Fundação Maitreya
 
Viver no mundo com o Dhamma

de Ajahn Chah

em 24 Jan 2014

  A maioria das pessoas ainda não sabe qual é a essência da prática da meditação. Elas pensam que meditar a caminhar, meditar sentado e ouvir palestras de Dhamma são a prática. Tudo isso faz parte, mas essas são somente formas exteriores. A verdadeira prática tem lugar quando a mente encontra um dos objectos dos sentidos. Esse é o lugar para a prática, onde ocorre o contacto com os sentidos. Quando alguém nos diz alguma coisa de que não gostamos, ficamos magoados; se nos dizem coisas de que gostamos, ficamos contentes. Isto é algo para se praticar. E como é que podemos praticar? Este é um ponto crucial. Se só andarmos às voltas ou a correr atrás da felicidade evitando constantemente o sofrimento, podemos praticar até ao dia da nossa morte, mas nunca veremos o Dhamma. Isto é inútil. Quando surgem o prazer e a dor como é que vamos usar o Dhamma para nos libertarmos deles? Este é o propósito da prática.

Em geral, sempre que as pessoas encontram algo que lhes desagrada, não aceitam. Tal como quando as pessoas são criticadas, dizem: “Não me incomodes! Porquê culpares-me?” Isto é a reacção de alguém que se incomoda. E aí está outro ponto a praticar. Quando as pessoas nos criticam devemos ouvi-las. Estão a falar a verdade? Devemos ser abertos e tomar em consideração o que dizem? Talvez o que nos digam tenha algum valor, talvez
exista algo dentro de nós digno de reprovação. Talvez estejam certas, mas no entanto, de imediato tomamos aquilo como uma ofensa. Se as pessoas apontam as nossas falhas, deveríamos esforçar-nos para nos libertarmos e melhorarmos. É assim que as pessoas inteligentes praticam. Onde existe confusão é onde pode acontecer a paz. Quando a confusão é dissolvida pela compreensão, aquilo que resta é a paz. Algumas pessoas não conseguem aceitar críticas e em vez disso, reagem e discutem, são arrogantes. Isto é especialmente verdade quando os adultos lidam com crianças. Na verdade, às vezes as crianças dizem coisas inteligentes, mas se és a mãe delas, tens dificuldade em dar-lhes razão. Se fores um professor, talvez os teus alunos possam dizer-te algo que ainda não saibas, mas porque és o professor não te sentes bem em ouvi-los. Isto não é uma forma correcta de pensar.
No tempo do Buddha, havia um discípulo que era bastante astuto. Certa ocasião, quando o Buddha estava a expor o Dhamma, perguntou a esse monge: Sariputta, acreditas nisto?” O Venerável Sariputta respondeu, “Não, eu ainda não acredito”. O Buddha elogiou a sua resposta. “Muito bem Sariputta, tu tens sabedoria. Quem é sensato não acredita prontamente, primeiro ouve com a mente aberta e depois pesa a verdade da questão antes de acreditar ou não”.
O que o Venerável Sariputta disse era verdade, ele simplesmente mencionou os seus verdadeiros sentimentos. Algumas pessoas pensam que ao dizerem que não acreditam no Ensinamento estão a questionar a autoridade do professor e receiam fazer tal. Simplesmente concordam com tudo o que é dito. É assim que o mundo funciona. Mas o Buddha não se ofendeu. Ele disse que não é preciso ter vergonha das coisas que não são erradas ou más. Não é errado dizer que não acreditas, se não acreditas.
Por isso, o Venerável Sariputta disse, “Eu ainda não acredito”.
O Buddha elogiou-o: “Este monge tem bastante sabedoria. Ele considera cautelosamente antes de acreditar em algo”. As acções do Buddha nesta situação são um bom exemplo para quem ensina outros. Por vezes podes aprender certas coisas com crianças pequenas; não te apegues cegamente a posições de autoridade. Estejam em pé, sentados ou a caminhar por diversos lugares, podem sempre estudar o que está à vossa volta. Nós estudamos de forma natural, receptivos a todas as coisas, sejam paisagens, sons, cheiros, sabores, sensações ou pensamentos. A pessoa sensata leva todas estas coisas em consideração. Na verdadeira prática, chegamos ao ponto onde não há qualquer preocupação a pesar-nos na mente. Se ainda não conhecemos o mecanismo do gostar e do não gostar à medida que estas sensações nascem, existirá ainda alguma preocupação nas nossas mentes. Se soubermos a verdade destas coisas, reflectimos, “Oh, esta sensação de gostar não tem nada que se lhe diga. É somente uma sensação que surge e depois passa. Não gostar não é nada mais do que uma sensação que surge e depois passa. Para que usá-las mais?” Se pensarmos que prazer e dor são coisas que nos pertencem, iremos ter problemas e nunca passaremos para além do ponto de ter uma ou outra preocupação nas nossas mentes. Estes problemas alimentam-se uns aos outros numa cadeia interminável. É assim que as coisas são para a maioria das pessoas.

Mas hoje em dia não se fala frequentemente sobre a mente, quando se ensina o Dhamma, não se fala sobre a verdade. Se disseres a verdade, as pessoas acham que é inaceitável. Dizem coisas como, “Ele não tem noção nenhuma do que está a dizer, não sabe falar de forma agradável”. As pessoas deviam ouvir a verdade. O verdadeiro professor não fala somente de cor, fala a
verdade. Socialmente as pessoas em geral falam apenas de cor. E mais, muitas vezes falam apenas de forma a glorificarem-se. O verdadeiro monge não fala assim, fala a verdade e de como na realidade, as coisas são. Não importa o quanto ele possa explicar, a verdade é difícil para as pessoas compreenderem. É difícil compreender o Dhamma. Se compreenderes o Dhamma deves praticar de acordo com ele. Talvez não seja necessário tornares-te monge, apesar de a vida de monge ser a forma ideal para praticar. Para verdadeiramente praticar, tem de se abandonar a confusão do mundo, deixar a família e pertences e ir para as florestas. Estes são os lugares ideais para praticar. Mas, se ainda temos família e responsabilidades como é que devemos praticar? Há quem diga que é impossível praticar o Dhamma como leigo. Considera, qual é o grupo maior, monges ou leigos? Existem mais leigos. Ora, se só os monges praticarem, isso significa que irá haver muita confusão. É uma forma errada de entender. “Eu não posso tornar-me monge…”. Seres monge não é o objectivo! Seres monge nada significa se não praticares. Se realmente compreendes a prática do Dhamma, não importa que profissão ou posição tenhas na vida; quer sejas professor, doutor, funcionário público, podes praticar o Dhamma a qualquer hora do dia.

Pensar que como leigo não podes praticar é perder completamente o caminho. Porque é que as pessoas conseguem encontrar incentivo para fazer outras coisas? Se sentem que algo lhes falta, fazem um esforço para o obter. Se houver desejo suficiente as pessoas fazem seja o que for. Algumas dizem, Não tenho tempo para praticar o Dhamma.” Eu digo, “Então como é que tens tempo para respirar?” Este é o ponto. Como é que elas encontram tempo para respirar? Respirar é vital para a sua vida. Se também vissem a prática do Dhamma como algo vital para as suas vidas, então tê-la-iam como algo tão importante como a sua respiração. Não tens de correr atrás de algo ou de te esforçar até ficares sem forças para praticar o Dhamma. Observa simplesmente as sensações que surgem na mente. Quando os olhos vêem formas, os ouvidos ouvem sons, o nariz cheira odores e por aí adiante, todos eles vêem até à mente, que nesse momento é aquele que sabe”. Mas quando a mente se apercebe destas coisas, o que é

que acontece? Se gostamos do objecto sentimos prazer, se não gostamos sentimos desagrado. Isso é tudo o que acontece. Então, onde é que vais encontrar felicidade neste mundo? Estás à espera que toda a gente te diga só coisas boas para o resto da vida? E isso é possível? Não, claro que não. Então, se não é possível, o que é que vais fazer? O mundo é assim, nós temos de o conhecer – Lokavidū – conhece a verdade deste mundo. O mundo é algo que devemos perceber claramente. O Buddha viveu neste mundo, não viveu noutro lugar. Ele teve a experiência da vida familiar, mas viu as suas limitações e separou-se dela. Ora, como é que vocês como leigos vão praticar? Se quiserem praticar têm de fazer um esforço para seguir o caminho. Se persistires com a prática, também irás ver as limitações deste mundo e serás capaz de o abandonar. Quem bebe muito álcool às vezes diz, “Eu não o consigo deixar”. Porque é que não o conseguem deixar? Simplesmente porque ainda não viram as suas desvantagens. Se vissem claramente essas desvantagens não teriam de esperar que alguém lhes dissesse para o fazer. Se não vires as desvantagens de algo, isso significa que também não consegues ver os benefícios de o deixar.

A tua prática torna-se infrutífera, e estarás somente a brincar. Se vires claramente as desvantagens e os benefícios de algo, não terás de esperar que os outros te digam. Considera a história do pescador de enguias, que encontra algo no seu pote. Ele sabe que o pote contém alguma coisa, pois ouve algo a bater. Pensando que é uma enguia, ele mete a mão no pote, mas agarra algo diferente. Como não a consegue ver fica em dúvida. Por um lado pode ser uma enguia*, mas também pode ser uma cobra. Se a deitar fora pode arrepender-se... caso seja uma enguia. Por outro lado, se continuar a agarrá-la e for uma cobra ela poderá mordê-lo. Encontra-se num estado de dúvida. O seu desejo é tão grande que continua a agarrar, esperando que seja uma enguia, mas no momento em que a tira do pote e vê a pele às riscas, deita-a imediatamente fora. Não precisa de esperar que alguém grite, “É uma cobra, é uma cobra, larga-a!” A visão da cobra diz-lhe o que fazer muito mais claramente do que as palavras. Porquê? Porque ele vê o perigo – as cobras podem morder! Quem é que precisa de lhe dizer algo? Do mesmo modo, se praticarmos até vermos as coisas como elas são não nos iremos envolver com coisas que são prejudiciais.

Geralmente as pessoas não praticam desta forma, só praticam para outras coisas. Não contemplam, nem reflectem acerca da velhice, doença ou morte. Só falam de não envelhecer e de não morrer, e desta forma nunca desenvolvem a atitude correcta para a prática do Dhamma. Vão ouvir palestras de Dhamma mas na verdade nada ouvem. Às vezes, sou convidado para dar palestras em acontecimentos importantes, mas para mim é um incómodo ter de ir. Porquê? Porque quando olho para as pessoas, vejo que não estão lá para ouvir o Dhamma. Algumas cheiram a álcool, outras estão a fumar, outras estão a conversar… não se parecem nada com pessoas que vieram por causa da sua fé no Dhamma. Dar palestras em lugares desses é pouco benéfico. As pessoas que estão imersas na indiferença geralmente pensam da seguinte forma: “Quando será que ele pára de falar…? Não posso fazer isto, não posso fazer aquilo…” e as suas mentes vagueiam por todo o lado. Por vezes, convidam-me para dar uma palestra só por formalidade:
“Por favor dê-nos só uma pequena palestra, Venerável Senhor.” Elas não querem que eu fale muito, pois pode aborrecê-las! Assim que as oiço dizerem isso sei logo o que querem. Essas pessoas não gostam de ouvir o Dhamma. Isso aborrece-as. Se eu só der uma pequena palestra não percebem nada. Se comeres muito pouco, isso chega-te? Claro que não.

Outras vezes estou a dar uma palestra, ainda a aquecer para chegar ao ponto principal, e um qualquer, bêbado, grita, “Ora bem, abram passagem, abram passagem para o Venerável Senhor, ele vem a sair agora!” – a tentar que eu me vá embora! Se encontro este tipo de pessoas ganho bastante material para reflexão e entendimento sobre a natureza humana. É como uma pessoa ter uma garrafa cheia de água e pedir que a encham. Não há onde pôr mais. Não vale a pena gastar tempo nem energia a ensiná-los, porque as suas mentes já estão cheias. Deita-se-lhe mais e transbordará inutilmente. Se a garrafa deles estivesse vazia, então teríamos onde pôr a água, e tanto o dador como o recipiente beneficiariam. Quando as pessoas estão realmente interessadas no Dhamma e se sentam em silêncio, a ouvir com atenção, sinto-me mais inspirado para ensinar. Se não prestam atenção é como o homem com a garrafa cheia de água… não há espaço para pôr mais nada. Quase não merece a pena perder tempo a falar com estas pessoas. Em situações destas não encontro qualquer energia para ensinar. Não podes pôr muita energia em dar quando ninguém se dispõe a receber.

Hoje em dia quando se dá palestras, há tendência a encontrar-se este tipo de situação, e está a piorar a todo o momento. As pessoas não procuram a verdade, quando estudam é somente para adquirirem conhecimentos suficientes para poderem ganhar a vida, constituir família e cuidar de si próprias. Talvez haja algum estudo do Dhamma, mas nada mais. Os estudantes hoje em dia têm muito mais conhecimentos do que os estudantes em tempos passados. Têm à sua disposição o que é necessário, tudo é mais facilitado. Mas também têm muito mais confusão e sofrimento. Porquê? Porque a única sabedoria que eles buscam é aquela necessária para ganharem a vida.
Até os monges são assim. Às vezes ouço-os dizer, “Eu não me tornei monge para praticar o Dhamma, eu só me ordenei para poder estudar”. Estas são as palavras de quem abandonou completamente o caminho da prática. Não há caminho em frente. É um beco sem saída. Quando estes monges ensinam fazem-no de cor. Eles podem ensinar mas quando o fazem as suas mentes estão num lugar completamente diferente. Tais ensinamentos não são verdadeiros. O mundo é assim. Se tentares viver de forma simples, praticando o Dhamma e vivendo em paz, dizem que és estranho e anti-social. Dizem que estás a bloquear o progresso da sociedade.
Até te intimidam. Eventualmente podes começar a acreditar neles e a voltar aos costumes mundanos, afundando-te cada vez mais no mundo até ser impossível sair dele. Algumas pessoas dizem, “Agora já não consigo sair, já estou muito no fundo”. É assim que a sociedade se comporta, não apreciando o valor do Dhamma. O seu valor não se encontra nos livros. Esses são somente as aparências externas do Dhamma, não são a realização do Dhamma como experiência pessoal. Se perceberes o Dhamma, perceberás a tua própria mente, aí vês a verdade. Quando a verdade se torna presente, corta a corrente da ilusão.

O Ensinamento do Buddha é a verdade imutável, quer no presente quer em qualquer outro tempo. O Buddha revelou esta verdade há 2.500 anos. A este Ensinamento nada se deve adicionar ou retirar. O Buddha disse, “O que o Tathāgata estipulou não se deve omitir, o que não foi estipulado pelo Tathāgata não se deve acrescentar aos Ensinamentos”. Ele selou os Ensinamentos. Porque é que o Buddha selou os Ensinamentos? Porque são as palavras de quem não tem quaisquer impurezas. Não importa quanto o mundo possa mudar, estes Ensinamentos não serão afectados, eles não mudam com ele. Se algo está errado, ainda que as pessoas digam que está certo, não o tornam menos errado. Se algo está certo, não muda só porque as pessoas dizem que está errado. Gerações partem e novas gerações chegam, mas isto não muda porque estes Ensinamentos são a verdade. Mas afinal quem criou esta verdade? Foi ela própria que se criou? Foi o Buddha que a criou? Não, ele não a criou. O Buddha somente descobriu a verdade, no modo como as coisas são, e depois dedicou-se a declará-la. A verdade é sempre verdade, quer haja um Buddha no mundo ou não. O Buddha só “possui” o Dhamma neste sentido, ele não o criou. O Dhamma tem estado sempre aqui. No entanto, previamente ninguém o tinha procurado ou encontrado assim. Foi o Buddha que o procurou e encontrou desta forma; o fim do sofrimento e da morte, e depois ensinou-o como Dhamma. Ele não o inventou, já lá estava.

A dada altura, no decorrer dos tempos, a verdade é iluminada e a prática do Dhamma prospera. À medida que o tempo passa e as gerações desaparecem, a prática degenera até o Ensinamento desaparecer completamente. Após algum tempo o Ensinamento é redescoberto e prospera de novo. Com o passar dos tempos, aqueles que aderem ao Dhamma multiplicam-se, a prosperidade instala-se, e mais uma vez o Ensinamento segue a escuridão no mundo, tornando a degenerar-se até à data em que já não consiga manter-se. A confusão volta a reinar. E é então que chega a hora de restabelecer a verdade. De facto a verdade não vai a lado nenhum. Quando os Buddhas morrem, o Dhamma não desaparece com eles. O mundo gira desta forma. É um pouco como a árvore da manga. A árvore amadurece, dá flor, os frutos nascem e tornam-se maduros. Alguns apodrecem e a semente volta à terra para se tornar numa nova árvore. O ciclo recomeça. Eventualmente, haverá mais frutos maduros que caiem, apodrecem e voltam à terra como sementes, crescendo mais uma vez como árvores. Assim é que o mundo é. Ele nunca vai muito longe, simplesmente revolve em volta das mesmas velhas coisas.

No presente as nossas vidas são idênticas. Estamos hoje, naturalmente a fazer as mesmas coisas que sempre fizemos. As pessoas pensam demasiado. Existem tantas coisas para elas se interessarem, mas nenhuma delas leva à realização. Existem as ciências como a matemática, física, psicologia e por aí fora. Podes pesquisar um sem número delas, mas só podes finalizar as coisas com a verdade. Supõe que tínhamos uma carroça a ser puxada por um boi. As rodas não são longas, mas os rastos são. Enquanto o boi puxar a carroça os rastos seguem. As rodas são redondas, no entanto os rastos são longos; os rastos são longos mas as rodas são somente círculos. Olhando para uma carroça parada não consegues ver nela nada que seja longo, mas quando o boi começa a andar, vês os rastos a alongarem-se atrás de ti. Enquanto o boi puxar, as rodas continuam a girar… mas virá um dia em que o boi se cansa e deita fora os seus arreios. O boi vai-se embora e deixa a carroça vazia e parada. As rodas já não giram. No seu devido tempo a carroça cai aos bocados, os seus componentes voltam aos quatro elementos – terra, água, ar e fogo.

Ao procurar a paz no mundo, imprimes os rastros da carroça infinitamente atrás de ti. Enquanto seguires o mundo não há paragem nem descanso. Mas se deixares de o seguir, a carroça pára, as rodas já não giram. Seguir o mundo faz girar as rodas incessantemente, criando mau Kamma no processo. Enquanto seguires os velhos hábitos não há paragem. Se parares tudo pára.
É assim que nós praticamos o Dhamma.

* Considerada uma iguaria em certas partes da Tailândiada
   


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Impresso em 28/3/2024 às 14:45

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