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A cultura do medo
de Maria João Firme em 28 Set 2014 ![]() Vemo-nos obrigados a tomar comprimidos para dormir, ansiolíticos, anti-depressivos, “Diga-sim” e outros que tais, para dizer não ao mau-estar generalizado, às enxaquecas, à ansiedade, à falta de ar, às fobias, à falta de interesse, ao desânimo e à falta de energia para a vida. Segundo estatísticas recentes, a depressão em Portugal aumentou muito. O que as estatísticas não dizem é que, na mesma proporção, aumentou o medo. Sob certo ponto de vista filosófico, podemos considerar que viemos a esta vida com um missão primordial – vencer o medo da morte. Começámos a sentir medo desde que nos pensámos como gente, sentindo que estavámos errados ou éramos inadequados, informação que nos chegou através da família, escola ou de outros círculos sociais. Este medo, gerado nas convenções, pode ser tão feroz como o medo que temos da morte. Mas o medo da morte, sendo visceral e inevitável é um medo “limpo” pois, uma vez que nascemos, todos temos a certeza de que vamos morrer um dia. Ora, não sabendo como se passam as coisas “do lado de lá”, ou se é que “se passam”, a morte será uma situação que todos teremos que enfrentar, uma outra face da vida. Mas uma coisa é essa etapa final, da responsabilidade da Natureza, do Absoluto ou de Deus (como lhe queiramos chamar), para a qual nos preparámos melhor ou pior em vida, e outra coisa são os medos criados pelo homem, como forma de aumentar o controle sobre o seu semelhante. Este já é um medo fomentado para criar dependências, numa dança que se inicia com um baixar de cabeça, de seguida o tronco, depois joelhos e costas, à medida que nos curvamos numa generosa vénia de servilismo crescente, esvaziando-nos do nosso próprio ser. Ao abdicarmos da nossa dignidade, a sede dos que nos controlam aumenta. A sua compulsividade por dinheiro e poder cresce, na mesma proporção em que é sugada a nossa energia criativa e damos sombra a personagens de uma empoeirada corte oitocentista, perdida em maneirismos repetitivos e vénias exacerbadas. Nesta poderosa encenação, tornámo-nos reféns na primeira cena, dependentes e incapazes de tomar nas mãos o desfecho da nossa obra artística. É urgente que consciencializemos o tempo e espaço desta ação, o palco em que a representamos, e o momento em que nos prepararmos para passar ao segundo ato. Na verdade, todos os caminhos vão dar ao Amor. A caminhada é justamente... vencer os medos! ![]() |
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