico e o Lutador Uma ocasião, um místico passou acidentalmente por uma feira e verificou, perplexo, como o lutador mais forte e famoso do país seguia como um lulu atrás de uma voluptuosa mulher, aparvalhado e ausente de tudo. Desde que tinha enlouquecido por essa mulher, o lutador tinha-se transformado numa marioneta manipulada por ela, tinha perdido toda a sua força, e inclusive o seu equilíbrio mental. Ele mostrava-se suplicante e abjecto, transformado num verdadeiro pedinte de amor. A mulher tinha-o enfeitiçado a tal ponto, que o tinha provado de toda a sua vontade. O místico chamou-o à parte e disse-lhe: _Perdeste o juízo. Obcecaste-te de tal maneira por essa mulher que deixaste de ser tu mesmo. Não comes, não dormes, perdes todos os combates e vais adoecer gravemente. Aflito o homem retorquiu: _ Sim, estou doente, senhor, doente de paixão, reconheço-o. Não sou nada sem essa mulher. Não quero viver sem ela. Maltrata-me, faz troça de mim, despreza-me e tira-me o dinheiro todo, mas não posso viver sem ela. _Acalma-te. _Como posso acalmar-me? Cada dia goza mais comigo e desdenha-me mais, mas que posso eu fazer? O místico perguntou-lhe: _Se encontrasses algo que te atraísse mais do que essa mulher, deixava-la? _Imediatamente, claro que sim; estou a ficar louco. -Vem comigo disse o místico. Conduziu o lutador a um bosque próximo e aprazível e ensinou-o a entrar em contacto com o seu próprio ser, para lá das turbulências do pensamento. Quando, um tempo depois, o lutador saiu da meditação, exclamou: _Que paz bendita! Que reconfortante quietude! Então o místico disse-lhe terminantemente: _Nunca sejas escravo de ninguém. Hoje encontraste no teu interior a felicidade que procuramos no exterior. A partir dessa felicidade interna, aprenderás a amar de verdade e em liberdade, e não cegamente e a partir da servidão. (em itálico a partir daqui) Até que ponto a atracção física pode desajustar a nossa personalidade, roubar-nos o juízo, aturdir-nos e fazer-nos estar muito abaixo da nossa própria estrutura psíquica! Não há nada que consiga aprisionar-nos mais do que a paixão exacerbada e descontrolada, não vivida conscientemente e que pode converter-nos nuns cabeças-no-ar e roubar-nos todo o autocontrolo e dignidade. Quando alguém põe toda a sua alma e o seu centro noutra pessoa, e esta não lhe corresponde ou o “abandona”, ou então o não-correspondido sente-se como uma alma penada, incapaz de encontrar consolo em lado algum, de maneira alguma, para sua grande perturbação...a menos que encontre estados de paz interior e reconfortante sossego. Se a pessoa que tanto atrai, que magnetiza ou fascina de tal maneira, se afasta, o indefeso enamorado sente-se como sem alma, sem identidade própria, vítima de um sofrimento atroz e incapaz de se dar conta de que é inútil querer que outra pessoa queira estar com alguém, senão o deseja, e que é preciso vergar o ego e recuperar-se a si mesmo. Editora: A esfera dos livros ![]() |
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