Fundação Maitreya
 
A Face do Amor - Madre Teresa

de Navin Chawla

em 10 Fev 2013

  Pessoas de todas as esferas da vida têm experiências fascinantes para contar sobre a Madre Teresa. Eu entendo essas histórias como sendo lições de fé, paz, tolerância, bondade e compaixão. Seu trabalho – na verdade a continuidade do trabalho das Irmãs e Irmãos missionários da Caridade – tornou-se possível porque ela via uma manifestação de Deus em cada pessoa que servia. Acções como adoptar uma criança abandonada numa rua de Calcutá, ou ajudar um desamparado dormindo numa caixa de papelão numa noite fria de inverno na ponte de Waterloo em Londres, foram possíveis por causa da sua profunda convicção de que estava servindo a Deus. Caso contrário, como muitas vezes ela me disse: “Você cuida de uns poucos entes queridos, no máximo. Não é possível para você ajudar a todos. Nosso trabalho se torna possível porque para mim e minhas irmãs todos eles são de Deus.

Madre Teresa
Então, o trabalho que eu testemunhei ao longo dos anos – vestir as mãos ulceradas de pacientes leprosos em Titagarh, ou confortar aqueles que estavam morrendo em Kalighat em Calcutá, ou apenas chegar ao próximo – não só se tornou possível, como muitas vezes era cheio de alegria. Isto também ajuda a explicar a facilidade com que as irmãs sorriem.

Durante a nossa associação de 23 anos, havia muitas coisas que Madre Teresa me explicara de seu modo simples e espontâneo, que se tornaram mais significativas com o passar do tempo. Minha relação com ela cresceu para se tornar uma relação de confiança, muitas vezes se aprofundando com maior compreensão. No início, quando Madre Teresa falava comigo ou falava em público, parecia que ela estava falando verdades quotidianas e elas pareciam muito simples. Minha mente as aceitava por causa do respeito que eu tinha por ela – que se intensificou como não havia diferença entre as suas palavras e suas acções, entre os seus preceitos e sua prática, e devido ao facto de que ela podia entender os pobres, porque ela era pobre. Mas, ao longo dos anos, comecei a aplicar o significado de suas palavras, em seu sentido espiritual, em minha vida diária e elas começaram a afectar meu ser interior.

Logo depois de 1992, quando a minha biografia sobre Madre Teresa foi publicada, eu pensei em usar os direitos de autor do livro, que eu estava começando a receber, para causas sociais. Eu acreditava que um livro vendido no nome dela não devia permitir-me manter os lucros para mim. Eu coloquei-lhe meu dilema. Ela sugeriu que eu devesse pelo menos manter certa quantia à parte para a educação da minha filha. Ela incentivou a minha filha mais velha a estudar no exterior e deu uma referência para uma universidade no Reino Unido. O resto dos direitos de autor eu poderia dedicar à caridade, se eu quisesse, para os marginalizados, os deficientes e, especialmente, os afectados pela lepra, que tiveram um lugar especial no esquema criado por Madre Teresa. Um dia, perguntei-lhe com que quantia eu deveria começar. Ela disse: “Não se perca nos números. Comece com humildade. Comece com um ou dois. Mesmo que tire do oceano apenas uma gota, ainda vale a pena fazer”.

Ao escrever a biografia dela, eu, por vezes, passei por momentos frustrantes que qualquer biógrafo vai entender. Eu me sentava num banco do lado de fora do seu escritório na Casa Mãe, seu ashram em Calcutá. Às vezes, no decorrer de várias horas, eu fazia muitas perguntas, mas dificilmente seria capaz de conseguir uma ou duas respostas satisfatórias. Em cada questão era frequentemente interrompida, pois iria chegar alguém esperando para a conhecer. Naquela manhã, ela percebeu minha frustração e disse: “Este é o meu apostolado, eles vêm de longe eu tenho que confortá-los”. Quando eu pensei que finalmente poderia receber sua atenção exclusiva, ela recebeu uma mensagem de que um ciclone tinha a tingido a costa do Bangladesh, matando muitos e deixando milhares desabrigados. Ela imediatamente decidiu ir para Dhaka. Lembrei-lhe que os médicos não haviam permitido que ela nem sequer fosse lá abaixo, muito menos ir para Dhaka, e que seu marcador precisava de ser mudado na semana seguinte. Mas ela não obedeceu a nada disso e começou a prepara-se para sair. Esta não foi uma manhã particularmente frutífera para mim.

Madre Teresa nunca impôs sua religião. Ela nunca uma vez sequer, mesmo por inferência, sugeriu tal coisa. Ela sabia que eu era na melhor das hipóteses vagamente espiritual. Como muitas outras pessoas que eu conheço, eu só rezava em momentos de angústia. Com um sorriso, ela costumava dizer que orava por mim todos os dias, e ainda me pediu para aprender o poder da oração. Às vezes, quando ela distribuía o que ela chamava de seu “cartão-de-visita” (em que uma oração estava impressa), ela também entregava um para mim e, com um brilho os olhos, diria que talvez isso me ajudasse a aprender a orar. Que biógrafo improvável era eu então – não nascido em sua religião e só ocasionalmente espiritual, mas uma pessoa como várias outras a quem ela deu tão abundantemente, sem qualquer expectativa de retorno.
Cortesia da Revista India Perspectives
   


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