Fundação Maitreya
 
Calendário Maia

de Erik Vance

em 22 Jul 2012

  Calendário Maia e Mundo Não Acabam em 2012
É um belo dia de verão no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. Do lado de fora, na grande praça preenchida por palmeiras e salgueiros, casais jovens se abraçam na escada, vendedores oferecem máscaras de luta livre e tacos e cinco homens vestidos com tradicionais roupas Totonac lentamente giram de ponta cabeça na “Dança dos Voadores”, que desafia a morte para deleite dos turistas. O interior do museu é uma maravilha de cultura e história. Cada ala é dedicada a uma civilização diferente da cultura mesoamericana – uma para os toltecas, outra para teotihuacán. Mas os maiores espaços são reservados para os astecas e maias. E no centro do prédio está a esplêndida Pedra do Sol Asteca – frequentemente chamada, erroneamente, de “Calendário Asteca” –, talvez o símbolo mais reconhecível na América Latina.


Angústia com o dia do juízo final se deve à ignorância em relação a civilizações pré-colombianas.

Diana Megaloni Kerpel, directora do museu, observa a pedra. “Ela não é um calendário. Na verdade é a imagem do espaço e do tempo. É uma imagem de como os astecas acreditavam estar no centro do tempo e do espaço”, explica ela. “Olhe para ela: tem um rosto no meio – aquele é o Cosmos. Os maias não fariam isso. Nunca”.
Se você não tem prestado atenção aos apocalípticos ou aos filmes de John Cusack, 21 de Dezembro de 2012 é o dia que muitos dizem ter sido previsto pelos maias como o fim do mundo. Histórias na internet detalham os calendários maias de maneira regular, ainda que apresentando a Pedra do Sol. Observando a realidade da antiga mesoamérica, porém, rapidamente fica claro que muito do barulho surgiu a partir da confusão de duas culturas distintas, distantes 500 anos uma da outra.

“Há muita diferença entre essas duas culturas. Seria quase como comparar a Inglaterra da época da Guerra das Rosas aos romanos. Ou os romanos aos gregos da era de Péricles”, reforça Stephen Houston, pesquisador da civilização maia da Brown University. “São períodos muito diferentes, separados por distâncias consideráveis. Essas sociedades compartilhavam diversas características, mas se organizavam de maneiras muito diferentes”.
Para o turista comum, toda essa magnífica arte, que de fato compartilha temas entre si, pode se fundir. Mas as culturas maia e asteca eram muito diferentes, análogos de muitas formas aos gregos e romanos. Assim como os gregos, os maias eram a civilização mais velha a leste. Em vez de um império unificado, o que havia era mais uma colecção de poderosas cidades-estados como Tikal e Calakmul, que ocasionalmente lutavam entre si. Eles tinham também uma arte altamente realista e uma matemática muito além daquela da antiga Europa.

Os astecas (adequadamente chamados de mexicas), por outro lado, tinham um império romanesco organizado centralmente com uma poderosa história de origem para sua omnipotente cidade central. Eles acreditavam que seu povo havia surgido em um local mítico ao norte, chamado Aztlán. Como os romanos eles vagaram pelo mundo, chegando a um lago gigante nas montanhas onde construíram Tenochtitlan – a maior cidade do mundo na época, actualmente chamada de Cidade do México.

Isso aconteceu em 1325 d.C., quatro séculos após o fim da grande era maia. As diferenças entre as culturas podem ser vistas em sua arte, política e especialmente na maneira como percebiam o tempo.

A mitologia dos mexicas era cheia de ira, morte e destruição cataclísmica suficiente para um filme de Hollywood. Sua arte evoluiu a partir de habitantes de terras altas, como os toltecas, por meio de uma tradição de esculturas. Os mexicas discutiam regularmente o fim do mundo e sacrificavam pessoas para evitá-lo. Obras como a Pedra do Sol ou o monólito de Tlaltecuhtli, descoberto em 2006, eram altamente representativas e cheias de monstros intimidadores. Tlaltecuhtli, o maior ícone dos mexicas já descoberto, tem garras, sangue espirrando de sua boca e caveiras em lugar de joelhos. As pessoas eram representadas em blocos e tinham rostos genéricos, quase como propagandas nazistas ou comunistas.

Os maias, em contraste, tinham um estilo de arte mais fluído, fundado por pintores. Eles representavam as pessoas mais ou menos como elas eram, geralmente com emoções subtis em vez de olhares vazios. Cientistas recentemente anunciaram a descoberta de um mural encontrado no lar de um escriba real na há muito esquecida cidade maia de Xultun (http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/astronomia_maia.html) – uma cidade agora reduzida a pouco mais que montes de entulho e vegetação, no norte da Guatemala. O mural representa um rei de verdade, e não um deus, além de mostrar sua corte cuidadosamente.

O mural apresenta também o Calendário Maia, único e completamente distinto do calendário usado pelos mexicas. Assim como a dos mexicas, a data maia combina pelo menos dois calendários – um cobrindo 365 dias e outro, 260, de modo que cada dia tinha dois nomes, que se reiniciavam a cada 52 anos. Mas, ao contrário dos mexicas, esse calendário usa um sistema de “contagem longa”, que adiciona um número ao fim de cada ciclo, para manter uma contagem constante de anos, algo parecido com o calendário cristão. “Digamos que algo aconteceu em ’76. Isso significa 1976 ou 1776?”, questiona Karl Taube, iconógrafo da University of California, Riverside. “A menos que exista uma cronologia constante, não temos como saber. Mas com a contagem longa dos maias nós sabemos exactamente”.

É devido a essa “contagem longa” que conseguimos estender o calendário maia até 2012. O calendário dos mexicas, em contraste, simplesmente volta a zero no fim de um ciclo. Os mexicas não teriam como conceber uma data tão específica e tão distante no futuro.

Ainda assim eram os mexicas, e não os maias, que trabalhavam com o apocalipse. Os maias clássicos quase não tinham tradição de fins cataclísmicos (mas bem que podem tê-los adoptado, séculos depois, talvez de grupos como os mexicas). Para eles, 2012 é apenas um ano em que vários de seus calendários se reiniciam, como o ano 2000 para os calendários modernos. Taube, que está ajudando a interpretar as pinturas de Xultun, acredita que a história sobre 2012 está errada. Os maias não estavam rastreando o apocalipse: eles viam importância em cada novo dia. Com vários calendários, os antigos mesoamericanos tinham diferentes combinações de datas para cada dia, cada uma delas com um significado especial. É quase como se todo dia fosse feriado.

“É uma visão muito mais exuberante do tempo”, ressalta ele. “Cada dia terá inúmeros eventos, inúmeros tons de significados possíveis. De certa forma, a estrada do tempo é altamente recompensadora. Você não está simplesmente riscando mais um dia em seu calendário. Cada dia é permeado por todos esses diferentes significados, recordações e esperanças”.

De volta ao museu, Magaloni balança a cabeça quando pessoas lhe perguntam sobre a profecia de 2012. Museus como esse, reforça ela, têm uma mensagem muito maior que essa sobre o passado: eles informam sobre os povos indígenas da mesoamérica e tentam descobrir sua cultura, que foi quase erradicada durante a conquista espanhola.
Cientific American
   


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